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— Não se preocupe, Zak. Não é um problema. Vou tentar pensar em alguma coisa, me virando com o pouco que nos resta.
— Somente você pode fazer isso. Estamos em suas mãos.
— Estou indo — e sem dizer mais nada, o Especialista saiu da tenda do laboratório, deixando para trás umas nuvens pequenas de poeira.
— Será que ele consegue? — perguntou Jack, hesitante.
— Claro. Não tenho nenhuma dúvida. Petri é incrivelmente engenhoso. Mais de uma vez o observei fazer coisas que uma equipe dos melhores Artesãos não teria sido capaz de fazer. É uma pessoa excepcional. Eu lamento ter sido um pouco rude. Tenho grande afeição por Petri e prontamente daria minha vida por ele, em qualquer instante.
— Relaxe, Zak — disse Elisa numa voz bem doce. — Ele sabe disso. É um momento difícil, mas vamos superar, sem nenhum problema. Não tenho nenhuma dúvida.
— Obrigado, Elisa. Realmente espero que sim, do fundo do coração.
Pasadena, Califórnia – O esconderijo
Assim que abriu a porta, o sujeito obeso sentiu uma corrente de ar fresco. O ar-condicionado da sala, que estava ligado desde a noite anterior, fizera um trabalho excelente.
— Maravilhoso — ele exclamou. — Não conseguia aguentar mais aquele calor sufocante.
— Talvez se você resolvesse seguir uma dieta rigorosa e se livrar de toda essa banha, o calor não te incomodaria tanto.
— Por que você é sempre negativo sobre as minhas reservas?
— Chame-as de reservas, se quiser. Você poderia seguramente passar um mês inteiro sem comer — exclamou o magrelo, explodindo em gargalhadas logo depois.
— Vou fingir que não escutei isso.
A decoração do pequeno apartamento que os dois usavam como base era definitivamente modesta. Na sala principal havia apenas uma mesa simples de madeira clara com quatro cadeiras da mesma cor e um pesado sofá cinza escuro com assentos e apoios de braço gastos. No canto, perto da janela francesa que tinha vista para um sombrio pátio interno, um pote marrom de plástico continha os restos de uma pequena palmeira-de-saia, que apesar da grande resistência a climas secos, morrera há várias semanas por falta de água. O pequeno banheiro também mostrava sinais evidentes de desleixo. Vários azulejos haviam caído e grandes manchas negras no teto desbotado eram evidências de infiltração de água que não fora reparada. Dois quartos surrados, com uma única cama e um criado-mudo barato, junto a uma kitchenette com um armário que tinha, pelo menos, vinte anos, completavam a mobília do apartamento que era tudo, exceto agradável.
— Bom, uma coisa é certa, em termos de gosto na escolha dos nossos refúgios, você é ótimo mesmo, hein? — comentou o sujeito magrelo e alto.
— Por quê? O que tem de errado com esse lugar?
— É um muquifo. É isso o que tem de errado. Aqui estamos, sempre falando sobre montes de dinheiro, mas no fim, sempre terminamos nesses malditos muquifos.
— Ah, você sempre reclama — respondeu o grandão. — Vamos tentar obter um acordo e então verá, poderemos viver no sossego de uma vez por todas.
— Você que diz... Não estou muito convencido.
— Vamos, me dê o laptop e te mostrarei uma coisa.
O magrelo puxou uma mala preta com uma alça de ombro de trás do sofá e retirou um notebook cinza escuro. Olhou para o mesmo um momento e então deu ao comparsa, que o colocou na mesa e o ligou. Ambos se sentaram, quietos por um instante, olhando para a tela enquanto o sistema completava o processo de inicialização, até que em um momento, o magrelo desabafou: — Não suporto mais essas coisas. Passo horas vendo barras de progresso, ampulhetas girando, atualizações diversas... Por que simplesmente não fabricam um computador que funciona como uma televisão? Aperte o botão e ele liga.
— É, isso seria muito bom. Em vez disso, o que eu mais odeio é quando você acaba de usar e quer desligar para terminar, ele mostra uma simpática mensagenzinha que diz "Não desligue. Instalando atualização 1 de 325..." e você tem que esperar meia hora enquanto ele faz o que quer. Poxa, não podia fazer as drogas das atualizações antes? Realmente tem que esperar até eu estar pronto pra terminar?
— Hum, isso é a tecnologia da informação. Os programadores que projetam esses sistemas provavelmente se divertem vendo nós, pobres mortais, ficarmos cada vez mais irritados quando nos deparamos com as suas "criações".
— Está dizendo que fazem de propósito?
— Ao pensar que hoje em dia, só para escrever uma carta precisamos de um computador com uma capacidade de processamento bilhões de vezes maior que a das missões Apollo que levaram o homem à Lua, acho que alguma coisa não deu certo no progresso tecnológico.
— Bem, você é o especialista — comentou o magrelo. — É certo que eles nos fazem perder muito tempo, mas não seríamos capazes nem de ir ao banheiro sem esses aparelhos agora.
— Vamos parar por aqui, é melhor. Em vez disso, veja o que descobri durante minhas noites em claro.
O sujeito obeso trouxe uma série de imagens à tela, que devia ter tirado de algum arquivo que não era exatamente público. Ele navegou por algumas e então disse: — Aqui estão. Acho que o que está vendo é uma série de combinações de caracteres cuneiformes, capazes de ativar funções adicionais nesse pequeno dispositivo.
— E onde conseguiu isso? — perguntou o magrelo, com espanto.
— Se dissesse, teria de matá-lo — respondeu o gordo, bem sério.
Por um instante, o sujeito magro e alto ficou paralisado, então percebeu que o comparsa obviamente tinha feito uma piada, e depois de socá-lo, exclamou: — Que imbecil. Vamos, deixa ver essa inefável descoberta.
— Espere, primeiro me deixe ver o que o nerd nos deu — e conectou o pendrive que extorquiram do garoto no computador. Ele verificou rapidamente uma série de arquivos, abrindo alguns aleatoriamente, até a sua atenção se voltar a uma imagem que já havia visto. — Veja isto — exclamou.
— O que é?
— É uma sequência de caracteres que conheço.
— Não entendo.
— Você é realmente caquético. Esta é a combinação que ativou o comando de autodestruição da espaçonave e tenho certeza que já vi nas minhas buscas.
Para evitar de ser repreendido de novo, o magrelo só murmurou.
— Aqui está — disse o grandão novamente, mostrando a mesma série de imagens que estiveram olhando antes, mas destacando uma delas com o mouse. — É esta.
— Sim, e daí?
— Daí que, se essa sequência já funcionou uma vez, então as outras indicadas aqui provavelmente estão ativas também.
— Seu raciocínio faz sentido.
— Que tal experimentarmos uma?
— Mas não será perigoso? Acho que já causamos estragos suficientes.
— Covarde — disse o grandão. — Na pior das hipóteses, simplesmente explodiremos mais uma das malditas espaçonaves deles.
— E se em vez disso, nós fôssemos explodir? Não sabemos nada sobre essa coisa.
— Venha, vamos tentar — exclamou o gordo, com a expressão de um menino prestes a acender um rojão embaixo da espreguiçadeira do avô enquanto ele dorme feliz.
— Tente você. Vou me esconder atrás dali.
— Corajoso, hein? Não esquenta, vou tentar, seu maricas.
Então, depois de esperar o comparsa se esconder no quarto ao lado, o grandão tomou um grande fôlego e usando o grosso dedo indicador, traçou a primeira sequência da tela na superfície do objeto. Logo depois, jogou o dispositivo no sofá e se atirou ao chão com as mãos em cima da cabeça. Esperou vários segundos sem se mover, mas nada aconteceu. Ficou deitado ali no chão mais um instante, e somente após ter constatado que parecia não haver nenhum perigo iminente, levantou um pouco a cabeça. O controle remoto ainda estava no assento do sofá e não parecia estar funcionando.
— Então? O que aconteceu? — perguntou o comparsa, espiando cautelosamente pela porta entreaberta.
— Absolutamente nada.
— Talvez você fez um erro ao digitar a sequência?
— Acho que não. Acho que fiz tudo corretamente — disse o grandão enquanto, com muito cuidado, se levantou e se aproximou do objeto alienígena novamente.
— Vá, tente de novo. Vou ficar aqui.
— Obrigado pela ajuda. O que faria sem você?
Dessa vez, o gordo decidiu que não se atiraria ao chão de novo e formou a sequência simplesmente sentado na cadeira. Ele repetiu a operação várias vezes, mas não parecia haver qualquer reação do objeto.
— Absolutamente nada — acrescentou o grandão.
— Talvez estejamos destruindo todas as espaçonaves deles — comentou o sujeito magro e alto enquanto espiava pela porta de novo.
— Não fale asneira. O nerd disse que essa coisa só tem um alcance de cem mil quilômetros. Vai saber onde Nibiru está a essa altura. Ao contrário, eu simplesmente acho que essa sequência não é operacional.
— Então vamos tentar outra, não?
— Tentar outra? Eu diria que só eu é que estou fazendo as "tentativas".
— Ah, deixe de pirraça. Afinal, quem é que tem a mentalidade mais tecnológica de nós dois?
— Ok, ok. Vou tentar a segunda, agora.
O grandão passou os dez minutos seguintes formando quase todas as combinações que estavam dispostas na tela do computador, uma após outra, mas nada de anormal acontecia.
Enquanto isso, como a situação parecia ser tudo menos perigosa, o comparsa se juntou a ele, e os dois ficaram fazendo suposições de todos os tipos.
— Talvez as imagens estejam ao contrário — disse o magrelo em um certo momento.
— Não. Os caracteres cuneiformes no controle remoto estão na mesma ordem que os da tela.
— Então suas incríveis "fontes" devem ter secado.
— Não é possível. Tem que funcionar. Tenho certeza.
— Só restam duas. Se também não funcionarem, jogaremos essa coisa no lixo e iremos tomar uma bela bebida refrescante.
O grandão bufou, e sem acrescentar nada, formou a penúltima sequência, sem muita convicção. Assim que tocou o último símbolo, ele sentiu um tremor bem leve, e um instante depois, um tipo de brilho artificial foi liberado, vindo da parte da frente do dispositivo. Houve um ligeiro estalo, e uma nova janela, perfeitamente circular, de quase meio metro de diâmetro, se abriu na parede vazia à frente deles.
— Que diabos... — exclamou o magrelo, com os olhos arregalados.
— Por todos os santos... — acrescentou o amigo, igualmente perplexo.
Com as pernas ainda trêmulas pelo susto, eles se levantaram e se aproximaram ao buraco na parede com cautela. Foi o mais alto que, tendo colocado a cabeça dentro da abertura, exclamou: — É incrível! A parede se foi e nós até fizemos um buraco naquele grande outdoor de carros ali. Deve estar a pelo menos cem metros daqui!
Planeta Kerion - O Supremo TYK
— Supremo TYK — anunciou RTY no sistema interno de comunicação da estrutura equatorial do planeta. — Infelizmente trago notícias terríveis.
— RTY, meu leal amigo. Não tema, nada pode perturbar a minha serenidade nem a de nosso povo.
O Supremo TYK era, na realidade, o exoesqueleto de maior dimensão e ancianidade de todo o Kerion para onde, mil anos atrás, a alma de um ser que governava o planeta na época anterior à das máquinas, fora transferida. Com o tempo, a sua estrutura física tornou-se imensa. Sua extensão atual chegava a dois quilômetros quadrados, com uma altura que, em algumas partes, excedia quinhentos metros. TYK era um aglomerado tecnológico multifuncional, com as peculiaridades e a eficiência de um milhão de fábricas japonesas.
— Receio que desta vez, o que aconteceu é verdadeiramente atroz — continuou o Keriano no comando.
— Fale, o que aconteceu?
— O laboratório /\ foi atacado e destruído. Dez milhões de almas foram aniquiladas. Apenas novecentos e noventa lançadas pelo contêiner (|), alguns instantes antes da explosão, foram salvas.
— Explosão? Do que está falando? Quem foi? — a voz de TYK, sempre calma e tranquila, agora assumia um tom decididamente mais alterado.
— Você poderá ver o que foi gravado pela cápsula enquanto se afastava do satélite, diretamente no sistema central, referência |^|.
TYK permaneceu silencioso por um longo tempo enquanto assistia repetidamente as imagens capturadas pelo contêiner, então ele desligou a visualização e disse: — Essa bomba esférica foi projetada por aquela raça alienígena que habita o planeta azul, chamado |o|.
— Ou pelos habitantes do outro planeta que pertence ao mesmo sistema solar — acrescentou o comandante.
— Foi um ataque cruel à nossa raça por essa espécie primitiva. Milhões de irmãos nossos foram aniquilados antes que pudessem ser transferidos. Por quê?
— Sempre achamos que esses seres não representavam uma ameaça para nós, embora eu ter sido contra a criação de /\ no satélite deles.
— Como é esse outro planeta de que falou?
— Nós o chamamos de |O|. É bem similar a |o|. Mas a sua órbita é consideravelmente maior. Ele realiza uma revolução completa em torno do sol a cada 3.600 revoluções de |o| e os seus habitantes são de origem bem semelhante. De fato, de acordo com os estudos realizados há algum tempo, aparentemente os habitantes de |O| modificaram geneticamente algumas espécies que viviam em |o|, para torná-los similares a eles.
— Então podemos dizer que eles pertencem à mesma raça e são até mais evoluídos?
— Sim, isso mesmo — respondeu o Supervisor. — Eu também diria que, neste período, |O| cruzou a órbita de |o|, passando bem perto dela.
— Portanto, os habitantes dos dois planetas aproveitaram esta oportunidade para formar uma aliança e atacar a nossa estrutura. Só pode ser isso. O que ainda não compreendo é por quê.
— Provavelmente queriam explorar os recursos do satélite |o|. Devem ter descoberto a nossa instalação e decidiram se livrar dela sem a menor cerimônia. Sempre foram uma raça belicosa e propensa a violência. Várias vezes já expressei meus temores sobre a instalação de /\ nesse sistema solar.
— Eu sei. Tenho acesso a todas as informações que temos — TYK o lembrou. — Mas esse satélite era um dos poucos que, após décadas de explorações, tinha as características de que necessitávamos. Não poderíamos ter feito de outra maneira. Não tínhamos tempo.
— Mas agora pagamos pelas consequências. Dez milhões de almas destruídas de uma vez.
— Não tema, RTY. Nossa vingança será imediata e terrível.
— O que pretende fazer, Supremo TYK?
— Quero todo esse sistema solar dizimado. Eles devem pagar caro pela sua ação brutal. Destruiremos essa raça maligna para sempre. Sem misericórdia.
— Deixe comigo.