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O Escritor (Português Do Brasil)
O Escritor (Português Do Brasil)
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O Escritor (Português Do Brasil)

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— Sim, mais ou menos — disse o nerd sorrindo, contente que os dois sujeitos finalmente compreenderam o que ele estava falando.

— Você fez um trabalho excelente — disse o gordo, parecendo satisfeito.

— Sim, mas ainda não entendemos a função real dele — retrucou o magrelo, meio decepcionado.

— Eu poderia arriscar um palpite que acho que seria bem realista — disse o garoto, de mansinho.

— Então, está esperando o quê? Fale — respondeu o gordo, movendo-se a alguns centímetros do nariz do outro.

— Acho que é um sistema para ativar o procedimento de autodestruição de uma espaçonave, incluindo sabe lá mais quantas funções.

Os dois comparsas se olharam surpresos por um instante, e então, como se alguém lhes tivesse dado o presente mais maravilhoso do mundo, o mais gordo exclamou: — Por favor, me diga que os mandamos pelos ares.

— Com toda a probabilidade, os alienígenas tiveram tempo de se salvarem, mas seu veículo deve ter tido um fim terrível.

— Filho, você é um gênio — exclamou o gordo. Então ele retirou um pendrive USB do bolso, e acrescentou: — Ponha todos os dados que têm dessa coisa e depois cancele tudo. Se descobrirmos que guardou um único byte...

— Eu sei, eu sei. Vão fazer picadinho de mim.

— Muito bem. Sabia que era um cara esperto.

O processo de copiar durou apenas alguns segundos. Então, depois de remover o pendrive USB do computador, o nerd entregou ao gordo, que rapidamente arrancou de suas mãos. Também depois de apanhar o estranho objeto e colocar ambos no bolso direito das calças, ele disse ao seu cúmplice: — Vamos andando, meu velho, talvez nossos sonhos estejam prestes a se concretizar.

Eles quase chegaram à soleira quando o jovem exclamou: — Ei, não se esqueceram de algo?

— Do que está falando? — perguntou o sujeito magrelo e alto.

— Ahh... o resto do meu dinheiro.

— Dinheiro? — respondeu o gordo. — Agradeça ao Senhor por não termos quebrado o seu pescoço — e ele bateu a porta atrás de si.

A Constelação de Touro - Planeta Kerion

A quase sessenta e cinco anos-luz da Terra, um gigante vermelho chamado Aldebaran ilumina tenuemente um planeta árido conhecido pelo nome de Kerion. Sua superfície, que atualmente apresenta apenas desertos áridos, paisagens rochosas, profundos desfiladeiros secos e mesetas lisas, nem sempre fora assim. O planeta começou o seu lento declínio há cerca de dez mil anos, quando por razões ainda desconhecidas, o fluido metálico que formava o seu núcleo começou a reduzir lenta, mas inexoravelmente, a sua velocidade de rotação, provocando uma relativa diminuição progressiva do seu campo magnético.

Hoje em dia, a atmosfera de Kerion, outrora composta essencialmente de nitrogênio e quase vinte por cento de metano, é praticamente inexistente. Na realidade, os raios nocivos da sua estrela, sem a proteção do poderoso campo magnético planetário, gradualmente a dissolveram e a reduziram para cerca de 0.1 por cento do que era no passado. Mares de hidrocarbonetos ocupavam quase metade do planeta. Lagos de metano e áreas incontáveis de água gelada estavam espalhadas pela terra acima do nível do mar, e a vida florescia luxuriante. Mas o evento catastrófico aparentemente marcou o destino de Kerion. Por milênios, seus habitantes tentaram encontrar uma solução para reiniciar o núcleo, mas sem sucesso. Desde o início do processo de desaceleração, também se aventuraram em viagens interestelares arriscadas e extremamente longas, à procura de um planeta similar, para onde poderiam se deslocar, mas nenhuma dessas missões jamais obteve êxito.

Quando os recursos vitais estavam quase acabando, eles se conformaram, mais ou menos, com a sua extinção inevitável, quando uma das mentes mais brilhantes do planeta propôs o que para a maioria da população parecia ser insensatez absoluta: eliminar tudo o que podia "morrer". O Keriano em questão começou uma série de experimentos, que em poucas décadas, o levaram a extrair, o que poderíamos chamar de "almas", dos corpos materiais dos seus semelhantes, assim os libertando do seu vínculo, até então tido como indissolúvel, com o corpo físico. A própria essência de alguns voluntários era separada da matéria viva e implantada em estruturas novas, totalmente mecânicas. Isso deu origem a novas espécies, baseadas inteiramente em corpos cibernéticos, porém equipados com a sua própria inteligência e essa essência cósmica chamada de alma, ou mais simplificadamente, vida.

A separação das almas de todos os habitantes foi concluída em apenas alguns anos, mas devido à escassez de materiais adequados para fabricar os novos corpos cibernéticos, a transferência prosseguiu muito lentamente. Então, decidiram organizar a conservação das "essências" em cápsulas ovaladas específicas, com o fim de preservá-las da destruição, até que os seus novos exoesqueletos fôssem feitos.

Criados os primeiros seres novos, agora praticamente imortais, começaram a nova saga de exploração do cosmos, dessa vez à procura de planetas que pudessem fornecer as matérias-primas necessárias para a conclusão do projeto. Dez foram identificados, em distâncias de até várias centenas de anos-luz do seu planeta natal, nos quais laboratórios reais eram construídos, onde os recursos dos planetas eram extraídos e utilizados nas instalações para a criação de novos corpos. A presença de hélio-3, que por meio de um sistema complexo de fusão nuclear, garantiria a cada nova estrutura individual de Kerian uma fonte virtualmente inesgotável de energia, era imprescindível. Para alcançar esses planetas tão distantes, verdadeiros portais interestelares foram criados, através dos quais os contêineres com as almas dos habitantes e os equipamentos necessários eram transferidos para as oficinas de montagem. A criação de cada corpo individual, o implante da alma e a ativação completa requeriam um procedimento muito demorado todas as vezes, mas para eles, tempo não era mais um problema.

— Recebemos uma mensagem estranha da planta /\ — anunciou o Keriano encarregado das transmissões.

— Qual é a mensagem? — respondeu o seu comandante, que atendia pelo nome de Supervisor RTY e cuja forma física se assemelhava bastante a um aracnídeo de pernas muito longas e corpo maciço.

— Esquisito, mas foi interrompida antes de terminar. Isso é o que veio até nós — e ele transmitiu o fragmento de comunicação em sub-luz.

Laboratório atacado. Estamos mandando de volta...

— Estamos mandando o quê? Atacado por quem?

— É tudo. A partir daí, as comunicações com /\ foram interrompidas.

— Vamos tentar restabelecê-las sem demora e descobrir o que aconteceu — ordenou RTY. — Há mais de dez milhões de almas nesse laboratório esperando para serem transferidas.

— Estou ciente disso — disse o oficial de transmissões. — Mas, no momento, a única coisa que estou recebendo é o sinal do contêiner (|) que está atravessando o túnel de intercomunicação.

— Talvez seja isso o que eles estão mandando de volta para nós.

— Logo descobriremos. Estará aqui em trezentos e vinte cens.

Tell-el-Mukayyar – A energia das pirâmides

— Ali, eles estão vindo — disse Petri apontando para as três cápsulas que estavam se aproximando velozmente ao sítio de escavação.

— Posicionamento padrão — Azakis ordenou aos pilotos dos veículos pelo seu comunicador portátil.

Os dois alienígenas, juntos de Jack e Elisa, permaneceram quietos enquanto observavam as cápsulas concluírem as manobras de pouso com rapidez e precisão.

— Devemos ativar um campo de força em forma de abóbada para criar uma atmosfera mais adequada aos nossos sistemas respiratórios — sugeriu Petri.

— De acordo — respondeu Azakis. — Já estou farto de usar essas coisas — e apontou para os dois tubos pequenos de respiração inseridos em suas narinas.

— Existe oxigênio demais aqui, para nós. Talvez seria melhor organizar nossa base de emergência no alto das montanhas.

— Não. Pelo menos, por enquanto. O campo de força será mais que suficiente até nos organizarmos melhor.

— Ok, você é que manda — disse Petri, dando ênfase à frase com um tipo de saudação militar que observara soldados terráqueos fazer.

— Cápsula dois. Ative a abóbada de contenção — disse Azakis no seu comunicador.

Começando do topo da cápsula central e revelada apenas por uma leve vibração no ar, uma espécie de véu quase invisível se espalhou celeremente, com um raio de aproximadamente cem metros, formando uma capa semiesférica que se estendia do ápice da pirâmide virtual da cápsula dois diretamente para baixo, para penetrar no solo arenoso do deserto.

— Me parece um bom trabalho — disse Petri, satisfeito.

— Por que se posicionaram assim? — perguntou Elisa intrigada.

— Assim como? — respondeu Azakis. — O que quer dizer?

— As cápsulas. As pirâmides que formaram estão quase em linha reta e posicionadas com um lado voltado para o sul. As duas mais externas estão aparentemente alinhadas, enquanto a central parece levemente fora de eixo.

— Você tem um espírito de observação excelente — comentou Azakis.

— A verdade é que me fazem lembrar muito de outra coisa.

— O quê, exatamente? — perguntou o Coronel, que de repente se mostrou interessado na discussão.

— Já esteve no Egito?

— Há muito tempo.

— E visitou o Planalto de Gizé?

— Naturalmente que sim — respondeu Jack. Então, dando um tapa na testa, ele exclamou: — mas é claro! Estão posicionadas exatamente como as três grandes pirâmides.

— Quéops, Quéfren e Miquerinos — observou a doutora.

— Não sei do que estão falando — disse Azakis, perplexo.

— Espere aí — respondeu Elisa. — Vou lhe mostrar — e caminhou rapidamente para a tenda do laboratório. Ela apareceu menos de um minuto depois, carregando um livro grande e volumoso. Enquanto se aproximava aos outros três, rapidamente folheou as páginas. — Aqui estão. Veja — e entregou ao alienígena.

— Interessante... O que são?

— Deixe-me ver — disse Petri, deslizando o livro grosso das mãos do companheiro. — Ah sim. Já vi esse tipo de construção. São como aquela — e apontou para o Zigurate atrás da área. — Mas devem ter sido construídas por outro povo e numa época diferente.

— Muito bem, Petri. Você está certo, é claro. Desde o dia em que foram descobertas, nossos cientistas vêm quebrando a cabeça para entender a razão por que foram construídas e colocadas dessa forma.

— Mas é muito simples — disse Petri irradiando um belo sorriso. — Consegue ver aquelas estrelas ali? — e apontou para uma constelação no meio de todas as outras, no espaço deixado pelo pôr do sol.

— Sim, certamente. A chamamos de Constelação de Órion. Deve o seu nome ao semideus grego Órion — disse Elisa. Então, enquanto ela traçava seu perfil com o dedo indicador no ar puro do deserto, acrescentou: — Se ligar as estrelas numa linha virtual, vão aparecer a cabeça, os ombros, o cinto e os pés de um homem. De acordo com a mitologia grega, Órion era um gigante que nascera com habilidades sobre-humanas, um poderoso caçador que matava suas presas com um martelo inquebrável de bronze. Quando o herói grego morreu, foi colocado entre as estrelas pela eternidade.

— Suas histórias são sempre muito sugestivas — disse Petri encantado. — No entanto, de acordo com o que os Anciãos nos ensinaram, todas as construções desse tipo, e há muitas espalhadas por toda a Terra, estão ligadas a nós.

— Vocês, alienígenas?

— Nós "Deuses", que viemos dos céus para dar início à raça humana — especificou Petri.

— Mas quem teria adivinhado que vocês teriam relação com isso também — Jack deixou escapar. — Parece que tudo o que fizemos até agora depende única e exclusivamente de vocês.

— Pensando bem, — comentou Elisa, — devo dizer que ele tem razão.

— Eu só queria dizer, — acrescentou Petri calmamente, — que nossas cápsulas simplesmente estão posicionadas como as três estrelas do seu "cinturão" de Órion.

— E portanto, o mesmo se aplicaria às pirâmides no Egito? — perguntou Jack, espantado.

— Diria que sim.

— Então as suposições dos nossos cientistas eram verdadeiras — disse a doutora, em quase um sussurro. Depois ela segurou o queixo entre o polegar e o indicador e acrescentou: — Porém, ainda não entendi o verdadeiro motivo para esse arranjo.

— Simples, minha cara — exclamou Petri. — Energia.

— Terá que me explicar direitinho — respondeu a doutora, endireitando a coluna e cruzando os braços.

— Mesmo nós não sabemos muito sobre isso — Petri se apressou em esclarecer. — Mas parece que um objeto em forma de pirâmide é capaz de gerar uma espécie de energia positiva que é benéfica para todas as criaturas vivas que estão próximas a ele. Obviamente, quanto maior o objeto, maior é a energia gerada. Então, se também está conectada a um corpo celeste, ou melhor ainda, a uma série deles, tudo é ampliado de forma exponencial.

— Mas que tipo de energia estamos falando? — perguntou a arqueóloga.

— Como disse, não está claro para nós também. Muitos de nossos Especialistas a estudaram, mas ainda não temos dados confiáveis.

— Finalmente, algo que até vocês não conhecem — disse Jack, satisfeito. — É quase um milagre.

— Há muitas coisas que não conhecemos, meu amigo. Numa escala global, somos apenas um pouco mais evoluídos que vocês. Existem tantos mistérios no universo. Não pensou que conhecíamos todos, pensou?

— Confesso que, em momentos, realmente pensei que conhecessem.

— Existem conceitos que jamais entenderemos. Devemos nos conformar com isso.

— Mas somos seres inteligentes, criativos, curiosos. O que nos impede de entender?

Então Azakis se juntou ao debate, dizendo: — É apenas uma questão de níveis de percepção.

— Realmente não entendi isso — exclamou Elisa, confusa.

— Embora pensem que nossos cérebros sejam, sabe lá como, "evoluídos", existem algumas dimensões tão distantes das nossas estruturas de pensamento que não podemos sequer começar a fazer suposições, pelo menos, com o nosso conhecimento atual.

— Desculpe, mas não estou entendendo.

— Pegue uma célula do seu fígado, por exemplo — continuou Azakis pacientemente. — Imagine que esteja determinada a racionalizar sobre a sua condição, sobre o seu trabalho, sobre as células próximas a si. Quem saberia dizer quantas vezes deve ter tentado entender o que está além da realidade que vive. Existiriam outros grupos de células? Seriam como eu? Talvez tenha tentado postular sobre a presença de um deus. Também deve ter tentado contato com ele, seguindo sabe lá quantos rituais complexos, rezando por sua intervenção para resolver seus problemas diários. Mas quem é seu deus? Sua bexiga? Seu coração? Você? Que percepção poderia ter uma célula sobre o seu fígado, você, seu deus? Como poderia entrar em contato direto com você? E se ela não te percebe, poderia me perceber? E o mar, o céu, o sol, a galáxia... É isso o que quero dizer com níveis diferentes de percepção.

— Caramba — exclamou Elisa, como se tivesse acabado de sair de um transe. — Realmente nunca pensei sobre isso... Então, pode ser que jamais seremos capazes de contatar seres de níveis mais elevados, ou imaginar como seria fora da dimensão em que vivemos.

— Isso não é necessariamente verdadeiro. Aparentemente, também graças à energia peculiar da qual estávamos falando antes, liberada pelas pirâmides, algumas pessoas já são capazes de pular um ou mais níveis. Infelizmente, o nosso conhecimento sobre esse assunto em particular ainda é muito limitado.

— Fascinante — sussurrou a doutora, totalmente enlevada. — Então, vocês também estão em busca do seu Deus.

— Na verdade, é algo que temos estudado há um bom tempo.

— E se nem vocês conseguiram resolver isso, imagine quanta esperança nos resta.

— Frequentemente os palpites mais importantes surgem aleatoriamente — proferiu Azakis. — Nossas raças são bem similares, e estou certo de que nós dois e vocês temos as mesmas chances de descobrir como esse mecanismo misterioso funciona, por meio do qual poderíamos entrar em contato com seres mais elevados.

Petri entrelaçou as mãos por trás das costas e começou a andar lentamente em círculos. Meditou por alguns segundos, e então acrescentou: — Mas, na realidade, se a célula mencionada antes não fizer bem o seu trabalho, haveria problemas para mim e eu perceberia. Basicamente, isso é também uma forma de contato, não?

— Você está certo. Todos nós estamos aqui por um propósito bem específico e devemos simplesmente tentar fazer nosso trabalho tão bem quanto podemos. Isso é exatamente por que em Nibiru, desde o momento do nosso nascimento, nossos Educadores se esforçam para identificar qual é a nossa principal particularidade. Cada um de nós tem uma, assim como penso que vocês terráqueos também tenham. O maior problema é descobri-la e então tirar o máximo proveito dela. Além de nos dar o conhecimento básico, os Educadores fazem exatamente isso. São eles que, depois de analisar cuidadosamente nossos potenciais e fraquezas, nos dirigem ao grupo que está mais próximo das nossas aptidões pessoais, como os Artistas, os Artesãos, os Especialistas e assim por diante. Não precisamos fazer nada a não ser dar sempre o máximo na atividade em que nos destacamos, e seguir o caminho que foi pensado para nós.

— Ok, gente — o Coronel interveio. — Que tal colocarmos de lado toda essa conversa filosófica e seriamente tentarmos resolver o probleminha que temos agora?

— Sim — acrescentou Petri. — Na verdade, enquanto vocês "crânios" estavam discutindo os mistérios do universo, baixei os dados do seu gravador pessoal.

— Do que está falando? — perguntou Azakis, perplexo.

— Para dizer a verdade, também me esqueci dele — continuou o Especialista. — Mas, antes de partir, ativei um sistema pessoal de gravação que deve ter guardado todas as ações de todos os membros da tripulação.

— Sim... sim, agora me lembro. Está falando sobre essa coisinha que fixou aqui atrás de mim, não? — respondeu o capitão, enquanto ao girar o tronco, tentou apontar para um pequeno retângulo negro preso ao seu cinto cinza claro.

— Exatamente, meu velho. E não pode imaginar o quanto funcionou. Consegui descobrir o que aconteceu com o seu sistema de controle remoto.