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Cativeiro
Um aroma delicioso chamou a atenção de Liv, e ela olhou para os dois pratos. Salmão grelhado em cima de uma salada mista de verduras era o prato principal. O cheiro era divino. Liv adorava visitar Bart porque tudo ali era o que havia de melhor. Não poupar despesas parecia ser a regra de ouro na mansão do governador. Empurrando o prato de queijos para mais perto de Bart, ela pegou seu prato de peixe e os talheres.
— Vou me lembrar disso. Não se surpreenda quando você sair e vir Cassie e eu bebendo cerveja barata e tocando música country para todos os seus vizinhos ouvirem — provocou ela, dando uma mordida em seu peixe.
— Ei, contanto que vocês duas estejam usando trajes de banho sexy, podem fazer o que quiserem. Este lugar precisa de um pouco de ação. Tenho estado tão ocupado ultimamente, que esqueci o que é diversão — confessou ele, e Liv podia ver que ele foi sincero em cada palavra que disse, mesmo que a conversa fosse leve e divertida. Ela não havia considerado o estresse e a pressão do trabalho dele.
— Não é isso que ouço, Sr. Playboy — brincou ela, dando uma piscadela.
— O quê? Eu, playboy? Acho que está lendo aqueles jornais de fofoca de novo. Não tenho tempo para isso — repetiu ele, com uma expressão zombeteira de choque.
Sim, ele estava brincando com ela. Os tabloides acertaram, tanto quanto ela podia perceber. Bart era lindo de morrer. Cabelo loiro, curto e arrepiado, com olhos castanhos escuros fazendo contraste com a pele bronzeada. Ele parecia um californiano nativo em vez de um político arrogante.
— Bem, teremos que remediar essa vida monótona que você leva. Assim que você estiver disponível, vamos planejar uma festa na piscina. Você fornece a comida e as bebidas, e eu fornecerei as mulheres lindas. Espero que tenha alguns amigos elegíveis no Capitólio — professou ela.
Rindo, ele respondeu:
— Temos um acordo. Tenho certeza de que posso reunir algumas vítimas dispostas. De qualquer forma, sem querer mudar de assunto, mas você parecia bastante perturbada ao telefone quando ligou. O que está acontecendo? — perguntou, curioso.
Por onde começar aquela história? Ela não sabia o quanto deveria lhe contar. Afinal, ele era o governador e ela não queria colocá-lo em uma situação comprometedora, contando-lhe sobre o assassinato que testemunhou. Considerando seu dilema, ela precisaria selecionar as palavras com cuidado.
— O que sabe sobre shifters? — perguntou ela.
Bart inclinou a cabeça.
— Não muito, realmente. Eles tendem a permanecer com sua própria espécie. Não estão envolvidos politicamente; então, não me aventuro em suas comunidades. Existe um tabu em torno deles, e os especialistas dizem que eles são violentos e causam a maior parte de nossos crimes. Por que pergunta?
— Bem, o LPP está fazendo pesquisas nas análises de sangue deles. Jim acredita que a capacidade aprimorada que eles têm de se curar pode ser a chave para a cura do câncer — revelou ela, mordendo o lábio inferior enquanto observava a reação dele.
— Uau, isso seria incrível! Que grande avanço para sua empresa, se isso for verdade. Então, qual é o problema, Liv? Quando você começa a morder o lábio, é porque está preocupada ou nervosa. Desembuche. — Ele abaixou a cabeça de forma que ela teria que fazer contato visual. Os olhos castanhos e calorosos dele procuraram os dela e ela pôde ver a preocupação e o cuidado neles.
Soltando um suspiro que não percebeu que estava segurando, ela continuou:
— O problema é que temos um shifter no laboratório. Ele está sendo mantido contra sua vontade. Jim afirma que é porque o homem é uma fera selvagem e que está protegendo seus funcionários, mas não tenho tanta certeza. Algo em meu íntimo está me dizendo que é muito mais grave do que isso — declarou ela, colocando o garfo no prato. De repente, seu apetite sumiu e ela se sentiu enjoada.
Bart se recostou na parte de trás da banqueta e cruzou uma perna sobre o joelho, considerando as palavras dela. Depois de alguns momentos, ele falou, com expressão séria:
— Essa é uma acusação muito forte. Você tem alguma prova de que Jim não está dizendo a verdade, porque eu vou lhe contar uma coisa… Jim Jensen é altamente considerado na comunidade. Maldição, em todo o Estado, por falar nisso.
— Eu sei, eu sei. Jim também é um desgraçado que trairia sua esposa com qualquer mulher que tirasse a calcinha, então não saia dizendo como ele é considerado. Estou lhe dizendo, Bart. Não tenho provas concretas, mas eu vi este shifter ser espancado. Ele está acorrentado a uma parede, pelo amor de Deus. Não há nada que você possa fazer? — implorou ela.
O coração dela acelerou, fervendo o sangue, enquanto pensava em Lawson e na maneira como ele foi tratado. Estava tão furiosa, que aquilo chegava a assustá-la. Era ilegal e desumano, e depois de se sentar com ele, percebia que não podia simplesmente cruzar os braços e não fazer nada.
— Uau, desacelere um segundo. Não posso começar a lançar acusações sem provas sólidas. Você tem que saber que poderia haver sérias repercussões para mim e meu trabalho, se eu estiver errado. Devo lembrá-la que o relacionamento entre eles e nós não é o melhor? Não confiamos nos shifters e eles não confiam em nós. Simples assim. Nós coexistimos e isso é tudo — explicou ele e Liv sentiu que a chance de salvar Lawson escorregava por entre seus dedos.
— Mas e quanto a ele estar acorrentado e ser espancado? Não pode ser legal — retrucou ela, cruzando os braços sobre o peito. Bart deveria estar do lado dela, não do de Jim, e isso a irritava.
Ele estendeu as mãos e descruzou os braços dela, pegando suas mãos nas dele.
— Concordo, isso soa horrível. Ninguém deve ser tratado dessa forma. Mas escute-me. Se houver uma pequena possibilidade de que Jim descobriu algo sobre o sangue de shifters, você tem que saber que ele não vai parar até que obtenha as respostas. É certo prender alguém contra sua vontade? Não. Mas e se a chave para a cura do câncer estiver aí? Não valeria a pena? — perguntou ele, esfregando levemente os polegares no topo das mãos dela.
Bart sabia que a avó dela havia falecido de câncer. Também sabia como ela era apaixonada sobre encontrar uma cura. Talvez ele tivesse razão.
— Sim, suponho — murmurou Liv, então balançou a cabeça. — Não, não à custa das vidas deles. Esse é o meu problema com toda essa bagunça. Qual é o custo real da cura? Jim me designou para o caso e estarei trabalhando junto com Lawson. Saberei se eles o maltratarem novamente — comunicou ela.
Suas palavras refletiam o trem da culpa que estava estacionado na estação e se recusava a partir. Então, ela se sentia responsável pelo que estava acontecendo com Lawson, e odiava isso com cada fibra de seu ser.
— Você está mordendo o lábio de novo. Tem certeza de que está bem? — questionou Bart, apertando as mãos dela com força.
— Sim, estou bem. Obrigada pela atenção. Estou feliz por ter vindo procurá-lo — admitiu ela.
Bart era o seu ouvinte e protetor. Havia sido seu ombro, onde pôde chorar na faculdade, quando pegou o namorado de dois anos a traindo. Bart saiu furioso do apartamento dela e rastreou Joe, espancando-o por magoá-la.
Ele era seu irmão mais velho quando se tratava de defender sua honra e era ela quem lhe dizia as verdades, quer ele quisesse ou não. Eram bons um para o outro e ela valorizava a amizade dele.
— Vou lhe dizer uma coisa. Tenho algumas conexões que são próximas à comunidade shifter. Deixe-me ver se há algum boato sobre sequestros ou espancamentos de humanos contra eles. Ligarei para você em alguns dias para avisar, se eu souber de alguma coisa, está bem? — perguntou ele, dando um tapinha no joelho dela.
— Oh, isso seria ótimo — respondeu ela, sentindo o alívio a inundar. Ela se inclinou para frente e colocou os braços em volta do pescoço dele, apertando com força. — Você é o melhor amigo que uma garota poderia ter! — gritou ela.
Ele se afastou e olhou profundamente nos olhos dela, compartilhando um momento. Ela pensou que ele poderia beijá-la e entrou em pânico, retirando rapidamente os braços do pescoço de Bart. Ela se recostou na banqueta.
— Este sou eu. Seu melhor amigo — zombou ele, com um sorriso, mas ela percebeu o vislumbre de outra coisa.
Ele ficou magoado por ela ter se afastado?
Eles não eram mais um casal desde muito jovens e ela não se sentia mais dessa maneira em relação a ele. Ele era importante para ela como amigo, e ela nunca arriscaria perder essa amizade por alguma brincadeira rápida na cama.
— Ei, não mude de apelido, BS. Ele se encaixa perfeitamente em você — brincou ela, tentando aliviar o clima.
Uma centelha brilhou nos olhos castanhos dele e ele sorriu, mostrando dentes perfeitos.
— BS, então. Você sempre será minha TKO — disse ele, beijando-a levemente na testa.
Olhando para o relógio, Liv percebeu que precisava ir.
— Oh, tenho que sair correndo. Obrigada pelo almoço. Estou falando sério sobre aquela festa na piscina. E ligue-me se ouvir alguma coisa sobre o LPP — disse ela, enquanto se levantava para sair.
Bart a acompanhou até a porta da frente e ela o abraçou, despedindo-se.
Pensando no trabalho, Liv saltou para dentro de seu jipe. Pulou, de verdade. Por que estava tão contente em relação ao trabalho?
E, por alguma razão estranha, estava pensando no que vestiria no dia seguinte. O que estava acontecendo com ela? Certamente não tinha nada a ver com o fato de que veria Lawson no dia seguinte.
Bem, talvez só um pouco.
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