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O Encontro Entre Dois Mundos
O Encontro Entre Dois Mundos
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O Encontro Entre Dois Mundos

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Neste exato momento, estávamos muito focados e concentrados no desafio.Por isso, não tínhamos tempo nem disposição para pensar em algo além disso. Claro que sentíamos um aperto no peito, saudades de nossos familiares, medo, culpa, ansiedade, mas nada disso podia nos atrapalhar pois andávamos naquela trilha estreita com a mesma força, garra e fé que demonstrei quatro anos atrás ao galgar completamente a montanha. O sentimento de luta era realmente o mesmo apesar de serem situações totalmente diferentes.

O tempo passa um pouco. A expectativa a cada minuto que passa aumenta e resolvemos então decidir tudo logo apressando nossos passos. Quando menos esperamos, já avistamos o local do destino e a visão nos sufoca um pouco. Resolvemos parar a fim de recompor forças: Fazemos um lanche, nos hidratamos, planejamos detalhadamente nossos próximos passos. Com tudo acertado, voltamos a caminhar, driblamos mais alguns obstáculos e uns quinze minutos depois finalmente chegamos ao destino.

Estávamos no centro duma planície extensa e rochosa, local que no passado serviu de encontro entre os remanescentes lendários “cangaceiros de Virgulino” e os justiceiros do sertão. Aproveitamos o momento, respiramos aquele ar sagrado e imaginamos mil estórias a desenrolar na vida de pessoas tão importantes naquela época. Mas o que tudo aquilo tinha a ver com o sexto dom, o de piedade? Era algo que estávamos prestes a descobrir.

Eu e Renato nos damos as mãos, nos concentramos a fim de tentar novamente o desenvolvimento da co-visão.Intuitivamente,seguimos todos os conselhos do mestre e nos inspiramos em aventuras passadas para despertar um pouco mais do nosso poder interior.Com o passar do tempo,relaxamos,esquecemos tudo à nossa volta, fechamos os olhos, gradativamente vamos perdendo a consciência e quando menos esperamos, nossos espíritos se desprendem de nossos respectivos corpos.

Fora do corpo, ficamos frente a frente, nos aproximamos mais. Porém, antes do nosso encontro somos separados por forças incompreensíveis e superiores.Aí se inicia uma pequena batalha particular e mental. Nossos medos mais internos se manifestam, nos atormentam e nos fazem cair por terra. O que faríamos agora? Eu me vejo, como no passado, com medo do escuro, medo dos familiares mais velhos, medo de fantasmas, medo da sociedade e das pessoas por algo que não tinha culpa. Nesta oportunidade, reflito sobre tudo, analiso a situação e tomo uma decisão nunca antes pensada (Resolvo gritar para o mundo inteiro):

—Eu não tenho medo!Meu nome é Aldivan Teixeira Torres,sou um jovem família apesar de incompreendido por ela,sou um cara bacana,sem frescuras,consciente do que sou e que quero,que aprendeu a conviver com um dom e usá-lo para o bem,que resolveu usar a literatura para ensinar um pouco das muitas experiências carnais e espirituais vividas apesar de ter apenas trinta anos.Eu sou uma pessoa do bem!.

Depois do grito,a pressão acalma e me liberto pouco a pouco dela.Quando me sinto completamente bem,me levanto e observo Renato.O mesmo ainda encontra dificuldades para superar os seus traumas familiares,especificamente o caso do pai que o batia freqüentemente.Com intuito de ajudá-lo,dou outro grito:

—Renato,eu ,Angel e a guardiã,estamos com você.Ninguém mais irá machucá-lo.Liberte-se!

Depois do que disse, ele me parece melhor e logo está de pé. Vencemos a primeira etapa.

No entanto, ainda tínhamos que superar outras. A fim disso, tentamos nos aproximar novamente, ficamos a uma distância considerável, mas por mais que nos esforçássemos não logramos êxito. É aí que surge ,vindo do céu, uma pequena tocha de luz, que ilumina completamente o ambiente em que estávamos. Ao se aproximar, nosso sentidos são despertados, eu me aventuro um pouco e toco no campo de força. Neste instante, usando meus poderes de vidente, tenho a visão respectiva referente ao sexto dom, o dom de piedade:

“Radamés era um jovem com vinte anos integrante duma família de classe média que residia na capital do agreste pernambucano,Caruaru.Por ser de classe média,tinha quase tudo que queria proporcionado por seus pais e como qualquer outro jovem de sua idade,adorava namorar,sair com amigos em baladas,fazer farra,e outras formas de lazer.Até aí tudo bem.Porém,até o momento,desconhecia os dissabores da vida.Mas como tudo tem seu momento,um certo dia,entrou em crise existencial ocasionado pela fase dolorosa de um de seus colegas de farra e de faculdade.Ele estava com câncer.Como eram muitos amigos,ele sentiu como se fosse com ele mesmo.Contudo,ele reagiu de forma inesperada:Trancou-se em seu quarto,negava-se a se alimentar e a fazer qualquer tipo de atividade.Os seus pais,inconformados,chamaram todos as pessoas que julgaram poder ajudá-lo:psiquiatras,psicanalistas,psicólogos,vizinhos,outros colegas,e até eles mesmos.No entanto,nada parecia surtir resultado.Sabendo do caso,o seu colega,aquele que estava com câncer,chamado Vagner,O visitou,entrou no seu quarto,conversou com o mesmo sobre sua atitude.Disse que não havia motivo para tristeza,que o seu destino estava marcado,que a morte não era nada (Apenas o separaria por um tempo fisicamente) e que estaria sempre com ele,pois o sentimento mútuo de amizade era muito grande.Disse também que cada festa que fosse,que cada música que tocasse,pensasse nele e estariam juntos novamente.Completou falando que o momento não era de piedade,que deviam aproveitar o tempo restante vivendo a vida como deve ser vivida pois ela é bela,instigante,boa sempre.Depois disso,os dois se abraçaram,Radamés saiu do quarto,voltou a sua rotina,voltou a acompanhar seu amigo nos seus últimos seis meses de vida.Depois disso,o sentia em cada momento bom que vivia e nos momentos difíceis pedia sua ajuda,e sentia toda sua proteção e intercessão junto ao pai.È isto.“As pessoas que passam momentos conturbados e difíceis preferem o apoio,o consolo,o carinho,a amizade.A piedade manifesta-se dessa forma e não nos colocando frente ao destino ou a vida”.

Terminada a visão, a tocha se aproxima, toca em minha mão, eu a movimento e chamo Renato. Desta vez, ele consegue, se estica um pouco e também alcança a luz. Ela fica entre nós dois, aproveitamos a situação, nos concentramos novamente e seguimos nossa intuição e experiência. Pensamos na nossa família, no projeto “vidente”, na literatura, no dom, no destino, no universo, e na força poderosa que nos guia que costumamos chamar de Deus. Relaxamos e fechamos os olhos. Neste exato momento, algo explode, os poderes do espaço são abalados, a terra gira e treme, nossos espíritos desprendem-se de nossos corpos materiais e o fenômeno da co-visão finalmente se inicia.

Sítio Fundão, Cimbres-Pernambuco,03 de novembro de 1900

Ultrapassamos os limites do tempo. O destino nos faz chegar ao início do século XX, no mesmo local. Depois de nos materializarmos completamente e nos recuperar da transição, observamos tudo ao derredor e constatamos algumas mudanças. Entre elas, o ar estava mais puro, a vegetação mais densa, o barulho era menor e uma maior quantidade de animais. Tudo era igual e ao mesmo tempo diferente. O que tinha nos levado ali? Não sabíamos, mas em comum acordo decidimos caminhar um pouco e procurar alguma alma viva que nos pudesse orientar.

Então começamos uma nova jornada só que agora mais difícil e excitante. Sem nenhuma trilha a vista, nos embrenhamos na mata fechada suportando pedras,espinhos,e com possibilidades de encontrar bichos venenosos ou até mesmo feras selvagens. Porém, não desistiríamos tão facilmente. Até porque já dominávamos os seis primeiros dons do espírito santo e agora só faltava o detalhe da primeira revelação. Intuitivamente nos deslocamos na direção oeste.

Passamos pelos mesmos lugares de antes só que não o reconhecemos. Estávamos como cegos em meio a um tiroteio, guiados apenas pelo instinto. Neste momento, avançamos lentamente e o tempo demora também a passar. Mas mantemos o essencial, como ensinado por Angel: a persistência, a garra, a coragem, a paciência, a sabedoria e a fé que sempre nos acompanhava nas aventuras. Embora não fosse suficiente, com um pouco de sorte chegaríamos ao ponto certo.

O tempo passa um pouco. Inconscientemente, percebemos que ultrapassamos uma das quatro partes em que o percurso estava dividido. Mas só ficaríamos felizes e tranquilos quando chegássemos ao final e tivéssemos a resposta positiva que esperávamos e afim disso permanecemos na labuta. Alguns passos adiante, encontramos um réptil, nos assustamos, e nos desviamos um pouco. O que faltava acontecer? Não podíamos morrer ou até mesmo decepcionar nossa família, amigos, conhecidos, mestres espirituais e da vida e os leitores. Precisávamos continuar, mesmo que não tivéssemos pista do que nos esperava ou mesmo dos dois tipos de destino que nos acompanhava. A sorte estava lançada.

Depois de estarmos a uma distância segura do animal asqueroso que encontramos no caminho, retornamos a caminhar na direção inicial. Desta feita, aumentamos a nossa precaução. Isto era extremamente necessário a fim de evitar um acidente que impossibilitasse definitivamente o nosso objetivo maior que era fazer o elo entre “dois mundos”. Estas foram as palavras do mestre mas no momento eram totalmente obscuras e distantes de nós. Contudo, estávamos abertos, desde o primeiro momento, a encontrar o fio da meada desse começo intrigante de história.

Estimulados pela nossa força de vontade e pela decisão anterior, continuamos avançando superando os obstáculos naturais da mata. A cada passo dado, nos sentíamos mais seguros e realizados apesar de ainda não termos alcançado o primeiro objetivo. Bem,é uma questão de tempo,penso.Com esta certeza, aumentamos o ritmo na direção desejada e logo percebemos que já passamos da metade do trajeto percorrido em relação ao centro do oeste. Mais um feito. Porém, ainda havia muito a conseguir e não ficaríamos satisfeitos nunca.

Um pouco mais adiante, pela primeira vez, nos sentimos cansados. Resolvemos então parar um pouco. Sentamos no chão, comemos um lanche, bebemos um pouco de líquido e aproveitando o tempo livre refletimos sobre nossa situação atual e planejamos os nossos próximos passos. Depois de muito debater, decidimos permanecer na mesma orientação e esperar um sinal que pudesse nos guiar. Não tínhamos outra escolha a não ser essa. Já que estávamos nos sentindo exaustos, deitamos um pouco, fechamos os olhos, nos concentramos e fugimos um pouco do mormaço. Quando relaxamos o suficiente, um cochilo sobreveio.

Ao acordar, nos sentimos bem melhor, com energias recobradas. Levantamo-nos do chão duro, erguemos a cabeça, e voltamos a caminhar. O que aconteceria? Continuemos juntos, leitor, prestando atenção em detalhes na narrativa. Pouco a pouco, avançamos na caatinga agreste, fazendo malabarismos a fim de desviar dos obstáculos. Auxiliados por nossa experiência em aventuras anteriores, o que nos resta são apenas alguns arranhões provocados por alguns deslizes nossos. Mas, no geral, estávamos nos sentindo bem, prontos para enfrentar o que quer que fosse. Com esta disposição, um pouco além, já nos aproximávamos do objetivo.

Cada vez mais perto, a sensação provocada em nós era de ansiedade e de alívio. Ansiedade por não saber exatamente o que nos esperava e alívio por estarmos perto de descobrir. Mesmo que fracassássemos agora, nos sentíamos orgulhosos de nós mesmos por ter cumprido seis etapas e desenvolvido seis dons do espírito santo. Éramos mesmo vencedores, desde o início do projeto “o vidente” até o presente momento.

Com esta certeza, superamos tudo e vamos avançando. Logo à frente, a mata se abre, entramos num caminho e com mais alguns passos visualizamos o destino: Estávamos em frente a uma casinha de taipa, no centro do oeste do sítio. Neste exato momento, lembramos dos desafios e constatamos que se tratava da casa que pertencera a meu avô Vítor. Cheios de curiosidade e esperança, avançamos mais e batemos a porta da referida residência. Esperamos um pouco e surge de dentro, uma mulher, morena escura e robusta, com corpo bem definido e mal trajada vem nos atender.

—Pois não, jovens, em que posso ajudá-los? (Pergunta)

—Meu nome é Aldivan e este que me acompanha se chama Renato, poderia nos oferecer um gole de água? (O vidente)

—Sim,claro. Eu me chamo Filomena, ao seu dispor. Não temos muito, mas pelo menos água tem. Podem entrar— Respondeu ela.

Aceitamos o convite, acompanhamos a mulher, entramos na casa, chegamos a sala e a anfitriã nos oferece assentos. Sentamos, descansamos um pouco e a mesma vai a cozinha pegar a água. Passado uns cinco minutos, ela retorna, risonha carregada com dois copos de água. Nós tomamos rapidamente e Filomena puxa assunto mais uma vez.

—Os senhores são estrangeiros? Nunca os vi por aqui.

—Pode ser dizer que sim. Algo nos conduziu até aqui. (O vidente)

—Em resumo, somos turistas em busca de um pouco de paz e conhecimento. (Renato)

—Ah, entendi. São da capital? (Indaga ela)

—Não. Somos duma cidade próxima. (O vidente)

—Vive sozinha aqui? (Renato)

—Sou casada. Tenho também um filho recém-nascido. Apesar das dificuldades, somos felizes. (Filomena)

—Onde está seu marido? (O vidente)

—Está no trabalho, preparando um terreno para fazer a roça do ano que vem. Esperamos ter um bom lucro e assim não ter que passar fome em algum momento do ano. (Filomena)

—Entendi. Deve ser uma barra depender só da agricultura para sobreviver e ainda mais tendo filhos. (O vidente)

—Na minha família era assim. Trabalhávamos feito condenados com o intuito de sobreviver. Quando não havia lucro, o problema era grande. (Renato)

—É como diz o jovem. Mas não temos escolha. Na vida, só sabemos lidar com enxadas e foices. Somos burros quadrados. (Filomena)

—Que é isso, não fale assim. Todo trabalho é digno e todos somos iguais diante de Deus. O importante são os bons sentimentos que carregamos no peito. (O vidente)

—Nos conhecemos a pouco, mas já percebemos a sua grandeza. Isto é muito importante. Obrigado pela água. (Renato)

—De nada. (Filomena)

Um barulho atrapalha a conversa: Um choro de um bebê. Filomena fica triste e agitada e desabafa conosco:

—O bebê está com fome e não tenho nada a oferecer, a não ser chá. Vou ver se o engano.

Dito isto, a mesma foi a cozinha esquentar no fogão de lenha o chá já preparado. A acompanhamos e a ajudamos. Quando fica pronto, vamos ao quarto. Filomena pega o bebê, coloca no colo e dá o chá através da mamadeira. Apesar de beber o líquido, o mesmo não para de chorar. A mãe se desespera e o coloca de volta no berço improvisado. Aproximo-me do bebê, perguntamos seu nome e fico sabendo que se chama Vítor. Um choque. Estava diante do meu antepassado, um ser cheio de dons. O menino, de cabelos pretos, olhos castanhos claros e um pouco escuro, se remexia de um lado para outro. O toco mas nada de especial acontece. Apenas sinto um calafrio ocasionado pela barreira do tempo. Porém, sem que eu perceba, Renato se aproxima, pega a minha mão e juntos tocamos novamente no menino. Imediatamente, entramos em transe, ultrapassamos novamente o limite do tempo, visualizamos passado, presente e futuro simultaneamente. A história então se revela por completo.

1-Infância

1.1-Sitio Fundão,01 de agosto de 1900-Nascimento

Era uma tarde ensolarada de quarta-feira. O casal Filomena e Jilmar estavam a descansar frente a sua pequena e simples e casa. Já tinham completado um ano de casamento e de mudança da sede do município Cimbres (Atual Pesqueira),e estavam muito felizes apesar das grandes dificuldades financeiras que se encontravam. Jilmar, ainda no tempo de namoro, trabalhara como condenado como ajudante de carga a fim de juntar dinheiro e comprar um pequeno pedaço de terra e fora ajudado pela então noiva Filomena que fazia rendas. Quando juntaram dinheiro suficiente, casaram, mudaram-se para o sítio, e começaram uma vida a dois. Com pouco tempo, Filomena se achara grávida.


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