banner banner banner
Atração De Sangue
Atração De Sangue
Оценить:
Рейтинг: 0

Полная версия:

Atração De Sangue

скачать книгу бесплатно


«Até maio, muitas coisas podem acontecer!» especifiquei convicta.

«Vera, não digas isso! É óbvio que o Kevin está muito apaixonado» repreendeu-me imediatamente a minha tia, feliz pela futura união dos dois jovens.

«Não me interessa! Primeiro a Patty e agora a sua irmã! Aquelas duas existem apenas para me arruinarem a vida!» desabafei furiosa.

«Em vez da tarte, preferias um pouco de pão e mel?» propôs-me candidamente a tia, sabendo o quanto isso me acalmava, mas eu não pretendia deixar-me corromper.

«Não quero nada!» explodi antes de correr para o meu quarto e bater a porta, enquanto duas grandes lágrimas escorriam sobre a minha face.

Estava desesperada! O meu lindíssimo sonho de amor tinha sido interrompido! Queria que fosse eu a casar com o Kevin em maio.

Porque é que a vida tinha que ser assim tão injusta?

MUDANÇAS

Passei duas semanas infernais.

Dentro de mim agitavam-se emoções, como a raiva, a frustração, a tristeza e a vingança, enquanto no exterior parecia apática e perto do suicídio.

Não comia, não falava e não dormia.

Enfraqueci muito rapidamente e quando me recusei a tomar uma hemodose, a tia Cecília ficou tão preocupada que chamou o padre Dominick.

«Por quanto tempo pensas continuar assim?» perguntou-me Dominick, cansado do meu silêncio.

«Para sempre» sussurrei.

«Então és uma idiota. Claro que o Kevin tem a sua cota parte de culpa porque sempre te iludiu com os seus gestos carinhosos e gentis, mas foste tu quem construiu castelos no ar. Ele nunca disse que te amava e muito menos que queria estar contigo, assim se confundiste uma paixoneta de rapariguita imatura com amor, a responsabilidade é apenas tua. Cresce porque o amor é outra coisa» desabafou Dominick furioso.

Era a primeira vez que se dirigia a mim daquela maneira e não estava mesmo nada à espera.

Olhei-o chateada.

«Então, diz-me o que é o amor» provoquei-o com um tom de voz ácido.

«É um sentimento muito mais profundo, que se constrói com o tempo e estando próximo da outra pessoa tanto nos momentos mais felizes como nos mais difíceis. Se amasses realmente o Kevin, estarias feliz pela sua escolha, porque desejarias a sua felicidade e o seu bem-estar. O amor verdadeiro não é um desejo egoísta, como o teu!».

Pensei muitas vezes naquelas palavras tão duras e fortes.

Por fim, percebi que o padre Dominick tinha razão. Aliás, o que eu sabia verdadeiramente do Kevin, para além do facto que era sempre gentil com os clientes?

Para ser sincera, não sabia nada dele.

Não sabia qual era o seu prato preferido, que tipo de música escutava, o que gostava de fazer no seu tempo livre, para além de estar com a Clara, se era desorganizado ou meticuloso...

Todavia, não conseguirei esquecer todos aqueles anos dedicados a fantasiar acerca dele e de uma possível história de amor toda nossa.

Em poucos dias, voltei a comer, dormir e falar.

A tia Cecília ficou tremendamente aliviada ao ver-me novamente em forma, sobretudo depois de ter tomado a minha hemodose e voltar a ser falastrona como antes. Durante dias tinha tentado fazer-me comer, preparando-me todo o género de comida, mas eu tinha desistido. A minha recusa contínua em dirigir-lhe a palavra, também a tinha feito desesperar.

Por fim, também eu estava feliz por voltar a ser a Vera de antigamente.

Um dia, era quase noite, quando o telefone tocou.

Eu estava entretida com o enésimo filme de amor choramingas, por isso não lhe prestei atenção. Foi a minha tia a atendê-lo.

Não conseguia compreender o que a tia dizia, mas apercebi-me que tinha acontecido algo de grave, porque o seu tom de voz mudou e ficou muito preocupada.

Foi um curto telefonema.

«Está tudo bem?» perguntei-lhe, quando a vi regressar da cozinha, onde tínhamos o telefone.

«Infelizmente, o cardeal Montagnard morreu de um enfarte».

«Lamento. Conhecias-lho bem?».

«Sim. Estava muito ligada a ele e admirava-o tanto como homem, quanto como eclesiástico» explicou-me a tia com lágrimas nos olhos.

Era a primeira vez que via a tia triste pela perda de alguém e não pensava que pudesse sofrer assim tanto.

Ficou apática e silenciosa durante dias, atormentada pela sua dor.

Por fim, decidi esperar a segunda-feira da semana seguinte.

Na escola tinha sido convocada uma greve contra a lei da redução dos professores e por isso, teria todo o dia livre e estava determinada a levar a tia ao centro comercial para fazer compras.

Ainda que não tivesse muito dinheiro de parte, devido à minha reduzida mesada semanal, tinha intenções de comprar-lhe um presente nem que para isso, gastasse todas as minhas poupanças.

Queria levá-la às lojas e comprar-lhe um perfume, uma camisola ou um livro.

Qualquer coisa que lhe fizesse voltar a sorrir.

Por sorte, aquela segunda-feira chegou rápido.

Levantei-me à hora habitual, mas desci com calma para tomar o pequeno-almoço, depois de me ter lavado e vestido cuidadosamente.

«Vera, é tardíssimo! De certeza que vais perder o autocarro!» repreendeu-me a tia, mal coloquei os pés na cozinha.

«Hoje não tenho que ir à escola! Há greve» expliquei-lhe imediatamente com um grande sorriso nos lábios.

«Ah, sim. Talvez me tinhas dito... não me lembro» respondeu-me a tia com um tom de voz ausente.

«Pois. Por isso, decidi ir à cidade, porque tenho que comprar um livro para a escola. Podes acompanhar-me, por favor? Menti. Sabia que se dissesse à minha tia que queria levá-la às compras, nunca aceitaria, mas se se tratasse de material escolar, estaria sempre pronta.

«Está bem, mas agora não. Prometi ao Ahmed que falávamos sobre o novo gado, que chegará até o fim da manhã, mas hoje à tarde de certeza que te posso levar à livraria» assegurou-me.

Projeto adiado.

Detestava adiar os meus planos, porque depois chegava o enésimo contratempo a estragar tudo.

Devia tê-lo antecipado para o dia anterior.

Assim dei por mim a não saber o que fazer.

Acabei por optar pela televisão.

Passou-me a vontade de sair.

Estava prestes a voltar para o quarto para mudar de roupa, quando de repente, soou a campainha.

Fui abrir.

Era Dominick acompanhado de dois homens altos e maciços, vestidos de negro com o desenho de uma cruz branca com uma gota vermelha ao centro, bordado no bolso do casaco.

Fiquei tão curiosa com aqueles dois endemoniados, nunca antes vistos, imóveis perante a porta da minha casa, que não prestei atenção à voz transtornada do padre Dominick, que me empurrou bruscamente para dentro de casa e gritou o nome da minha tia.

«Cecília, têm que se ir embora! Agora!» gritou o padre Dominick aterrorizado.

«O que está a acontecer?» perguntou-lhe a tia, tentando não mostrar a sua angústia.

«Eles sabem tudo e estão a chegar!» gritou novamente o padre Dominick.

«Eles quem?» intrometi-me alarmada.

Ninguém me respondeu, mas percebi que a tia sabia a quem o padre se referia, porque levou a mão direita à boca, para tentar sufocar um grito.

«Mas como é possível?» sussurrou a tia com um fio de voz.

«Assassinaram-no! Assassinaram o cardeal Montagnard, depois de o terem feito confessar! Agora eles sabem tudo e vocês não estão mais seguras. Virão procurá-las e quando o fizerem, apanharão a Vera e vão matá-la».

Eu? Mas o que tinha a ver com isto tudo?

Estava tão chocada que não consegui abrir a boca.

«Dispararam-lhe em vez de usarem o seu habitual modo de atacar. Por isso, a Ordem levou tanto tempo a perceber quem era o culpado do homicídio. De certeza que foi o Blake. Só ele e o seu bando são capazes de um crime semelhante. Ninguém sabe o que aconteceu realmente, mas ao que parece o cardeal contou tudo ao Blake, provavelmente sob tortura» continuou o padre Dominick.

«Mas é terrível!».

«Pois e agora devem fugir. Já vos reservei um quarto num hotel em Dublin. Quando chegarem, receberemos novas ordens do cardeal Siringer, que nos quer encontrar».

«Mas como fazemos?» suspirou a tia abalada.

Naquela quinta estava a sua casa, a sua vida.

E também a minha.

«Temos que partir imediatamente. Vamos viajar toda a noite, se necessário. Seremos escoltados por dois membros de confiança da Ordem, sob coordenação do cardeal Siringer, que nos levarão primeiro ao hotel e depois ao lugar prefixado para o encontro. Por isso, mexam-se! Levem o mínimo indispensável e vamos embora!» recomeçou a gritar o padre Dominick.

Por alguns segundos, que me pareceram horas, a tia e o padre olharam-se intensamente nos olhos, depois disso, como que movida por uma força inexplicável, a tia agarrou-me por um braço e arrastou-me pelas escadas até ao meu quarto.

Em frente à porta, abraçou-me e sussurrou-me docemente ao ouvido: «Não te preocupes. Estarei sempre presente para te defender. Não permito que ninguém te faça mal. Foi assim por dezassete anos e será sempre, enquanto for viva».

«Tia, o que está a acontecer?» consegui perguntar baixinho.

«Está calma. Agora vai para o teu quarto. Tens três minutos para pegares na mala que está debaixo da tua cama e enchê-la com aquilo que te pode ser útil nos próximos dias. Quando estivermos longe daqui te explicarei tudo. Prometo-te».

Não tive outra escolha.

Corri para o meu quarto, abri o guarda-roupa e comecei a encher a mala que tirei de debaixo da cama, com camisolas e calças. Alguma roupa interior, o estojo de maquilhagem e as minhas poupanças. Estava prestes a fechar a bagagem, quando notei a foto que tinha sobre a mesa-de-cabeceira perto da cama. Era uma foto minha com a tia abraçadas em frente à cancela da quinta.

Adorava aquela foto tirada pelo Ahmed há alguns anos atrás.

Coloquei-a também e fechei o zip da mala.

Saí do meu quarto, olhando-o mais uma vez. Aquele tinha sido o meu quarto de infância, o meu refúgio.

Tinha esperança de um dia poder voltar ali, mas alguma coisa me dizia que aquele era um adeus.

Fechei a porta do quarto atrás de mim com um véu de tristeza.

Mal desci para o piso inferior, o padre Dominick agarrou-me pelas costas e arrastou-me para fora de casa em direção a um carro negro, que estava estacionado em frente à cancela da quinta.

Mal me viram, os dois homens desconhecidos entraram no carro e o mais forte pôs-se ao volante.

«Quem são aqueles dois?» perguntei.

«Não há tempo para explicações» abreviou o padre, fazendo-me entrar no carro, para depois apressar-se a ajudar a tia, que estava a dois passos da viatura. Nesse instante, chegou Ahmed.

«Ahmed, chegou o momento do qual falámos com frequência. Adeus» a tia cumprimentou-o, pouco antes de entrar no carro empurrada pelo padre Dominick.

«Fechar a porta e partir. Adeus, Cecília. Vera, vou ter saudades tuas» cumprimentou-nos o Ahmed com um ar triste.

«Adeus, mas talvez nos voltemos a ver» confortei-o, mas ele sacudiu a cabeça e foi-se embora, no mesmo instante em que a BMW negra também partiu.

Senti uma onda de infelicidade propagar-se no meu coração.

Comparando com aquilo, o que tinha sentido pelo Kevin depois de ter sabido do seu futuro casamento, parecia uma ninharia.

Gostava muito do Ahmed e nunca pensei que um dia, ficaria sozinha.

Mal o carro partiu a toda a velocidade, senti o suspiro de alívio da tia e do Dominick.

Apenas eu permanecia tensa como uma corda de violino.

«O Ahmed não vem connosco?» tentei perguntar.

«Não, Vera. O Ahmed tem que ficar a tratar dos nossos assuntos. Dará a casa a uma instituição de caridade e avisará a escola da tua partida, informando-a da tua transferência inesperada devido a problemas de saúde e depois partirá para a Tunísia com o dinheiro que lhe deixei numa conta corrente particular, para ser usado só em caso de necessidade. Na verdade, há anos que isto está tudo planeado» explicou-me a tia, acariciando-me a cabeça.