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—Calma. Ainda estamos nos conhecendo. Continuemos o passeio. (Ponderou Angel)
Dito isto, voltamos a mudar de direção e desta feita caminhamos rumo ao oeste. Agora, o caminho se mostra pedregoso e isto dificulta um pouco.Porém,o esforço se mostra compensador pois aprendíamos a cada momento com o ambiente,com o mestre Angel e com as lembranças.Enfim,tudo estava correndo bem até aquele instante. Continuamos a caminhar entre conversas, entre barulhos de animais, respirando o ar puro da mata, enfrentando o calor escaldante do fim de ano, entre dúvidas e anseios gritantes de nosso subconsciente. Mas tudo valia a pena e continuamos a descoberta. Depois de cerca de quarenta minutos neste caminho, chegamos em frente ás ruínas de uma casa de taipa. Paramos e Angel pede que o acompanhe. Entramos no que era a casa e ao tocar o resto duma parede, tenho visões gritantes de experiência vividas ali: Vejo Incompreensão, choque de sentimentos,luxúria,luz e trevas, sabedoria e conhecimento desperdiçados no “Encontro entre dois mundos”. Fico estático com toda a informação recebida e, ao perceber minha dificuldade, Angel me presta socorro ao me tirar do eixo. Caio no chão, esmorecido. Renato e ele me fazem um carinho para que eu me restabeleça.
—Calma, filho de Deus. Eu deveria ter dito para você ter mais cuidado por sua sensibilidade. Aqui foi a residência do seu antepassado Vitor Torres e foi onde ele desenvolveu seus dons. O que foi que você viu? (Indagou o ancião)
—Um pouco dos sentidos dele. Mas foi tudo muito rápido. Fiquei um pouco com medo e sofri ainda mais por isso. (Revelou o vidente)
—Já passou. Estamos aqui com você. (Disse Renato)
—Na verdade, não tem que ter medo. Você é outra pessoa, estamos em outra época e as situações são distintas. Basta ter um pouco de cuidado e controlar seu dom que está ainda em desenvolvimento. Mas não se preocupe. Eu o ensinarei quando começar o nosso treinamento. Por enquanto, devem saber que aqui é um dos locais apropriados para vencer barreiras do tempo, espaço e abrir as portas para o outro mundo. Quem souber dominar o seu poder, pode conquistar tudo na vida e vencer seus inimigos. Não há limites— Explicou Angel.
—Entendo. Estou disposto a conhecer meus limites e a descobrir totalmente meu destino mesmo que isto envolva riscos altos. É necessário para minha carreira e para minha evolução espiritual e humana. (Declarei, o vidente)
—Estamos acostumados a correr riscos. (Complementou Renato)
—Você vai até onde puder. Não é irreversível este processo. Podes desistir a qualquer momento, fechar as suas portas espirituais e renunciar a esta dádiva. É tudo uma questão de escolha. Podemos continuar o passeio? (O mestre)
Confirmamos que sim. Saímos das ruínas da casa e pegamos outra trilha em direção ao leste. O novo começo de caminhada abre mais minhas perspectivas o que me faz ter mais esperanças de sucesso. Alheios a tudo, Renato e Angel continuam me acompanhando e dando a força necessária nos momentos certos. O que seria de mim daqui por diante? Eu não tinha ideia mas continuaria a minha jornada não importando os obstáculos ou os perigos que corresse.
Continuamos caminhando. Quando o cansaço bate, paramos e procuramos uma sombra de uma árvore a fim de descansar. Com este objetivo, nos desviamos um pouco da trilha e ao achar a árvore nos abrigamos e desabamos no chão. Angel ri e retoma o diálogo.
—Também está cansado, Filho de Deus? Pensei que os super-heróis fossem feitos de ferro. (Brinca Angel)
—Nem fala. Apesar de todos os meus predicados, eu sou uma pessoa comum em relação ás fraquezas, aspirações, medos e inquietações. Mas sei ser forte quando é necessário. (Comentei, o vidente)
—Concordo. Já o acompanhei em duas aventuras e posso dizer que ele soube corresponder às expectativas de seus mestres. Fez uma viagem no tempo, solucionou injustiças, voltou a montanha, aprendeu sobre os pecados capitais, em viagem a uma ilha embarcou num navio de piratas e se saiu muito bem. (Renato)
—Interessante. Mas saibam que desenvolver os dons vai exigir uma audácia maior da parte de vocês do que das vezes anteriores. Desta vez, escolhas importantes terão que ser feitas. (Angel)
—Quais, por exemplo? (Pergunto, o vidente)
—Calma. Ainda não é chegada a hora. Controle sua ansiedade pois ela pode lhe atrapalhar. (O ancião)
—Desculpa. Já descansei. Vamos continuar? (Vidente)
—Está de acordo, Renato? (Angel)
—Sim. Vamos. (Renato)
Saímos rapidamente, retomamos a trilha em silêncio e a cada passo ultrapassamos obstáculos. O clima é agradável, estamos tranquilos e nada neste momento parece impossível apesar do desafio gigantesco de se aventurar naquelas terras. Dobramos a esquerda, a direita, encontramos pessoas, as cumprimentamos e neste vaivém chegamos depois duma hora de caminhada a uma planície extensa, sem vegetação, rodeada por rochas vermelhas. No centro, uma pedra grande. Angel pede para Renato ficar e avança um pouco mais comigo até o centro. Subimos em cima da pedra, ele me convida a sentar e depois, deitar. Pede que eu feche os olhos, eu obedeço e sinto mãos experientes pousarem em minha cabeça. Como se fosse uma chuva, sinto raios de energia penetrarem em minha mente como da última vez. Mas desta feita, eles em vez de me acalmar me deixam mais inquieto por causa das visões que se revelam pouco a pouco na tela da minha mente. Vejo dor, opressão, perseguição, calúnias, maus entendidos, problemas de relacionamento amoroso e de amizade, solidão, lutas internas, fracassos nem sempre assimilados, mas no fim de tudo uma luz bem vibrante. Tento me aproximar da luz e ao chegar bem perto, desperto. Ao meu lado está Angel, um pouco sério.
—Viu filho de Deus, o que te espera? Nem sempre temos tudo nesta vida, entende? (Angel)
—Sim.Entendi. Mas eu escolho tentar. É meu sonho, desde criança e nem todas as dificuldades do mundo irão me impedir. No fim de tudo, há uma luz. Como alcançá-la? (Indagou o pequeno sonhador)
—Esta resposta só você pode descobrir dentro de você. Eu sou apenas mais uma seta que o destino colocou a sua frente assim como os seus outros mestres. Se estiver disposto a me ouvir sempre, mesmo que seja inconscientemente, provavelmente obterás sucesso. Digo isso não com orgulho, mas com a humildade de quem já viveu muito, cento e treze anos, e que já experimentou de tudo nesta vida. Falta apenas você dizer que sim. (Angel)
—Sim. Ouvir-te-ei e aprenderei o segredo dos sete dons. Esforçar-me-ei para isso. (Divinha)
—Muito bem. Gosto de jovens determinados. Voltemos agora, Renato nos espera. (O mestre)
—Tudo bem. Vamos. (O vidente)
Deixamos a pedra, retornamos pelo mesmo caminho, reencontramos Renato e juntos começamos a fazer o caminho de volta a casinha de sapê. Pegamos um atalho pois o dia já avançava. Passamos por lugares diferentes, vivemos novas experiências, encontramos mais pessoas, conversamos um pouco a fim de nos conhecer melhor e assim o tempo vai passando. Quando menos esperamos, chegamos ao destino. Entramos na casinha, nos dirigimos a cozinha e preparamos um alimento rápido. Ao comer, recuperamos um pouco as forças e, como já estava tarde, resolvemos tirar um cochilo. Eu, na cama de capim, Renato, na rede, e Angel, no chão. O que nos esperava? Continue acompanhando, leitor.
Acordamos juntos por coincidência.Ao conferir a hora, verificamos que já era seis da noite.Angel,amigavelmente,nos convida a sair e ajudá-lo a fazer a fogueira a fim de nos aquecer e nos iluminar em substituição á luz elétrica que o mesmo se negava a instalar. Aceitamos o convite, pegamos as toras e os gravetos de madeira atrás da casa e levamos até a frente. Quando arrumamos uma boa pilha, Angel nos ensina a fazer fogo com as pedras. Depois de algumas tentativas, conseguimos e ficamos a nos aquecer, a observar as estrelas, a curtir a brisa da noite e a papear. Um pouco de nossas conversas está transcrito abaixo:
—Vejam que maravilha de mundo Deus nos deu. Cada astro do céu é um filho dele, assim como nós. Não devemos desperdiçar nosso tempo com preconceitos, brigas, intrigas e violência. Pois o tempo passa rápido e devemos aproveitar cada segundo dele como se fosse o último. (Angel)
—Tem razão. Eu ainda não aproveitei a minha vida ainda como deveria e me arrependo disso. Fui um jovem criado na rigidez da fé católica e a noção de pecado que me ensinaram é totalmente diversa da que acredito hoje. Tudo para mim era pecado e por isso deixei de viver interessantes experiências. Um dia, despertei para realidade e só considero pecado a atitude que faz sofrer o próximo ou a ti mesmo. Hoje, sou mais feliz do que antes apesar de nunca ter perdido a minha fé. (Eu, o vidente)
—Que pena. Ainda bem que a guardiã me orientou direitinho e em tempo sobre a luz e as trevas. Hoje, sou um adolescente feliz, cheio de amizades e aventuras. (Renato)
—Que bom,Renato.Foi uma pena,Aldivan.Mas vocês são jovens ainda. Vão ter tempo suficiente para tudo. Eu também vivi, na minha época, uma espécie de repressão pelo fato da minha opção sexual distinta. Mesmo assim, lutei pelo aquilo que acreditava. Confesso não ter sido completamente feliz mas tive momentos felizes. Amei, chorei, sofri, vivendo intensamente muitos sentimentos. E vocês? Já tiveram algum tipo de experiência? ( O mestre)
—Sim, durante meus trinta anos de vida, já conheci muita gente.Eu me apaixonei umas três vezes sentindo o fogo do amor gritar dentro de mim e posso dizer que é maravilhoso. Apesar de não ser correspondido, valeu pela experiência e estou disposto a novos desafios nessa área. Quero investir também na literatura, na matemática, nas relações pessoais.Enfim,busco a felicidade e acredito que a mereço. Aliás, todos merecem. (Comentei, o vidente)
—Eu nunca experimentei o amor porque não tenho idade para isso nem é meu foco. Quero estudar e fazer novas amizades, por enquanto. (Renato)
—Claro. É normal. Mas tenha cuidado com o amor. Ás vezes ele machuca muito. (Angel)
—Angel, mudando de assunto, poderia nos explicar melhor como se dará o nosso treinamento? (Vidente)
—Vão ser seis etapas. Cada uma representando um dom do espírito santo. Cada um envolvendo um desafio complicado. Se forem aprovados, vão passando de fase. Quando chegar a última, estarão prontos para desvendar a primeira história que desafia o tempo. (Explicou ele)
—Entendi. Quando começamos? (Renato)
—Amanhã mesmo, pela manhã. Mas pensemos nisso depois pois disse Jesus: A cada dia, a sua preocupação. Observem o céu e agradeçam pela vida. (O ancião)
Obedecemos ao mestre e ficamos um largo tempo a observar o céu. Quando ficamos totalmente exaustos, nos despedimos do mesmo e fomos dormir. O próximo dia escondia aventuras intrigantes num fim de mundo inóspito.
O primeiro desafio:Sabedoria
Amanhece no sítio fundão, Município de Pesqueira, agreste de Pernambuco-Brasil. Acordamos um pouco tontos com os raios de sol batendo nos nossos rostos e o canto melodioso dos pássaros. Mesmo lutando contra a preguiça e o cansaço, conseguimos levantar na segunda tentativa e nos encaminhamos para trás da casa, a fim de tomar o banho matinal. De comum acordo,eu vou primeiro. Pego um balde de água, encho na cisterna e vou me banhar não tão tranquilo pois tenho medo de ser flagrado em minha nudez por pessoas desconhecidas .Com alguns passos, chego no destino, tiro a minha roupa, e jogo um pouco de água fria no corpo. Esfrego-me, ensaboou-me e jogo um pouco mais de água e na medida em que vou me lavando aproveito também para pensar um pouco na minha própria trajetória. Aonde tudo aquilo me levaria? Já enfrentara a gruta,desafios,a montanha, o Eldorado e ainda tinha sede de conhecimento. De um simples sonhador passara a vidente poderoso, capaz de realizar milagres mas ainda não me realizara. Faltava galgar os degraus da evolução um por um e descortinar os véus das histórias realmente importantes. Era isto que eu me propunha e esperava obter o sucesso. O objetivo maior era ser feliz.
Continuo o banho, toco nas minhas partes sensíveis e imagino o quanto era importante manter o foco, a integridades, meus valores em quaisquer circunstâncias. Além de tudo, trabalhar com dedicação e persistência era o segredo da vitória. Foi com estes ingredientes que me descobri e me abri para o mundo e continuaria agindo dessa forma sempre.
Jogo um pouco mais de água no corpo, uso sabão, xampu e sabonete e tento retirar todas as impurezas. Quando me sinto pronto,enxáguo-me,pego a minha toalha, enxugo-me e entro na casa aliviado. Aviso a Renato e o mesmo vai tomar banho. Pouco depois, Angel finalmente acorda. Cumprimento-o e vou vestir minha roupa. Quando estou em condições, aproximo-me do mesmo e para minha surpresa o café está pronto. Ele me convida a comer e eu aceito pois estava esfomeado.
O desjejum é composto de frutas típicas da mata como caju,abacaxi,melancia,Fruta-de- palma além do tradicional beiju e macaxeira. Um verdadeiro banquete dos deuses. Comemos em silêncio, deixamos um pouco para Renato que volta do banho. Quando todos ficam satisfeitos, a conversa é iniciada.
—Estão prontos, sonhadores? O desafio está lançado. (Pergunta Angel)
—Sim. O que devemos fazer e do que se trata? (Pergunto)
—Queremos todos os detalhes. (Renato)
—O primeiro desafio envolve o dom da sabedoria. Procurado desde os tempos remotos, este dom ajudou na evolução da humanidade e fez os homens um pouco mais humanos. O desafio consiste em dirigir-se ao nordeste do sítio e decifrar um enigma antigo que se apresentará espontaneamente para vocês. Se errarem, despertarão a fúria dos deuses o que pode provocar graves conseqüências. Mas não se preocupem: Confio totalmente em vocês. (O mestre)
—Como devemos agir? (Perguntamos em coro)
—A questão é óbvia. Ajam com bom senso e a sabedoria dos humildes. Ela é alcançada através da contínua oração e meditação. Mas lembrem-se: Não vale trapacear— Respondeu ele.
—Quando devemos ir? (Pergunto)
—Agora mesmo pois o tempo urge. Boa sorte e mantenham contato com o interior de vocês. (O ancião)
Angel se aproxima, nos abraça e se despede finalmente. Pegamos uma mochila com alimentos e uma garrafa d’água e finalmente saímos da casinha de sapê. Procuramos a trilha mais próxima que dá acesso ao nordeste do sítio e quando a encontramos começamos a caminhada. Apesar de todas as dificuldades que se apresentam no caminho, avançamos num bom ritmo e conversamos entre si preparando a melhor estratégia. O que nos esperava? A vaga indicação de Angel nos deixava cheios de dúvidas, mas não tínhamos escolha a não ser arriscar e descobrir.
No caminho, encontramos pedras, pássaros, espinhos, vozes interiores que nos guiam e a instigante força que move o universo a que muitos chamam de Deus ou de destino. A cada passo dado, parece que já podemos decifrá-lo apesar de nossa inexperiência. O que aconteceria? Não importava. O importante era o nosso empenho, era o momento que talvez não se repetisse mais. Não podíamos desperdiçar esta chance como eu já tinha desperdiçado boa parte da minha vida em lamentar minha condição. Em certo momento, acordei e estava disposto a viver, junto com Renato, aventuras incríveis e que talvez nos consagrassem não pelos feitos em si, mas pela coragem. Esta era a palavra-chave: Coragem.
Animado por esta força, continuamos avançando embrenhados na mata virgem procurando algo que não se via ou que ninguém jamais tinha encontrado. Com isso, o tempo passa. Depois de cerca de duas horas, chegamos exatamente no centro do nordeste do sítio Fundão e nada (exatamente nada) tinha acontecido. Exaustos pelo esforço da procura, resolvemos sentar numa clareira próxima, comemos e nos hidratamos um pouco. Fechamos os olhos, descansamos um pouco e ao abrir temos uma grande surpresa: os céus tinham desaparecido, nuvens coloridas nos envolviam, nossos corpos flutuavam no ar com facilidade. Mesmo que antes perguntássemos o que estava acontecendo, três belos anjos se aproximam de nós em glória o que nos provoca bastante medo. Ao chegar bem perto, eles mantêm contato telepático e nos tranqüilizam,dizendo que não vão fazer mal, que apenas são mensageiros da sabedoria. Eles perguntam se queremos descobrir mesmo o dom da sabedoria? Respondemos que sim e eles nos propõem um enigma: O que dois amigos fazem que três não podem fazer? E dão um tempo de cinco minutos para que pensemos. Eles nos alertam que caso errássemos cairíamos num abismo sem fundo.
Eu e Renato começamos a discutir as possibilidades. Falamos um pouco de tudo, discutimos, trocamos experiências. No final do tempo, usando a minha experiência, tenho uma resposta apesar de não ter a certeza de que está correta. Entro em contato com os anjos, repasso a resposta mentalmente: Compartilhar um segredo a dois. Eles se reúnem em círculos, proferem orações misteriosas, a terra treme, o céu escurece e no final do ritual uma bola de fogo abrasadora é lançada de encontro aos nossos corpos. Temos medo, tentamos correr, mas estamos bem presos ao chão. Contra nossa vontade, somos envolvidos pelo fogo, mas, para nossa surpresa, ele não nos queima e sim nos completa, é límpido, perfeito e através dele absorvemos a sabedoria, o primeiro dom do espírito santo.
No instante seguinte, a emoção do momento me faz entrar em transe e ter uma visão rápida:Matheus,era um jovem ingênuo,educado,inteligente,com bons dotes pois era filho de comerciantes da cidade do Recife. A época em que vive é o século XVIII,época rica mas cheia de mistérios e incompreensões. O mesmo tem vários amigos, arranja várias namoradas indicadas pelo pai, mas não tem afinidade com nenhuma e resolve inicialmente não se casar apesar da insistência da família pois acredita no amor verdadeiro. Sua decisão é respeitada apesar dos critérios rígidos da época. Mas um belo dia encontra Margareth, uma jovem estrangeira, na escola .Os dois saem,conversam,se apaixonam e depois dum tempo de convivência comunicam aos seus pais. O casamento é aceito e no dia é uma grande festa. Depois da cerimônia de casamento, e com uns trinta dias de casados Margareth revela um segredo ao esposo: Era feiticeira e tinha contrato com as “trevas”, mas mesmo assim o amava. Entre surpreso e decepcionado, Matheus reflete um pouco e decide não deixá-la pois a amava como a si mesmo. Só pediu discrição para que a mesma não fosse pega pelo tribunal da inquisição. Margareth prometeu que tomaria as devidas precauções. Passaram-se três anos em levantar suspeitas. Porém, um belo dia foi descoberta, presa, julgada, e dias depois esquartejada em praça pública e finalmente morta. Matheus só acompanhou de longe, com medo de ser acusado de cúmplice. Depois disso, o mesmo entrou em depressão grave, se afastou da sociedade e chegou até a loucura sendo internado num hospício. Quando recuperou a sanidade, decidiu esquecer tudo, e terminou por encontrar outra mulher chamada Clara, pertencente a sua religião e com ela teve três filhos. Margareth era apenas uma lembrança que deixaria em seu coração gravada, como qualquer outro momento de sua vida. Agora viveria em paz com felicidade com sua esposa atual e seus três filhos. “Todos temos direitos de fazer escolhas na vida, podemos até errar, mas tudo o que vivemos serve de aprendizado para que possamos viver novas experiências e enfim alcançar a tão almejada felicidade”.
A visão se esvai. Num abrir e fechar de olhos, voltamos a clareira, no nordeste do sítio fundão. De comum acordo, decidimos voltar à casinha de sapê e sem demoras partimos. Pegamos a mesma trilha e começamos a fazer o caminho de volta. No caminho, fazemos planos para as próximas etapas no sítio e prometemos sempre trabalhar em equipe e com muita dedicação. Aonde chegaríamos? No momento atual, ficava impossível de prever, mas se dependesse de nós o céu seria o limite.
O tempo passa, nós continuamos caminhando em passos firmes e rápidos, e quando menos esperamos chegamos ao destino. Entramos na casinha de sapê e procuramos o mestre a fim de partilhar as experiências. O que aconteceria daqui por diante? Continue acompanhando, leitor.
O aprendizado assimilado da “sabedoria”
Reencontramos Angel na parte referente à sala descansado sobre uma cadeira. Abraçamo-nos, e ele nos convida a sentar também. Quando ficamos frente a frente, o mesmo inicia um diálogo.
—E aí? Poderiam me contar sobre as experiências vividas nesta primeira etapa?
—Seguimos seu conselho e pegamos uma trilha rumo ao nordeste. Depois de muito esforço, chegamos ao local indicado mas por um bom tempo nada aconteceu. Depois de fecharmos os olhos, um milagre acontece ,o cenário muda, e três estranhos nos propõem um enigma.Com apenas cinco minutos de prazo para pensar, conversamos entre si e no final chegamos a um denominador comum. Mesmo sem ter certeza,respondi,entramos em contato com o primeiro dom do espírito e confesso que foi maravilhoso. Tive então uma visão que complementou meus conhecimentos. (Eu, o vidente)
—Eu o acompanhei durante todo o processo e confesso que foi realmente difícil chegar a uma solução em tão pouco tempo. Mas tínhamos um pouco de experiência, usamos o bom senso e encontramos uma resposta entre várias possíveis. Tudo valeu a pena pois reciclamos os velhos conhecimentos e criamos novos. (Complementou Renato)
—Muito bem. Estão de parabéns os dois. Agora que estão transformados, poderiam me dizer o que é sabedoria? (Indagou o anfitrião)
—É o dom do espírito responsável em nós pela criação,reflexão,capacidade de aprendizado e que interliga os sentimentos e funções do cérebro. É um dom necessário para evolução humana,social,moral,espiritual que nos faz aproximar de Deus. Sempre procurada e desejada pelos mortais desde os inícios dos tempos ela se mostra aos mais simples, humildes e excluídos de nossa sociedade. (Eu, o vidente)
—A sabedoria me guia nas escolhas, nos meus sonhos e projetos de vida. Nos momentos decisivos, a consulto interiormente e ela com a função de seta me mostra como posso ajudar. Em suma, ela é o mapa que devemos seguir a fim de alcançar o sucesso. (Renato)
—ótimo. Agora que descobriram este dom, já podem ter uma visão mais ampla de tudo que acontece ao redor de vocês e antes não percebiam. Já podemos iniciar o treinamento. Querem continuar descobrindo os dons? (Pergunta Angel)
—Com certeza. Não estamos aqui por acaso. O que devemos fazer? (Pergunto)
—Estamos preparados. (Concorda Renato)
—Primeiramente, enquanto preparo o almoço, limpem a casa. Este exercício fortalece os músculos e ocupa a mente. Depois de nos alimentarmos, é que explicarei o que devemos fazer. Está bem? (O mestre)
—Tudo bem. Aceitamos. (Respondemos em coro)
Angel se encaminha a pequena cozinha, junto ao fogão de lenha cuidando dos alimentos enquanto eu e Renato pegamos a vassoura, a pá e um pano úmido para auxiliar-nos na limpeza. Ao começar os trabalhos, nos distraímos um pouco e lembramos da aventura anterior. Quantas vezes não tivemos que ajudar os piratas nos trabalhos domésticos? Tínhamos limpado o navio, lavamos louça e tudo tinha sido um grande aprendizado apesar do medo do desconhecido e da fama que os piratas tinham. Com o tempo, descobrimos que eram pessoas maravilhosas e comuns.
Agora, estávamos convivendo com Angel, um homem quase centenário, homossexual assumido, detentor dos dons do espírito santo, que criara história numa época cheia de preconceitos e de autoritarismos das elites. Desde o início, admirávamos sua coragem ,simpatia e conhecimento. Certamente ele poderia nos ajudar em nosso caminho.
Continuamos a limpar e seguimos atento a todos os detalhes. Organizamos a bagunça, espanamos os poucos móveis e varremos todos as partes da pequena casa. Por último, retiramos o excesso de barro do piso. Ao terminar, Angel dá um pequeno grito e nos chama à cozinha. Com alguns passos, chegamos no destino, sentamos à mesa e o anfitrião gentilmente começa a nos servir. Almoçamos um pouco de arroz, feijão verde, farinha de mandioca, tomates e galinha de capoeira. Estávamos cansados e com muita fome. Por isto, terminamos de comer em menos de quinze minutos. Adoramos a comida. Angel tinha realmente um talento especial para culinária. Depois dum breve silêncio, puxamos conversa.
—Em que consiste este treinamento? É muito difícil? (Pergunto)
—A partir do segundo dom, os desafios serão maiores e antes de enfrentá-los quero repassar um pouco do que aprendi com a vida para vocês. Mas não se preocupem, não é eliminatório. O objetivo é aumentar o leque de conhecimento de vocês para que tomem as decisões certas nos momentos certos. (Angel)
—Entendi. Quando iremos começar então? (Renato)
—Agora mesmo. Peguem um pouco de alimento e água e iremos para o sudoeste do sítio. (ordenou o chefe)
Obedecemos Angel . Quando estamos com tudo pronto, saímos da casinha de sapê procurando a trilha mais próxima que nos leva a direção. Ao encontrá-la, aumentamos o nosso ritmo. O que aconteceria daqui por diante? Continuem acompanhando, leitores.
O começo da caminhada nos desperta a curiosidade. Apesar de continuarmos andando num ritmo rápido, temos tempo para apreciar a natureza, o clima, e a presença do nosso mestre. A cada passo e a cada nova paisagem, não cansamos de perguntar a nosso guia e ele nos explica tudo, numa grande viagem no tempo.Com as informações, imaginamos as situações como se fossem atuais e isto nos proporciona um pouco de prazer e angústia também. Onde estaria este povo sofrido do nordeste do início do século XX? O que estivessem vivos, como Angel, se deparavam com um mundo tecnológico, cheio de invenções, mas ainda atrasado moralmente. Os que estivessem mortos, estariam distribuídos entre as três esferas espirituais existentes de acordo com a conduta de cada um durante a vida:Inferno, céu e cidade dos homens. Mas a vida continuava de uma forma ou de outra.
Continuamos a caminhar.Avançamos na trilha e ,em dado momento ,Angel pede para pararmos. Ele pede a mochila emprestada, tira a garrafa d’água e bebe um pouco. Pede que façamos o mesmo. Aproveitamos o intervalo para conversar um pouco sobre assuntos gerais. Quando nos recuperamos totalmente, retomamos a trilha. Caminhamos mais um bom tempo sem perguntas ou questionamentos. Apenas seguindo os passos do mestre atual assim como fizemos das outras vezes. Depois de mais de uma hora de caminhada, temos acesso a uma pequena fileira de casas, cerca de cinquenta, separadas umas das outras. Continuamos seguindo nosso mestre e ele nos leva a uma casa simples, de alvenaria, estilo casa, e de no máximo cinquenta metros quadrados. Ele bate à porta, esperamos um pouco, e de dentro sai uma senhora bem idosa, baixa, cabelos pretos e olhos castanhos claros. Ela se mostra surpresa, se aproxima com dificuldade, e ao chegar mais perto dá um grande abraço em Angel. Ela nos convida a entrar, nós aceitamos e ficamos um tempo sem entender até que são feitas as apresentações.
—Marcela, estes são meus discípulos:Aldivan, o vidente, (neto do nosso companheiro Vitor) e Renato. Trouxe-os aqui para que pudesse conhecê-los e conversar um pouco com eles. Marcela era uma das integrantes do nosso grupo de justiceiros— Explicou Angel.
—Muito prazer, Marcela. (Respondemos em coro)
—O prazer é todo meu, queridos. Quer dizer então que estão se submetendo a um treinamento com Angel? Estão de parabéns pela coragem. Certamente o que aprenderem serão de grande valia para o resto de suas vidas. Hoje, está tudo mais fácil. Antigamente, não, tivemos que batalhar muito para conseguir alguns avanços. (Constata Marcela)
—Poderia nos contar um pouco sobre sua época? (Pergunto)
—Um pouco. Prefiro lembrar apenas das coisas boas e das conquistas. Eu, Angel, Vitor, Rafael, Penelope, Cardoso e outros formávamos um grupo de justiceiros contra a demanda das elites da nossa época. Lutávamos contra as injustiças em geral, em defesa dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados. Atuamos um bom tempo, conscientizamos a população em geral e alcançamos vitórias e derrotas. Mas era um tempo cruel, de repressão e só depois de muito tempo tivemos resultados concretos. O mais importante é que fomos felizes ou quase todos.
Após dizer isso, uma leve expressão de tristeza no rosto já enrugado de Marcela apareceu. Sentimos o clima um pouco pesado.
—Desculpe-me por fazê-la sofrer. Não sabia das suas mágoas. (O vidente)
—Tudo bem. Faz parte. E você meu jovem, está gostando do passeio ao sítio? (Referindo-se a Renato)
—Estou. Apesar de que não considero um passeio e sim um trabalho junto ao meu companheiro de aventuras—Respondeu ele.
—Marcela, poderia lhes falar da sua experiência do “Entendimento” e auxiliá-los em sua busca? (Solicitou Angel)
—Claro. No entendimento, cada experiência é única e faz brotar no nosso íntimo uma verdadeira contrição, uma vontade de se abrir completamente a luz. Ele nos faz ter uma visão ampla de nossa vida pessoal, do próximo e a melhor maneira de agir. Quando conquistamos o entendimento, temos um poder amplo para direcionar nossas vidas da forma mais adequada. O conselho que eu dou é que não tenham medo de arriscar ou das consequências pois é melhor se arrepender do que fez do que nunca tentar. Boa sorte para os dois. (Respondeu a mesma)
—Obrigado. A admiramos por fazer parte do grupo dos justiceiros, seres lendários do nordeste e meditaremos nas suas orientações. Muito obrigado por tudo. (Eu, o vidente)
—Faço das minhas palavras as suas. (Renato)
—Tudo bem. Podem ir. Continuem andando na direção sudoeste. O desafio se apresentará para vocês. Eu vou ficar um pouco mais conversando com minha amiga Marcela. Encontramo-nos em casa, mais tarde. (Angel)
Obedecemos ao mestre, nos despedimos da nossa nova amiga e saímos da sua casa. Já fora, pegamos a mesma trilha novamente. O que aconteceria? Continue acompanhando, leitor.
Entendimento