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Oriken não respondeu e a conversa cessou. Enquanto Dagra trabalhava, sua imaginação também. Em sua mente, ele viu novamente a cova do enterro exposto cheio de teias de aranha. Em algum lugar atrás da parede sedosa jazia um parente retorcido e murcho da sua cliente. E por trás da placa em que ele agora trabalhava, jaziam os ossos da ancestral mais antiga de Cela, Cunaxa.
Um esqueleto agora, ele garantiu para si mesmo. Apenas ossos. Nada a temer. Ele alavancou a lâmina para frente e para trás e com uma torção final a joia funerária deslizou da pedra…
As órbitas dos olhos preenchidas com teias de aranha olhavam para ele. Em mudo horror, ele encarou de volta. O abrigo da joia agora emoldurava as feições afundadas de Lady Cunaxa Chiddari, cobertas com fios de seda e espiando através da fresta. A pele se esticava sobre o crânio como couro fervido, com tufos de cabelo fundidos na carne mumificada. A testa e as maçãs do rosto estavam enfeitadas com crescimentos escabrosos e o ricto terrível e sem lábios sorria para ele como se deleitado por ter companhia após longos séculos de solidão. Seus dentes enegrecidos se deslocaram e quebraram. Horrorizado, Dagra observava enquanto as teias se rasgavam e a boca se esticava mais e a mandíbula escorregou atrás da placa e caiu no chão com um ruído surdo.
“Gah!” Dagra saltou para trás, proferindo os nomes da Díade na esperança de que eles o tirassem do corredor pagão e o levassem de volta para a charneca. Bile subiu em sua garganta enquanto ele desviava o olhar do crânio encarquilhado.
“É apenas um cadáver, Dag,” Jalis disse baixinho.
“Ele se moveu!”
“Você perturbou sua posição, só isso.”
Saliva nadava em sua boca. Ele a engoliu. “Sim. Apenas um cadáver. É claro. Um cadáver, é claro!” Ele emitiu uma risadinha breve, mas maníaca. Captando os olhares divertidos dos seus amigos, ele pigarreou e se recompôs.
A joia estava nas mãos de Oriken. Ele a segurou no alto e olhou para ela, sem sentir medo do cadáver medonho que os observava. Jalis pegou a lamparina do pódio e a segurou perto do ombro de Oriken. A luz brilhou da superfície multifacetada da joia. Sua frente era circular, a faixa de prata apertada ao redor da circunferência, aparentemente forjada no lugar. De lado, a joia era mais plana, mas avolumava-se no centro ao redor de um núcleo sombreado que se quebrou em prismas na luz da lamparina. O ponto escuro fez Dagra se lembrar de ovos de gema preta do balukha do anoitecer ou um borrão de tinta dentro de uma escultura sólida de vidro. Ele estava começando a corrigir sua avalição sobre o valor estético da joia.
Oriken passou a mão pela parte de trás da joia. Seu rosto franziu em desgosto. “Vamos ter de dar uma esfregada nela mais tarde. Tem um pouco do rosto dela preso na joia.”
O estômago de Dagra revirou-se e seus joelhos cederam. Ele agarrou-se ao pódio ao lado dele em busca de apoio.
Jalis abriu sua mochila e passou um cobertor para Oriken. Ela segurou a mochila aberta enquanto ele embrulhava a joia e a enfiava dentro da mochila. Ela puxou o cordão firme e deu um nó, prendeu as alças da mochila e a pendurou no ombro.
“É melhor que seja sua roupa de cama e não a minha,” Dagra disse a ela. Quando soltou o pódio, seu olhar pousou na cabeça sem olhos, nariz e agora sem mandíbula de Cunaxa. Enquanto ele encarava zangado a matrona Chiddari, a cabeça deslocou-se novamente.
“Doce mãe dos profetas! Não me diga que aquilo não aconteceu!” A cabeça estava inclinada de viés, como uma criança atenta e curiosa para saber do que se tratava a comoção.
“Você pode soltar meu braço agora, Dag,” Jalis disse.
Ele murmurou um pedido de desculpas e cambaleou para a parede, apoiou-se nas pedras e vomitou. Quando acabou, ele passou a manga na barba e virou-se para ver Jalis e Oriken olhando para ele sombriamente, seus rostos inundados pelo brilho da lamparina.
Dagra forçou uma risada. “Não sei de onde isso veio.” Ele recusou o lenço oferecido por Jalis. “Não. Estou bem, sério. Apenas um…” Ele podia sentir o cadáver olhando para ele, mas manteve sua atenção firmemente em Jalis. “Temos o que viemos procurar. Vamos dar o fora daqui. Não faz sentido demorar, certo?”
Jalis assentiu e virou-se para ir embora, mas Oriken colocou uma mão em seu ombro. “Por que não nos mimamos com alguns extras na saída?” Ele apontou para as pedras preciosas em cima dos pedestais e nos recessos onde as pedras preciosas piscavam das sombras. Enquanto Jalis considerava suas palavras, ele pressionou o ponto. “Deveríamos, pelo menos, levar as que estão nestes pedestais para nossa cliente já que elas obviamente vêm como um pacote com a joia. Certo? Se ela não as quiser…” Ele deu de ombros.
Jalis não pareceu convencida.
“Caminhe e fale,” Dagra disse. Ele pegou a lamparina de Jalis e seguiu pelo corredor, seus amigos acompanhando para seguir a única fonte de luz.
“O contrato não menciona nada além a joia,” Jalis disse. “Se levamos mais, nossas ações poderiam ser consideradas um sacrilégio.”
Dagra cuspiu um palavrão. “Este lugar inteiro é irreverente.”
Oriken zombou. “Como pode estar bem roubar o maior tesouro, mas errado levar os menores?”
“Ei,” Jalis disse, “Não faço as regras.”
Oriken suspirou. “Não é como se Dag não tivesse embolsado uma pedra.”
“Oh, sua criança!” Dagra virou-se. “Sério? É uma ninharia sem valor! Um pedregulho bonito de um túmulo saqueado!”
Jalis resmungou baixinho. “É isso o que você pensa, Dag ou é o que você espera?”
“Não comece com isso novamente. Agora não. Vamos apenas voltar para casa, voltar para a riqueza e um banho quente.”
“Você não conseguirá nenhum argumento de mim aí,” ela disse. “Orik, os túmulos nesta cripta pertencem aos ancestrais da nossa cliente. Se perturbamos qualquer um deles ao remover suas pedras preciosas – a maioria das quais parece ser relativamente inútil de qualquer maneira, como Dagra diz – estaremos efetivamente roubando da própria Cela, independentemente das nossas intenções, por mais ostensivas que elas possam ser.” Ela olhou para Oriken intensamente. “Dagra encontrou sua pedra preciosa no entulho quebrado; ele pode mantê-la, mas deixamos o resto.”
“Você é o chefe,” Oriken disse com um suspiro. “Mas e a cidade?”
Jalis sugou o ar através dos dentes e olhou para ele de soslaio. “Vamos conversar sobre isso depois que deixarmos o cemitério. Já desperdiçamos mais de metade do dia.”
Oriken olhou para ela por um momento, mas não disse mais nada e a conversa caiu em silêncio enquanto eles refaziam seus passos através do longo corredor.
Dagra não poderia ter se importado menos sobre a pedra de sangue que ele pegou. Seus pensamentos estavam na joia funerária, determinado a trazer-lhes uma herança inesperada lucrativa de fato. Mas, ainda mais, seus pensamentos estavam na matrona da cripta, seu olhar sem olhos atento a partida deles do seu lugar de descanso.
Logo, a cova de sepultamento profanada tornou-se visível novamente. As marcas de arranhões, agora cobertas pelas pegadas de Dagra e seus companheiros, conduziam da laje quebrada até a escada…
Para distrair sua imaginação errante, Dagra disse, “Mas Orik tem um ponto. É uma ética questionável que podemos profanar um túmulo se é parte do nosso contrato, mas, caso contrário, é desaprovado.” Ele deu uma gargalhada abrupta e procurou no bolso a pedra de sangue. “Quer saber? Nem quero este pedaço de lixo. Pensei que poderia ficar bem no gládio, mas com o dinheiro que vamos ganhar eu poderia comprar uma das tetas brilhantes de Khariali se eu quiser.”
“Melhor as tetas de Khariali do que as pedras de Cherak,” Oriken gracejou.
Com um movimento do pulso, Dagra deslizou a pedra de sangue nas sombras e ouviu seu ruído ecoar pelo corredor.
“Dag.” Ao seu lado, os olhos de Jalis lançaram um sorriso. “Não disse que as outras criptas no cemitério não eram alvos viáveis, apenas a cripta de Chiddari. Todo este lugar já foi arruinado por uma deusa e abandonado por séculos. Alguns poucos mortais não podem consagrá-lo muito mais do que já foi feito.”
Dagra retribuiu o sorriso com um fraco. “Verdade. Mas não tenho certeza se estou interessado. Não é como se tivéssemos trazido uma mula conosco; qualquer coisa que encontrássemos, teríamos de arrastar por toda Colina Scapa e parte de Caerheath. Obrigado, moça, mas não. Apenas quero dar o fora deste maldito lugar morto e empoeirado e respirar um pouco de ar fresco, arruinado ou não.”
Oriken resmungou baixinho enquanto se arrastava atrás dele, mas se em concordância ou não, Dagra não poderia dizer e não se importava muito. Ele forçou seus pensamentos para a viagem de volta para casa e para passar o resto do ano em Alder’s Folly sem contratos longos e árduos, sem lugares subterrâneos escuros e sombrios e sem mais cadáveres.
Deuses, ele pensou. Por favor, sem mais cadáveres.
Capítulo Dez
Intrusos
Dagra soprou o sulco da lamparina para extinguir a chama, depois entregou para Jalis. Com um suspiro de alívio, ele saiu da cripta Chiddari para a vista melancólica do cemitério. A esfera vermelha de Banael estava dispersa através de uma cobertura de nuvens, sua parte inferior mergulhando mais perto do horizonte do que Dagra estava confortável. Ele lançou um olhar semicerrado para a estátua de Cunaxa.
Bem, senhora, ele pensou. Poderia dizer que outrora você foi uma grande beldade, só que acabei de ver sua mandíbula cair.
Riachos leves de névoa estavam escorrendo através das rachaduras do solo árido. Cachos de coisas lambiam e acariciavam as bases mofadas das lápides e rastejavam nos caminhos arruinados. Mesmo enquanto ele observava, a névoa estava se espalhando.
“Por quanto tempo ficamos lá?” Oriken perguntou, seus olhos na sombra suave sob seu chapéu enquanto olhava para o sol baixo.
“Horas,” Jalis disse.
“Não pareceu tanto tempo.”
“Talvez não para você,” Dagra disse.
Oriken voltou sua atenção para a cidade, estufou as bochechas e soltou um assobio baixo. “Deve haver um monte de tesouro lá. Só o castelo deve conter uma fortuna. Poderíamos nos abrigar em um dos prédios durante a noite. O lugar esteve abandonado por séculos; duvido que alguns dos proprietários se importaria.”
“Vamos lá, Orik,” Jalis disse. “Você é um homem ou catador? Não se esqueça que temos uma longa viagem de volta até o bolsão cheio de pântano mais próximo de civilização, além de mais alguns dias de viagem até voltarmos para Alder’s Folly. Não gosto de arrastar tesouros através de centenas de quilômetros e mais de campos infestados de pântanos, monstros e muito provavelmente mais do que não encontramos em nosso caminho até aqui.”
“Não estou falando sobre encher nossos bolsos e mochilas, apenas um punhado de lembranças. Não machucaria.”
Por um momento, Dagra se viu considerando o assunto. Ele quis dizer o que disse a Jalis sobre não estar interessado em saquear pedras preciosas de segunda categoria, mas quando olhava para a expansão da cidade era difícil não imaginar uma riqueza maior do que meros pedaços de pedras bonitas. Moedas provavelmente entulhavam o lugar. E joias com diamantes preciosos e safiras, esmeraldas e rubis. Ou armas, como seu próprio gládio antigo; as espadas curtas, de lâmina larga, raramente eram forjadas desde o fim da Grande Insurreição e Lachyla seria o melhor lugar para encontrar outro.
Gostaria de um segundo gládio, ele pensou, mas não tanto assim. Por mais angustiante que tem sido, não foi tão ruim quanto eu imaginei. Talvez amanhã, durante a luz do dia…
Ele balançou a cabeça para purgar a tentação e franziu o cenho para a névoa que se formava. “Deveríamos começar a nos mover antes que esta coisa se torne um problema.”
“Mas, ouça...”
Jalis lançou a Oriken um olhar de cautela. “Eu disse que discutiríamos isso mais tarde e nós iremos. Por enquanto, Dagra está certo. De volta à ponte levadiça.” Pegando o olhar de Oriken para o distante Portão dos Defuntos que separava o cemitério da cidade, ela apontou um dedo para o norte, para a charneca. “Aquela ponte levadiça.”
Eles desceram o caminho estreito que ligava a cripta Chiddari ao Caminho dos Defuntos central. Enquanto caminhavam, Oriken mantinha um monólogo sobre os tipos de tesouro que eles poderiam descobrir no castelo. Ele estava no meio do fluxo quando Jalis parou abruptamente e levantou uma mão para sinalizar uma parada.
“O que é?” Oriken perguntou.
“Diga-me uma coisa,” ela disse. “Quão confiante devemos estar que a cidade está deserta? Podemos presumir que todos os cidadãos de Lachylan morreram durante a praga?”
“Huh? É claro. Mesmos aqueles que escaparam estão mortos há muito tempo. Por que você pergunta?”
Jalis olhou por cima do ombro de Dagra para o cemitério nebuloso. “Então, você está dizendo que nós, três freeblades destemidos, somos as únicas pessoas aqui?”
Dagra franziu o cenho. “Conheço este tom e nunca é um bom sinal. Se você tem algo a dizer, apenas diga. Se não...”
O olhar distante de Jalis tornou-se pétreo. “Estava apenas me perguntando por que de repente parece ser a hora do luto em Gardine dessa Mortas.”
“Não faço ideia do que você...” Silenciado pela expressão de Jalis, Dagra acompanhou seu dedo que apontava. Oh, deuses, ele pensou. Não…
Figuras de aparência frágil estavam surgindo da névoa e moviam-se com indiferença entre os túmulos. Mais estavam se materializando na distância entre a névoa do solo, difícil de discernir das árvores enegrecidas e das lápides mais ornamentadas. Uma estava mais perto do que as outras – Dagra já havia olhado diretamente para ela e confundido com uma árvore baixa e retorcida. Balançava na brisa, seus membros esqueléticos estendidos diante dela como galhos e ramos que se esticavam.
“Por favor, me diga,” Oriken sussurrou enquanto olhava para as figuras cambaleantes, “que alguém solicitou uma visita guiada ao cemitério e esqueceu de mencionar.”
Aço assobiou quando Jalis sacou suas adagas. “Temo que não.”
“O que são elas?” Oriken perguntou.
Enquanto Dagra olhava para as formas parecidas com assombrações, a observação de Jalis na cripta Chiddari voltou para ele, que as pegadas somente se dirigiam em uma direção. Ele tinha presumido que outra pessoa esteve na cripta, mas se…
“Nós vamos,” ele disse. “Agora.”
Ele começou a correr ao longo do centro do Caminho dos Defuntos, com Jalis e Oriken seguindo logo atrás. A névoa estava rapidamente engrossando em uma neblina crescente e pesada, as nuvens acima se agrupando em mimetismo, escurecendo o começo da noite em um crepúsculo falso. Mais figuras estavam se aproximando das bordas mais distantes do cemitério, dirigindo-se lentamente, mas sem dúvida, para o Caminhos dos Defuntos.
Mais à frente do caminho, uma mão ressequida agarrou a borda de trás de uma cripta e uma figura grotesca apareceu à vista. O que restava da sua roupa havia se tornado um com seu corpo afligido pela praga, a carne escurecida pela idade agitando-se ao longo do tecido. O rosto afundado virou-se para Dagra. Seus lábios murchos e gengivas enegrecidas com lascas quebradas de dentes estavam abertos em um grito silencioso.
Ele desacelerou quando a criatura deu passos hesitantes na direção dele. Os raios de Banael atravessaram as nuvens por apenas um momento, caindo sobre o rosto apodrecido e aprofundando suas cavidades sombreadas. O cadáver levantou uma mão para proteger o rosto. Ele cambaleou na luz do sol, mas continuou seu avanço lento.
“Querida, doce Aveia,” Dagra suspirou. “Está morto. Eles estão todos mortos. Deuses misericordiosos, Cunaxa Chiddari realmente se moveu! Eu sabia! Ela se moveu e nós apenas ficamos ali conversando!”
Quando Oriken se aproximou, ele agarrou o braço de Dagra e apertou com grosseria. “Sai disso, Dag! Não encare boquiaberto. E use sua energia para correr em vez de ficar balbuciando.” Ele continuou correndo, suas pernas compridas levando-o rapidamente ao longo do amplo Caminho dos Defuntos.
A perspectiva de ficar para trás foi o suficiente para tirar Dagra do seu pânico crescente e incitá-lo a seguir em frente. Ele desviou os olhos do cadáver com olhar malicioso e bombeou suas pernas curtas mais rápido. Jalis alcançou e acompanhou o ritmo ao seu lado.
“Os mortos de Lachyla,” ele ofegou entre as respirações, “devem permanecer em Lachyla.”
“Os mortos em todos os lugares devem permanecer mortos,” Jalis disse. “Mas se você está certo, descobriremos em breve.”
Em todas as direções, o lugar estava se enchendo com as criaturas. Um gemido gutural começou da mais próxima; um sussurro úmido e crepitante como líquido espesso derramando sobre folhas crocantes. O barulho se intensificava à medida que mais mortos emprestavam suas vozes ao coro medonho. Em instantes, o cemitério soava com o murmúrio sibilantes dos seus habitantes.
A corrida saltitante de Oriken o levou rapidamente ao longo do caminho caindo aos pedaços, diretamente em direção a uma multidão de cadáveres. Quando ele saltou sobre uma lajota levantada, seu chapéu voou da cabeça. Ele o pegou no ar, caiu no chão correndo e fixou-o com firmeza novamente no lugar em que pertencia sem a menor pausa.
Apesar do horror nas imediações, Dagra deu uma gargalhada com Oriken se importando sobre seu chapéu enquanto o próprio Inferno irrompia ao redor deles.
Quando Oriken alcançou a horda, ele varreu seu sabre em um golpe alto e amplo para trás na linha de frente dos cadáveres, a lâmina curva mordendo seus rostos e pescoços. Desequilibrados pela força do golpe, eles cambalearam para trás e alguns caíram. Uma cabeça desperdiçada caiu de um pescoço fino como pergaminho e bateu nas pedras. Oriken bateu o guarda-mão do sabre no rosto do cadáver mais próximo, em seguida bateu a bota no peito de outro. Em instantes, o caminho estava limpo para Dagra e Jalis passarem. A palma de Dagra suava enquanto ele apertava o punho de couro do gládio. Ele trocou um olhar sombrio com Jalis e eles seguiram em frente.
O caminho e o solo estéril em ambos os lados se perderam sob o manto crescente da neblina, obrigando Dagra a desacelerar seu ritmo enquanto tropeçava sobre escombros soltos e pedras submersas. A neblina havia consumido as lápides mais baixas e as partes superiores das entradas das criptas que se projetavam como os arcos de navios que afundavam, suas estátuas de pedra ou metal servindo como figuras de proa sombrias. Os horrores esqueléticos e abominações apodrecidas se agitavam entre tudo isso como passageiros que se afogavam.
Oriken era um borrão de movimento na neblina que engrossava à medida que mais criaturas vagavam na direção do Caminho dos Defuntos. Ele picava e retalhava, socava e chutava em seu caminho até eles. Ele gritou por cima do ombro, mas as palavras ficaram perdidas para Dagra em meio ao clamor dos mortos. Esquivando-se da mão de um cadáver, Oriken o golpeou com um soco de viés de esquerda, quase derrubando-o, mas o cadáver deu um passo hesitante na direção de Dagra e parou. Curvou-se, suas feições arruinadas pareciam farejar o ar, sentindo-o.
Então Dagra estava em cima dele, varrendo o gládio em um brutal arco para cima. A lâmina cantou através da neblina e mordeu profundamente o antebraço levantado do cadáver, estilhaçando o osso. O apêndice quase cortado balançava inutilmente, os dedos se contorcendo em nos cachos de neblina quando a criatura teve a intenção de segui-lo, mas Dagra seguiu em frente, seu terror silenciado pela adrenalina furiosa. A visibilidade tinha praticamente desaparecido agora. A neblina o obrigou a desacelerar para pouco mais que uma corrida leve enquanto ele navegava os obstáculos escondidos das pedras de calçamento irregulares e outros detritos. Seus olhos disparavam de um lado para o outro enquanto ele tropeçava através da escuridão. Os mortos continuavam se movendo desajeitadamente, gemendo seu lamento profano.
“Lá!” Oriken gritou de algum lugar à frente. “O portão!”
Graças aos deuses! Dagra pensou. Quase lá.
Um cadáver apareceu diante dele. Ele soltou um grito, mas engoliu seu medo e bateu um ombro nele. O cadáver agitou-se para trás, mas endireitou-se. Permaneceu firme, bloqueando seu caminho.
O peito de Dagra ofegava enquanto ele olhava em repulsa. O outrora elegante vestido e forma vagamente feminina marcava o cadáver como uma mulher. Seus olhos eram uma bagunça de crostas de sangue sobre bochechas encovadas. Pústulas inchadas cobriam a cavidade da mandíbula perdida. Um cisto surgiu quando gorgolejou através do buraco da garganta. Dagra vomitou e o cadáver se pôs em movimento.
Ele arremeteu e empurrou o gládio em seu peito. Enquanto puxava a lâmina, a cabeça deu uma guinada para frente e explodiu, borrifando-o com seu ichor fétido. Ele jogou os braços para cima para proteger o rosto e cambaleou para trás.
Oh, deuses abençoados, tenho sua cabeça em cima de mim. Aveia, como eu merecia isso?
O cadáver sem corpo foi arremessado na névoa, substituído pelo perfil inconfundível de Oriken.
“Ha! Direto através do rosto!” Oriken sorriu e levantou o punho do seu sabre até o ombro em uma saudação fingida, a lâmina gotejando com sangue. Com uma piscadela para Dagra, ele apertou a aba do chapéu com um dedo e polegar manchados com sujeira.
Muito horrorizado para falar, Dagra assentiu com gratidão.
Outro cadáver surgiu da neblina atrás de Oriken. Dagra começou a emitir uma advertência, mas Oriken já havia captado a expressão em seu rosto; ele girou e atacou. O sabre cortou profundamente em sua garganta. Ele bateu a bota entre suas coxas com um triturar doentio. O cadáver colapsou, engolido pela neblina.
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