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— Ou quem sabe ainda não chegaram dentro do raio de ação dessa coisa.
O Coronel não havia terminado a última frase quando um som esquisito do lado de fora chamou a atenção dos dois.
— Jack, veja — Elisa exclamou surpresa, enquanto olhava para fora da tenda. — As esferas... Estão sendo reativadas.
Com o coração na garganta, ambos correram para fora, e para o espanto deles, avistaram a pirâmide virtual de pouso que estava se formando de novo. Seus amigos estavam retornando.
— Viu, eles não explodiram — disse Jack, bastante animado.
— Talvez esqueceram alguma coisa.
— O importante é que estão bem. Vamos tentar ficar calmos. Logo saberemos o que de fato aconteceu.
O procedimento de pouso continuou sem transtornos, e num instante, as grandes figuras dos dois alienígenas apareceram na plataforma de descida.
— Olá, gente — berrou Petri, acenando com a sua grande mão.
— Que diabos estão fazendo aqui de novo? — perguntou Jack, enquanto os dois alienígenas eram transportados para o nível do solo pela estrutura móvel.
— Estávamos com saudades — respondeu Petri, saltando daquela espécie de elevador, antes mesmo que tocasse o chão, imediatamente seguido pelo companheiro de viagem.
— Estávamos preocupados — disse Elisa, finalmente tranquila. — Presenciamos um estranho evento na Lua há poucos instantes e realmente tivemos receio de que algo terrível tivesse acontecido a vocês.
— Infelizmente, minha cara, algo terrível aconteceu de verdade — disse Azakis desolado.
— Até que enfim, eu sabia — Elisa exclamou. — Uma vozinha lá dentro ficava me dizendo isso. Mas o que foi?
— Tudo aconteceu muito de repente.
— Então, vai contar pra gente? Ah, não nos deixem aflitos. Nos conte tudo, agora.
— Nossa espaçonave se foi — Azakis anunciou de uma só vez.
Os dois terráqueos se olharam por um momento, completamente chocados. Então Jack disse: — Está de brincadeira? O que quer dizer "se foi"?
— Quer dizer que, nesse instante, o maior pedaço da Theos caberia facilmente na ponta do seu dedo indicador.
— Mas o que se passou? E o resto da tripulação, onde está? Estão todos bem?
— Sim, estão, obrigado. Nesse momento, estão nas outras três cápsulas e em breve chegarão aqui também. Se não se importarem, vamos montar uma estrutura de emergência aqui e nos organizar de algum jeito.
— Mas é claro, não tem problema — disse Jack. — Daremos toda a ajuda possível. Não precisa nem pedir.
— Então, — Elisa deixou escapar, não conseguindo mais segurar a curiosidade. — Vai nos contar, sim ou não, que raios aconteceu lá em cima?
— É uma longa história — disse Azakis, se sentando num balde de lata virado. — É melhor se sentarem.
Após cerca de dez minutos, o alienígena basicamente contou a eles a história toda. Desde a perda do sistema de controle remoto, até a tentativa para desativá-lo. Da irresponsabilidade de desistir de recuperá-lo, até a reativação repentina do instrumento que então iniciara o processo de autodestruição.
— Mas é apavorante — disse Elisa, horrorizada. — Quem seria capaz de provocar um desastre como esse?
— Provavelmente, — disse Azakis, — alguém deve ter encontrado o estranho objeto e estudado suas funções. Então devem ter achado alguma informação no meio de todos os dados que carregamos nos seus servidores, e de alguma maneira, conseguiram ligar de novo, causando o resultado que agora conhecemos.
— Santo Deus! — exclamou o Coronel, aborrecido. — Parece uma história tão absurda... E sabendo dos perigos de um dispositivo como esse, não fizeram nada para recuperá-lo?
— Foi minha culpa — disse Petri, juntando-se à discussão. — Achei que tinha desativado completamente e mesmo se fosse encontrado, nenhum terráqueo seria capaz de reativá-lo.
— E ainda assim, isso aconteceu — disse Jack. — Tem alguma ideia de onde o perdeu?
— Nós honestamente pensamos que havíamos perdido enquanto recuperávamos o cristal Zenio, mas é mais provável que foi parar em outro lugar, com mais gente. Não havia absolutamente ninguém lá em baixo.
— Zak, tive uma ideia — disse Petri, se levantando. — Acho que se eu trabalhar um pouco nisso, poderei voltar atrás e rastrear o momento em que o controle remoto foi desenganchado do seu cinto.
— Não é tão importante assim agora, mas devo admitir que também estou um pouco curioso.
— Ótimo. Primeiramente, vamos informar os Anciãos sobre a nossa situação e assim que estivermos um pouco organizados, vou tentar recuperar essa informação.
— Elisa — disse Azakis. — Infelizmente, o único H^COM que tínhamos foi destruído junto com a Theos. Você poderia nos fazer o favor de emprestar aquele que deixamos com vocês quando estávamos partindo?
— Você quer dizer, o capacete? Claro. Vou já pegar para você.
— Infelizmente, a situação é grave — sussurrou Azakis para o Coronel, assim que Elisa estava longe suficiente para não ouvir. — Mesmo se conseguirmos contatar os Anciãos, as chances de voltar ao nosso planeta são praticamente nulas agora.
— Mas não podem mandar alguém para vir buscá-los? Zaneki não tem uma nave como a sua?
— Infelizmente, os motores instalados na nave dele são consideravelmente menos potentes que os que tínhamos na nossa. É por isso que ele precisava partir imediatamente depois da passagem de Kodon. Se não tivesse feito isso, não conseguiria alcançar mais Nibiru, que estava indo embora rapidamente. Nós conseguimos ficar aqui por mais tempo precisamente por causa dos nossos motores experimentais. Infelizmente, a Theos era a única nave da nossa frota com esse tipo de motor. A produção e a instalação de mais dois novos como esses pode levar muito tempo. Muito do "nosso" tempo.
— Quer dizer, teriam que ficar aqui até a próxima passagem de Nibiru?
— Aqui está — disse Elisa voltando às pressas na direção deles.
— Infelizmente sim, Jack — sussurrou Azakis, enquanto se levantava para pegar o capacete do H^COM que a arqueóloga estava entregando a ele.
— Obrigado, Elisa — disse o alienígena ao colocá-lo na cabeça. — Vamos ver se funciona.
— Na verdade nós tentamos, mas não conseguimos falar com ninguém.
— Isso é obra do meu amigo — comentou Azakis olhando para Petri. — Não faz nada que funcione.
— Gentil como sempre — disse Petri, sério. — Vou me lembrar disso quando me pedir para consertar seu banheiro.
— Ah sim, — exclamou Elisa sorrindo. — Me lembro bem como seus banheiros funcionam. Uma experiência verdadeiramente inesquecível.
Os quatro explodiram em risadas, ao fim das quais, Petri tirou o capacete das mãos de Azakis e disse: — Espere, seu velho ingrato. Primeiro preciso mudar uma configuração. O sistema foi programado para nos chamar na pobre Theos e não acho que ninguém vai responder de lá agora.
O alienígena mexeu um pouco nos controles do H^COM portátil, e então, quando ficou satisfeito com seu trabalho, passou de volta ao companheiro, dizendo: — Tente agora. Felizmente a minha memória não tem me falhado, e fui capaz de configurar para que lhe conecte com a pessoa certa.
Azakis não duvidou da memória do amigo nem um instante, e colocou o capacete na cabeça. Apertou o botão de iniciar e esperou pacientemente. Levou quase um minuto até a imagem tridimensional do rosto ossudo do Ancião da sua linha direta ser projetada na retina dos seus olhos já cansados.
— Azakis, que bom vê-lo — disse o seu contato de cabelos brancos, erguendo o fino braço direito em saudação. — Mas da onde está me chamando? Sua imagem está um pouco estranha e bem distorcida.
— É uma longa história — respondeu o alienígena. — Estou usando um dispositivo provisório para comunicação de longa distância.
— Mas não está na sua nave? Não me diga que ainda não partiram. Você sabe que o tempo limite para nos alcançar quase esgotou, não sabe?
— É exatamente sobre isso que queria falar — ele fez uma breve pausa para tentar escolher as palavras mais apropriadas e continuou: — Houve um imprevisto... A espaçonave se foi.
— Se foi? O que quer dizer?
— Explodiu. O sistema de autodestruição foi ativado, e conseguimos escapar a tempo, antes de tudo explodir em mil pedaços.
— Mas somente você poderia ativar esse procedimento com o seu sistema pessoal de controle remoto. Como algo assim pôde acontecer? — perguntou o Ancião, atônito.
— Houve uma série de determinados eventos, e devo tê-lo deixado cair.
— E alguém achou e ativou no seu lugar?
— Ainda não conseguimos determinar o que realmente aconteceu, mas isso é bem provável.
— E agora? Como pretende voltar para cá?
— É por isso que entramos em contato. Nós precisávamos de uma solução boa e rápida para esse probleminha.
— Probleminha? — respondeu o Ancião, saltando de pé com uma agilidade surpreendente. — Percebe o que está dizendo? Seu prazo está quase no limite. Já deviam ter partido e está dizendo que a Theos não existe mais e que estão praticamente presos na Terra. O que faremos agora?
— Bem, realmente não sei. Vocês são os Anciãos. Confiamos que, com sua experiência e sua sabedoria infinita, serão capazes de nos ajudar a sair dessa situação.
O idoso homem sentou-se de novo, deixando o seu peso cair na poltrona cinza e macia, depois apoiou os cotovelos na mesa em frente e colocou as mãos nos longos cabelos brancos, ficando em silêncio total. Permaneceu imóvel por alguns segundos, depois ergueu o olhar novamente e disse: — Vou tentar convocar o Conselho imediatamente e colocar todos os nossos melhores Especialistas para trabalhar. Espero poder dar notícias boas a vocês em breve — e terminou a comunicação.
Pasadena, Califórnia – O nerd
— É só isso? — exclamou o sujeito grandão, definitivamente obeso, enquanto observava o estranho dispositivo que o jovem nerd estava segurando. — Não vai dizer que nos fez esperar mais de um mês só para nos mostrar essa coisa piscando.
— Posso garantir que está funcionando — respondeu o garoto, aterrorizado. — Na verdade, acho que já fez o que devia, conforme foi projetada.
— Sim, mas vai nos contar o que é que fez? — o magrelo alto berrou ao pular de pé. — Agora estou realmente perdendo a paciência.
No porão repleto de equipamentos, monitores e computadores de todos os tipos, iluminado por uma fraca luz led que se refletia nas paredes gastas, o rosto macilento do garoto parecia mais pálido do que na realidade era.
— Escute aqui, se não contar para que serve, juro que farei você engolir essa coisa inteirinha — exclamou o gordo, segurando o nerd pelo pescoço.
— Mas te disse — respondeu o garoto, ainda mais assustado. — É um sistema para ativar um procedimento à distância.
— Mas que procedimento? Qual? — o gordo continuou, enquanto sacudia o garoto como se estivesse chacoalhando Margaritas.
— Não sei bem — o jovem tentou responder. — Mas acho que ativamos algo bem peculiar e perigoso, tendo em vista os sistemas de proteção que precisei contornar.
— Explique — disse o gordo, ainda sacudindo o garoto.
— Se me soltar, vou te mostrar.
— Ok. Mas seja convincente, senão o maior pedaço de você que restar só será visível por microscópio.
O garoto endireitou a sua camisa, arrumou os longos cabelos que não eram lavados há um bom tempo e foi até o posto de trabalho com dois teclados e uma série de computadores desmantelados pela metade. Ele digitou rapidamente vários comandos incompreensíveis, e depois de alguns segundos, uma imagem tridimensional do estranho objeto que lentamente revolvia sobre si mesmo apareceu num monitor gigantesco pendurado no teto.
— Este é o nosso misterioso controle remoto.
— Ah, agora virou um controle remoto?
— Bom, considerando a sua função, acho que seguramente podemos chamá-lo assim.
— Prossiga — disse o magrelo, enquanto se acomodava numa cadeira maltrapilha, para poder observar melhor o grande monitor.
— Certo, o maior problema era como reativá-lo. Tive muitas dificuldades, porque provavelmente, além de estar desligado, o dono não queria que ninguém jamais ligasse de novo.
— Viu, não foram as pilhas que pifaram, seu tonto — exclamou o gordo, falando com o seu comparsa.
— Não, não há pilhas dentro — o nerd continuou. — Acho que funciona por meio de uma fonte externa de alimentação, uma espécie de fluxo eletromagnético, que é capaz de captar e transformar em energia pura.
— Interessante — o magrelo comentou. — Mas qual é o alcance?
— Teoricamente, talvez centenas de milhares de quilômetros.
— Diacho — o gordo exclamou enquanto segurava o estranho objeto na mão. — Está dizendo que essa coisinha seria capaz de transmitir um sinal daqui para a Lua?
— Acho que sim, e provavelmente já fez isso.
— E o que deve ter transmitido?
— Aí é que vem a parte interessante — continuou o garoto, enquanto trazia uma nova imagem para o grande monitor. — Esses são os símbolos que apareceram na frente dele depois de ser reativado.
— Parece um tipo de linguagem antiga — comentou o magrelo. — Tenho certeza que já vi antes.
— De fato, é cuneiforme. Os sumérios a usavam há milhares de anos antes de Cristo.
— E como foi parar num instrumento tecnológico tão avançado?
— É a linguagem dos nossos visitantes alienígenas.
— Está dizendo que aqueles brutamontes que nos capturaram falam cuneiforme? — perguntou o gordo, um pouco surpreso.
— Bem, — o garoto tentou explicar, — não se fala cuneiforme, exatamente. É um tipo de escrita. Mas acho que é a linguagem deles.
— E conseguiu traduzir?
— Na verdade, para enviar o comando, tive de inserir uma espécie de senha. Na prática, ao tocar os símbolos na ordem correta, acessei o modo operacional.
— Basicamente, igual ao sistema de desbloquear o celular?