banner banner banner
A Cidade Sinistra
A Cidade Sinistra
Оценить:
Рейтинг: 0

Полная версия:

A Cidade Sinistra

скачать книгу бесплатно


“Considere a pergunta,” Wayland disse, sua voz cheia de paciência.

Demelza olhou para o coelho na mão de Wayland e após um longo instante, ela balançou a cabeça e disse, “Aprendi que o coelho não é tão esperto quanto a Melza.” Eriqwyn reprimiu um suspiro e girou nos calcanhares. Enquanto se afastava, ela ouviu Demelza acrescentar, “Contudo, ainda está morto.”

“Um pântano,” Oriken resmungou enquanto puxava a bota do pântano com um barulho molhado. Ele olhou para a vista à frente, para a planície aberta, as árvores tortas e escassas, os tufos de bambus e feno salgado que pontilhavam toda a paisagem. “É exatamente o que precisávamos.”

Nuvens haviam se reunido e o ar estava se tornando nublado com a chuva fina. O pântano estava intransitável a não ser que eles quisessem correr o risco de atravessá-lo, o que, para a mente de Oriken, não iria acontecer. Nosso sexto dia na estrada e não estamos nem na metade do caminho para o nosso destino, ele pensou, franzindo o cenho para a bota coberta de lama. Mesmo assim, primeiro obstáculo até agora, se você não incluir aqueles malditos primatas. Sob a atadura em seu antebraço, o arranhão da garra do cravante estava começando a coçar.

“Vamos ter de fazer um desvio,” Jalis disse, abaixando-se para os remanescentes cobertos de vegetação da antiga estrada e tirando seus sapatos. “Você disse sul e oeste, certo?”

“Uhuh.” Oriken esfregou um dedo no queixo barbudo para evitar coçar o braço cicatrizando. “A costa é muito mais perto do oeste do que do leste. A partir daqui, calculo trinta e dois quilômetros, mais ou menos.”

Dagra bufou. “E que bem isso nos faz?”

Oriken deu de ombros, agarrou a copa do seu chapéu e tirou-o. “Se formos para o leste poderíamos acabar acrescentando dias ou uma semana inteira a nossa viagem. Além disso, prefiro atravessar a costa rochosa ou praias do que atravessar um pântano.”

“Então é o oeste,” Jalis disse, tirando suas botas da mochila e calçando-as. “Não faz sentido adivinhar a distância que o pântano cobre. Vamos seguir sua borda o mais próximo que pudermos.” Ela estendeu uma mão para Oriken e ele ajudou-a a ficar em pé.

“E se isso levar diretamente para o oceano?” Dagra perguntou. “Nada de útil é o que fará por nós.”

Oriken passou uma mão pelo cabelo e recolocou seu chapéu, girando de leve a aba. “Neste caso, voltamos e vamos para o leste. Por que você tem de presumir o negativo, Dag? Nenhum de nós está feliz com isso. Você precisa relaxar um pouco.”

Dagra murmurou baixinho e encarou a charneca cheia de pântano.

“O que foi que você disse?”

“Nada. Esqueça.” O rosto de Dagra era uma máscara taciturna enquanto ele saía enfurecido para o oeste ao lado do pântano.

Enquanto seguiam atrás, Oriken olhou para Jalis. “Ele está muito tenso. Se houvesse algum maldito santuário para a Díade por aqui, nós o teríamos de bom humor em pouco tempo.”

Jalis concordou. “Estou começando a ver o quanto pedimos a ele para se juntar a nós. Não apreciei sua preocupação na taverna.”

“Ele vai mudar de ideia. Sua fé é mais forte do que qualquer um que eu conheço, para meu aborrecimento ao longo da vida. Fará com que ele sobreviva.”

“Espero que você esteja certo,” Jalis disse, “embora me pareça que você está colocando fé na fé de Dagra.”

Oriken deu uma risada baixinha. “Você me pegou aí.”

A tarde se prolongou. A chuva continuava leve, mas implacável. Jalis e Dagra usavam suas capas curtas com os capuzes puxados para cima e Oriken tinha vestido sua capa de couro de nargute. Ele estava quente, mas seco. Dagra juntou-se a eles e caminhou para o outro lado de Jalis enquanto os três caminhavam ao longo da beirada do pântano. A conversa era escassa e Oriken se viu imaginando o que havia realmente à frente deles. Eles estavam apenas alguns dias além da civilização, mas apesar da paisagem familiar de Himaera, a Colina Scapa tinha uma atmosfera própria. A vastidão da região fazia com que ele se sentisse não confinado, mas também desconfortável como se a própria região estivesse ciente da presença deles e os considerasse intrusos. O que, claro, era bobagem.

Talvez o humor de Dag esteja me contagiando, ele pensou, em seguida balançou a cabeça. Nenhum deles era estranho a viajar e ver somente deserto de um dia para o outro, mas saber que eles se dirigiam cada vez mais profundo em uma região vasta e despovoada – uma região evitada pelos vivos e abandonada ao passado – ele não conseguia afastar a apreensão que estava começando a se infiltrar. Havia realmente uma cidade no outro lado das Terras Mortas? Se sim, então certamente era uma casca de lugar, desmoronando ao chão e consumido pela vegetação.

Enquanto ele se arrastava, a chuva aumentou e começou a tamborilar na aba do seu chapéu. Com Jalis e Dagra caminhando ao seu lado em seus próprios pensamentos silenciosos, Oriken analisou a lenda de Lachyla. A cidade estava envolta em uma história vaga e estórias embelezadas, mas há quatro anos Oriken ouviu a melhor contada por um Tecelão de Histórias que passava por Alder’s Folly. O homem tinha parado para passar a noite no Mascate Solitário na época quando Oriken e Dagra eram novatos na guilda e novos moradores em Alder’s Folly, vivendo na casa da guilda com Maros, Jalis e o resto dos freeblades enquanto o Mascate ainda era de propriedade de Alderby.

Na virada da meia-noite, a sala comunal da taverna estava carregada com os cheiros de madeira queimada, cerveja e trabalho árduo. Os freeblades estavam reunidos em suas mesas perto da única porta de entrada. Maros sempre tinha de se abaixar e se espremer através daquela porta, mesmo antes que o ataque do lyakyn tivesse aleijado sua perna, Oriken se lembrou com uma pitada de pena pelo seu mentor mestiço e amigo. O balbucio da conversa silenciou-se na sala comunal quando um estranho entrou e olhou ao redor. O homem de meia idade era tão alto quanto Oriken. Ele caminhou até o bar, sacudiu para o lado a cauda do seu sobretudo azul e bege e saltou habilmente para se empoleirar no balcão de serviço.

O enigmático Tecelão de Histórias sorriu com sua barba bem aparada e grisalha. Seu olhar percorreu os rostos extasiados dos clientes silenciosos. Seus olhos eram vitais. Seu queixo se projetava apenas ligeiramente em uma confiança silenciosa. Enquanto a lareira crepitava, ele alisou as dobras do seu sobretudo e começou a tecer sua história…

No auge dos Dias dos Reis, Lachyla era uma cidade fortaleza vibrante e movimentada, com mais poder e influência do que qualquer outra em Himaera. Seu povo celebrava a morte com cerimônias elaboradas nos luxuosos jardins funerários. As muralhas imponentes do cemitério eram a primeira linha de defesa da cidade, como foi demonstrado décadas antes quando um exército invasor havia violado os portões – ou assim eles acreditavam – só para se verem cercados por todos os lados por arqueiros. Os dias de guerra estavam em declínio, mas a mortalidade fugaz dos homens pode transformar o grande jogo dos reinos em uma única geração, à medida que um novo soberano se ergue enquanto o sangue dos velhos leigos se espalha sobre o tabuleiro. A idade de ouro dos monarcas estava destinada a um fim calamitoso graças, em grande parte, as ações de um homem.

O último rei de Lachyla foi Mallak Ammenfar. Desafiando os soberanos tirânicos da época, Mallak era um governante imparcial e justo e rapidamente teve sucesso em formar alianças com seus vizinhos do norte. Nos primeiros dias do seu reinado, uma paz desconfortável prevaleceu em Himaera, mas à medida que seu mandato avançava, sua diplomacia dava lugar a uma paranoia crescente. Com a intenção de tornar Lachyla uma cidade-estado autossuficiente, ele começou a fechar as rotas de comércio com os reinos mais setentrionais e restringiu a viagem dos seus cidadãos. Mallak negligenciou os assentamentos mais distantes do Reino de Lachylan e concentrou-se somente na cidade extensa e fortificada.

Após a morte da sua mãe, ele tornou-se recluso e passava a maior parte do seu tempo no santuário inferior do castelo. Ninguém sabia o que ele fazia ali, nem mesmo a rainha.

Sem o comércio de metais, pedras preciosas e outros recursos valiosos de Lachyla, os reinos do norte caíram em declínio e as tensões cresceram por toda a terra.

Finalmente, mercadores esperançosos e enviados de seus vizinhos aliados tentando visitar Lachyla voltaram para casa com relatos que os portões da cidade estavam fechados e desguarnecidos. Além destes portões, eles disseram, os jardins funerários de Lachyla e o grande Caminho dos Defuntos – outrora um balbucio constante de atividade silenciosa – estendiam-se vazios até a cidade propriamente dita, sem um pranteador nem um caseiro à vista. A entrada estava barrada para todos os forasteiros, até mesmo àqueles súditos de Lachylan dos assentamentos e fortalezas remotas. O povo da cidade, nenhum estava autorizado a sair.

Os reis de Himaera deixaram Lachyla a sua própria sorte, decidindo contra a guerra enquanto atendiam aos conselhos dos seus embaixadores que retornavam. Uma falta de naturalidade estabeleceu-se na cidade. Até mesmo as aves alteraram seu curso para evitar voar além das muralhas, talvez percebendo o erro no cemitério – os arbustos e grama secos, o solo perturbado das sepulturas…

As atividades secretas do rei sob o castelo não eram testemunhadas por nenhum mortal, mas a antiga divindade de Himaera, Valsana, não tinha tais restrições. A deusa da vida e morte reinava separada e suprema acima de todos os deuses do Vinculado e Desvinculado, muito antes dos dias iluminados da Díade.

Valsana via as ações do rei como um desejo por governar além da sua posição e ela o considerou culpado por alcançar a divindade. Sua vingança caiu sobre os ombros não somente de Mallak, mas de todos que moravam dentro das muralhas da cidade.

Ela convocou os habitantes dos jardins funerários dos seus lugares de descanso. Os ancestrais invadiram a cidade e destruíram seus descendentes, que estavam muito aterrorizados para revidar. Logo, cada homem, mulher e criança dentro da cidade se juntaram as suas fileiras medonhas.

Quando o rei viu sua cidade cair no caos, ele ordenou ao último dos seus guardiões para barrar por dentro as portas do castelo. Naquela primeira noite, os gemidos dos mortos cercavam o castelo, o coração de uma criada idosa cedeu ao horror. Ela passou silenciosamente para a morte e levantou-se da mesma maneira silenciosa. Um por um, cada um dos criados do rei sucumbiu ao inevitável, seguido por sua família e finalmente seus guardiões até que permaneceu somente Mallak. Para os vivos, o castelo era seu santuário final. Para os mortos inquietos, era uma sepultura eterna.

Mallak trancou-se na sala do trono e sentou-se no assento adornado com joias, ouvindo seus súditos e familiares mortos enquanto eles arranhavam as portas. Após um tempo, eles foram embora e ele foi deixado sozinho. Havia uma mesa com um banquete modesto na sala do trono, mas a comida estava estragada e o vinho transformou-se em vinagre e o rei conheceu o desespero ao perceber as profundezas da maldição da deusa.

Dias se passaram e, sem comida comestível nem água para sustentá-lo, Mallak ficou fraco. Ele começou a comer a fruta podre e beber o vinho estragado, mas seu estômago não aguentou nenhum dos dois e ele vomitou.

O tempo perdeu significado na sala do trono sem janelas, marcado apenas pelo sono agitado no chão frio de pedra. Sedento e morrendo de fome, Mallak difamava o nome da deusa pelo que ela havia causado a ele.

Cedendo cada vez mais ao delírio, o rei compreendeu o erro dos seus modos. Tudo que ele queria era proteger sua cidade e seu povo do veneno dos outros reinos, mas esta proteção sufocou todos. Os Reinos Himaeranianos não estavam repletos de inimigos de Lachyla. As criaturas vagando pelas ruas e pelos corredores do castelo não eram os verdadeiros monstros. O verdadeiro monstro, ele sabia, havia se trancado na sala do trono.

“Valsana tenha misericórdia,” Mallak sussurrou, sua voz pouco mais do que um coaxar seco. Mas nenhuma misericórdia veio. Ele meditava no trono, drenado até mesmo do desespero. Enquanto os murmúrios dos mortos o atormentavam, Rei Mallak Ammenfar partiu desta vida para a próxima.

A deusa concedeu aquilo que o rei tanto desejava. Seu presente para ele foi o domínio completo de Lachyla, nem mesmo a finalidade da morte poderia usurpá-lo – porque o único governante verdadeiro da eternidade… é a própria morte.

“Precisamos de abrigo,” Jalis disse por baixo do capuz, trazendo Oriken de volta ao presente. “As nuvens estão escurecendo e a chuva está piorando.”

“Se meus olhos não me enganam,” Dagra disse, “este abrigo pode estar no horizonte.” Ele apontou para a paisagem nublada.

Oriken podia ver apenas as formas de várias estruturas pequenas no meio do manto de chuva. “Bem, vou ser amaldiçoado.”

“Aye,” Dagra bufou. “Provavelmente.”

Enquanto eles aceleravam o ritmo, Jalis disse, “Pelo menos, sem bosques por perto, não haverá cravantes desta vez.”

Dagra grunhiu sua concordância. “Mas não vamos ser complacentes. Não há como dizer que outras surpresas as Terras Mortas poderiam ter reservado para nós.”

O estômago de Oriken roncou. Um teto e um descanso por um tempo seriam agradáveis neste momento, mas iria preferir um coelho assado. Não tinha visto um almoço em potencial o dia inteiro. Quando eles se aproximaram dos prédios, suas esperanças se dissolveram. As três cabanas de madeira estavam em estados avançados de desmoronamento e várias estruturas menores eram pouco mais do que pilhas de madeira apodrecida. Telhados tinham caído parcialmente, as portas estavam faltando ou estavam semiafundadas no chão e os interiores estavam cobertos de vegetação e água.

Oriken desembainhou seu sabre e caminhou até a cabana mais distante, deixando Dagra e Jalis para inspecionar os prédios mais próximos. Uma breve busca confirmou que realmente não era nenhum abrigo nem havia algo que valesse a pena salvar dos restos da mobília devorada pelos vermes. Ele deu um passo para o lado desmoronado da cabana, serpenteando entre os escombros cobertos de musgo. Atrás do prédio, várias árvores baixas e espinhosas se aninhavam ao abrigo de um outeiro; atrás delas, as tábuas deformadas de uma abertura feito pelo homem estavam apoiadas obliquamente no lado da colina.

“Há uma mina aqui atrás!” ele gritou por cima do ombro.

Jalis apareceu um instante depois. “Tenha cuidado.”

Oriken correu para a entrada da mina e deu uma olhada no interior. Com um encolher de ombros, ele atravessou a soleira. O primeiro conjunto de vigas de sustentação estava visível a uma curta distância; além disso, o resto do túnel se estendia na escuridão. Ele deu mais alguns passos e parou para passar os dedos na terra. Satisfeito que estava seca, ele jogou a mochila no chão e colocou o cinturão do sabre sobre ela, depois sentou-se apoiado na parede do túnel.

Jalis correu para a entrada e empurrou o capuz para trás com um suspiro. Um instante depois Dagra entrou atrás dela, sacudindo a água da sua capa. Na charneca, o vento soprava e a chuva caía com um novo fervor.

Uma vez livre do seu equipamento, Jalis sentou-se com as pernas cruzadas ao lado de Oriken. “Assim que aliviar, vamos sair de novo.”

“Onde quer que haja uma mina, normalmente há um assentamento nas proximidades,” Oriken disse.

Dagra emitiu um grunhido evasivo. “Qualquer assentamento estará em condições tão ruins quanto aquelas cabanas de trabalhadores lá fora. As casas da periferia não estavam vazias por mais do que algumas décadas, mas esta mina foi abandonada há, pelo menos, uma centena de anos.”

“Ele está certo,” Jalis disse. “Não faz sentindo em ficar animado. Além disso, o bosque por aqui é muito mais esparso; se permanecer assim, não vamos esbarrar com mais nenhum cravante.”

“Aye, bem,” Dagra murmurou enquanto passava. “Sem mais surpresas. Isto está bem para mim.” Ele largou seu equipamento contra a parede e agachou-se ao lado dele, colocando seu gládio sobre o colo.

Oriken olhou além de Jalis para admirar os prédios quebrados. Ele se perguntava como eram os mineiros naquela época e se eles eram parecidos com seu pai. Estufando as bochechas, ele olhou na direção oposta da escuridão intensa do túnel. “Ei, espere,” ele murmurou. “Aquilo é… Dag, cuidado!”

Um vulto correu direto para Dagra. Ele estava em pé em um piscar de olhos para encontrar o agressor de cabeça erguida, balançando sua espada no vulto escuro. Com um grunhido, o agressor passou as mãos ao redor do pescoço de Dagra e ele empurrou o gládio de lâmina larga através da barriga do agressor, empurrando-o mais alto no peito. As mãos ao redor do pescoço de Dagra afrouxaram e seu agressor caiu em cima dele. Ele arrancou a espada do corpo e o agressor caiu ao chão. Tudo tinha acontecido em segundos, mas Oriken e Jalis tinham suas armas sacadas e prontas para atacar a partir do túnel. O momento se prolongou, mas nada veio. Oriken olhou para Dagra, cujos olhos estavam fixos no corpo aos seus pés.

Oriken olhou para baixo. “Merda,” ele disse enquanto olhava para a pele suja, coberta de machucados, o cabelo comprido e emaranhado e a barba desgrenhada de um homem nu.

Dagra gemeu, caminhou até a entrada e ficou olhando para a chuva.

“Um eremita?” Jalis ponderou. “Ou há mais no interior da mina?”

“Um idiota, de qualquer maneira,” Oriken disse. “O que ele estava pensando?”

“Invadimos sua casa.” Dagra mantinha suas costas para eles. “Ele estava somente se protegendo.”

Jalis balançou a cabeça. “Não representávamos nenhuma ameaça para ele,” ela disse a Dagra.

“Deveríamos queimá-lo.”

Oriken jogou as mãos para cima. “Ótima ideia. Vou sair e pegar um pouco de madeira seca para uma fogueira. Há tantas árvores por aqui e realmente não está chovendo pesado.”

“Ok, tudo bem!” Dagra virou-se para encará-los. “Vamos pelo menos arrastá-lo mais para dentro, se vamos ficar por um tempo.”

“Isso eu posso fazer,” Oriken disse, tentando sem sucesso evitar a dureza na sua voz.

Dagra olhou para ele e após um momento deu um breve aceno de cabeça.

Oriken agarrou os pulsos do eremita e arrastou o corpo para o túnel, mantendo seus sentidos em alerta para mais perigo. A escuridão era completa, mas ele conhecia bem as entradas de minas. Quinze metros adiante, o túnel se dobrava e ele largou o cadáver no canto. Por um minuto inteiro, ele ficou parado e olhou para a escuridão enquanto pensamentos sem forma empurravam o limite das suas emoções.

“Orik!” A voz de Jalis soou no túnel. “Você está bem?”

“É claro,” ele disse. Ele deu à escuridão um olhar sombrio, em seguida virou-se para se juntar aos seus amigos.

“Você não precisava ir tão longe,” Dagra disse quando Oriken se aproximou da entrada.

“Não fui longe. Estava apenas pensando.”

“Você realmente escolhe seus lugares para introspecção,” Jalis disse. “Em uma mina abandonada, no escuro, perto de um cadáver.”

“Um pouco de respeito, por favor, garota,” Dagra disse. “Aquela era uma pessoa viva há poucos minutos.”

“Ele nos atacou,” Jalis disse, “não o contrário. Você se defendeu. Você não tem nada para se sentir mal sobre isso.”

“Não precisava matá-lo.”

“Não, mas você não tinha como saber quão perigoso ele era nem que ele era um homem até que fosse tarde demais. Não se critique por causa disso. Ainda temos um longo caminho a percorrer e precisamos nos manter tão afiados quanto nossas espadas.”

Dagra resmungou um reconhecimento sem palavras. “Gostaria que esta maldita chuva diminuísse para que pudéssemos seguir em frente.”

Jalis sorriu. “Este é o espírito.”

Oriken deixou-se cair para sentar-se encostado na parede.

Jalis sentou-se de pernas cruzadas ao lado dele. “Algo aconteceu?”

“Não.”

Ela estudou seu rosto. “Lembre-se que é comigo com quem você está falando. Consigo ver sua alma.”

Ele bufou. “Não tenho uma destas.”

Dagra veio se juntar a eles. “Você não precisa seguir a Díade para ter uma alma,” ele disse. “Todo mundo tem uma. Até mesmo você.”

“Sim, certo.” Oriken voltou seus olhos para a escuridão.

“Sim, certo,” Dagra insistiu.

“Não acredito em nenhum dos seus deuses, Dag. Você sabe disso. Nem na Díade. Nem no Vinculado. Nenhum deles.”

“Bem, talvez eles acreditem em você.”

“Pelo amor de Deus!” Oriken levantou-se e olhou com cara feia para seu amigo. “Você não pode deixar isso em paz, só para variar?”

Jalis levantou-se e ficou entre eles. “Não sei como vocês conseguiram permanecer amigos por todos estes anos,” ela disse, passando um olhar severo de um para o outro.

Dagra acenou uma mão com desdém. “Nem eu.”

“Eu sei,” Oriken disse. “Eu devo...” Ele reprimiu o resto das palavras e pressionou os lábios com firmeza.

Dagra virou a cabeça lentamente. Seus olhos se levantaram para prender Oriken com um olhar sinistro. “Não pare aí,” ele disse com calma. “Você ainda acredita que me deve? O que eu fiz por você, eu fiz tarde demais. Eu tive uma chance mais cedo e não aproveitei. Você não me deve nada.”

Idiota! Oriken repreendeu a si mesmo. Você não podia manter a boca fechada. “Dag, olhe, sinto muito. Não pretendia...”

“Você não pretendia,” Dagra sorriu com desdém. “Você não pensou. Este é o seu problema, Oriken. Você nunca pensa.” Com um suspiro, ele sentou-se de novo.

Oriken olhou para ele, mas Dagra não disse mais nada e manteve os olhos na parede oposta, os dedos sobre o pingente ao redor do seu pescoço. Quando Oriken virou-se para Jalis, ela estava olhando para ele serenamente. Contendo o desejo de acender um rolo de tobah, ele balançou a cabeça e vagou para a escuridão. As coisas não tinham sido tão ruins entre ele e Dagra por muito tempo. O lugar estava afetando ambos.