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A Cidade Sinistra
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A Cidade Sinistra

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“Não duvido disso.” Cela espiou ao redor da porta para seu vizinho no outro lado do semicírculo. “É melhor você entrar, meu jovem,” ela murmurou, arrastando os pés para dentro da cabana. “Nossa discussão não é para ouvidos indiscretos.”

Maros inclinou-se mais baixo sobre suas muletas e espremeu-se através do batente. Ele fechou a porta com o calcanhar e semicerrou os olhos já que a sala estava mergulhada na escuridão. Algumas lascas finas da luz do dia cortavam através das persianas fechadas e o fedor mofado de idade penetrou em suas narinas. Ele engoliu uma tosse e observou a velha abaixar sua ossatura esquelética em uma poltrona ao lado da lareira vazia. Enquanto ela se remexia para sentar-se ereta, ele a imaginou caindo no tapete em uma pilha de ossos empoeirados.

“Sente-se, freeblade.” Ela acenou com a mão ao redor da sala. “Onde for melhor para você.”

Maros examinou os grupos escuros de móveis por um poleiro robusto e adequado e mancou até um banco no lado oposto da lareira. Ele se abaixou, reprimindo um suspiro enquanto as dores na sua perna recuavam.

“Ouvi dizer que você está mantendo a taverna de Alderby sobrevivendo no lugar dele,” Cela disse coloquialmente.

“Sim.”

“Administrando uma guilda e uma taverna. Uma carga de trabalho considerável.”

“Nada que eu não possa lidar. A verdade é que foi uma bênção quando o velho Alderby faleceu logo após meu… acidente.” Maros apoiou a mão no joelho. “Triste, no entanto. O lugar nunca esteve sem um ou outro Alderby no comando.”

“Assim eu concluí. Bem, chega de conversa fiada.” Os olhos de Cela estavam brilhando nas sombras. Um sorriso forçado cortou suas feições encarquilhadas. “Aos negócios.”

“Aos negócios, de fato. A recompensa que você ofereceu é o suficiente para erguer até mesmo as sobrancelhas do Banco Brancosi, um pouco. Sem ofensa, senhora, mas estou olhando para esta cabana e pensando que não vejo o equivalente a quinhentas moedas em propriedade aqui.”

“Ouso dizer que você estaria certo se eu estivesse oferecendo a minha casa. Você vai receber moedas, freeblade, fique tranquilo. Minhas economias não vão me beneficiar agora a não ser que você adquira aquilo que pertence às mãos de Chiddari.”

“Sim,” Maros disse com cuidado. “Como é que você detém um título de família quando eles caíram em desuso séculos atrás?”

Cela soltou uma gargalhada aguda e apontou um dedo para ele. “Perguntas, perguntas, mestiço. Vamos nos ater ao assunto em questão?”

“Muito justo. Além do valor da recompensa, seu bilhete foi vago na melhor das hipóteses...”

“Por um bom motivo. Você aprecia a sensibilidade da informação, tenho certeza.”

“Então, por favor, me diga o que você precisa da guilda e verei se podemos atender.”

“A herança da minha família se perdeu para nós por muitas gerações.” Cela olhava para ele atentamente. “Perdida e, ainda assim, sei sua localização precisa. Reside em um cemitério que remonta a uma época em que os mortos ainda eram enterrados inteiros.”

“Estes lugares estão todos submersos sob o deserto. Não há quase nenhum vestígio dos antigos reinos.”

O sorriso tenso de Cela retornou. “Exceto, isto é, por um lugar.”

“Agora escute aqui. Se você está insinuando o que eu acredito que você está insinuando, então você está me pedindo para enviar freeblades para o território da Caveira.”

“Não estou pedindo. Estou lhe oferecendo um contrato por uma recompensa considerável. Se não quiser o trabalho, posso procurar por mercenários menos respeitáveis…” Ela remexeu-se na cadeira e olhou para ele de soslaio.

Provavelmente esta é a incumbência de um tolo, ele pensou. Mas por uma recompensa deste tamanho… “Deveria avisá-la que a guilda lida com problemas reais, não com lendas. Há somente um cemitério que não foi expurgado. Se é sobre ele que estamos falando, então vamos parar com a troca de palavras. Onde exatamente está este legado?”

Cela suspirou. “Em uma cripta dentro dos Jardins dos Mortos, em Lachyla, a Cidade Sinistra.”

A última pretensão de formalidade desapareceu de Maros enquanto ele soltava uma risada sincera. “Eu sabia! Deixe-me ver se entendi direito. Você quer que meus rapazes e moças atravessem uma vasta região que está desprovida de deuses e homens há séculos. Você espera que eles arrisquem suas vidas vasculhando o cemitério de uma cidade amaldiçoada à procura de alguma bugiganga que seus ancestrais deixaram para trás para enferrujar em uma cripta?” Ele bufou. “Senhora, ou você perdeu o juízo ou …”

Cela olhava para ele em um silêncio pétreo.

Ou você está falando sério. Ele balançou a cabeça e lançou um sorriso divertido para as tábuas do assoalho. “Tudo bem, com o que exatamente este legado se parece?”

“É uma pedra preciosa.”

“Você terá de me dar mais do que isso. Seja quem for que aceitar o trabalho precisa saber o que está procurando.”

“Eu nunca vi, não é? Tudo que sei é que está marcado com runas funerárias e é maior do que as suas pedras preciosas comuns. Eles irão encontrá-la no túmulo do meu ancestral mais antigo.”

“E quem poderia ser?”

“Não faço ideia,” Cela disse secamente. “Você conhece a sua linhagem, mestiço?”

“Tudo bem,” Maros suspirou. “Uma pedra de descrição desconhecida, em um túmulo de nome desconhecido. Você percebe quão grande aquele cemitério é conhecido por ser? Eles poderiam vascular o lugar por dias e mesmo assim não encontrar sua pedra. Você terá de me dar algo melhor ou não tem acordo.”

“Oh, eu irei.” Cela alcançou a mesa ao seu lado e pegou um quadrado dobrado de pergaminho. “É apenas uma cópia grosseira, mas é bastante precisa.”

“O que é isso?”

“Um mapa dos Jardins dos Mortos.”

Maros reprimiu uma risada. “Onde em Verragos você teria conseguido isso?”

“Mais perguntas irrelevantes, freeblade. Você tem toda a informação que posso dar. Tome sua decisão.”

Ele olhou para ela calmamente e considerou as ramificações. O que aconteceu em Lachyla foi o catalisador para os mortos serem queimados hoje em dia. A cidade, e seu cemitério, estavam mais mergulhados em mitos e superstições do que qualquer outro lugar em Himaera. Mas quem realmente sabe o que há lá nas lonjuras das Terras Mortas? Talvez a lenda seja verdade, talvez não. De qualquer maneira, garantir tal recompensa seria uma grande dádiva para alguém. Além disso, meu ganho modesto não seria nada mal. Sem mencionar a reputação que colocaria a guilda de volta no mapa. “Tudo bem,” ele disse. “Vamos acabar com isso. Mostre o dari.”

Cela enfiou a mão no decote da sua blusa e retirou uma corrente fina. Ela girou o pingente retangular na ponta várias vezes, em seguida passou-lhe a metade inferior; seu interior havia sido transformado em uma chave. Ela apontou para um cepo de pau-ferro no canto da sala, sobre o qual uma arca reforçada estava bem fixada. “Abra,” ela disse.

Maros levantou-se do banco. Ele destrancou a arca e soltou um assobio para as moedas de prata organizadamente empilhadas.

“Quinhentas no total, como prometido e nenhuma moeda de cobre entre elas.” A velha soltou um estertor. “Temo que possa haver muito pouco tempo a perder, então me diga agora ... você vai aceitar?”

Maros lambeu os lábios e olhou de soslaio para ela. “Lachyla, você disse. Bem. Imagino que seja somente uma lenda…”

Cela Chiddari sorriu. A luz turva aprofundou as cavidades em seu rosto e, por um momento, ela se assemelhou ao próprio símbolo da caveira. “Este é o espírito, freeblade,” ela disse baixinho. “Tal bravata. Parabéns, o trabalho é seu. Agora, encontre minha herança.”

Jalis levantou os olhos das cartas em sua mão com um suspiro distraído. As paredes de pedra da sala comunal zumbiam com a tagarelice e a algazarra dos clientes da taverna. Uma atendente passou apressada, carregando pratos vazios para a cozinha. Atrás do bar, Jecaiah estava ocupado em substituir um barril vazio, preparando-se para a explosão noturna de clientes.

Ela voltou sua atenção para as cartas. A carta alta era o Arkhus, mas era inútil ao lado das outras. O melhor que ela poderia conseguir era um flush menor do naipe Artisan. Ela olhou para seus dois companheiros. Dagra estava esperando pacientemente, limpando com um lenço sujo a espuma da cerveja da sua barba desgrenhada. Do outro lado da mesa, Oriken coçava preguiçosamente a bochecha com uma barba de vários dias, os olhos vidrados enquanto olhava para ela por baixo da aba do seu chapéu.

“Orik,” ela disse, chamando sua atenção. “Meu rosto está aqui em cima.”

“Huh? Oh.” Ele pigarreou. “Bem, vamos lá, então. É a sua vez. Você somente está atrasando Dag de vencer e você sabe como ele ama contar suas moedas de cobre.”

“Merda em você,” Dagra disse.

Jalis olhou para a ampulheta sobre a mesa e viu o resto dos grãos escoarem.

“O tempo acabou,” Oriken disse.

Ela jogou suas cartas na mesa. “Eu passo.”

“Por quê?” Dagra franziu o cenho para as cartas espalhadas. “Você tinha uma mão aí.”

“Não estou sentindo isso,” ela disse. “Ganhando ou perdendo, você precisa saber quando parar.”

Oriken reuniu as cartas na pilha. “Que tal uma rodada de Cinco Estações?”

“Agora não, Orik.”

“Ok, tudo bem.” Ele suspirou e olhou para as portas do saloon na entrada da sala comunal. “Posso sair lá fora para fumar um tobah.”

Jalis inclinou a cabeça e olhou para ele. “Você deveria estar tentando parar.”

“Hmph. Sim. O que deveríamos fazer, então?”

Ela deu de ombros. “Talvez devêssemos pegar um contrato.”

Dagra bufou. “Você viu o quadro de avisos da guilda? Os trabalhos quase não são adequados para um novato! Os decentes são pegos imediatamente e não há um desses há semanas. Acredite em mim, se um bom contrato surgisse, eu seria o primeiro a pegá-lo e dar o fora desta taverna.”

Jalis assentiu. “Posso pensar em uma centena de coisas que preferia estar fazendo neste momento. Já é muito ruim ter de viver aqui, mas pelo menos é melhor do que a casa da guilda.” Ela olhou para a frente da sala comunal. Uma cunha de luz do sol se infiltrava por cima das portas. O céu azul estava muito convidativo. “Não deveríamos estar desperdiçando nossos dias esperando que um bom trabalho apareça. Deveríamos estar lá fora.”

Oriken bufou. “Não posso argumentar contra isso, mas se formos perambular por aí lá fora, perdemos nossa oportunidade de pegar um contrato decente.”

Ela levou sua caneca aos lábios e tomou um gole de água. “Não me entenda mal,” ela disse. “Amo estar com vocês dois, mas somos freeblades – espadachins de aluguel – com ênfase nas espadas.”

“O problema é que,” Oriken disse, “somos bons demais no que fazemos.”

Dagra assentiu em concordância. “Entre nós e o resto das filiais, praticamente livramos Caerheath de todos os bandidos. Agora os problemas na cidade raramente são mais do que disputas insignificantes.”

Jalis suspirou. “Isso deveria ser uma coisa boa. Estamos mantendo a paz, mas não estamos fazendo nenhum favor para nós mesmos. Desde quando a guilda se tornou a principal legisladora em Himaera?”

“Principal?” O cenho de Dagra franziu. “Tente a única. Isto não é Vorinsia. Não temos um Arkhus sofisticado administrando a terra nem um militar nem mesmo um maldito xerife. Nada desde os Dias dos Reis. Freeblades são tudo que esta terra tem.”

“Vivo aqui há muito tempo,” Jalis disse, “mas ainda não consigo me acostumar com a falta de uma figura militar ou um governante. É um milagre como Himaera não foi consumida pelo Arkh séculos atrás.”

Dagra deu de ombros. “Eles tentaram nos invadir durante a Insurreição, mas mesmo uma Himaera enfraquecida conseguiu sangrar seus narizes e mandá-los embora com algumas lições aprendidas. O Arkh ficou mole desde esta época. Nada conquistável restou.” Ele deu a Jalis um olhar pesaroso. “Sem ofensa, garota.”

“Não estou ofendida.”

Oriken recostou-se na parede. “De qualquer maneira,” ele disse, “eu não me preocuparia. Alguma coisa boa vai cair no quadro de empregos em breve. Sempre cai.” Ele deu um sorriso animado para Jalis.

“Sempre o otimista irritante.” Dagra projetou a barba na direção da alcova do quadro de avisos da guilda no final do bar. “Você viu as recompensas para estas ofertas de emprego? A melhor é por oito moedas de cobre. É um insulto.”

“Talvez seja hora de tirarmos umas férias,” Oriken disse.

“Esta não é uma má ideia,” Jalis disse. “Já faz um tempo que não visito minha cidade natal.”

“Não é realmente o que eu tinha em mente.”

“Vou mijar,” Dagra anunciou, levantando-se.

Oriken observou-o se afastar. “Precisamos sair da cidade por um tempo. Talvez Middlemire precise de algumas mãos extras. Ou Baía Brancosi. Deveríamos pedir para Maros dar uma olhada para nós.”

Uma sombra atravessou a luz do sol nas tábuas do assoalho. Jalis olhou para o outro lado para ver a figura corpulenta de Maros claudicando pelas portas do bar. Ele notou seu olhar e mancou para se juntar a eles.

“O andarilho retorna,” Oriken disse. “Não consigo mantê-lo na sua própria taverna hoje em dia.”

Maros deu uma gargalhada cansada e reuniu suas muletas em uma mão. “Balen é o mais longe que eu já fui desde que assumi este lugar. Lembre-me de nunca voltar.”

Jalis inclinou a cabeça para encontrar seu olhar. “Você esteve em Balen? A tarde toda?”

“Dificilmente! A maior parte disso fui eu sofrendo para chegar lá e voltar.”

“Por que você não pediu para Ravlin levá-lo em sua carroça? Ele não teria se importado.”

“Eu tentei. O mercador está em Brancosi, reabastecendo seu estoque.”

“O que é tão importante em Balen que você não poderia enviar um novato?” Oriken perguntou.

“Em qualquer outro dia, absolutamente quase nada.” Maros olhou para Jalis. “Ouça, tenho um pequeno negócio para cuidar. Vou botar o papo em dia com você em breve.”

Jalis observou-o mancar até o quadro de avisos da guilda. Após um momento, ele saiu mancando do recesso e seguiu pelo corredor adjacente até seu escritório particular. “Ele está aprontando alguma coisa,” ela disse para si mesma.

Em uma mesa perto da parede oposta da sala comunal, vários freeblades estavam envolvidos em um jogo de cinco marias. Alari, uma blade veterana com mais alguns anos na guilda do que Jalis, olhou para o quadro de avisos da guilda e murmurou para seu companheiro mais próximo.

“Volto em um minuto.” Jalis levantou-se da sua cadeira e atravessou rapidamente até a alcova. Ela examinou o conteúdo do quadro de avisos da guilda até que localizou um novo pedaço de papel e o soltou da cortiça. Ao ver a oferta da recompensa, seus olhos arregalaram.

“Garota, você é tão rápida quanto lasca de pedra sobre pederneira,” Alari disse atrás dela.

Surrupiando o bilhete, Jalis virou-se para sua colega. “Você não estava muito atrás de mim.”

O sorriso de Alari repuxou a cicatriz pálida ao lado da sua boca. “O que o chefe colocou aí desta vez? Outra que não vale o papel em que está escrito?”

Jalis deu de ombros. “Parece um pouco melhor do que o habitual. Por que você não pega algumas das ofertas menores? Elas vão servir para o novato que você está cuidando. Todos nós tivemos de começar em algum lugar.”

A testa de Alari franziu em pensamento. “Você não está errada. Muito provavelmente Kirran poderia fazê-las sozinho. Vou dizer a ele para escolher uma.” Ela deu a Jalis uma piscadela amigável. “Você e os rapazes vão ganhar um pouco de casca-grossa, amor.”

Enquanto Alari voltava para sua mesa, outro freeblade passou por ela até o quadro de avisos da guilda. Jalis olhou para o homem friamente enquanto ele diminuía a distância.

“O que você tem?” Fenn disse enquanto entrava na alcova, posicionando-se atrás de Jalis para impedi-la de sair.

“Afaste-se, Fenn.”

“Vamos dar uma olhada.” Ele tentou agarrar o papel, mas Jalis puxou a mão para trás das costas.

“Primeiro a chegar, primeiro a ser servido,” ela disse. “Você conhece as regras. Você quer um trabalho, há muita coisa no quadro que vai te satisfazer.”

Os olhos redondos de Fenn olhavam zangados para ela. “Pelo menos, eu posso fazer meu trabalho sozinho. Todos nós sabemos que você e seus dois guarda-costas recebem tratamento preferencial por aqui.” Ele agarrou o ombro de Jalis.