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Cativeiro
Examinando o salão, ela localizou Cassie e correu na direção da mesa onde ela estava sentada. Despencando na cadeira em frente à amiga, Liv pegou a bebida diante de Cassie e a bebeu de um gole só. A tequila parecia um maçarico, queimando-a garganta abaixo
— Ei, que diabos aconteceu? Esperei quinze minutos para ter essa bebida — gritou Cassie, acima do barulho alto da música. — E você está atrasada. Tive que dar umas malditas desculpas para três desventurados dando em cima de mim. Onde você esteve?
— Garota, você não faz ideia. Onde está essa maldita garçonete, afinal? Preciso de uma garrafa inteira, depois do que acabei de passar — explicou Liv, examinando o clube e procurando a familiar regata esportiva com os dizeres “SUGUE-ME” no peito, nas moças de seios excessivamente aumentados que costumavam trabalhar no Popsicles, o local “quente” de Chattanooga.
— Bem, desembuche. É melhor que seja bom, porque boa era essa droga que você acabou de beber. Esta não é uma noite romântica, e tenho certeza de que você não vai me colocar para dormir mais tarde — exclamou Cassie, mascando um chiclete.
— Pare de reclamar e ouça-me. Sério, você não vai acreditar no que aconteceu no trabalho — interveio Liv, agitando os braços com excitação. — Acabei de ver dois homens sendo estrangulados bem na minha frente. Mortos. Você me ouviu? Mortos! — Mesmo enquanto gritava as palavras, mal podia acreditar nelas.
Os olhos castanhos esbugalharam-se como se Liv tivesse admitido ser viciada em heroína, fumando crack em uma igreja.
— Hummm, diga de novo? Devo ter ouvido errado, Liv. Você disse… mortos?
— Sim! Mortos. Dois homens. Mortos! Como, tipo, o oposto de vivo — gritou Liv, vendo uma funcionária caminhando na direção delas. Quando Liv percebeu que os peitos aos saltos estavam diretamente alinhados com a mesa dos turbulentos universitários, ela se moveu para a linha de visão da moça.
— Gostaria de uma garrafa de tequila. Não um copo, mas toda a maldita garrafa. E, não posso comprar coisas realmente boas, lembre-se disso, se você espera que seja eu a pagar. Ah, e dois copos e alguns limões, por favor. — Liv fez um biquinho e estampou o que sabia ser um sorriso desequilibrado, tentando parecer calma, mesmo que estivesse prestes a explodir de ansiedade.
— Claro, querida. Deixa comigo. Volto em um instante — respondeu a loira fatal, digitando em seu tablet.
Liv exalou, tentando recuperar a calma e depois se apertou na mesa ao lado de Cassie. Todo mundo no clube provavelmente pensaria que eram lésbicas, mas ela não se importava. Precisava conversar em particular com a amiga.
— Ok, acalme-se e comece do começo — pediu Cassie, colocando uma reconfortante mão sobre a de Liv e sorrindo, solidária. Liv não poderia ter pedido por uma vizinha e amiga melhor que Cassie. Haviam passado por muitas coisas juntas, desde celebrações a corações partidos, e se havia alguém com quem Liv podia contar, era Cassie. Era o tipo de amiga que, se Liv dissesse que precisava se livrar de um corpo, ela pegaria uma pá sem hesitar.
Liv recordou a primeira vez em que se encontraram. Estava morando em sua casa havia mais ou menos uma semana, e ouviu batidas na porta da frente. Quando atendeu, Cassie estava lá, de camiseta masculina, e nada mais, querendo mel emprestado. Depois, Liv descobriu que o mel seria usado para ser espalhado por todo o corpo de Cassie e do namorado dela. Ela disse a Cassie para ficar com o mel, mas rapidamente se tornaram amigas e parceiras de crime.
Despertando de suas recordações, ela organizou os pensamentos antes de explicar os eventos no trabalho. Depois que começou a falar, não conseguiu mais parar. Contou-lhe sobre o corredor secreto, os shifters sendo mantidos prisioneiros e sobre como o guarda e outro cientista haviam morrido nas mãos do homem que então ameaçou matá-la. O estranho era que ela não havia acreditado nele. Os olhos cinzentos dele guardavam calor e bondade, embora ele mostrasse presas afiadas.
— Caramba! O que vai fazer? Seu chefe respondeu sua mensagem? — perguntou Cassie, enquanto a garçonete, Penny, se aproximava da mesa e pousava uma garrafa de tequila Camarena, dois copos e uma tigela pequena de fatias de limão sobre a mesa.
Era uma tequila decente. Provavelmente, para se cobrar o dobro do que ela pagaria na loja de bebidas, um pouco acima dos recursos de Liv, mas pelo menos ela não ficaria enjoada ou teria uma ressaca terrível no dia seguinte.
— Posso ajudar em mais alguma coisa? — perguntou Penny, desatenta, piscando para um dos caras na mesa perto da delas.
— Não. Estamos bem, obrigada — respondeu Liv, e Penny rapidamente correu para o cara musculoso com um sorriso lindo. Voltando a atenção para Cassie, Liv respondeu: — Não faço ideia. O que você acha? Envolver a polícia? Ligar para o meu chefe e me despedir? Realmente preciso desse emprego. Talvez os homens não estivessem mortos, mas apenas desmaiaram — sugeriu Liv.
A verdade era que ela não sabia ao certo. Aconteceu tão rápido. Talvez estivesse errada sobre eles estarem mortos.
— Eu não ligaria para a polícia, especialmente se você estiver errada. Isso a faria ser demitida, com certeza. Eis o que sugiro. Vá trabalhar segunda-feira e aja como se tudo estivesse normal. Você saberá em breve o que aconteceu. Com sorte, você está enganada sobre o LPP. Jim me pareceu bem agradável quando o conheci no piquenique do ano passado. Talvez você tenha deixado sua imaginação prevalecer — explicou Cassie, enquanto servia uma dose para cada uma e entregava o copo com logotipo em relevo para Liv.
Liv bebeu tudo e pegou um limão, enquanto seu rosto se contraía com o gosto forte. Ela mordeu e sugou. Melhor combinação de sempre. A acidez do limão acalmou seu paladar, e de um zunido reconfortante veio logo a seguir.
— Você está certa. Fingir até conseguir, certo? — brincou Liv, servindo outra dose a cada uma delas.
— Vou beber em homenagem a isso! falou Cassie, com voz estridente, brindando os pequenos drinques.
Liv sentiu uma vibração no bolso e percebeu que ainda estava vestindo seu jaleco. Ok, aquilo era embaraçoso como os diabos. Não era de se admirar que nenhum homem tivesse se aproximado de sua mesa. Eram elas as lésbicas tolas se pegando na mesa do canto, pensou ela enquanto pegava o celular.
— Oh, droga, isso não pode ser bom — deixou escapar Liv, enquanto olhava para a mensagem na tela.
— O quê? Quem é? — perguntou Cassie, curiosa.
— É o Jim. Ele diz que a primeira coisa que precisa fazer amanhã de manhã é me ver — suspirou Liv, olhando para o telefone.
Ela tinha a sensação de que aquela porcaria estava prestes a atingir o ventilador e que ela se encontrava em pé, na frente dele, coberta de estrume.
Capítulo Três
— Entre — vociferou Jim, por detrás da porta fechada do escritório.
Liv se encolheu com a voz rude e tentou decifrar o humor dele. Não queria ser questionada sobre o que viu com os shifters. Havia ficado obsessiva com o encontro da tarde anterior e a tequila não ajudou em nada além de lhe dar dor de cabeça. E ela que pensava que era de uma marca decente. Então, mais uma vez, elas beberam a garrafa inteira.
Desistindo de seu exame, Liv abriu a porta e foi recebida por uma expressão solene. Aparentemente, ele estava irritado. Não era o dia certo para chegar ao trabalho sem ter dormido e de ressaca.
Entre o incidente no laboratório, a bebida e a mensagem de texto de seu chefe, ela não havia fechado os olhos. Tomou três xícaras de café antes de sair de seu apartamento, esperando que isso a ajudasse a se concentrar. Infelizmente, ao ouvir a agitação de Jim, havia uma alta probabilidade de vomitar o café.
A grande questão era se Jim estava ciente do possível duplo homicídio e, mais importante, se ele sabia que ela os havia testemunhado. Ela fechava e abria os punhos ao lado do corpo, enquanto seu coração dava a impressão de ser um boneco de molas em uma caixinha de surpresas, pronto para saltar do peito a qualquer momento. O suor escorria por sua espinha enquanto ela caminhava em direção à mesa dele.
— Bom dia, Jim. Espero não tê-lo deixado esperando — gaguejou, odiando o tremor em sua voz.
Se o cara não soubesse os detalhes da noite anterior, em breve saberia. A culpa devia estar estampada em todo o seu rosto. Ela sabia que sua expressão gritava: estou escondendo algo, em grandes letras de néon. Ser evasiva e usar de subterfúgios não eram seus pontos fortes.
Mesmo quando criança, Liv não conseguia escapar através da mentira. Uma declaração acusatória e ela cederia, contando tudo e confessando seus pecados. É claro que, quando criança, seus pecados consistiam em não escovar os dentes antes de dormir, roubar um biscoito ou não terminar o dever de casa.
Agora, ela havia avançado para crimes muito maiores, envolvendo brutalidade e assassinato. Não havia participado, mas ficou inerte enquanto um shifter estava sendo brutalizado e depois viu o homem retaliar, tirando vidas.
Oh, inferno. Liv não considerou o que isso poderia significar para ela. Poderia ir para a cadeia? Ela se amaldiçoou por não ter chamado a polícia. O que a polícia faria com ela por permanecer calada? Isso fazia dela uma cúmplice? Oh, Deus, ela seria presa.
Sua mente girava com as possibilidades. Havia se prendido à ideia, na noite anterior, de que Jim iria lhe poupar, e agora ele a demitiria e, depois, a entregaria à polícia.
Sua respiração ficou irregular e a cabeça girou. Droga, ela precisava se sentar antes de desmaiar. A bebida cafeinada chacoalhava e agitava seu estômago. Ugh. Graças a Deus, ela não havia conseguido comer nada de substancial naquela manhã ou estaria jogando-a na cesta de lixo de Jim antes que ele pronunciasse a primeira palavra.
— Bom dia. Estou aqui há um tempo, mas não por sua causa. Obrigado por vir em um domingo. Por favor, sente-se — ofereceu, com um gesto rápido para a cadeira em frente à sua mesa.
Liv caminhou até a poltrona de couro preto e sentou-se.
— Cuidei do problema do ar condicionado que você me relatou em uma mensagem ontem. Espero que não tenha sido muito difícil trabalhar. Conseguiu fazer alguma coisa? — continuou Jim, erguendo uma sobrancelha curiosa.
O homem forte estava sentado atrás de sua grande mesa, com os braços cruzados sobre o peito. Ele era grande e corpulento, para não dizer intimidador.
Era sério que ele a chamara para perguntar sobre trabalhar no calor? Ele sabia que não devia questioná-la. Ela havia sido a funcionária do mês mais vezes do que se lembrava. Fugir dos deveres não fazia parte da composição genética de Liv.
Ele estava testando-a para ver o que ela sabia? Os olhos azuis escuros dele não davam pistas sobre seus pensamentos interiores. O homem conseguia fazer uma tremenda cara de paisagem, e ela pensou em lhe sugerir que ele jogasse cartas em vez de golfe.
— Hum, na verdade o calor estava insuportável e terminei mais cedo. Sem dúvida, ele está funcionando agora — expressou ela, esfregando os braços, com frio.
Estava gelado no escritório de Jim e um calafrio percorreu a espinha dela. Era verdade que seus tremores tinham mais a ver com o medo que sentia de que ele a despedisse e a entregasse à polícia.
— Olivia, gosto de você, realmente, e é por isso que você precisa parar enquanto está vencendo — aconselhou ele, estreitando os olhos enquanto se inclinava para a frente e apoiava os cotovelos na mesa.
— Não sei se estou entendendo bem o seu raciocínio, senhor — respondeu ela com cautela, descruzando as pernas e remexendo-se na cadeira.
Torcendo as mãos no colo, Liv sentiu um rubor nas faces. Nossa, ela era patética. O desejo de confessar agitava seu estômago. Se não vomitasse a verdade, tinha certeza de que desmaiaria.
— Vamos ser francos, não é? — perguntou ele. — Cheguei ontem à noite para acabar encontrando dois homens mortos em um dos laboratórios. Você pode imaginar meu choque e preocupação. Não é o tipo de coisa que precisamos vazar para a mídia. Esta é uma empresa respeitável e eu gostaria que continuasse assim. Agora, por que estou compartilhando isso com você? Bem, digamos que revi as fitas de segurança da noite passada. Quer conversar sobre o que viu? — perguntou Jim.
O tom dele perdeu a aspereza e seus olhos se arregalaram de preocupação. Liv se perguntou se a preocupação que ela via no rosto dele era sincera. Ele não parecia aborrecido ou preocupado por dois homens estarem mortos. Ela não viu remorso, o que era alarmante.
— Sr. Jensen, juro que não estava bisbilhotando. Estava a caminho da sala de descanso quando notei uma porta aberta. Esperava que outra pessoa estivesse trabalhando e pudesse me ajudar com o problema do ar — despejou ela, quando finalmente as comportas se abriram e as palavras saíram de sua boca.
— Está bem. Não estou acusando-a. Você deve ter perguntas sobre o homem acorrentado. Por favor, sinta-se à vontade para dizer o que estiver pensando — persuadiu ele, com um sorriso de escárnio, antes de rapidamente mascarar sua expressão.
Os cabelos na nuca de Liv se arrepiaram. Ela precisava proceder com cautela até descobrir a verdadeira intenção dele. O seu instinto lhe dizia que sua vida estava em risco. O perigo vinha dele, não da polícia. Ele sabia dos abusos ocorridos em seu laboratório e os tolerava. O que isso dizia sobre o chefe dela? Nada de bom.
— Bem, não vou mentir. Ver aquele homem acorrentado e espancado foi chocante, horrível — murmurou ela, sabendo que ele vira sua reação inicial na fita. — Por que estamos mantendo-o contra sua vontade? O que ele fez para merecer esse tratamento? — perguntou ela, esperando não ter cruzado nenhuma linha com seu desafio.
— Você está ciente de que ele é um shifter? — perguntou ele, incrédulo, como se isso explicasse tudo.
— Sim, mas isso não me responde por que estamos mantendo-o prisioneiro — admitiu ela, enquanto se levantava da cadeira.
Seu sangue acelerou nas veias e sua raiva esquentou, sabendo que aquele homem poderia considerar as ações do guarda como justificadas. O shifter estava agindo puramente em legítima defesa. Sim, ele parecia mais um animal raivoso, mas quem não seria assassino sob aquelas condições? De repente, seu senso de autopreservação voou pela janela.
— Olivia — interveio ele, levantando-se da cadeira, contornando a mesa e agarrando as mãos dela. Elas estavam frias e úmidas e, sem pensar, ela as puxou das mãos dele.
Estreitando os olhos, ele continuou:
— Sei que você está ciente sobre a nossa pesquisa contínua sobre câncer, para encontrar uma cura para a doença mortal. Esse é um dos pilares desta empresa. Dito isto, devemos realizar experiências e pesquisas difíceis para obter as respostas que buscamos.
Conhecer os pilares deles? Claro que sim. Era um dos queridinhos dela. Ela tinha milhares de horas investidas no arquivo número 4467557. Sem mencionar que ela havia perdido a avó por causa de um câncer de ovário quando tinha apenas dez anos de idade. Observá-la definhar e morrer, uma sombra da mulher que havia conhecido deixara uma marca indelével.
Liv esfregou o anel com pedra de ametista na mão esquerda enquanto pensava na avó. Era a única joia que sua avó usava, e ela a entregara à mãe de Liv para que a guardasse até Liv completar dezoito anos. Foi o amor e a devoção de Liv por sua avó que a deixaram tão determinada a encontrar uma cura para a doença.
— Claro que estou ciente. O que isso tem a ver com o shifter? — perguntou ela, sem saber o que Jim estava querendo com aquilo.
— Temos motivos para acreditar que o sangue de um shifter é a chave. Todo mundo sabe que eles têm uma capacidade superior de cura. Estamos no caminho certo… sei disso. Olivia, podemos estar à beira de uma descoberta. Imagine o reconhecimento que minha empresa, nossa empresa, receberia se fôssemos os primeiros a encontrar a cura — vangloriou-se ele, entusiasmado, sorrindo de orelha a orelha.
Mais uma vez, o cabelo da nuca de Olivia se arrepiou. Algo não estava encaixando. Ela desejava a cura tanto quanto qualquer pessoa, mas não às custas dos outros. Lembrou-se do shifter gritando com ela, recusando-se a lhe dar sangue ou a qualquer outra pessoa.
Como o LPP encontrou aquelas cobaias? Era contra a lei fazer experimentos em humanos, até mesmo em shifters. Ela não conseguia imaginar aqueles homens respondendo a um anúncio para ganhar dinheiro extra doando seu sangue. Além disso, nenhum dos homens que ela viu estava ali voluntariamente. A única maneira de obter respostas era voltar para a sala onde estava o shifter e conversar com ele. E Jim era seu bilhete de entrada.
— Que notícia maravilhosa, Jim. Nada me agradaria mais do que encontrar uma cura. Muitas vidas foram perdidas. O que exatamente você está me dizendo? Como conseguiu permissão para que esses shifters participassem e por que a situação é tão instável? Ele está se recusando a cooperar? É por isso que está acorrentado? — perguntou ela, tentando uma aliança com Jim.
— Sim e não — afirmou ele, exalando e ignorando completamente a pergunta sobre a legalidade do estudo. — O homem que você viu afirma que seu sangue não pode ajudar. Ele se recusa a mudar de forma por nós, o que acho que precisa acontecer. Minha teoria é que o sangue em sua forma animal difere daquele de seu estado como humano, e esse é o sangue que procuro. Além disso, você viu como ele se torna violento. Está acorrentado para que mais funcionários meus não sejam mortos. Recuso-me a arriscar suas vidas — explicou Jim, enquanto começava a andar pelo escritório espaçoso.
— Posso entender por que você está dizendo isso. Não estava preparada para a raiva e violência que ele mostrou. Sabia que não deveria ter saído correndo da sala, mas estava apavorada. Ele ameaçou me matar também — disse Liv ao seu chefe, e outro tremor percorreu sua espinha ao se lembrar dos olhos cinzentos do shifter, cheios de fúria.
Novamente, ela questionou a ameaça dele. Ela estava perto o suficiente para que ele pudesse agarrá-la se quisesse, mas ele não o fez.
— Sim, ouvi tudo quando vi a fita. Então, você pode entender por que aquela seção do edifício está bloqueada. Temos mais de cinquenta funcionários e não posso me arriscar a repetir os acontecimentos da noite passada. Não quero você perto daquele corredor de novo. Estamos entendidos? — perguntou Jim, mas não era um pedido. Era uma ordem.
Parte de Liv queria evitar aquele corredor terrível. Não estava mentindo quando disse que era assustador. Nada em sua vida foi tão horrível quanto testemunhar dois assassinatos. Saber que aconteceu através das mãos desarmadas do shifter a assustava terrivelmente. Ele poderia quebrar seu pescoço apenas com uma de suas mãos.
Ela colocou a palma da mão sobre o estômago revolto enquanto sua mente continuava com a rotina de Sherlock Holmes. Precisava se aprofundar no assunto. Sem dúvida, Jim queria que aquilo fosse mantido em segredo. Duas vidas foram perdidas. Como ele poderia esconder isso? E quanto às famílias? Ela não lembrava se David tinha família, mas certamente alguém sentiria sua falta. E, por que diabos Jim não envolveu a polícia?
Liv tinha inúmeras razões para evitar o shifter. E, ainda assim, nenhum deles iria mantê-la longe. Seus olhos cinza-metálico ficaram marcados em sua mente e ela não conseguia se livrar deles. Apesar das ações dele, ele estava sendo torturado. Se ficasse parada e não fizesse nada, era a mesma coisa que colocar uma arma na cabeça dele e puxar o gatilho.
Por que ela não podia ser um capacho e balançar a cabeça como uma boa menina e continuar com sua vida? Seria a escolha mais segura, mas ela não conseguia. Não à custa da vida de outra pessoa. Precisava ter acesso ao shifter e descobrir exatamente o que estava acontecendo nos bastidores da empresa para a qual trabalhava, mas precisava abordar o assunto com cautela. E pelo ângulo certo.
— Jim, posso ser de ajuda — sugeriu, colando um sorriso sedutor no rosto e batendo os cílios enquanto se aproximava e colocava a palma da mão no peito dele. Ela poderia ser péssima em mentir e ser uma grande cara de pau, mas sabia como apelar para o sexo oposto.
Como esperado, o comportamento dele abrandou, e seus olhos percorreram todo o corpo dela. Com frequência, ela o pegava olhando para o seu traseiro, mas nunca deu ao homem casado a menor atenção. Agora, enquanto flertava com ele, ele estava praticamente se babando.
— O que tem em mente? — murmurou ele, com a voz tomada pela luxúria.
Manipular Jim era muito fácil. Pelo amor de Deus, ele não tinha qualquer integridade. Era um idiota por ser tão facilmente vítima dos avanços de uma mulher. Eram homens como ele que faziam Liv evitar o altar. Parecia que ninguém mais conseguia ser fiel. Na primeira oportunidade de se perder, a maioria não pensava duas vezes antes de trair.
— Percebi que o shifter parecia ter um fraco por mim, se você pode imaginar isso — incitou ela, enquanto girava um longo cacho vermelho ao redor do dedo.
— Sim, posso imaginar isso. Posso imaginar muito mais — insinuou ele, retirando o cacho de sua mão e envolvendo-o em torno de seu dedo grosso. Ela imaginou o dedo nas calças dele ficando mais grosso a cada minuto.
Dando dois passos para trás, ela colocou espaço suficiente entre eles para que ele soltasse seu cabelo.
— Bem, o que estou pensando é que posso tentar ganhar a confiança dele. Se ele se sentir confortável comigo, talvez considere mudar de forma. Afinal, se o sangue deles é a chave, quero a cooperação dele tanto quanto você quer. Apenas acho que você pega mais moscas com mel — brincou ela, com uma piscadela.
— Aposto que seu mel é o mais doce — professou ele, lambendo os lábios.
Sim, esse cara é um grande ator. Liv não pôde deixar de sentir pena da esposa dele. Ela a havia encontrado uma vez, e a mulher parecia boa pessoa. Por que tantos homens traem? Faltava alguma coisa no casamento deles ou eles estavam simplesmente ansiosos para provar algo diferente? Mais uma vez, razão suficiente para evitar a ida até o altar.
Tentar conseguir que o homem excessivamente excitado se concentrasse era um desafio.
— Posso começar a passar um pouco de tempo com o shifter e ver o que acontece. Talvez precise ficar sozinha com ele — instruiu Liv, esperando obter a aprovação de Jim sem causar alarme.
— Não sei se é bom. Ele é imprevisível. A última coisa que quero é que aquele animal a machuque de alguma forma. Gosto de ter seu belo traseiro por perto — admitiu ele abertamente e estendeu a mão, golpeando seu traseiro. Pervertido.
Não demorou muito para que aquele idiota pensasse que ela havia lhe dado sinal verde. Ela não podia deixar de se perguntar quantas outras mulheres ele havia perseguido no trabalho. Não ouvira nenhum boato por ali, mas isso não significava nada. Casos no escritório aconteciam o tempo todo.
— Vamos apenas experimentar e ver. Se ele mostrar qualquer agressão, vou afastar meu belo traseiro de lá, mais rápido do que ele poderia se transformar — brincou ela, virando-se para que Jim pudesse admirar seu traseiro.
Ela estava vestindo sua calça jeans favorita que cobria seu traseiro da maneira certa e queria que ele visse o que ela tinha a oferecer. Os olhos dele se arregalaram, apreciativos, e Liv não deixou de notar a ereção esticando as calças dele. Antes que ele pudesse agir de acordo com qualquer pensamento malicioso passando por sua mente, ela saiu rebolando do escritório.
— Vejo-o pela manhã, chefe. Aproveite a sua noite — gritou ela, enquanto levantava o braço e dava um até logo sem se virar para olhá-lo. Ela ouviu um gemido quando dobrou a quina do escritório dele e rapidamente se dirigiu para a saída do prédio.
Saindo para a tarde ensolarada, ela pensou que precisava se livrar dos avanços sinistros de Jim. Infelizmente, era provável que haveria mais por vir. Ela teria que dar-lhe corda até saber o que estava acontecendo na área de segurança do LPP.