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Cian
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Cian

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Agora Kaitlin acrescentava outro graveto para crepitar sob o fogo, enquanto Cian ainda dormia com a cabeça em meu colo.

–Não sei o que aconteceu com eles, querida, pode ter sido algum tipo de doença ou um ataque – disse minha irmã em resposta à pergunta de Rachel sobre os moradores.

– Mas como Cian sobreviveu? – perguntou Rachel.

– Se foi há tanto tempo quanto imagino – eu disse —ela poderia ser apenas uma criança quando isso aconteceu.

– Sabe o que eu acho? – Kaitlin disse.

Eu olhei para ela.

– Não acredito que Cian tenha voltado lá em todos esses anos, caso contrário, os ossos estariam enterrados há muito tempo.

– Faz todo sentido. – eu disse —Ela parecia perdida e confusa até encontrar a rede da mãe, acho que foi assim que ela soube quem era: a rede e os arredores.

– Eu me pergunto o que ela fará agora – disse Kaitlin.

Eu não tinha pensado tão longe. O que Cian faria? E eu, vou fazer o que? Ela estava sozinha quando a conheci no cais, talvez ela voltasse à sua vida solitária na floresta.

– Teremos que voltar para chegar a tempo do Encontro em breve – eu disse— e ainda não encontramos Alichapon-tupec.

–Estou começando a pensar que não existe esse lugar, mas de toda forma, Cian me deu amostras e informações sobre plantas suficientes para compensar uma dúzia de Alichapon-tupecs, vou levar um mês inteiro para organizar e catalogar tudo.

– E o encontro?

– Se ainda formos a ele – disse Kaitlin.

Minha irmã, sempre estava alguns passos à minha frente.

–Eu pensei que estávamos indo para o encontro cigano nos Pirineus e depois para a Riviera no outono, não?

–As coisas mudam.

Agora eu estava em um dilema, mas aparentemente, Kaitlin já havia chegado a uma decisão. Ela não gostava muito de explicar seus planos em detalhes, e eu nunca fazia muitas perguntas, sempre preferindo descobrir as coisas por conta própria.

Decidimos nossos planos vários meses antes, no encontro, Kaitlin compilaria anotações sobre remédios ciganos e populares, depois passaríamos um ano na Riviera enquanto ela editaria e revisaria sua etnofarmacopedia, preparando-a para publicação. Mais de uma dúzia de cadernos estavam cheios de anotações e espécimes de plantas medicinais que ela colecionara ao longo dos anos, junto com os esboços que eu desenhei para ela.

Na Riviera, perto da vila de Villefranche, ficaríamos no grande hotel Miratroka. Mon ami Monsieur Victoy, dono daquele estabelecimento gentil e um cavalheiro, me dava emprego sempre que aparecíamos à sua porta. E era lá que no outono, esperávamos colocar Rachel em uma escola inglesa por um ano, enquanto sua mãe trabalhava no manuscrito. A menina era, sabíamos, muito avançada para qualquer aluno do terceiro ano, mas achamos que socializar um pouco nas salas de aula e no pátio da escola a faria bem, para equilibrar seu bem-estar intelectual.

– Eu me pergunto – eu disse – qual é a palavra Yanomami para casamento?

– Natohiya – foi a resposta rápida de Rachel.

Kaitlin olhou para cima.

– Como você sabe disso?

A menina deu de ombros.

– Nós falamos sobre isso.

– Por quê? – eu perguntei.

– No começo – disse Rachel – Cian pensava que você e minha mãe eram casados e eu era sua filha.

– Você aprendeu muito Yanomami? – Kaitlin perguntou.

– Nem tanto, mas consegui algumas palavras e, usando nossas mãos, podemos conversar um pouco. Também estou ensinando português para ela, ela ficou muito feliz quando lhe disse que o nome do meu pai é Ian e ele constrói grandes coisas no oceano.

– Ian McAveety. – disse Kaitlin – Eu não penso nele há meses, você e eu poderíamos vê-lo na Escócia. Você gostaria disso, Rachel?

– Não sei, não o vimos pouco antes de irmos para a Índia? Quando Cian disse que se você e Saxon eram casados, contei a ela sobre Ian.

– Sim – disse Kaitlin – mas isso foi há dois anos, você não sente falta do seu pai?

– Talvez – disse a garota – mas se ele me quisesse, viria nos encontrar. Ela rolou Hero para esfregar sua barriga. –Além disso – disse ela – tenho tio Saxon para cuidar de mim.

Kaitlin voltou-se para mim.

– Casamento? – ela perguntou.

– Eu estava pensando – eu disse a ela – como os Yanomami se casam.

– O chefe – Rachel disse enquanto brincava com seu cachorro – amarra suas mãos com uma videira, diz algumas palavras, então todos vão fazer uma shabona para eles, só isso e estão casados.

– O que é shabona? – eu perguntei.

– Uma cabana – disse ela – como aquelas da vila.

Eu olhei para minha irmã.

– Acho que é melhor começarmos a procurar um chefe amanhã.

Rachel sorriu esfregando a barriga do cachorro.

– Acho que você vai querer perguntar a Cian sobre isso primeiro – disse Kaitlin.

Capítulo Sete

Quando acordei depois da meia-noite para puxar o cobertor sobre Cian, ela havia partido.

Eu queria ir encontrá-la, mas nunca conseguiria, a menos que ela quisesse ser encontrada. Ela poderia estar em uma das árvores, olhando para mim naquele momento, voltando à sua aldeia ou em milhares de outros lugares na floresta escura. Talvez ela tenha tomado sua decisão e me deixado para sempre, esse pensamento me deixou arrasado, desamparado.

Eu cutuquei o fogo e olhei em volta procurando lenha, a bolsa de Cian estava ao lado da minha. Foi um alívio ver arco e as flechas ao lado do nosso equipamento, ela não deixaria aqueles para trás. Acendi o fogo e esperei.

Hero acordou com o som das chamas crepitando, quando me sentei com o cobertor puxado sobre meus ombros caídos ele se aproximou e ficou ao lado da fogueira, olhando para mim. O seu hábito de soprar uma lufada de ar pelo focinho era incrivelmente irritante. Ele bufou para mim e saiu trotando para a floresta. Que cachorro.

Ele voltou cerca de vinte minutos depois, seguido por Cian, ela estava completamente molhada.

– O que aconteceu? Eu perguntei, colocando o cobertor em volta dela.

Hero foi até Rachel e deitou-se ao lado da garota adormecida.

–Estou onde a corrente de água desce sobre o topo rochoso – disse Cian – como você diz isso?

Ela tirou a saia molhada e me entregou, coloquei-a sobre minha mochila perto do fogo para secar.

–Cachoeira?

–Sim, eu estava naquela cachoeira quando o cachorrinho Hero chegou ao lado das águas e me deu uma lambida feliz.

– Por que você estava na cachoeira?

Esfreguei o cobertor macio sobre seus ombros e braços, depois a virei em direção ao fogo para secar as costas.

– Gostar água pulando em mim, jogar todas as coisas feridas.

A combinação de yanomami e português de Cian não era tão clara, mas o uso de sinais de mão me ajudava a entender, às vezes, seu corpo me dizia tudo que eu precisava saber. Eu quase podia ver as águas frias caindo sobre ela e acalmando as dolorosas lembranças.

Eu a virei para mim, envolvi o cobertor em seu corpo e a abracei, ela deitou a cabeça no meu peito.

– Cian – eu disse depois de um momento.

Ela olhou para mim.

– Quando você foi buscar água antes do jantar, levou os ratos com você.

Ela fez que sim com a cabeça.

– Mas quando voltou, o saco estava vazio.

– Eles se foram agora.

– Para onde?

– Eu os libertei, eles correm para as árvores, nunca olham para trás.

– Ótimo.

– Saxon – disse ela, pegando um canto do cobertor para secar os cabelos – Quantas noites e dias leva para atravessar a água grande que Kaitlin fala, para ir à sua tribo?

– Minha tribo?

Ela fez que sim com a cabeça.

– Ah – exclamei – o Encontro Cigano.

Não sou cigano, pelo menos não de sangue, mas suponho que estejam tão perto de ser minha tribo quanto qualquer outra pessoa.

– É uma jornada de mais de quatro semanas a partir daqui.

– Semanas?

– Quase trinta dias – eu disse.

Ela soltou o cobertor, que escorregou das minhas mãos e caiu no chão. Olhei para minha irmã e sobrinha, elas ainda estavam dormindo.

– Mostre-me os dedos – disse ela, pegando minha mão.

Contei meus dez dedos para ela, depois seus dez dedos, depois os meus novamente.

– Até aqui?

Eu assenti.

– Você sair perto agora?

– Sim – eu disse.

– Aquele lugar que você vai, é casa de árvores como este também?

–Está nas montanhas dos Pirineus e, sim, provavelmente na floresta.

– O que são montanhas dos Pirineus?

– Muitas grandes colinas – eu disse usando minhas mãos para ajudar a explicar.

– Tem boa caça lá, certo?

– Talvez.

– Você volta para a Amazônia algum dia?

– Eu não sei

Ela olhou para mim por um longo momento e então sua expressão mudou. Seu rosto ainda tinha aquela aparência doce e aberta de quem está apaixonado e quer que seu amante o conheça, mas também via algo que não estava presente antes. Era como se ela tivesse tomado uma decisão, e seus olhos assumiram um olhar determinado.

Ela pegou sua saia quente e enrolou-a em torno de si, dobrando a borda ao longo de sua cintura para segurá-la no lugar, então levantou meu braço esquerdo até que ele se estendeu, paralelo ao chão. Ela encarou o fogo e olhou novamente para mim, deixei cair minha mão para colocá-la em seu quadril.

– Não – ela disse – devolva a mão para onde estava no ar.

Eu fiz o que ela disse, então ela estendeu o braço esquerdo para combinar com o meu, as pontas dos seus dedos alcançaram meu pulso.

– Hmm – disse ela – uma mão mais longa que o meu.

– Por que você está medindo meu braço?

Ela pegou minha mão, colocando-a nas costas dela