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— Os felinos são uma raça superior — disse Elisa, ao apanhar a gatinha de novo. — Ainda não percebeu?
— É. Os antigos egípcios também os adoravam, quase como se fossem divindades.
— Exatamente, amor — disse Elisa, contente de que a discussão mudara para um assunto em que era bastante versada. — Por exemplo, Bastet era uma das divindades mais importantes e veneradas da antiga religião egípcia, representada como ou sob a aparência de uma mulher com cabeça de gato, ou diretamente como um gato. Inicialmente, Bastet era uma divindade do culto solar, mas com o tempo, tornou-se mais e mais uma deusa do culto lunar. Quando a influência grega se estendeu para a sociedade egípcia, Bastet se tornou permanentemente uma deusa lunar, quando os gregos a identificaram com Artemis, a personificação da "Lua Crescente".
— Ok, ok. Obrigado pela aula, Ilustríssima Professora — Jack disse com ironia, enfatizando a frase e se curvando levemente. — Mas agora vamos tentar entender o que diabos acabou de acontecer lá em cima. Vou fazer uns telefonemas.
— Não tem de quê, querido, pode contar comigo sempre — respondeu Elisa, elevando a voz gradualmente, enquanto o Coronel se afastava rumo à tenda do laboratório.
Tranquila novamente e de olhos fechados, Lulu estava desfrutando das carícias que a sua amiga humana lhe dispensava sem parcimônia.
Cápsula Espacial Seis - Inspeção lunar
Após a mão invisível de temor que lhe apertara o estômago finalmente desaparecer e deixar-lhe em paz, Azakis começou a caminhar agitado na ponte de comando da cápsula, murmurando sentenças ininteligíveis.
— Quer parar de andar em círculos como um pião? — Petri lhe deu uma bronca. — Vai desgastar o chão e vamos acabar à deriva no espaço como dois satélites velhos e abandonados.
— Mas como pode estar tão calmo? A Theos foi destruída, estamos a milhões de quilômetros do nosso próprio planeta, não podemos entrar em contato com ninguém e mesmo se conseguíssemos, seria impossível alguém vir nos buscar, e o que você está fazendo? Fica aí largado na poltrona como se estivesse de férias, sentado nas falésias do Golfo de Saraan, apreciando a vista ao pôr do sol.
— Relaxe, meu velho, relaxe. Vamos achar uma solução, você vai ver.
— No momento, não consigo pensar em absolutamente nenhuma, qualquer que seja.
— Por que está tão preocupado? São as ondas gama que o seu pobre cérebro cansado está emitindo, impedindo que raciocine com lucidez.
— Acha que é isso?
— Claro — Petri respondeu com um grande e belo sorriso. — Venha e sente-se ao meu lado, respire fundo algumas vezes e tente relaxar. Você verá, em breve tudo vai parecer bem diferente.
— Talvez tenha razão, amigo — disse Azakis, enquanto ao seguir o conselho do companheiro, jogou-se pesadamente na poltrona cinza do segundo piloto, — mas no momento, consigo fazer tudo, menos relaxar.
— Se prometer ficar calmo, vou deixar que fume uma daquelas coisas nojentas e fedorentas que sempre carrega consigo.
— Na verdade é uma boa ideia. Sei que ajudaria um pouco — Tendo dito isso, tirou do bolso um charuto enrolado à mão, longo e escuro, e após cortar as pontas com um estranho aparato multicolorido, colocou na boca e acendeu. Rapidamente tragou várias vezes, deixando pequenas nuvens azuladas de fumaça dispersarem na sala. Com um leve chiado, o sistema automático de purificação de ar foi acionado. Em poucos instantes, a fumaça desapareceu e com ela, o aroma doce e acre.
— Mas assim não tem graça — exclamou Azakis, que já estava de bom humor. — Tinha me esquecido da eficiência dos nossos sistemas de purificação.
— Foi você quem os projetou — respondeu Petri. — Não poderia ter sido de outra forma.
A tensão pareceu desvanecer lentamente.
— Vamos fazer um balanço da situação — propôs Azakis, enquanto com o charuto ainda entre os lábios, habilitava uma série de hologramas que se posicionaram em pleno ar, à volta dos dois alienígenas. — Temos quatro cápsulas operacionais, incluindo a nossa. A Theos-2 já aterrissou em Nibiru e as duas estão fora do alcance de ação do sistema de comunicação de vórtices ópticos — Ele expeliu mais algumas baforadas de pequenas nuvens de fumaça, depois continuou: — Combustível e estoques de comida estão a noventa por cento.
— Muito bem, vejo que está assumindo o controle da situação de novo. Prossiga — Petri insistiu, satisfeito.
— Todos os seis membros remanescentes da tripulação estão em perfeito estado. Os escudos e os equipamentos estão em eficiência máxima. O único problema é que não temos mais o H^COM para entrar em contato com os Anciãos e reportar sobre a situação.
— E é aí que você se engana — exclamou Petri.
— O que quer dizer?
— Ainda tem um H^COM funcionando.
— Mas o único que tínhamos foi destruído com a espaçonave.
— E o outro que deixamos com os terráqueos?
— Caramba, tem razão! Não pensei nisso. Temos que voltar e convencê-los a dar para nós.
— Relaxe, meu velho, relaxe. Temos tempo para isso. Primeiro, vou dar uma olhada na Lua, para ver se conseguimos recuperar alguma coisa da nossa bela nave que você alegremente partiu em pedacinhos.
— Eu? O que tenho com isso? Foi você que a explodiu lá em cima.
— E quem foi que perdeu o sistema de controle remoto?
— Mas isso foi culpa sua. A fivela estava com defeito.
— Está bem, ok! Já está feito. Agora vamos procurar resolver essa situação. Embora eu seja um otimista incurável, no momento, não consigo ver nenhuma solução brilhante.
— São as ondas gama — retrucou Azakis, devolvendo o troco ao amigo. — Assumindo, é claro, que os quatro neurônios vagando na sua cabeça oca ainda sejam capazes de emiti-las.
— Depois dessa piada lamentável, finalmente posso anunciar que o velho Zak está mais uma vez entre nós. Bem-vindo de volta.
— Então, consegue levar essa cápsula para o local da explosão sem colidir com nenhuma elevação lunar?
— Certamente, senhor. Às suas ordens — exclamou Petri, imitando as maneiras militares que observara nos seus amigos terráqueos. — Destino: Lua — acrescentou animado, após ligar os motores e estabelecer o curso rumo ao satélite.
Levou apenas alguns minutos para chegar ao lugar onde a Theos havia desintegrado. A cápsula começou a sobrevoar lentamente a área da face oculta da Lua que sofrera o impacto da explosão. O solo, normalmente muito irregular e cheio de crateras causadas por antigos impactos de centenas de meteoritos, que durante milhões de anos, literalmente o haviam perfurado, agora parecia incrivelmente liso e plano por cerca de seiscentos quilômetros quadrados. A onda de energia gerada pela explosão havia destruído tudo. Rochas, crateras e depressões não existiam mais. Era como se um rolo compressor gigante tivesse passado por cima da área, deixando para trás uma extensão interminável de areia leve e cinza.
— Inacreditável — exclamou Petri. — É como sobrevoar o imenso deserto de Sihar em Nibiru.
— Fizemos um grande estrago — Azakis disse, desanimado.
— Não. Não consegue ver como a vista é linda agora? Antes a superfície tinha mais rugas que o nosso Supremo Ancião, em vez disso, agora é lisa como a pele de um bebê.
— Acho que não resta muita coisa da nossa adorada espaçonave.
—Estou executando uma varredura detalhada da área, mas o maior pedaço que encontrei é de aproximadamente alguns centímetros cúbicos.
— Não tem como negar. O sistema de autodestruição funcionou muito bem.
— Ei, Zak — Petri exclamou, de repente. — O que é isso, na sua opinião? — e apontou para uma mancha escura no monitor principal.
— Não sei... Não é possível ver muito bem. O que dizem os sensores?
— Não estão captando nada. De acordo com eles, não há nada exceto areia ali, mas acho que posso ver outra coisa.
— É impossível que os sensores não possam captar nada. Tente fazer um teste de calibragem.
— Só um segundo — Petri mexeu numa série de controles holográficos, então proferiu: — Os parâmetros estão dentro dos limites normais. Tudo parece estar funcionando corretamente.
— Estranho... Vamos tentar chegar mais perto.
A cápsula número seis se moveu lentamente na direção do estranho objeto, que parecia emergir da camada de pó e areia cinza.
— Ampliação máxima — ordenou Azakis. — Mas o que é?
— Pelo pouco que consigo ver, parece parte de uma estrutura artificial — Petri tentou chutar.
— Artificial? Acho que ninguém de nós já instalou alguma coisa na Lua.
— Talvez foram os terráqueos. Acho que li algo sobre terem feito várias expedições para este satélite.
— O que é verdadeiramente estranho é que nossos sensores não estão captando nada do que nossos olhos estão vendo.
— Não sei o que dizer. Talvez a explosão os danificou.
— Mas se acabou de fazer um teste e tudo está funcionando — Azakis respondeu, perplexo.
— Então essa coisa que estamos vendo deve ser feita de um material desconhecido, e portanto nossos sensores não conseguem analisar.
— Está tentando me dizer que os terráqueos foram capazes de inventar um composto que nem nós conhecemos, trouxeram aqui e construíram uma base ou alguma coisa com ele?
— E mais, nós até destruímos para eles — Petri comentou, desolado.
— Nossos amigos continuam a nos surpreender, não?
— Verdade... Bom, demos uma olhada por aqui. Acho que devemos esquecer isso por enquanto. Temos coisas mais importantes para fazer agora. O que você diz, chefe?
— Acho que está absolutamente certo. Considerando que não parece restar mais nada utilizável da Theos, acho que podemos partir.
— Rumo à Terra?
— Vamos voltar ao acampamento da Elisa e tentar usar o H^COM para contatar Nibiru.
— E nossos companheiros de viagem? Não podemos deixá-los assim aqui — disse Petri.
— Temos que organizar uma base de apoio na Terra. Poderíamos montar uma espécie de acampamento próximo ao dos nossos amigos.
— Me parece uma boa ideia. Devo informar ao restante da tripulação?
— Sim. Forneça as coordenadas do sítio de escavação e peça para organizarem os preparativos de uma estrutura de emergência. Vamos descer lá primeiro e começar, entrando em contato com os Anciãos.
— Vamos indo! — Petri disse alegremente. — E pensar que, até agora há pouco, estava ficando preocupado em como ia superar o tédio da viagem de volta.
Ao mesmo tempo, a uma distância de aproximadamente 500 U.A. do nosso sol, um estranho objeto ovalado surgiu praticamente do nada, antecedido por uma faixa de relâmpago azul que rasgou a escuridão absoluta do espaço. Moveu-se em linha reta por quase cem mil quilômetros a uma velocidade incrível, antes de desaparecer de novo, engolido por uma espécie de vórtice prateado com reflexos dourados. A totalidade do evento durou apenas alguns segundos, e depois, como se nada tivesse acontecido, aquele lugar tão remoto e desolado, nas profundezas do espaço, mergulhou de novo na tranquilidade absoluta em que esteve submerso até então.
Tell-el-Mukayyar – Contato com Nibiru
— Sim, Coronel — disse uma voz polida do outro lado da linha. — Recebemos relatórios, de vários pontos de observação na Terra, sobre um clarão artificial supostamente emitido pela Lua.
— Mas a Lua não emite "clarões" — Jack disse, contrariado.
— Tem razão, Senhor. Tudo o que posso afirmar é que nossos cientistas ainda estão analisando os dados que recebemos para poder identificar quem ou o quê provocou esse acontecimento.
— Portanto, basicamente, não tem a menor ideia do que foi aquilo.
— Bem, eu não colocaria dessa forma, mas acho que a sua conclusão é justa.
— Escuta só esse cara — disse Jack, voltando-se para Elisa, que se aproximou, enquanto ele cobria o microfone do celular com a mão. — Ok. Obrigado pela informação — continuou. — Assim que tiver mais notícias, por favor me chame imediatamente.
— Sim, Senhor, com prazer. Até logo, tenha um bom dia — e terminou a conversa.
— O que disseram? — perguntou a doutora.
— Parece que algo estranho realmente aconteceu, mas ninguém achou uma explicação decente ainda.
— Estou cada vez mais convencida de que alguma coisa aconteceu aos nossos amigos.
— Ora, não diga isso. Com aquela espaçonave fantástica, sabe lá até onde chegaram a essa altura.
— Espero que sim, de verdade, de todo coração, mas ainda tenho um pressentimento estranho.
— Ouça, para eliminar qualquer dúvida, por que não usamos aquela coisa que nos deram e tentamos contatá-los?
— Não sei... Eles disseram que somente conseguiríamos usar depois que chegassem ao seu planeta... Não acho que...
— Vamos, traga para cá... — o Coronel a interrompeu. Então percebendo que talvez tivesse sido meio brusco, acrescentou gentilmente um "por favor", seguido de um sorriso cintilante.
— Ok. Na pior das hipóteses, não vai funcionar — disse Elisa enquanto ia pegar o H^COM portátil. Voltou quase imediatamente, e depois de arrumar um pouco os longos cabelos, colocou o grande e estranho capacete.
— Ele disse para apertar esse botão aí — disse Jack indicando o botão. — Assim o sistema vai fazer tudo sozinho.
— O que devo fazer, apertar? — Elisa perguntou, hesitando.
— Vá em frente, que acha que vai acontecer?
A arqueóloga pressionou o botão, e exagerando um pouco a sua fala, disse: — Alô? Tem alguém aí?
Esperou, mas não recebeu resposta. Esperou mais um pouco e então tentou de novo. — Alô... Alô... Petri, está aí? Não consigo ouvir nada.
Elisa esperou mais alguns segundos e então abriu os braços e encolheu os ombros.
— Aperte o botão de novo — o Coronel sugeriu.
Eles repetiram esse processo várias vezes, mas o sistema de comunicação não emitiu nem um rumorejo sequer.
— Não há nada a fazer. Talvez algo realmente aconteceu a eles — sussurrou Elisa enquanto removia o H^COM da cabeça.