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A Cidade Sinistra
As atividades secretas do rei sob o castelo não eram testemunhadas por nenhum mortal, mas a antiga divindade de Himaera, Valsana, não tinha tais restrições. A deusa da vida e morte reinava separada e suprema acima de todos os deuses do Vinculado e Desvinculado, muito antes dos dias iluminados da Díade.
Valsana via as ações do rei como um desejo por governar além da sua posição e ela o considerou culpado por alcançar a divindade. Sua vingança caiu sobre os ombros não somente de Mallak, mas de todos que moravam dentro das muralhas da cidade.
Ela convocou os habitantes dos jardins funerários dos seus lugares de descanso. Os ancestrais invadiram a cidade e destruíram seus descendentes, que estavam muito aterrorizados para revidar. Logo, cada homem, mulher e criança dentro da cidade se juntaram as suas fileiras medonhas.
Quando o rei viu sua cidade cair no caos, ele ordenou ao último dos seus guardiões para barrar por dentro as portas do castelo. Naquela primeira noite, os gemidos dos mortos cercavam o castelo, o coração de uma criada idosa cedeu ao horror. Ela passou silenciosamente para a morte e levantou-se da mesma maneira silenciosa. Um por um, cada um dos criados do rei sucumbiu ao inevitável, seguido por sua família e finalmente seus guardiões até que permaneceu somente Mallak. Para os vivos, o castelo era seu santuário final. Para os mortos inquietos, era uma sepultura eterna.
Mallak trancou-se na sala do trono e sentou-se no assento adornado com joias, ouvindo seus súditos e familiares mortos enquanto eles arranhavam as portas. Após um tempo, eles foram embora e ele foi deixado sozinho. Havia uma mesa com um banquete modesto na sala do trono, mas a comida estava estragada e o vinho transformou-se em vinagre e o rei conheceu o desespero ao perceber as profundezas da maldição da deusa.
Dias se passaram e, sem comida comestível nem água para sustentá-lo, Mallak ficou fraco. Ele começou a comer a fruta podre e beber o vinho estragado, mas seu estômago não aguentou nenhum dos dois e ele vomitou.
O tempo perdeu significado na sala do trono sem janelas, marcado apenas pelo sono agitado no chão frio de pedra. Sedento e morrendo de fome, Mallak difamava o nome da deusa pelo que ela havia causado a ele.
Cedendo cada vez mais ao delírio, o rei compreendeu o erro dos seus modos. Tudo que ele queria era proteger sua cidade e seu povo do veneno dos outros reinos, mas esta proteção sufocou todos. Os Reinos Himaeranianos não estavam repletos de inimigos de Lachyla. As criaturas vagando pelas ruas e pelos corredores do castelo não eram os verdadeiros monstros. O verdadeiro monstro, ele sabia, havia se trancado na sala do trono.
“Valsana tenha misericórdia,” Mallak sussurrou, sua voz pouco mais do que um coaxar seco. Mas nenhuma misericórdia veio. Ele meditava no trono, drenado até mesmo do desespero. Enquanto os murmúrios dos mortos o atormentavam, Rei Mallak Ammenfar partiu desta vida para a próxima.
A deusa concedeu aquilo que o rei tanto desejava. Seu presente para ele foi o domínio completo de Lachyla, nem mesmo a finalidade da morte poderia usurpá-lo – porque o único governante verdadeiro da eternidade… é a própria morte.
“Precisamos de abrigo,” Jalis disse por baixo do capuz, trazendo Oriken de volta ao presente. “As nuvens estão escurecendo e a chuva está piorando.”
“Se meus olhos não me enganam,” Dagra disse, “este abrigo pode estar no horizonte.” Ele apontou para a paisagem nublada.
Oriken podia ver apenas as formas de várias estruturas pequenas no meio do manto de chuva. “Bem, vou ser amaldiçoado.”
“Aye,” Dagra bufou. “Provavelmente.”
Enquanto eles aceleravam o ritmo, Jalis disse, “Pelo menos, sem bosques por perto, não haverá cravantes desta vez.”
Dagra grunhiu sua concordância. “Mas não vamos ser complacentes. Não há como dizer que outras surpresas as Terras Mortas poderiam ter reservado para nós.”
O estômago de Oriken roncou. Um teto e um descanso por um tempo seriam agradáveis neste momento, mas iria preferir um coelho assado. Não tinha visto um almoço em potencial o dia inteiro. Quando eles se aproximaram dos prédios, suas esperanças se dissolveram. As três cabanas de madeira estavam em estados avançados de desmoronamento e várias estruturas menores eram pouco mais do que pilhas de madeira apodrecida. Telhados tinham caído parcialmente, as portas estavam faltando ou estavam semiafundadas no chão e os interiores estavam cobertos de vegetação e água.
Oriken desembainhou seu sabre e caminhou até a cabana mais distante, deixando Dagra e Jalis para inspecionar os prédios mais próximos. Uma breve busca confirmou que realmente não era nenhum abrigo nem havia algo que valesse a pena salvar dos restos da mobília devorada pelos vermes. Ele deu um passo para o lado desmoronado da cabana, serpenteando entre os escombros cobertos de musgo. Atrás do prédio, várias árvores baixas e espinhosas se aninhavam ao abrigo de um outeiro; atrás delas, as tábuas deformadas de uma abertura feito pelo homem estavam apoiadas obliquamente no lado da colina.
“Há uma mina aqui atrás!” ele gritou por cima do ombro.
Jalis apareceu um instante depois. “Tenha cuidado.”
Oriken correu para a entrada da mina e deu uma olhada no interior. Com um encolher de ombros, ele atravessou a soleira. O primeiro conjunto de vigas de sustentação estava visível a uma curta distância; além disso, o resto do túnel se estendia na escuridão. Ele deu mais alguns passos e parou para passar os dedos na terra. Satisfeito que estava seca, ele jogou a mochila no chão e colocou o cinturão do sabre sobre ela, depois sentou-se apoiado na parede do túnel.
Jalis correu para a entrada e empurrou o capuz para trás com um suspiro. Um instante depois Dagra entrou atrás dela, sacudindo a água da sua capa. Na charneca, o vento soprava e a chuva caía com um novo fervor.
Uma vez livre do seu equipamento, Jalis sentou-se com as pernas cruzadas ao lado de Oriken. “Assim que aliviar, vamos sair de novo.”
“Onde quer que haja uma mina, normalmente há um assentamento nas proximidades,” Oriken disse.
Dagra emitiu um grunhido evasivo. “Qualquer assentamento estará em condições tão ruins quanto aquelas cabanas de trabalhadores lá fora. As casas da periferia não estavam vazias por mais do que algumas décadas, mas esta mina foi abandonada há, pelo menos, uma centena de anos.”
“Ele está certo,” Jalis disse. “Não faz sentindo em ficar animado. Além disso, o bosque por aqui é muito mais esparso; se permanecer assim, não vamos esbarrar com mais nenhum cravante.”
“Aye, bem,” Dagra murmurou enquanto passava. “Sem mais surpresas. Isto está bem para mim.” Ele largou seu equipamento contra a parede e agachou-se ao lado dele, colocando seu gládio sobre o colo.
Oriken olhou além de Jalis para admirar os prédios quebrados. Ele se perguntava como eram os mineiros naquela época e se eles eram parecidos com seu pai. Estufando as bochechas, ele olhou na direção oposta da escuridão intensa do túnel. “Ei, espere,” ele murmurou. “Aquilo é… Dag, cuidado!”
Um vulto correu direto para Dagra. Ele estava em pé em um piscar de olhos para encontrar o agressor de cabeça erguida, balançando sua espada no vulto escuro. Com um grunhido, o agressor passou as mãos ao redor do pescoço de Dagra e ele empurrou o gládio de lâmina larga através da barriga do agressor, empurrando-o mais alto no peito. As mãos ao redor do pescoço de Dagra afrouxaram e seu agressor caiu em cima dele. Ele arrancou a espada do corpo e o agressor caiu ao chão. Tudo tinha acontecido em segundos, mas Oriken e Jalis tinham suas armas sacadas e prontas para atacar a partir do túnel. O momento se prolongou, mas nada veio. Oriken olhou para Dagra, cujos olhos estavam fixos no corpo aos seus pés.
Oriken olhou para baixo. “Merda,” ele disse enquanto olhava para a pele suja, coberta de machucados, o cabelo comprido e emaranhado e a barba desgrenhada de um homem nu.
Dagra gemeu, caminhou até a entrada e ficou olhando para a chuva.
“Um eremita?” Jalis ponderou. “Ou há mais no interior da mina?”
“Um idiota, de qualquer maneira,” Oriken disse. “O que ele estava pensando?”
“Invadimos sua casa.” Dagra mantinha suas costas para eles. “Ele estava somente se protegendo.”
Jalis balançou a cabeça. “Não representávamos nenhuma ameaça para ele,” ela disse a Dagra.
“Deveríamos queimá-lo.”
Oriken jogou as mãos para cima. “Ótima ideia. Vou sair e pegar um pouco de madeira seca para uma fogueira. Há tantas árvores por aqui e realmente não está chovendo pesado.”
“Ok, tudo bem!” Dagra virou-se para encará-los. “Vamos pelo menos arrastá-lo mais para dentro, se vamos ficar por um tempo.”
“Isso eu posso fazer,” Oriken disse, tentando sem sucesso evitar a dureza na sua voz.
Dagra olhou para ele e após um momento deu um breve aceno de cabeça.
Oriken agarrou os pulsos do eremita e arrastou o corpo para o túnel, mantendo seus sentidos em alerta para mais perigo. A escuridão era completa, mas ele conhecia bem as entradas de minas. Quinze metros adiante, o túnel se dobrava e ele largou o cadáver no canto. Por um minuto inteiro, ele ficou parado e olhou para a escuridão enquanto pensamentos sem forma empurravam o limite das suas emoções.
“Orik!” A voz de Jalis soou no túnel. “Você está bem?”
“É claro,” ele disse. Ele deu à escuridão um olhar sombrio, em seguida virou-se para se juntar aos seus amigos.
“Você não precisava ir tão longe,” Dagra disse quando Oriken se aproximou da entrada.
“Não fui longe. Estava apenas pensando.”
“Você realmente escolhe seus lugares para introspecção,” Jalis disse. “Em uma mina abandonada, no escuro, perto de um cadáver.”
“Um pouco de respeito, por favor, garota,” Dagra disse. “Aquela era uma pessoa viva há poucos minutos.”
“Ele nos atacou,” Jalis disse, “não o contrário. Você se defendeu. Você não tem nada para se sentir mal sobre isso.”
“Não precisava matá-lo.”
“Não, mas você não tinha como saber quão perigoso ele era nem que ele era um homem até que fosse tarde demais. Não se critique por causa disso. Ainda temos um longo caminho a percorrer e precisamos nos manter tão afiados quanto nossas espadas.”
Dagra resmungou um reconhecimento sem palavras. “Gostaria que esta maldita chuva diminuísse para que pudéssemos seguir em frente.”
Jalis sorriu. “Este é o espírito.”
Oriken deixou-se cair para sentar-se encostado na parede.
Jalis sentou-se de pernas cruzadas ao lado dele. “Algo aconteceu?”
“Não.”
Ela estudou seu rosto. “Lembre-se que é comigo com quem você está falando. Consigo ver sua alma.”
Ele bufou. “Não tenho uma destas.”
Dagra veio se juntar a eles. “Você não precisa seguir a Díade para ter uma alma,” ele disse. “Todo mundo tem uma. Até mesmo você.”
“Sim, certo.” Oriken voltou seus olhos para a escuridão.
“Sim, certo,” Dagra insistiu.
“Não acredito em nenhum dos seus deuses, Dag. Você sabe disso. Nem na Díade. Nem no Vinculado. Nenhum deles.”
“Bem, talvez eles acreditem em você.”
“Pelo amor de Deus!” Oriken levantou-se e olhou com cara feia para seu amigo. “Você não pode deixar isso em paz, só para variar?”
Jalis levantou-se e ficou entre eles. “Não sei como vocês conseguiram permanecer amigos por todos estes anos,” ela disse, passando um olhar severo de um para o outro.
Dagra acenou uma mão com desdém. “Nem eu.”
“Eu sei,” Oriken disse. “Eu devo...” Ele reprimiu o resto das palavras e pressionou os lábios com firmeza.
Dagra virou a cabeça lentamente. Seus olhos se levantaram para prender Oriken com um olhar sinistro. “Não pare aí,” ele disse com calma. “Você ainda acredita que me deve? O que eu fiz por você, eu fiz tarde demais. Eu tive uma chance mais cedo e não aproveitei. Você não me deve nada.”
Idiota! Oriken repreendeu a si mesmo. Você não podia manter a boca fechada. “Dag, olhe, sinto muito. Não pretendia...”
“Você não pretendia,” Dagra sorriu com desdém. “Você não pensou. Este é o seu problema, Oriken. Você nunca pensa.” Com um suspiro, ele sentou-se de novo.
Oriken olhou para ele, mas Dagra não disse mais nada e manteve os olhos na parede oposta, os dedos sobre o pingente ao redor do seu pescoço. Quando Oriken virou-se para Jalis, ela estava olhando para ele serenamente. Contendo o desejo de acender um rolo de tobah, ele balançou a cabeça e vagou para a escuridão. As coisas não tinham sido tão ruins entre ele e Dagra por muito tempo. O lugar estava afetando ambos.
Capítulo Quatro
Pedras Dos Tempos Passados
“O que vocês, meninas, vão fazer hoje?”
Eriqwyn abafou um suspiro e colocou o resto do seu caldo na boca para evitar dar uma resposta irreverente para sua mãe.
No outro lado da mesa, sua irmã trocou um olhar com Eriqwyn. “Espero que seja um dia como qualquer outro,” Adri disse. “Estamos felizes em ter você se juntando a nós para o café da manhã, Mãe. Você dormiu bem?”
A mãe delas deu a Adri o mais breve dos acenos de cabeça, em seguida seus olhos ficaram vidrados e ela olhou para sua comida.
“De volta ao seu próprio mundo,” Eriqwyn murmurou.
Adri pigarreou. Como os jovens caçadores estão se saindo com o treinamento?”
“A maioria está demonstrando ser promissor, mas eles ainda têm um longo caminho a percorrer e não serão caçadores até que eu os aceite como tal.”
Adri lançou um olhar inexpressivo para ela. “Isso, irmã, é um entendimento que não plana acima de mim como líder desta comunidade.”
Eriqwyn inclinou a cabeça em deferência. “É claro. Mas me diga uma coisa, Adri. Como Primeira Guardiã, aceitar os aprendizes é minha responsabilidade, mas por que, na charneca verde da deusa, você insistiu em apresentar Demelza?”
“Ah, sim. Demelza.” Adri deu um sorriso tenso. “Sua antipatia pela garota é bastante evidente e sei que do contrário você não a teria aceitado. Admito que há algo sobre ela que também me preocupa, mas ela é inofensiva e acredito que ela tem potencial.”
“Você e Wayland veem algo nela que eu não,” Eriqwyn disse. “Seu progresso é lento e sua atenção é quase inexistente.”
Adri colocou a colher na tigela vazia. “Isso não significa que ela não possa aprender. Ela mora sozinha, Eri. Ela provou ser autossuficiente desde que a velha Ina morreu. Eu a vi retornar para a vila com coelhos, faisões, cestas de caranguejos. Uma vez eu a vi arrastando um nargute adulto até seu barracão.”
“Bem, não sei como ela conseguiu pegá-los sem redes ou armadilhas ou uma flecha bem direcionada. Do que ela parece ser capaz não combina com suas habilidades observadas. Não acredito que ela tenha o que é preciso.” Eriqwyn deu de ombro. “Não importa. Wayland está responsável pela garota. Se alguém pode transformá-la em uma caçadora, é ele. Ele gosta de Demelza e sua paciência é ímpar.”
“Wayland é um Guardião forte. Assim como Linisa.” Adri levantou-se da sua cadeira e esticou o braço sobre a mesa para pegar a tigela de Eriqwyn. “Vocês três podem ser a equipe mais capaz de Guardiões que esta vila já conheceu. Minnow’s Beck está realmente bem protegida.”
“É bom você dizer isso, irmã.” Mas protegida contra o quê? Quando Adri deixou a sala, Eriqwyn se levantou do seu assento e olhou para a mãe delas. “Vou sair para colher flores agora, Mamãe,” ela disse, odiando-se um pouco por saber que suas palavras foram ditas com menos gentileza e mais com zombaria.
Sua mãe olhou para cima e encontrou seu olhar. Apesar do passar dos anos trancada dentro das suas lembranças, só por um momento seus olhos mostraram o fantasma da mulher que ela tinha sido outrora. “Tudo bem, querida,” ela disse, com um leve sorriso. “Divirta-se.”
Diversão. Eriqwyn ponderou a palavra enquanto saía da sala. Como se vida ainda fosse sobre pular corda e colher flores. Eu cresci, Mãe. Assim como Adri. Mal nos lembramos mais do que é diversão.
Um murmúrio de vozes flutuou das portas abertas enquanto Eriqwyn caminhava pela Fileira dos Santuários Caídos, seu arco sem corda na mão. Calor e o cheiro de aço enchiam o ar quando ela passou pela frente aberta do ferreiro. Tan, o mais novo dos dois ferreiros, desviou o olhar do seu trabalho e levantou uma mão em saudação. Sem interromper o passo, Eriqwyn reconheceu o gesto com um breve aceno de cabeça e continuou seguindo pela rua.
Quando alcançou a extremidade sul da vila, uma figura saiu de trás da última casa. Eriqwyn cerrou os dentes quando reconheceu Shade. O cabelo escuro e brilhante da mulher caía sobre seus ombros e o material transparente da saia comprida e faixas que cruzavam sobre seus seios se agarravam a sua figura na brisa quente.
Shade parou ao lado de uma viga de madeira e levantou a mão para acariciar a madeira lisa. “Olá, Eri,” ela ronronou. Seus olhos castanhos brilhavam ao sol da manhã.
Eriqwyn fez um movimento para passar por ela, mas parou quando Shade tocou seu ombro. “O que você quer?” Eriqwyn disse bruscamente.
Shade sorriu. “Tanta hostilidade. Você sabe que eu gosto disso em uma mulher. Faz um tempo que eu não te vejo, Eri. Você tem se escondido de mim?”
“Não preciso me esconder de você,” Eriqwyn disse acidamente. “E não me chame de Eri. Você e eu não somos próximas.”
“É uma grande pena.” A voz de Shade exalava sensualidade tanto quanto sua aparência. “Então como você quer que eu te chame? Primeira Guardiã?”
“Isso seria aceitável.”
“Tantas formalidades,” Shade repreendeu. “Pensei que estávamos muito além disso. Com os lugares que você e eu estivemos, eu diria que estamos mais … intimamente ligadas do que a maioria em Minnow’s Beck.” Seus olhos percorreram o corpo de Eriqwyn.
Eriqwyn olhou ao logo da rua para garantir que não houvesse bisbilhoteiros. “Não há nenhuma intimidade entre você e eu,” ela disse enfaticamente. “Se algum dia houve, foi há muito tempo. Eu te conheço pelo que você é, Shade. Você é uma pedra preciosa... bonita, mas fria.”
Shade aproximou-se mais um passo, parecendo deslizar pela curta distância entre elas. Seus dedos percorreram o ombro nu de Eriqwyn até o braço. “Eu pareço fria?” Ela se aproximou ainda mais. “Ou eu pareço quente? Você se lembra daquele calor, Eri? Em algum momento, você deveria vir me visitar, eu lembraria a você quão agradável eu sou aos olhos e ao toque.”
Com um suspiro de frustração, Eriqwyn franziu o cenho e afastou a mão de Shade do seu braço. “Você vai se dirigir a mim com o respeito da minha posição.”
“Oh,” Shade ronronou com um sorriso irresistível, “mas eu respeito sua posição.” A ponta da sua língua serpenteou entre os dentes. “Cada uma delas.”
Eriqwyn abriu caminho e se afastou.
“Te vejo em breve!” Shade gritou atrás dela.
Dagra agarrou seu pingente Avato e sussurrou uma oração para a Díade e seus profetas enquanto se arrastava pela grama baixa, ainda úmida do aguaceiro do dia anterior. Para o oeste, uma cadeia de colinas varria ao longo do horizonte, a mais leve visão do oceano pairando sobre seus picos. Para o leste, bambus e capim se projetavam do pântano carregado de neblina como campanários de templos minúsculos, enquanto globos fantasmagóricos de fogo-de-fada flutuavam serenamente acima da mortalha branca.
Eles haviam seguido o pântano durante o resto do dia anterior e quando o pântano finalmente deu lugar a terras mais firmes ao sul, Jalis mandou parar para a noite e eles dormiram sob as estrelas. Desde o amanhecer eles mantiveram um ritmo constante, esperando que o vasto pântano finalmente acabasse para que eles pudessem se dirigir para o interior e voltar para a Estrada do Reino. À medida que a primeira hora da manhã se estendia para a segunda e terceira, Dagra sentia cada vez mais como se uma presença esmagadora preenchesse a charneca.
Não era o espaço aberto que o enervava nem o potencial de qualquer perigo físico; ele era um freeblade, afinal de contas e se as coisas ficassem muito difíceis, eles sempre poderiam voltar. O que o perturbava era a atmosfera ímpia que começou quando eles entraram nas Terras Mortas e que somente tinha piorado desde então. Ele mal podia sentir a presença da Díade tão no coração da Colina Scapa. Sua única esperança era que Aveia ainda ouvisse suas orações e que sua contraparte Svey’Drommelach também ouvisse do Reino dos Espíritos; era desconcertante e – Dagra admitiu de má vontade – irônico que suas esperanças quase superassem suas orações neste lugar onde a Díade nunca reinou, este lugar que era o domínio de uma deusa primitiva e há muito desmoralizada.
“Antes da Insurreição,” Dagra disse, mais para si mesmo do que para os outros, “eles não queimavam seus mortos. Apenas os enterravam e os deixavam no chão para supurar e apodrecer.” Ele estremeceu. “Prática ímpia.”
“Era a mesma coisa no Arkh antes do surgimento da Díade,” Jalis disse. “Alguns lugares enterram seus mortos sem cremação ... nas áreas remotas onde eles ainda veneram o Vinculado e o Desvinculado em vez da Díade.”
“De qualquer maneira nunca me importei muito,” Oriken comentou. “O que importa o que acontece com você quando você morre?”
“Os mortos deveriam ser queimados e suas cinzas espalhadas ao vento,” Dagra insistiu. “Deixar os ossos para afundarem na lama, mas deixar o espírito voar livre.” Balbuciando uma adição silenciosa à sua oração, ele soltou seu pendente e olhou além de Jalis para as terras altas ao oeste. Naquele momento, o canto superior de uma estrutura de pedra quadrada tornou-se visível entre as colinas distantes.
Jalis também havia percebido isso. Ela parou e tirou sua mochila. “Aquilo é um castelo?”
“Duvido,” Oriken disse. “Muito pequeno.”
“É maior do que aquela fortaleza circular nos arredores.” Dagra franziu o cenho para o bloco cinza feio que era tão alto quanto largo. “Sem janelas no andar inferior. Quem iria querer viver em um lugar assim?”
“Não creio que foi construído para conforto,” Oriken disse. “Muito provavelmente é um forte antigo.”
“Hm.” Jalis tinha o mapa na sua mão e cutucou um dedo sobre ele. “Está aqui. Caer Valekha.” Ela olhou ao redor do mapa. “Isso significa que estamos um aquém do meio do caminho até Lachyla.”
“Quase além do ponto sem retorno,” Dagra murmurou. “Quando o destino está mais próximo, a rota sensata é para frente.”
Oriken arqueou uma sobrancelha. “Ouço um surto de entusiasmo?”
Dagra bufou. “Mais como determinação.”
“Esperem.” Jalis olhou para a fortaleza enquanto guardava o mapa e pendurava a mochila sobre o ombro. “Creio que vi movimento.”
“Você viu,” Dagra disse enquanto caminhava a passos largos ao longo do pântano. “É o rastro de poeira atrás de mim enquanto eu me apresso para deixar este lugar.”
“Dag está certo,” Oriken disse enquanto eles corriam para alcançá-lo. “Não há como dizer o que há lá, mas não é nosso objetivo e não estou curioso o suficiente depois dos cravantes e do eremita.”
Jalis assentiu. “Concordo.”
Após colocar uma distância entre eles e a fortaleza, Dagra lançou um olhar cauteloso por cima do ombro para o prédio. Caer Valekha. Por que os lugares precisavam ter nomes tão sombrios naquela época? Enquanto seguiam em frente, a fortaleza encolhia atrás das colinas, além do qual uma faixa brilhante coroava o horizonte – o sol da manhã cintilando da costa. “Faz muito tempo desde a última vez que eu vi o Oceano Echilan,” ele disse melancolicamente.
“Sim.” Oriken suspirou, depois deu uma gargalhada. “Lembra quando fomos até o Monte Sentinela?”
Dagra assentiu. “Escalando suas colinas para ver até onde poderíamos atravessar a água.”
“Não poderíamos escalar mais alto.”
“E havia de tudo lá fora, menos ondas espumantes.”
Oriken riu. “Verdade. Foi um final muito decepcionante para uma aventura divertida. Seus avós ficaram doentes de preocupação.”
“Eles não me deixaram sair da sua vista por semanas. Sim, eu me lembro.”
“Cavalheiros, odeio interromper a nostalgia, mas parece que estamos ficando sem terra seca novamente.”
Dagra olhou para frente e viu que ela estava certa. Sua determinação vacilou. Embora a neblina do pântano estivesse limpando, os sinais reveladores de um terreno infestado de pântanos espalhavam-se não somente à esquerda deles, mas agora também à frente deles, bloqueando o caminho. A meio quilômetro de distância, uma faixa verde escura de coníferas marcava o retorno de terra firme. “Se continuarmos em direção ao oeste, os pântanos poderiam diminuir mais perto da costa.”