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Revelando O Rei Feérico
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Revelando O Rei Feérico

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– Está tudo bem, mãe. O chá vai cair muito bem.

Não podia sair de casa agora que estava em transição. Se saísse, acabaria sendo arrastada para o Conservatório. Os pais foram para lá quando os poderes se manifestaram, mas as coisas tinham mudado quando os humanos tomaram o poder.

A mãe e o pai disseram que os feéricos não eram mais os mesmos depois que saíam do Conservatório. Não conseguiam explicar bem, mas não queriam que ela servisse aos humanos e reprimisse os da sua espécie.

Maurelle gemeu enquanto se sentava no sofá. A mãe chegou um segundo depois trazendo o chá.

– Obrigada, mãe – agradeceu e bebericou a mistura quente. Era mais fácil agora ignorar as impressões que teve com a xícara.

Um ano atrás ela não podia tocar nada sem ser bombardeada com visões do passado. Até então, a única habilidade que se manifestou para Maurelle foi a psicometria, e era grata por isso. Não podia imaginar como seria lidar com mais de uma coisa por vez.

E por falar em esquisitice, lembrou… Momentos depois de as asas criarem cor e a eletricidade percorrer o seu sistema, ela tinha ido até a geladeira para pegar uma bebida e teve uma visão do pai dando uns amassos na mãe. Nenhum filho quer ver o pai tendo intimidade com a mãe.

Uma batida na porta interrompeu os devaneios de Maurelle. Chegando à conclusão de que fosse Alek procurando Nyx, ela continuou bebendo o chá. A cabeça virou de repente quando ouviu vozes masculinas raivosas.

– Sua filha virá conosco! – um macho informou à mãe dela.

O pior pesadelo de Maurelle se desdobrava diante de seus olhos. Pela primeira vez na vida, desejou que os feéricos pudessem ter acesso a equipamentos tecnológicos de comunicação para que pudesse ligar para o pai. O único pensamento que Maurelle teve enquanto olhava para o feérico de cabelos vermelhos foi que ele estava lá para levá-la e que ela deveria fugir.

Não tinha ideia de para onde poderia ir, isso se conseguisse escapar. Todo feérico tinha ouvido os rumores sobre o subterrâneo, mas ela não sabia onde era ou para onde aquilo a levaria. Não havia nada fora de Bramble’s Edge e dos assentamentos humanos.

– Vocês não podem levar a minha filha! Ela está doente e não pode ir para o Conservatório agora – a mãe tentou argumentar com o policial.

Nyx e Erlina vieram correndo pelo corredor e pararam de repente quando viram os policiais. Os olhos verde-claros idênticos encontraram os de Maurelle, mostrando o quanto elas estavam aterrorizadas.

– Voltem – disse a elas, sem fazer som, e fez sinal para elas saírem dali.

– A doença não a dispensa do Conservatório. Ela precisa vir conosco agora! – ordenou o mesmo policial.

Jogando a xícara de chá no macho, Maurelle saiu correndo pelo corredor. Nyx e Erlina saíram da frente quando ela passou. Prosseguiu até o quarto dos pais e pegou um par de sapatos da mãe enquanto passava.

Um grito a fez virar a cabeça a tempo de ver as irmãs paradas no meio do corredor. Nyx tinha aperfeiçoado o olhar esnobe e arrogante enquanto cruzava os braços sobre o peito e olhava feio.

– Deixe minha irmã em paz – gritou ela.

Maurelle quase riu ao ver Nyx ajustar as mãos para fazer com que os seios ficassem mais juntos e empinados. Uma técnica de distração que raramente falhava. Em especial com feéricos machos. A espécie era muito lasciva.

Não foi algo que os pais já tivessem lhe dito, mas não precisavam porque o desejo furioso era o bastante para dizer a Maurelle o quanto o sexo seria importante para ela. Nyx estava naquele estágio, e por isso que estava afoita para ir almoçar com Alek.

Ter o escape do sexo abrandava os feéricos e os ajudava a ficar estáveis. Maurelle tinha certeza de que sua falta de parceiros era uma das razões para estar doente. Não havia escape para equilibrar os seus poderes. Nada para ajudar a liberar a energia.

O queixo caiu quando o policial feérico não prestou a mínima atenção em Nyx. Assim que o macho tirou a irmã da frente, Maurelle se afastou da janela. Jogou um dos sapatos e ele atingiu o macho na cabeça. Erlina começou a chorar e se pressionou na parede de frente para a que Nyx estava.

A cabeça de Maurelle latejou por causa de toda a agitação, fazendo seu estômago embrulhar. Com a bile na garganta, ela correu na direção do macho. Podia ouvir a mãe discutindo com o outro na sala, mas tinha que se concentrar no que estava no quarto com ela.

O olhar de fúria no rosto dele a fez dar um passo para o lado, colocando a cama king size entre eles.

– Você não escapará de nós. É melhor desistir de uma vez.

Balançando a cabeça, buscou uma forma de escapar daquela confusão. Se conseguisse chegar à janela, poderia voar. Não tinha certeza do quão longe poderia ir com a cabeça latejando e o estômago revirado, mas não ia se entregar.

Quando o macho saltou para as suas pernas, ela pulou e gritou quando o desconforto aumentou. Chutou o Feérico por instinto. Devia ser uma cena engraçada, pensou enquanto os braços se agitavam no ar e os cabelos emaranhados giravam ao redor do rosto.

O pé foi de encontro à lateral da cabeça dele e estalou. Seguindo ao ataque incompleto, ela agarrou o cabelo dele. O braço do macho bateu no seu peito e a arremessou pelo quarto.

As costelas bateram na penteadeira com mais força do que Maurelle pensava ser possível. A mão varreu as bugigangas de vidro da mãe e as mandou para o chão. E logo veio o barulho de vidro quebrado. Ela se encolheu por causa do som e da forma como eles se partiram quando foram de encontro ao piso de madeira.

– Maurelle – gritou Nyx.

Maurelle levantou a cabeça e viu o feérico pulando por cima da cama e pousando bem ao lado dela. Ele levou a mão para trás e puxou um gancho de prata. A eletricidade que faiscava do objeto, fez a sua boca ficar seca.

A resolução se renovou quando começou a mover e impulsionar os cotovelos para todos os lados, esperando quebrar o nariz dele. Um dos braços do policial a envolveu pela cintura, pressionando seu estômago com tanta força que ela temeu que fosse acabar vomitando.

Com a mão livre, ele levou a prata até a boca e murmurou uma palavra que a fez tremer. Antes que soubesse o que estava acontecendo, ele a atingiu com aquilo nas costelas. O metal mudou de forma e envolveu o seu torso.

Pelo xingamento, ele esperava que aquilo a prendesse em um lugar diferente. As asas ficaram livres, assim como as mãos. Ela agarrou o metal com a intenção de puxá-lo de si.

No segundo em que a mão tocou o objeto, o quarto dos pais e o feérico em cima dela desapareceram. Como sempre acontecia quando usava os poderes, não pôde se concentrar em nada por vários segundos.

A única coisa que percebeu antes de a visão clarear foi a impressão geral da memória a qual estava tendo acesso. O que quer que a esperasse do outro lado, tinha causado muito medo, e determinação.

Supôs que não deveria ficar surpresa, já que a arma era usada por um coletador. O coletador podia ser feérico, mas agora era óbvio para Maurelle que eles não tinham um pingo de empatia ou até mesmo de identidade individual.

Foi estranho o bastante para fazê-la imaginar o que acontecia no conservatório para apagar completamente a personalidade de alguém. Pela forma que os pais descreveram sua época na universidade, ela não tinha dúvida de que agora o estabelecimento era algo bem diferente.

Quando a neblina deixou a sua mente, ela olhou para o macho feérico mais maravilhoso que já viu na vida. Será que foi a seca ou o desejo sexual desenfreado que a fez achar o macho da sua visão tão bonito?

Não, decidiu enquanto tinha um vislumbre dos traços bem marcados e dos olhos verdes profundos e deslumbrantes. O cabelo negro estava bagunçado em volta da cabeça e um pouco mais longo sobre a testa.

O olhar de determinação ecoava o que ela sentiu no momento em que os policiais apareceram na sua casa. O coração começou a bater com força quando ele rosnou e se elevou no ar um segundo depois. Ela queria gritar um aviso para ele.

Com as mãos presas na lateral do corpo, não havia como ele ir muito longe. O mesmo equipamento brilhava ao redor da cintura dele, fazendo-a perceber que ele tinha sido usado naquele macho pela última vez.

Quanto mais ele se afastava do feérico que a atacou, mais a garganta dela se apertava. Se ele tivesse conseguido escapar, aquela coisa não estaria nela naquele momento. O voo falhou quando ele olhou para trás, para o macho que agora o perseguia pelo céu.

Quando o oceano apareceu, Maurelle prendeu o fôlego. O Conservatório era exatamente como os pais o descreveram. Os enormes prédios de pedra rodeados pela vegetação exuberante com amoreiras espinhentas de um lado e o oceano ao fundo.

A enorme quantidade de fagulhas a distraiu da vista. O olhar foi desviado no minuto em que o macho atraente bateu em uma barreira invisível no céu. Ninguém jamais contou a Maurelle o que aconteceria exatamente caso ela resolvesse voar para longe, só disseram para não tentar, se não ela se arrependeria.

Observou a asa dele acender como se tivesse sido atingida por um raio logo antes de ele cair com força do chão. Aquilo fez a náusea aumentar. Observou com os olhos arregalados e o coração acelerado enquanto ele atingia o solo.

Podia jurar que o impacto estremeceu a terra onde ele pousou. A asa estava dobrada em suas costas e a lateral do corpo sangrava. A cena era tão pavorosa que ela duvidava que o macho fosse se recuperar.

Relutante em ficar tão vulnerável com os dois policiais na sua casa, Maurelle forçou a mente a abandonar a visão e a voltar para casa. A cabeça estava sendo rachada por uma picareta e a bile preencheu as suas narinas.

Foi quase impossível abrir os olhos, já que eles pareciam estar colados. Quando conseguiu, o macho de cabelo vermelho a arrastava do chão. Uma mão segurava o dispositivo e a outra o seu braço.

As irmãs se abraçavam e choravam. Maurelle tropeçou junto com o policial que a segurava. A desorientação causada pela visão durou mais que o normal. Não tinha ideia se era porque tinha sido forçada a abandoná-la ou se era porque estava doente. Podia ouvir a mãe implorar para que eles a deixassem, mas o outro macho se recusava a ouvir.

– Vai cooperar agora?

Maurelle tentou escapar das mãos do policial que apertava o seu braço com força, mas viu a ação interrompida quando a mão se recusou a levantar. Um rápido olhar para baixo lhe mostrou que, de alguma forma, os pulsos tinham sido incorporados pelas algemas.

– Não. Você não vai levar a minha filha – soluçou a mãe, enquanto Maurelle era arrastada pela casa. A mãe atacou o macho que a segurava e, mais uma vez, o tempo passou mais devagar para Maurelle.

No segundo em que a mãe tentou alcançá-la, o outro macho ergueu um longo bastão preto liso e atacou. O objeto entrou em contato com a cabeça da mãe emitindo um ruído alto. As irmãs gritaram com ela enquanto a cabeça da mãe caía para o lado e o sangue espirrava na parede.

– Que porra você fez? – gritou o policial que a segurava.

Aquilo só podia ser um pesadelo, Maurelle pensou enquanto observava a mãe caída no chão. Parte do crânio dela tinha sumido, e os olhos castanhos e inexpressivos olhavam para o nada.

– Mãe – gritou enquanto o estômago revirava com o que via. O chá que bebeu mais cedo subiu correndo por sua garganta e logo saiu pela boca e pelo nariz. Maurelle tentou ver se o peito da mãe subia e descia, mas foi arrastada pela porta antes de poder tomar uma decisão.

– Procurem o papai – gritou para as irmãs, enquanto era arrastada pelas escadas. O brilho forte do sol zombava do pesar que irrompia por seu peito enquanto o feérico a jogava em uma caçamba. Com ela de bruços, o macho pressionou um disco atrás das correntes, e elas caíram com um estalo. Precisava de uma daquelas chaves para algemas.

Rápida, ela lutou para ficar de pé e tentou passar por ele correndo, para que pudesse procurar o pai. Enquanto a porta batia às suas costas, Maurelle olhou para trás e viu as irmãs abraçadas na portaria do complexo de apartamentos que eles chamavam de lar. Aquilo não podia estar acontecendo, disse a si mesma.

Enquanto o coração se partia em um milhão de pedaços, ela chutou as barras que a mantinham afastada das irmãs. Não estaria lá para confortar o pai ou para ajudar a acalmar Nyx e Erlina.

Os dedos rodearam as barras e ela gritou para quem quisesse ouvir que ela estava sendo levada à força. Pela primeira vez desde que seus poderes se manifestaram, ela não foi arrastada para uma visão.

A vida real se agarrava com força à sua alma estilhaçada e ela se recusava a soltar. Eles mataram sua mãe de forma cruel porque ela não queria que Maurelle fosse para aquele conservatório maldito. Como poderia seguir em frente quando sua mãe gentil e amorosa não estava mais lá? Nem sequer seria capaz de se despedir dela e de ajudar a enviar o espírito dela para o além.

Não deveria ficar surpresa, não depois da tortura que testemunhou na sua última visão. Qualquer um que permitia uma coisa daquelas acontecer não dava a mínima para quem eles machucavam em sua sede por poder e dominação.

CAPÍTULO TRÊS

A dor agonizante disparou pelo ombro de Ryker enquanto ele repassava as imagens brilhando na mesa a sua frente. Não podia erguer o braço machucado sem sentir uma dor significativa. Depois de recuperar a consciência na enfermaria do conservatório, a vida tinha sido melhor do que esperara.

Foi meio que um alívio ver que, desde que tomaram o poder, os humanos não tinham dado início a um esquema maligno ali no conservatório. Para dizer a verdade, ficou surpreso pelo tanto que o lugar lhe pareceu normal. As crianças feéricas frequentavam a escola por muitos anos para aprenderem a ler e escrever e essas coisas.

Historicamente falando, o Conservatório de Bramble’s Edge servia para ajudar os feéricos a controlar os poderes à medida que se tornavam jovens adultos. O foco ali não era a educação formal, mas o controle das habilidades. Talvez, fosse apenas isso que acontecia lá.

Nada suspeito ou nefasto ocorreu desde a sua chegada e isso fez Ryker questionar toda a sua infância. Especificamente, como a mãe não parava de dizer o quanto os humanos eram criaturas malignas que mantinham o controle sobre o reino deles.

Será possível que um feérico que não se simpatizava com humanos administrasse a escola? Tinha que pensar que era bem provável, dada a forma como tinha sido tratado. A curandeira passou uns dois dias trabalhando no reparo da sua asa, centímetro por centímetro, para que ele pudesse voltar a voar em algum momento.

Alguém que o quisesse sob controle, que ele agisse como um escravo, não tomaria tanto cuidado ao tratar do seu ferimento. Imaginou a mãe dizendo que ele não deveria confiar em ninguém. Que precisava ficar na dele e permanecer fora dos holofotes.

Era como planejava agir no conservatório. Teria que cumprir seu tempo ali sem chamar atenção para si mesmo. Não seria difícil fazer a prova que o ajudaria a descobrir quais eram as suas habilidades, assim como onde sua afinidade estava enraizada. Um dos companheiros de dormitório era um feérico de terra e o outro, da água. E o terceiro mostrou afinidade com dois elementos.

Aquilo nunca tinha acontecido, até onde Ryker sabia. Muitos poucos eram alinhados com mais de um elemento, e quando acontecia, normalmente os elementos eram complementares. Parte dele queria ter mais de um, e ele não tinha ideia do porquê.

Não era como se soubesse o que significaria para ele. Pelo que Sol lhe dissera, havia aulas e treinamentos extras. Ryker gostava de ter tempo para jogar bola no arco, e tempo era algo que Sol não tinha naquele momento.

Depois de fazer suas escolhas, Ryker se virou e examinou o refeitório. Nunca tinha visto um lugar como o Bramble’s Edge Academy. Os dormitórios eram tão grandes quanto o apartamento no qual morava com a mãe, e o refeitório era enorme com inúmeras mesas e bancos preenchendo o local. Os feéricos não tinham acesso à tecnologia, então ficou surpreso pelo pedido de comida ser feito a partir de imagens sobre a mesa, e o botão ainda dava uma tremidinha quando apertado.

Os colegas de dormitório explicaram que o que escolhiam era trazido logo depois que pressionavam o botão com o símbolo da escola. Ryker sempre amou o símbolo do conservatório. Algo nas letras ‘BE’ rodeadas pelos espinhos das amoreiras se conectava com a sua alma. Havia várias coisas na Edge e muitas outras que mexiam com as suas emoções.

Depois de a mãe o encorajar a fugir antes de ele ser coletado, Ryker esperou odiar tudo ali no conservatório, mas não odiou. Na verdade, gostava de muita coisa. As paredes dos prédios mais antigos foram erguidas com magia feérica, e pareciam recebê-lo com alegria. Sim, percebeu que era meio louco pensar daquele jeito, mas era como se sentia.

As salas e as áreas de treino eram tão diferentes das da sua antiga escola. Havia muito lugar para treinar e aprender o que não aprendera antes. Quando criança, foi para uma escolinha que atendia somente os prédios da rua onde morava. As salas da escola primária ficavam no segundo andar de uma padaria e eles almoçavam na própria sala de aula.

A comida no conservatório também estava à altura da da sua mãe. Não que ela fosse a melhor cozinheira da Edge, pensou, mas chegava perto. Havia muitas opções e sempre tinha algum tipo de ensopado, o que caía muito bem no clima mais frio.

O clima em Mag Mell quase nunca era quente, e chovia com frequência, então Ryker preferia as refeições mais robustas. Na Edge era difícil encontrar frutas e legumes frescos, mas o conservatório não parecia sofrer do mesmo problema.

Da primeira vez que pôde sair da enfermaria, Ryker não tinha certeza do que esperar das refeições naquele lugar. Não tinha imaginado as dezenas de opções que teria, já que recebera refeições insossas enquanto estava na área hospitalar.

Pela forma com que a mãe descrevia os horrores do conservatório, pensou que seriam alimentados com coisas desconhecidas, e que não teriam escolha. Muito naquele ambiente não se encaixava com suas imagens preconcebidas do lugar.

Plantas de verdade preenchiam os cantos do salão, e janelas do chão ao teto dava a eles uma vista do oceano à distância. A vista em si era muito serena.

Como um lugar tão mágico seria o lugar errado para ele?

Ryker olhou para cima quando Sol e Brokk se aproximaram da mesa. O terceiro colega de dormitório, Daine, já estava ali com ele.

– Já recebeu notícias sobre a sua avaliação? – perguntou Sol.

Ryker sacudiu a cabeça e agradeceu à fadinha que trouxe a comida.

– Não avisaram nada ainda. Talvez estejam me dando mais tempo para me recuperar.

Brokk lançou um olhar para Sol, um que Ryker não conseguiu entender.

– Como está a sua asa?

Ryker tensionou o músculo que a controlava e ela saltou sobre o seu ombro. Não foi capaz de reprimir o tremor causado pelo movimento.

– Ainda está curando. É melhor agradecer ao curandeiro.

– Ainda não consigo acreditar que você saiu voando com grilhões nas mãos – murmurou Sol, balançando a cabeça com tristeza. – Por que faria uma coisa assim? Odeia a escola a esse ponto?

A pele de Ryker formigou. Aquele era primeiro sinal de que algo não estava muito certo. Era uma pergunta bastante inocente, mas cada feérico da Edge sabia sobre o Conservatório e ninguém queria ir para lá.

A crença popular era de que eles faziam lavagem cerebral e os moldava para servir de escravos para os humanos. Lembrou-se dos amigos contando histórias que tinham ouvido sobre os horrores que se passavam por trás dos portões de ferro que isolavam a escola.

Ryker tinha certeza de que a conversa de a magia dos feéricos ser sugada de seus corpos e engarrafadas para consumo humano era falsa. Tinha certeza de que os prédios seriam desprovidos de vida. E de que os indivíduos naquele refeitório não estariam conversando, mas sentados com os rostos inexpressivos.

Se o que quer que fizesse de Ryker um feérico tivesse sido removido de seu corpo, ele não imaginava que teria mais qualquer força. A pergunta que girava por sua cabeça era até que ponto poderia confiar naqueles machos? Fazia muito pouco tempo que estava ali para que os conhecesse bem.

Não havia como prever o que aconteceria se confessasse a verdade para Sol. Ryker não arriscaria a segurança da mãe, de jeito nenhum. Felizmente, ela manteve a boca fechada depois que os guardas chegaram, então ela não teve envolvimento na sua tentativa de fuga.

– Tira a mão, caralho – a voz de uma fêmea ecoou pelo refeitório, fazendo todo mundo olhar para as portas duplas abertas do outro lado do recinto.

Ryker olhou boquiaberto para a figura ágil se remexendo nos braços de um macho. Não estava lá há tempo o bastante para saber o nome do macho ou o papel que ele tinha na escola. A fêmea tinha cabelos rosas e emaranhados e se contorcia nos braços dele, tentando se libertar.

Foi tudo o que pôde ver de primeira. Quando ela virou o rosto, Ryker notou que as bochechas dela estavam coradas, mas não era de vergonha. Ela estava puta. Olhar para ela era como olhar para uma tempestade no oceano. O fogo desafiador que queimava naqueles olhos cinzentos chegava a brilhar. Mas detectou algo sob aquela fúria.