banner banner banner
Revelando O Rei Feérico
Revelando O Rei Feérico
Оценить:
Рейтинг: 0

Полная версия:

Revelando O Rei Feérico

скачать книгу бесплатно


Não pôde deixar de imaginar qual seria a história dela. Ao contrário de qualquer outro estudante, ela chegou refeitório vestindo calças largas de algodão e uma camiseta amarrotada. Inclinando a cabeça, Ryker notou que ela também estava descalça. Aquela era nova.

Em uma fração de segundo, a fêmea chutou o macho à direita. Ryker se encolheu e segurou a virilha quando o pé dela foi direto para o meio das pernas do guarda. Todo macho na sala se segurou sentindo a dor dele. Bastava um único golpe naquela área para saber a dor que causava.

Ela estava em movimento no instante seguinte, os dedos em riste percorrendo o rosto do outro homem.

– Maurelle – ladrou uma fêmea mais velha.

Quando a fêmea furiosa parou e olhou para cima, ele percebeu que cabelo-rosa se chamava Maurelle. Não pôde deixar de notar que o peito dela estava arfante, e as lágrimas se empoçavam nos olhos enquanto ela parava e olhava feio para a feérica mais velha.

– Quem é aquela? – sussurrou Ryker, não querendo chamar atenção para si, mas ansioso para saber por que a fêmea tinha parado de lutar. Havia uma leve pungência no ar que fez Ryker trincar os dentes.

– Aquela é a diretora Gullvieg. Ela é a manipuladora de mente mais poderosa de Bramble’s Edge – respondeu Sol.

– Vai me matar também? – cuspiu Maurelle, e jogou os ombros para trás para tirar a mão que pousou ali.

A pergunta fez a tensão preencher o recinto. Ryker continuou esperando alguém impedir Maurelle de desafiar a autoridade de Gullvieg, mas nada aconteceu. A diretora estreitou os olhos e se aproximou da fêmea irritada.

– Estive esperando sua chegada para poder fazer meu discurso de boas-vindas. Todo o conservatório está esperando você pegar a sua comida e se acomodar – informou-a a diretora. O tom ríspido com que ela falou o nome de Maurelle há apenas um momento tinha desaparecido. Por tudo o que Ryker sabia, ela poderia muito bem estar falando sobre o tempo. Não havia qualquer sinal de que Maurelle a tivesse aborrecido.

Os dois machos parados um de cada lado de Maurelle fizeram-na enrijecer. Antes que Ryker percebesse, ele tinha ficado de pé. A mão de Brokk em seu antebraço o impediu de ir socorrer a fêmea.

Depois de praticamente fuzilar os machos com os olhos, Maurelle ergueu o queixo e entrou no refeitório. O olhar dela se prendeu no de Ryker e ele teve que se esforçar para não demonstrar qualquer reação.

Ela era linda, pensou. O rosto fino estava em total desacordo com o corpo voluptuoso. Ela era alta, mas não tinha o corpo reto que era típico dos feéricos. A camiseta estava esticada sobre os seios maiores que a média, e os quadris balançavam a cada passo que ela dava.

Sendo feérico, Ryker não era estranho ao sexo, mas Maurelle fez sua mente ir direto para o quarto. Imaginou o quanto aqueles lábios eram macios. No momento, eles estavam franzidos e nenhum pouco convidativos, mas aquilo não reduzia o apelo dela.

Ryker caiu no banco e observou enquanto ela cerrava os punhos e olhava feio para a diretora.

A fêmea ficou de pé por vários segundos até seguir para a mesa. O tempo todo com os olhos fixos em Ryker. As asas dela batiam inquietas nas costas. O brilho turquesa e rosa combinava com o que viu da personalidade dela. Ela era uma das fêmeas mais fortes que já vira.

O fato de ela não ter rolado e ficado parada feito uma boneca de trapos o atraiu ainda mais que a aparência dela. O fogo o atraiu para a feérica antes que pudesse vê-la melhor. Depois de pegar um pouco de pão e outras coisas, ela olhou ao redor da sala.

Quando a fêmea veio em sua direção, o coração começou a bater com força e ele quis se levantar para ir até ela. Seu estômago se contorceu e a testa começou a suar. Ele estava tendo dificuldade para ficar sentado ali sem fazer nada. Não era como se ela estivesse vindo para a mesa dele, havia ao menos mais outras dez mesas ao seu redor. A última coisa de que precisava era uma amizade com essa fêmea problemática. Já tinha irritado os poderosos do conservatório quando tentou escapar da coleta.

Forçando o olhar de volta para a comida, Ryker pegou o garfo e começou a comer. Era difícil não olhar para cima e ver onde ela tinha decidido se sentar. Quando uma mão delicada surgiu ao lado dele, a cabeça se ergueu feito um foguete.

Maurelle estava puxando a cadeira ao seu lado. Quando aquele olhar encontrou o dele, não pôde deixar de notar as olheiras dela. O que o fez pensar que ela tinha resistido tanto quanto ele.

– Oi – cumprimentou Brokk, acenando de seu lugar do outro lado da mesa. Maurelle ergueu os olhos e acenou para ele com a cabeça. – Eu sou o Brokk. Ouvi Gullvieg te chamar de Maurelle. É isso mesmo?

– É – respondeu ela, então virou a cabeça para Ryker. – Você é novo, não é? Como está a sua asa?

O queixo caiu por um segundo então ele se recuperou do choque ao enfiar um pouco de comida na boca. Fez que sim enquanto mastigava e engolia.

– Eu sou o Ryker. E, a asa está melhorando. Os curandeiros fizeram um ótimo trabalho ao consertá-la. – Ele voltou a flexionar o músculo da asa, fazendo-a saltar sobre o ombro antes de baixá-la novamente. Não queria ser um idiota, então falou com ela, mas também não queria levar as coisas longe demais.

Já tinha chamado atenção o suficiente com a sua tentativa de fuga e não queria adicionar essa fêmea à sua lista de amigos próximos e acabar atraindo para si o intenso escrutínio de Gullvieg. Esperava ter dispersado quaisquer preocupações que a perversa diretora tivesse sobre ele.

Recostando-se na cadeira, ela ergueu a mão e a esticou como se fosse tocar a sua asa. Ryker ficou congelado por instinto. Provavelmente entendendo a razão por trás do movimento, ela abaixou a mão. Era melhor ficarem afastados um do outro, mesmo apesar da atração abrasadora que sentia por ela.

– Ao menos você ainda está vivo. Temi que também estivesse morto – disse ela, enquanto brincava com a comida no prato, franzindo o cenho.

A diretora ficou de pé e ergueu as mãos.

– Gostaria de dar as boas-vindas para todos em mais um ano aqui no Conservatório Bramble’s Edge Academy. Tenho orgulho por estar no comando desta instituição nos últimos trezentos anos. Vocês não receberão instrução melhor para poder controlar suas habilidades. Temos vários novos estudantes que serão avaliados depois de amanhã.

Ryker ouviu Gullvieg dizer onde as salas de aula estavam assim como sobre os campos de treino. Ele desligou o discurso e se concentrou em Maurelle. Como aquela fêmea tinha sabido da sua tentativa de fuga? Ela o vira tentar voar enquanto estava acorrentado? Os colegas pediram licença assim que o discurso de boas-vindas chegou ao fim, pois eles não precisavam ouvir o que estava sendo dito.

Puxando o assento para mais perto de Maurelle, ele se inclinou para ela e perguntou:

– Como soube o que aconteceu comigo?

Os olhos cinzentos estavam vermelhos nas bordas quando voltaram a focar nele, e o suor despontava na testa dela.

– Ah. O coletador que me capturou usou uma daquelas faixas mágicas…

– Grilhões – interrompeu-a, falando o nome das algemas.

Ela acenou em resposta.

– De qualquer forma, eu te vi tentando fugir e cair depois de bater na barreira no segundo em que toquei naquela coisa.

– Você é psicométrica – disse ele, enquanto pensava no que ela dizia. Não ficou surpreso por ela ter resistido a ser levada. Apesar da decisão de manter as coisas superficiais, temeu que ela não estivesse muito bem. – Você foi ferida quando eles te capturaram?

Os olhos da fêmea voltaram a se encher de lágrimas e ela abaixou a cabeça. A forma como os ombros se curvaram, e como ela perdeu cada grama do espírito combativo de antes, partiu o seu coração. Teve que xingar muito e se passar muitos sermões para ficar parado ali, tentando não confortá-la.

– Não. Eu não fui ferida, mas a minha mãe… ela foi… ela tentou me ajudar.

A voz da fêmea era tão baixa que ele teve que se inclinar para mais perto para ouvir o que ela dizia.

– Espero que sua mãe esteja bem. A minha não fez nada quando eu me atirei pela janela.

– Você tem sorte por ela ter ficado calada. Eles mataram a minha mãe – disse ela, entredentes.

Ficou chocado demais para ficar feliz ao ter outro vislumbre daquele fogo interior.

– O quê? Como você está aqui agora? Eu sinto muito – apressou-se a dizer. O comentário foi completamente insensível. Nunca tinha ouvido qualquer história sobre alguém morrer durante uma coleta. O fato de aquela bela fêmea ter perdido a mãe o fazia querer atravessar a diretoria e fazer um estrago. O que aconteceu era inaceitável, porra.

Aquilo não era ser distante e desapegado, lembrou a si mesmo. A injustiça o atingiu na alma. Nenhum feérico deveria sofrer daquele jeito. Não tinha nada a ver com ela em particular, assegurou a si mesmo.

– Se eu tivesse escolha, teria ficado em casa com meu pai e minhas irmãs, enviando-a para o além. Essas pessoas são monstros.

Ele colocou a mão sobre o ombro dela oferecendo o pouco de conforto que podia dar. Nenhum sorriso brilhou nos olhos dela quando o olhou. Ele ergueu a mão, não querendo se aproximar mais, apesar de o luto dela estar à flor da pele e a cortando em pedaços. E foi então que ele percebeu que aquilo deveria ter acabado de acontecer.

Explicava por que ela vestia o que parecia ser um pijama em vez da roupa preta com o símbolo da escola. Como eles podiam ter tirado e vida da mãe dela e a forçado a ir a um banquete de boas-vindas, como se nada tivesse acontecido?

Ficou claro para ele, naquele momento, que os rumores sobre o conservatório, talvez não sobre o conservatório em si, mas sobre os humanos no poder, fossem verdadeiros. Afinal de contas, toda história de terror tinha um fundo de verdade.

Aquele podia ser um acontecimento isolado. Eles estavam mais do que preparados para fazer aquela fêmea se curvar aos seus desejos. Governar pelo medo mantinha as objeções no mínimo. Havia encantos que poderiam lançar e coisas que poderiam fazer para impedir Maurelle de falar, mas não iriam diminuir a dor que ela sentia.

A cena que ela causara quando entrou no refeitório chamou a atenção de todo mundo. Não havia dúvida de que vários estudantes ao redor tinham ouvido o que aconteceu. O rumor sobre a morte da mãe dela percorreria o campus em um instante.

– Você não está sozinha aqui – prometeu a ela. – Infelizmente, acredito que encontrará outra pessoa que possa se identificar com o que você passou. – A esperança que se acendeu nos olhos dela o fez adicionar a última parte para se assegurar de que ela entenderia que ele não estava falando de si mesmo.

– Sei que você está certo. É por isso que eu… ai – disse ela, enquanto se encolhia e levava a mão à cabeça. A palidez da pele dela assumiu um tom meio esverdeado.

– Você não parece estar muito bem. Já foi ver um curandeiro?

Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, fazendo as madeixas rosadas flutuarem pelo ar.

– Estava doente quando eles foram me pegar. Acabei de chegar. Eles me fizeram vir aqui primeiro.

– Você está péssima. A enfermaria fica no segundo andar, na ala leste – ofereceu, enquanto ficava de pé. Era tudo o que podia fazer por ela. Não iria colocar um alvo ainda maior nas suas costas.

– Obrigada – murmurou ela, levantando-se.

Caminhou ao lado da fêmea desejando poder fazer alguma coisa para melhorar a situação. Nenhum deles disse nada enquanto andavam. Ele agiu como um idiota e sequer se despediu quando seguiram por caminhos diferentes e foi até o quarto andar, onde o seu dormitório estava localizado.

O ventre se contorceu ao mesmo tempo que a virilha pensou que seria uma boa ideia se entregar àquela atração. Parecia que um banho frio tinha acabado de virar uma prioridade. Faria isso logo depois que se esfolasse de dentro para fora por ter tratado Maurelle como se ela fosse uma inconveniência.

CAPÍTULO QUATRO

– Os horários aqui são sempre tão cheios? – perguntou Ryker ao colega de quarto. Já estava no conservatório há alguns dias, e eles ralavam mais do que no emprego de meio-período que ele tinha antes de ser levado para lá.

Muitos feéricos jovens tinham empregos para ajudar a sustentar as famílias, mas raramente trabalhavam mais de dez horas por dia, o que não se encaixava com a informação dada a eles durante as aulas de história. Os professores deveriam saber que os alunos não estavam caindo naquela besteira que estavam ensinando. Eram eles que estavam lá trabalhando até cansar para ajudar a fechar as contas do mês.

Ao que parecia, o que era ensinado no Conservatório foi distorcido para favorecer os humanos. Era enfurecedor ouvir os professores falarem como os humanos vieram e salvaram Bramble’s Edge da ruína. E também serviu para abrir os seus olhos.

Quando chegou ao conservatório, quis arrasar com qualquer um que cuspisse aquela merda para ele. Mas, à medida que o tempo foi passando, começou a entender um pouco melhor. Não cairia na história de que os humanos os salvaram, já que foram os humanos que atacaram primeiro.

As armas deles superaram as habilidades dos feéricos e debilitaram o reino. A mãe o contou o suficiente para que ele entendesse a estratégia por trás da guerra. Os feéricos tentaram se defender enquanto os humanos trabalhavam para destruir o poder que estabilizava o povo feérico.

Parte do poder do rei e da rainha dos feéricos era o que mantinha o equilíbrio, tanto entre as raças quanto entre os indivíduos. Da forma como a mãe explicou, cada vez que alguém perdia o controle sobre os poderes, o rei aparecia e fazia tudo voltar ao normal. Só a presença deles no reino provia algo que estabilizava toda a raça.

Quando aquele poder desapareceu com a morte do rei e da rainha, a raça ficou devastada e todo o caos que se seguiu permitiu que os humanos avançassem e assumissem o controle.

Era difícil para as criaturas sobrenaturais lidar com tanto poder, principalmente no início, e especialmente os feéricos. Eram uma espécie apaixonada e aquela paixão governava todas as coisas. Ouviu a mãe reclamar uma centena de vezes que o real propósito do conservatório era ajudá-los a aprender a controlar os poderes e os humanos perverteram tudo o que o rei Oberon criou milênios atrás.

Pelo número de vezes que seus novos amigos não foram capazes de vê-lo ou que acordava como se tivesse acabado de dar um mergulho no lago que havia perto do açougue em que sua mãe trabalhava, entendeu exatamente o que ela quis dizer. Não o propósito da escola em si, mas a parte sobre o controle.

Havia uma ou duas coisas que continuava acontecendo com os colegas de dormitório, mas Ryker notou várias coisas que o confundiam. Ainda não tinha certeza de quais eram os poderes. Até mesmo os professores que fizeram a sua avaliação ficaram perplexos e o colocaram na liga do ar.

Ao que parecia, ele demonstrava muitas habilidades associadas àquelas que os feéricos do ar tinham. Não sabia como se sentia quanto àquilo. Tinha visto muito pouco da habilidade de manipular pensamentos ou sonâmbulos ou falar diretamente com a mente de alguém. Ou de qualquer outro poder psíquico, diga-se de passagem.

Estava ansioso para aprender mais sobre o que a mente poderia fazer, mas foi arrastado para a liga do fogo. A forma como a raiva disparava e sua tendência a se meter em brigas fez parecer que o seu elemento seria o fogo. Esses impulsos se mostravam muito mais que suas outras habilidades.

Havia habilidades básicas que todos os feéricos possuíam. Essa foi uma das razões pelas quais Ryker ainda não tinha certeza sobre a veracidade da ameaça que a mãe via nos humanos. Humanos não viviam tanto quanto os feéricos. E eles não tinham força ou audição excepcional. Eles também não se curavam mais rápido.

Os feéricos também podiam, até certo ponto, dar mais glamour à própria aparência. As habilidades menos desenvolvidas eram amplificadas em alguém que possuía um talento extra na área. Aqueles com mais talento para modelar a beleza começavam a vender escudos feitos para disfarçar a aparência dos feéricos para que eles pudessem sair da Edge e ir para algum lugar que não fosse o muquifo onde viviam. Foi por isso que, quinze anos atrás, deram início ao serviço de detetives.

O pai de Eitin era detetive na fronteira, impedindo feéricos e mestiços de irem embora da Edge. A mãe odiava que fosse amigo de Eitin, mas os dois eram inseparáveis. E, a mãe nunca escondeu a opinião que tinha do amigo.

Virou piada entre eles adivinhar quantas vezes ela iria lhe passar um sermão falando que os feéricos não deveriam usar as habilidades para sentir outro feérico e usar isso contra a própria espécie.

Quando os poderes de Eitin se manifestaram, não tinha dúvidas de que ele seria posto na liga do fogo. Aquilo o fez imaginar para onde Maurelle tinha sido direcionada. Não a viu desde aquela caminhada até a enfermaria, mas não conseguia parar de pensar na bela fêmea. Você está caçando problema, disse a si mesmo pela centésima vez naquela semana.

Era uma bênção não ter que vê-la. Fazia com que fosse mais fácil manter-se afastado.

A mente teimosa se recusava a pensar em qualquer outra coisa enquanto imaginava se ela seria ar ou fogo, ou talvez até mesmo terra ou água. Baseado no que viu, duvidava que seria terra, pois ela não tinha causado terremotos ou criado barreiras naquele dia que estava tão puta da vida.

Ela não era da água pelas mesmas razões. Os guardas não começaram a sangrar pelos olhos, nem o mar que ficava perto da escola tinha lançado ondas pelo refeitório. Parte dele esperava que ela fosse colocada na liga do ar com ele, por causa da psicometria, mas ela ainda não tinha aparecido nas aulas. O que era bom, voltou a lembrar a si mesmo. A última coisa de que precisava era mais encontros estranhos com aquela fêmea.

Parou de pensar em Maurelle e na forma como o luto dela quase o fez perder a cabeça. Ryker saiu do quarto e colocou as proteções que conhecia ao redor da porta. Alguns da sua liga não eram capazes de manipular o metal como ele. Aquele era um traço da terra, mas não queria que ninguém invadisse seu território enquanto não estava.

– Ei, Ryk. Está tudo bem? Você perdeu o café da manhã – assinalou Daine, quando ele saiu do quarto. Os dormitórios ficavam em um enorme prédio de cinco andares e a estrutura foi projetada para terem muito mais independência do que ele tinha em casa, o que fazia com que o tempo que passava no conservatório fosse muito mais agradável.

Daine não parecia ansioso para sair do sofá e ir para a aula. Já Sol e Brokk estavam com os livros e os cadernos na mão. Os quartos foram dispostos em volta de uma sala central, onde eles treinavam e estudavam.

– É. Eu dormi demais – mentiu, enquanto arrumava os livros. Não sabia se podia confiar em qualquer um deles para falar das dúvidas que ainda tinha. Admitia que o receio e as objeções quanto ao conservatório diminuíram esses dias, mas não tinham sumido completamente.

Sol riu e balançou a cabeça.

– Eu também não ia querer sair da cama à cinco da manhã. Aquela merda parece ser feita de nuvens. Nunca pensei que uma cama pudesse ser tão confortável.

O rosto dele escondia as emoções caóticas melhor do que pensava. Fazendo que sim, Ryker foi até a porta.

– Concordo. Dormi na mesma cama a vida toda. E talvez minha mãe também tenha dormido nela por muito mais tempo. – Ter uma cama nova ou macia era um luxo com o qual a maior parte dos moradores da Edge não podia arcar. Então ter uma confortável era um puta privilégio.

Ryker desceu as escadas e os ouviu falar sobre as diferenças dos dormitórios e de casa. Estava prestes a concordar com eles, dizendo que o peito doía menos a cada fôlego, e que o estômago tinha se acalmado com o ambiente mais limpo, mas Maurelle saiu aos saltos de um quarto bem abaixo do dele.

Os pés falharam e ele mal conseguiu segurar o corrimão antes de descer rolando o próximo lance de escadas. Deslumbrante era um eufemismo, pensou quando olhou para ela. Com o cabelo limpo e brilhoso, e sem a palidez doentia, a beleza dela era inegável.

Os colegas de quarto perceberam a sua demora e se viraram para ele. Ryker abriu a boca, mas Brokk o interrompeu.

– Oi, Maurelle. Parece que você está se sentindo melhor.

A fêmea em questão se ruborizou levemente e sorriu.

– Obrigada. Eu me sinto bem melhor.

– E, porra, você está muito gata – prosseguiu Brokk, enquanto percorria o corpo dela de alto a baixo. Aquilo fez Ryker querer dar um soco naquele rosto bonito dele. O que era totalmente descabido. Deveria encorajar aquela paquera. Faria com que fosse menos provável que ele mesmo fosse ceder aos seus desejos pela fêmea.

Admitiu que gostaria de beijar aqueles lábios carnudos e sentir o corpo voluptuoso, mas se segurou.

– Chega – ladrou, severo. Com um estremecimento, abrandou a voz e prosseguiu. – Maurelle não precisa ser assediada. Como está se sentindo? Não a vi por aí.

– Meu próprio cavalheiro de armadura brilhante – provocou-o ela. Ele franziu o cenho, embora gostasse daquele humor irônico e que tenha sorriso um pouco demais, diga-se de passagem. – Mas não é necessário. Elogios são uma boa distração da perspectiva de começar a estudar. A escola e eu nunca fomos grandes amigos quando eu era mais nova, então, estou nervosa. Além do mais, eu estou me sentindo bem melhor. Eles me mantiveram na enfermaria até a noite passada e me deram vários tônicos e fizeram outros tratamentos.