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O Encontro Entre Dois Mundos
O Encontro Entre Dois Mundos
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O Encontro Entre Dois Mundos

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—Entendi. Ficou bastante claro para mim. Quando partiremos? (Eu)

—Depois de terminarmos o café. Mas não nos preocupemos com trabalho agora. Vamos nos deliciar, pois está muito bom o rango que prepararam. Quem cozinhou? Está de parabéns. (O anfitrião)

—Fui eu. O vidente só sabe fazer ovo frito. Quanto a nossa conversa, vai ser muito séria? Pensei que a guardiã já tinha me preparado. (Renato)

—Calma. Você é muito sábio, mas precisa de orientação. Confie em mim e vai dar tudo certo. (Asseverou Angel)

—Este menino e suas gracinhas.Eu sei cozinhar sim. Eu te orientei o tempo todo. Olhando a receita, sei fazer sim. (Protestei, o vidente)

Todos riem com minha declaração e a conversa continua a girar sobre vários assuntos. Quando terminamos de comer, lavamos os pratos, limpamos a sujeira da cozinha, vamos nos vestir e arrumar algumas coisas para levar no caminho. Com tudo pronto, saímos de casa e já fora procuramos a trilha mais segura e próxima em direção ao grande centro da floresta do sítio. Que novas experiências e aventuras nos esperavam? Continuem acompanhando, leitores.

Rapidamente, conseguimos achar uma trilha.Com passos firmes e seguros, começamos a caminhar nela. O momento atual é de ansiedade e expectativa apesar de tantas emoções já vividas nesta e em aventuras anteriores. O que seria do nosso projeto, da nossa dupla que até agora se mostrava incrível? Poderíamos fracassar? Esta era uma possibilidade apesar de não trabalharmos com ela pois nosso pensamento era sempre de otimismo, de autoconfiança mas também de precaução. Estávamos dispostos a enfrentar qualquer obstáculo.

Com isto em mente, continuamos seguindo em frente por cerca de trinta minutos resolvendo parar um pouco. A pausa nos dá a oportunidade de nos hidratar e de comer um lanche. Angel senta no chão, pede que façamos o mesmo e começa a nos ensinar.

—Estão sentindo? A natureza grita constantemente pedindo ajuda, dando orientações,ensinando,aprendendo mas muitas vezes estamos tão imersos em nossas preocupações que nos negamos a escutá-la. Eu perdi muitas oportunidades da minha vida por causa disso. Até que certo dia, com a experiência, entendi o processo e ajudei alguém a se encontrar um pouco mais.

—Eu tive uma experiência parecida na Montanha do Ororubá.Foi através da meditação que descobri um pouco do meu potencial, mas sinto que ainda não me desenvolvi completamente. (Confessei)

—Eu nasci e me criei na mata. Conheço tudo na montanha do Ororubá.Mas como minha parte espiritual não é aguçada, não percebo nada além dos barulhos dos seres. (Renato)

—É compreensível. Vocês são ainda muito jovens. A fim de crescerem, peço a partir de agora um verdadeiro trabalho de equipe. Chega de individualismo e vaidades. O sucesso se vier será responsabilidade dos dois. (Orienta Angel)

—Tudo bem, mestre. (Respondemos em coro)

—Primeiramente, respeitem seus limites. Se tiverem em dúvida, não arrisquem. Lembrem-se que não super-heróis, que o caminho ainda não está traçado, e que é melhor um pássaro na mão do que dois voando. Agindo assim, estarão livres da influência das mentes negativas e das surpresas da vida. Tudo tem seu momento certo. (Angel)

—Como saberemos reconhecer este momento certo? (Eu quis saber)

—Eu participarei? (Renato)

—Não se preocupem com isso agora. A vida mostra. Foi assim comigo quando me assumi. O importante é não desperdiçar as oportunidades. Olha Renato, só sua presença soma. É claro que ocorrerá sua participação. Não será diferente das outras vezes. (Assegurou Angel)

—Tudo bem. De nossa parte, não faltará empenho, entrega, dedicação, fé no universo e no destino. Não é mesmo, Renato? (Eu)

—Sim, companheiro. Sempre juntos— Respondeu ele.

Depois desta breve observação, nós três nos abraçamos e reafirmamos nosso compromisso de entretenimento, de trabalho e evolução contínua. Quando tudo terminasse, lembraríamos destes momentos únicos e maravilhosos, especialmente importantes para minha carreira na literatura. Continuaríamos com a saga do vidente para o bem do mundo e nosso também.

O tempo passa um pouco. O momento do abraço termina, nos levantamos e decidimos continuar o trajeto que ainda estava no começo e prometia novidades. Seguimos em frente avançando na trilha. Nossos passos nos levam a conhecer novas e lindas paisagens, desfrutar o ar puro do campo completamente, encontrar animais e novas pessoas, viver momentos de ansiedade e expectativa, apesar de tudo estar caminhando bem. Com um pouco mais de tempo, avançamos mais e já atingimos um terço do trajeto percorrido. O feito nos faz feliz e agita mais nossas emoções. O que aconteceria? Dentro de algum tempo saberíamos e provavelmente teríamos que tomar decisões importantes e definitivas. Contudo, tudo valia a pena em prol do sonho maior.

Alguns passos depois, nos sentimos cansados e resolvemos fazer uma pausa rápida. Sentamos no chão duro, nos hidratamos, conversamos um pouco. No momento atual, nosso pensamento está voltado completamente para o objetivo e tentamos tirar algumas informações importantes de nosso mestre. Ele ri, desconversa e manda nós relaxarmos. Isto nos irrita um pouco. Será que ele não sabia o quanto era decisivo aqueles momentos para nós? Caso fracassássemos, jogaríamos todas as ilusões fora e viveríamos uma vida sem graça e cheia de sofrimentos. Seríamos punidos pelo universo que nos proporcionou o dom. Mas ele devia ter suas razões e cabia a nós acolher, respeitar e segui-lo sem mais perguntas.

Certo disso, quando estamos recuperados, nos levantamos e voltamos a caminhar. Seguimos pela mesma trilha, continuamos a enfrentar garranchos, espinhos, bichos venenosos embalados pelos sons da mata. Em dado momento, Angel puxa conversa.

—Que bom tê-los aqui comigo. Dois jovens cheios de sonhos que estão me fazendo reviver uma parte da minha juventude e me dando a oportunidade de repassar alguns conhecimentos que a vida me deu. Muito obrigado. (Angel)

—Nós é que agradecemos. Pela disponibilidade, paciência, pelas orientações. Sabe, tudo está sendo muito proveitoso. (Afirmei)

—Isto. Tudo está valendo a pena e o mais importante de conservarmos é a sua amizade. O admiramos muito. (Renato)

Dito isto, lágrimas rolam pelo rosto de Angel mostrando a sinceridade dos seus sentimentos. Diante de nós estava um homem que junto com meu avô transpassaram barreiras numa época atrasada e repleta de preconceitos. Era um herói de verdade que tivemos a sorte de conhecer. No momento seguinte, ele nos abraça, a emoção continua por mais um tempo e quando ele se recupera, retoma o diálogo.

—Muito bem. Esquecemos um pouco o passado e nos concentremos nos presente. Estão dispostos mesmo a continuar, a arriscar sem temer as consequências?

—Sim. (respondemos em coro)

—Pois bem. Este era o momento para desistir ou continuar. Como vocês escolheram a segunda opção, esta escolha é sem volta. Sigam-me então. Estarei com vocês sempre. (O mestre afirmou)

Obedecemos ao mestre, o seguimos, avançando na trilha agreste. Cada passo dado parecia nos revelar um novo mundo e só faltava chegar ao seu elo, “O encontro”. Mas ainda tínhamos muito tempo para realizar desafios, evoluir e chegar a este ponto. Não tínhamos nenhuma pressa e sim sede de conhecimento. Uma sede que poderia nos levar a perdição, a loucura ou até mesmo uma desgraça caso não tivéssemos o cuidado adequado.

O tempo passa um pouco. Alguns passos adiante, ultrapassamos dois terços do trajeto, nos informa Angel. Ele nos dá algumas orientações básicas e anoto num bloquinho a fim de não esquecer.Nele,anoto também alguns pontos principais de nossa experiência que me ajudariam a escrever o terceiro livro da minha série. Depois de escrever, o guardo com carinho na minha mochila, localizada nas minhas costas. Em seguida, continuamos a caminhar sem trégua. Apesar da idade avançada, Angel aumenta um pouco o ritmo e nós o acompanhamos.

Em dado momento, confiro o horário por curiosidade. Verifico que já estávamos cerca de duas horas a caminhar. Mesmo com o sol escaldante, o suor escorrendo, as dores no joelho e os arranhões resolvemos não parar mais pois o destino nos esperava. Torcíamos que ele nos trouxesse surpresas boas.

Avançamos cada vez mais .Com mais quarenta minutos de caminhada, uma grande planície, cercada por montanhas belíssimas se apresenta aos nossos olhos. Ficamos estáticos por alguns momentos e Angel faz sinal de que chegamos. Aproximamo-nos mais do centro e ao chegar exatamente no meio, sinto uma pressão espiritual muito intensa. Caio de joelhos e peço socorro. Meus companheiros de aventura gentilmente me apoiam a fim de eu não cair de encontro ao chão. O mestre toca em minha cabeça, profere uma oração silenciosa e eu me acalmo. Ele inicia o diálogo.

—Seja mais resistente, filho de Deus. Não se deixar levar pelas forças negativas. O importante agora é manter o foco. Não pense mais em nada.

—Está bem. Mas não seja tão exigente. Lembre-se que estou apenas aprendendo. (Observei)

—Eu também. Estamos no mesmo barco. (Complementou Renato)

—Bem,deixe-me explicar um pouco o que seria a co-visão e como desenvolvê-la. Você,Aldivan,como “Vidente dos livros” recebe a maioria das revelações através de visões, que são imagens rápidas e fortes encaminhadas ao cérebro coordenadas pelo seu dom, sua sensibilidade provocada pelo meio externo. Pois bem, a co-visão seria uma visão mais clara, mais forte, o que o levaria a uma profunda reflexão e desenvolvimentos dos seus poderes. Porém, para chegar a este nível você precisará da ajuda duma segunda pessoa, que esteja na sua mesma sintonia, que te conheça bem e que inspire confiança, alguém como Renato—Disse Angel.

—Como poderia ajudá-lo? (Animou-se Renato)

—Como seria isso? (Eu)

—Calma, para os dois. A co-visão não se desenvolve duma hora para outra. Vão ser necessárias três etapas para que consigam ter a primeira experiência. O que deve ser feito agora e sempre é um treinamento de adaptação. Toda vez, que tocar algo, filho de Deus, terás a companhia prazerosa de Renato. (O mestre)

—Como assim? (Pergunto)

—Eu explico. A cada experiência de visão breve, chamarás Renato para participar e emitir sua energia espiritual, algo parecido com a liberação dos “Chacras”. (Angel)

—Tudo bem. Somos uma equipe mesmo, não é? (Eu)

Eu e Renato nos abraçamos. Agradeço a Deus e a guardiã por tê-lo conhecido na montanha sagrada do Ororubá. Desde então, ele tinha tido uma importância enorme servindo como amigo, confidente e companheiro de aventuras. Batalharíamos juntos nesta nova busca e, com o estímulo adequado, poderíamos sair novamente vencedores. Continuem acompanhando, leitores.

Depois do abraço, nos afastamos um pouco e nos dirigimos ao mestre a fim de obter mais informações.

—Qual o próximo passo? (Perguntamos)

—Colocar em prática o que eu disse. Aproximem-se do centro novamente, fechem os olhos e pensem no futuro. (Angel)

Mesmo com um pouco de medo e dúvida, obedecemos ao mestre nos aproximando do centro do sítio. Com alguns passos, chegamos ao destino e nos colocamos lado a lado. Angel se aproxima, desenha um círculo ao nosso redor e seguimos suas instruções. No momento que iniciamos o ritual, a pressão espiritual vai aumentando pouco a pouco e parece querer nos explodir. Com muito esforço e luta conseguimos ficar ainda conscientes. É aí que limpamos nossa mente e escutamos claramente o mestre: Fechem os olhos, relaxem, liberem o espírito para voar.

Quando executamos os dois primeiros itens,a terra treme, os poderes do espaço são abalados, nosso subconsciente é forçado a adormecer, a escuridão nos envolve e dum instante para outro, caímos de encontro ao chão. Adormecermos e então os nossos espíritos são liberados. Já fora dos corpos, ficamos um em frente ao outro. Porém, durante pouco tempo. Fugindo do nosso controle, somos separados por uma linha divisória tipo campo de força, que se coloca entre nós irremediavelmente. Tentamos superar o obstáculo, mas nossos esforços revelam-se inúteis. Separados, somos atacados por forças ocultas e misteriosas do sítio Fundão.Eu, atormentado por visões sem sentido, e Renato, imóvel, é atacado por línguas de fogo que o fazem se comunicar em línguas até então desconhecidas da face da terra. Estávamos, no momento, num beco sem saída.

Da minha parte, as visões obstruem totalmente meu raciocínio e não deixam de forma alguma eu usar meus poderes de vidente. Vejo nelas raiva,ambição,inveja,crise,despeito e desentendimento. O choque entre as “forças opostas” é contínuo o que provoca também o surgimento da noite escura. Mesmo assim, luto contra estas forças tentando decifrar seus significados.Porém,como estava sozinho, logrei poucos avanços. Já Renato tenta em vão me aconselhar porque não entendo nada do que diz .Com isso, permanecemos durante um bom tempo sem grandes resultados. Mas não podíamos ficar o tempo todo desta forma. Quando estamos perto do limite, uma voz grita:

—Acabou!

Então a confusão se desfaz, o campo de força some e num estalo voltamos ao nosso corpo físico. Ao recobrar os sentidos, abrimos os olhos e encaramos o nosso mestre com o semblante transparecendo estar um pouco decepcionado. Mesmo assim, ele se aproxima e nos dá algumas palavras de apoio:

—Tudo bem. É apenas a primeira tentativa. Poderiam se sair melhor, mas está dentro do esperado. O importante é que tentaram e não desistiram. Aconselho a ter mais sintonia, aproximação, mais calma, usar o conhecimento dos dons já conquistados, reviver na memória experiências espirituais e carnais importantes, se espelhar nos mestres da vida e na vida em si. Acima de tudo, trabalhar em equipe. (O anfitrião)

—Fomos atacados por forças ocultas muito poderosas que não nos deixaram escolha. Confesso que nunca tinha sentido tanta pressão. É normal? (Indaguei)

—Eu também. Em dado momento, fiquei tão confuso que nem mesmo eu me entendia. (Renato)

—Claro, ainda não estão prontos. O que esperavam? Rapadura é doce mas não é mole. Tem muito que aprender ainda até dominar a técnica da co-visão. Mas não temam. Não estou aqui para atrapalhar ou julgar vocês e sim para dar um auxílio, ser como a seta que indica o caminho. (Explanou Angel)

—Então digo que estamos prontos para aprender. Seremos seus mais humildes discípulos mesmo já tendo conquistado a gruta, feito uma viagem no tempo, resolvido conflitos e injustiças, voltado a montanha, dominado os sete pecados capitais, convivido com piratas, com a rainha dos anjos e entrado no Eldorado, a porta que sela os mundos carnal e espiritual. Sempre há algo a conquistar. Evolução é a palavra-chave. O que fazemos agora? (Perguntei)

—E eu sempre o ajudando nos momentos cruciais. Sim, e agora? (Renato)

—Vocês estão de parabéns por tudo que conquistaram. O importante é manter os pés no chão pois isto é apenas “A ponta do iceberg”. Vocês terão ainda muitas aventuras, experiências incríveis, inusitadas, transformadoras. Basta continuar com o foco bem definido. Por enquanto, não tenho nada a pedir. Continuarão o desafio à tarde. Peço que me sigam a fim de curtir um momento de lazer. (Angel)

Angel se afasta um pouco, dobra a direita e segue uma nova trilha. Nós o acompanhamos. Durante quinze minutos, andamos apertados por folhas,árvores,espinhos,formigas,barro,pedras e outros empecilhos. Porém, o desafio, as conquistas, a experiência, a companhia de Angel, a natureza e o ar puro fazia tudo valer a pena. Estávamos apenas no começo.

Os nossos passos vigorosos nos levam a avançar .Diante de nós surge ,numa clareira, um pomar variadíssimo e ,ao fundo, uma lagoa de água cristalina. Dirigimo-nos a primeira árvore,subimos,tentamos agarrar alguns frutos e quase caímos. Fazemos malabarismos e prestando atenção um pouco em Angel, ficamos impressionados com a agilidade do mesmo apesar de sua idade avançada. O momento é bom e nos traz lembranças do tempo de criança, rimos, conversamos, descansamos nos galhos grossos da árvore e curtimos um pouco o sol agreste.

Depois de aproveitar bastante, descemos, comemos os frutos colhidos, conversamos um pouco mais, aproveitamos a sombra. Um momento depois, Angel pede que o acompanhe e obedecemos prontamente. Andamos em frente, chegamos ao fundo e somos convidados a entrar na lagoa. Mesmo ressabiados, entramos, Renato mergulha e eu fico só no raso pois não sabia nadar. Angel também entra, se aproxima de mim e começa a dar algumas aulas de natação. Eu adoro. Ficamos um bom tempo na água.

Quando nos cansamos, saímos da lagoa, sentamos e conversamos um pouco mais de tempo. Em dado momento, Angel nos passa as respectivas orientações a fim de cumprirmos o desafio atual e se despede, voltando para sua casa. Agora, restavam eu, Renato e o desafio. O que aconteceria? Continuem acompanhando, leitores.

Descobrindo o dom da fortaleza

Depois da saída de Angel,procuramos iniciar imediatamente o caminho que nos levaria a enfrentar mais uma etapa relativa ao desenvolvimentos dos dons. Iríamos para o oeste do sítio afim de novas experiências ,conhecimentos e a visão respectiva. Assim fazemos. Começamos a caminhar na trilha respectiva, enfrentando tudo e a todos, e nada parecia nos desanimar. Onde buscávamos tanta garra,inspiração,determinação,coragem e fé? Eu explico. Na nossa própria história de vida.Eu,um pobre jovem sonhador, do interior do nordeste, esquecido pelas elites e pelas autoridades. Buscava um sonho desde 2010,que era realizar-se na literatura. Em busca do objetivo, escalara uma montanha, encontrara a guardiã, a jovem, o menino, realizara desafios e enfrentara a gruta mais perigosa do mundo. Driblando obstáculos, chegara a câmara secreta (parte final da gruta) e por um milagre me transformara num vidente poderoso. Mas isso não era tudo. A gruta era apenas o início duma interessante trajetória. Depois disso, viajei no tempo, resolvi conflitos, reuni as forças opostas e as controlei, no primeiro passo da minha evolução humana e espiritual. Este foi o primeiro passo duma se Deus quiser longa trajetória.Após,voltei a me dedicar á faculdade, ao trabalho e as questões pessoais da minha vida cotidiana. Quando tive um tempo livre, voltei a pensar no meu caminho, na literatura e me perguntei sobre um período difícil que enfrentei em minha vida, um período negro que me desliguei de Deus, do sagrado, enfrentei as pessoas, as magoei, e vivi um sem número de experiências. Chamei este período de “A noite escura da alma” e em busca de respostas procurei novamente a montanha, especificamente a guardiã a fim de que ela me orientasse.Com o auxílio dela, Comecei a investigar os pecados capitais, mas era um tema tão complexo que tive que ser repassado a outra pessoa, um hindu, e aprendi um pouco mais com ele. No entanto, as coisas ainda não tinham ficado bastante claras e então fui orientado a fazer nova viajem, rumo a uma ilha perdida, do outro lado do planeta, onde talvez encontrasse as respostas que tanto procurava. No caminho, embarquei junto com Renato, num navio de piratas, vivemos novas aventuras, até chegar ao destino improvável.Finalmente,tive então a oportunidade de conhecer a parte mais densa da “Noite escura” e ter a visão da história. Tinha cumprido uma nova etapa na minha carreira mas isso ainda não era tudo. Atuando como vidente dos livros, procuraria sempre ouvir a voz do meu subconsciente em busca do meu destino e da felicidade. Ao meu lado, todo este tempo, estava Renato. Ele que fora durante muito tempo, quando criança, forçado a trabalhar exaustivamente, maltratado, sem carinho, conseguiu o apoio da guardiã para se reerguer, e ter ainda esperanças na vida. Atuando como meu auxiliar, ele fora fundamental nas minhas aventuras e a cada dia sua presença me enchia de alegria. Juntos, éramos mais, uma equipe imbatível, conforme Angel nos ensinara e acreditávamos.

Continuamos caminhando sobre pedras, poeira, barro e o sol escaldante. A cada passo, nos sentimos mais ansiosos, expectantes, mas também tranqüilos. Apesar da indefinição, continuamos seguindo em frente, seguindo as orientações do mestre, sem pestanejar. Era o que nos restava no momento.

Passa-se um pouco mais de tempo. Já estamos na parte da tarde, aproximadamente 14:00 Hs. Apertamos os passos, driblamos obstáculos, perigos e inquietações e já chegamos a aproximadamente um terço do trajeto percorrido. Desta vez, não nos impressionamos, isto só nos estimula a avançar ainda mais. E assim continuamos. Revemos as paisagens, a terra seca, alguns animais. O que muda é a situação. Antes, estávamos apenas de passeio, conhecendo o terreno. Agora, estávamos a ponto de encarar um novo desafio, que se mostrava gigantesco, que poucos ousaram arriscar. Além disso, as nossas responsabilidades aumentavam a cada momento.

Mas é bom destacar que isto era absolutamente normal. Desde quando entrei na gruta, assumi a responsabilidade da conquista contínua e evolução em prol do dom que recebera gratuitamente do universo.Com muita garra e coragem, continuaria arriscando sempre não importando as consequências nem os riscos. O importante é que contava com a torcida de amigos,familiares,conhecidos,admiradores e o apoio dos meus companheiros de aventura. Independentemente do resultado, a experiência e o aprendizado se mostravam muito importantes para minha carreira. Era em busca destes dois itens que continuamos avançando embrenhados numa mata quase virgem ao encontro do destino incerto, destino que nos leva a cumprir a metade do trajeto trinta minutos depois.

Em dado momento, nos sentimos cansados e resolvemos de comum acordo parar. Dobramos a direita, num desvio que se apresenta e achamos uma parte de terra limpa e sem garranchos. Sentamos.Pegamos a mochila, cada um pega um pouco de água e de alimento e satisfaz um pouco de suas necessidades. Quando terminamos, aproveito o momento para relaxar e descontrair puxando uma conversa com meu companheiro de aventura.

—E aí? Está tudo bem? Gostando do desafio, do passeio, da experiência e do trabalho?

—Muito. Quando terminarmos vitoriosos, teremos muito a contar. Aqui tudo é muito belo, tranquilo e prazeroso caminhar. No momento certo, te ajudarei ainda mais. (Renato)

—Eu também estou gostando. É diferente de tudo que vivi até agora. As conversas, as orientações, a companhia de alguém que foi um desbravador de preconceitos de sua época me ajudou a ter uma visão nova da vida. Pessoas assim devia se ter aos montes para que o mundo melhorasse de verdade. (Afirmei)

—Eu concordo. Às vezes, o que falta é a coragem. Muitos se escondem do mundo preferindo viver infelizes a ter que enfrentá-lo. É uma opção. Mas com certeza não é a mais adequada. (Renato)

—Bem, isto não se discute. Cada qual sabe o que é melhor para si. Todos nós, em algum momento, temos que fazer escolhas difíceis e está cada vez mais perto da nossa vez. Peço a Deus sabedoria e bom senso para não errar. (Eu)

—Eu também. Somos uma equipe e temos que ter o maior cuidado a partir de agora. Paciência também é importante. (Renato)

—Certo. Vamos continuar? Já está ficando tarde. (Solicitei)

Renato concorda comigo, nos levantamos, voltamos a trilha principal e retomamos a caminhada. No caminho, conversamos um pouco mais sobre o desafio e definimos a estratégia a ser adotada e algumas prioridades. Isto era necessário a fim de que não tivéssemos surpresas desagradáveis. Com tudo acertado, continuamos a caminhar mais tranquilos e convictos. Avançamos rapidamente, driblamos os obstáculos e incertezas e um instante depois ultrapassamos os três quartos do percurso. O desafio estava cada vez mais próximo.

Alguns passos adiante, surge, diante de nós, um grande obstáculo. Encontramos com índios Xucurus que nos cercam por todos os lados. Um deles que parece ser o chefe se aproxima, nos prende e nos pergunta em nossa língua o que fazíamos ali. Um pouco sem graça, explicamos que estamos a passeio, numa busca pelo conhecimento e ele meio sem entender nos diz que para continuarmos temos que vencer um desafio. Desconfiado, pergunto qual seria e ele me apresenta um arco e uma flecha. Manda colocar um alvo minúsculo a cerca de quinze metros e diz: —Tem que acertar, se não morre. Tem três chances.

Nervoso e atormentado, fico alguns instantes sem reação. O que seria de nós agora e da nossa aventura? Não tinha nenhuma experiência com este tipo de coisa e se fracassasse, o nosso destino era a morte prematura. Neste momento, lembro dos desafios da gruta, especificamente das três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Tinha aprendido com meus erros, controlado meu medo e assim conseguido escolher e alcançar a porta certa, a felicidade. Tentaria agir da mesma forma agora.

Preparo-me, fico em posição e quando estou seguro, lanço a flecha. Fecho os olhos e quando os abro tenho uma decepção. Nem passara perto e agora só restava duas tentativas. O cerco se fechava a cada momento tendo nossa vida em jogo. O que aconteceria? Seja o que fosse, não perderíamos a esperança nem teríamos medo de tentar mais uma vez.

Preparo-me novamente. Aponto em direção ao alvo, e lanço. Fecho os olhos e ao abrir, nova decepção. Mas desta vez, passara mais perto. A uns dez centímetros de distância. Agora só restava uma tentativa e se errasse, nossa aventura estaria terminada e nossa vida também. O que diriam nosso mestre, nossos familiares, conhecidos, amigos? Sentiriam saudades de nós e de nossas peripécias? Bem, cabia a mim não os fazer sofrer ou deixá-los com saudades. Não estava em meus planos abortar o projeto do vidente.

Animado com uma força e coragem nunca dantes vistas, pego o arco e flecha pela última vez. Sem pretensão nenhuma, aponto na direção, transformo-me no vidente ao pensar nas três portas, concentro-me um pouco e quando estou pronto lanço a flecha, fecho os olhos e ao abrir, dou um grito e corro para abraçar Renato. A meta estava cumprida. O índio chefe me cumprimenta e se afasta com seus subordinados. O caminho agora estava livre para que pudéssemos continuar sonhando com a conquista dos dons.

Depois do abraço, resolvemos retomar a caminhada imediatamente. Avançamos cada vez mais rápido na mata agreste e continuamos superando obstáculos. A cada passo dado, nos sentimos mais confiantes na vitória e no sucesso de nossa empreitada. No entanto, teríamos que ter o maior cuidado porque a cada dom desenvolvido o círculo da passagem se estreitava e por isto tínhamos menos opções.

Algum tempo se passa e finalmente alcançamos o destino. Estamos no oeste do sítio, exatamente sobre as ruínas do que um dia fora a casa do bem aventurado, meu antepassado,Vítor.Observo cada cantinho e parecia que eu já estive naquele lugar, de alguma forma. Toco em vários antigos objetos que estavam espalhados mas não sinto absolutamente nada até que Renato se aproxima, pega no meu braço e me conduz até o quarto. Nós dois tocamos na ruína principal, o chão treme, meus chacras explodem, o mundo escurece e então tenho a compreensão e a visão respectiva do quarto dom: “Era uma vez um jovem chamado Marcelo, residente na zona rural do município de Sertânia-PE. Era integrante duma família simples, todos agricultores, mas foi criado com uma base de valores recheados de princípios éticos e de moral. A cada dia que passava, transmitia esses ensinamentos a seus semelhantes e orgulhava a todos com esta atitude. Além disso, engajava-se nos estudos ,no trabalho, nas causas sociais. Era um ser do bem em todas as instancias. Até que algo mudou. Um certo dia, numa fatalidade, seus familiares perdem a vida. Ele se revolta inicialmente, pois era muito apegado a seus entes. Passa a questionar seus hábitos e se pergunta de que valera seu esforço em ser um bom homem. É neste exato momento que conhece Fabrícia.Descobre com ela o sentido da amizade,cumplicidade,amor,fidelidade .Decide se casar e supera esta primeira perda com o passar do tempo apesar de não esquecê-la. Tem um casamento feliz,filhos,uma boa situação financeira,amigos,enfim tudo estava valendo muito a pena. Até que num certo dia perde a mulher em outra fatalidade.Inconformado,passa dias sofrendo e se perguntando por que a vida lhe aplicara mais um golpe. Entra em depressão.Com a ajuda dos filhos, procura tratamento psicológico, vai superando aos poucos seus traumas e com um certo tempo volta a sua rotina normal:Trabalho,atividades sociais e de lazer, convivência com amigos. Descobre dentro de si um potencial enorme em superar as perdas e adversidades da vida, chamada “Fortaleza”. Era isso. Não se tratava de esquecer as desgraças e sim conseguir superá-las e viver uma vida normal valorizando o que tinha em mãos. E é isto. Marcelo se recuperou, viveria em paz e feliz com sua família o resto dos seus dias. Redescobre o amor com outra pessoa e vive outros momentos felizes. “Fortaleza é um dom essencial para que enfrentemos a vida sempre com esperança de dias melhores e com a força, coragem e garra necessárias para enfrentar as perdas que são inevitáveis, superando-as para que possamos viver a vida em paz. Pois a vida é bela, clara, e deve ser vivida com alegria e felicidade que todos merecemos.”

Pós-desafio

A visão termina. Depois de tudo concluído, saímos das ruínas da casa que era do meu avô ,procuramos a trilha e começamos a fazer o caminho da volta rapidamente antes que a noite caísse. O momento atual requer concentração e calma a fim de assimilar todos os conhecimentos da visão. Focamos nisso durante o trajeto. Além disso, planejamos os próximos passos de nossa aventura inusitada no sítio, conversamos sobre nossos pontos falhos e sobre o treinamento da co-visão que ainda não se realizara. Porém, nossas opiniões entram em conflito em diversos pontos e deixamos para tratar disto com o nosso mestre mais tarde. Assim continuamos avançando na trilha agreste sem maiores preocupações.

No caminho, conhecemos algumas pessoas, e paramos um pouco para trocar ideias. Depois da apresentação, falamos um pouco de nossas vidas e eles da deles (São três jovens que se chamam Soraia, Claudionor e Cássio—Todos irmãos). Conversamos também sobre assuntos gerais, literatura, amizade, relacionamento, política durante aproximadamente meia hora. No final, antes de ir, nos convidam para continuar a prosa em sua casa (no período da noite), e nos explicam como chegar lá. Empolgados, aceitamos e finalmente nos despedimos. Continuamos então a nossa caminhada e com mais alguns passos ultrapassamos um terço do percurso. Neste momento, a ansiedade, o nervosismo e a expectativa aumentam por causa dos fatos anteriores. Então aumentamos o nosso ritmo.

Apesar do ritmo forte, dá tempo de apreciarmos e repassarmos cada centímetro daquele chão, e reconhecemos nele os frutos dos nossos esforços: Galhos retorcidos, nossas pegadas no chão, pedras deslocadas. Já tínhamos ultrapassados os obstáculos daquele trilha em prol dum dom, do universo e em busca dum destino ainda incerto. Nossa motivação era maior a cada momento apesar dos pesares.

Cheios de curiosidade, vez ou outra saímos do caminho principal e descobrimos um mundo inteiramente novo:vegetação, animais, textura da terra, paisagem. Era um descobrir muito valioso. Pena que estávamos com pressa e quase noite, senão aproveitaríamos mais. Quem sabe noutra oportunidade, penso. Então voltamos ao nosso foco principal e avançamos ainda mais. Ultrapassamos dois terços do percurso. Estávamos mais perto de nossa casa provisória.

No restante do percurso, com o cansaço, diminuímos o ritmo do corpo e da mente, ficando mais relaxados. Tínhamos cumprido a quarta etapa com sucesso e isto nos animava bastante. No entanto, sabíamos que havia muito a aprender não só nesta aventura como em outras a realizar. O caminho do vidente era difícil e espinhoso, exigia de nós uma aprimoração contínua. Mas ainda bem que estávamos no caminho certo. Com esta certeza, Caminhamos ainda mais e depois de um tempo, finalmente chegamos ao destino. Sem cerimônia, entramos na morada de Angel, o procuramos e o encontramos na parte correspondente a sala. Ele nos convida a sentar em frente ao mesmo e quando fazemos isso, estamos preparados para uma boa conversa, uma troca de conhecimentos entre amigos e companheiros de aventura.

—E aí? Como foi a experiência? Compreenderam o dom da fortaleza? (Angel)

—Acredito que sim. Através da visão apresentada, tivemos a ideia da importância desse dom. Ele é primordial para superarmos as perdas, enfrentar situações difíceis e angustiantes com a cabeça erguida, termos força para continuar o caminho. Mas também há momentos em que devemos extravasar, e pedir colo aos entes mais queridos. “Ser fraco no forte” é essencial. (Explanei)

—Eu também acho que sim. Trabalhamos em equipe e descobrimos um pouco mais do nosso potencial. Na verdade, desde a primeira aventura, cultivamos a fortaleza no sentido de não desistir dos nossos objetivos. A experiência atual só fez tudo ficar mais claro. (Completou Renato)

—Muito bem. Gostei das explanações. Houve uma evolução e por isto estão de parabéns. No entanto, ainda estamos distantes do objetivo final. A partir de agora, tentem prestar atenção em cada detalhe que se apresentar a fim de incorporar melhor os dons. Os dois próximos serão decisivos para o desenvolvimento da co-visão. (Alertou Angel)

—Entendi. Quando devemos realizar o próximo passo? (Perguntei)

—Como será minha participação desta vez? (Renato)

—Calma. O próximo passo será dado amanhã pela manhã, após o café. Renato continuará auxiliando o vidente nas visões até terem total entrosamento. Mais detalhes, só depois. Por enquanto, reflitam tudo que viveram até agora. (Orienta Angel)

—Tudo bem. Refletiremos. O jantar está pronto? Passamos a tarde toda fora e só nos alimentamos com besteiras. (Comentei)

—Sim. Podem ir à cozinha e servir-se. Preparei uma sopa maravilhosa. (Angel)