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De repente, coisas estranhas aconteceram na mente dela. Longas séries de números surgiram e mesmo que parecessem sem sentido, de alguma forma ela sabia que eles significavam coisas diferentes, como resistência, capacitância, indutância. E havia miríades de linhas - retas, em ziguezague, rabiscos. E fórmulas...
— Leia MLSA 5400, Melissa.
E de repente, Melissa se viu. Foi a coisa mais assustadora que ela já tinha experienciado, bem mais que os horríveis pesadelos.
— Veja seção 4C-79A.
Melissa não conseguia se controlar. Ela tinha que olhar. Para a menina, não parecia muito diferente do resto de si mesma. Mas era diferente, ela sabia. Bem diferente. Na verdade, não parecia ser de maneira alguma uma parte natural dela, mas sim como uma bengala usada por aleijados.
A voz do Dr. Ed estava tensa. — Analise essa seção e relate sobre a mudança ideal para redução máxima de escoamento de dados.
Melissa deu o melhor de si para cumprir a ordem, mas ela não podia. Algo estava faltando, algo que ela precisava saber antes de poder fazer o que o Dr. Ed tinha pedido. Ela queria chorar. — Não posso, Dr. Ed! Eu não posso, não posso!
— Eu te disse que não iria funcionar — Dr. Paul disse lentamente. — Teremos que ligar a memória completa para análise completa.
— Mas ela não está pronta — Dr. Ed protestou. — Isso poderia matá-la.
— Talvez, Ed. Mas se isso acontecer... bem, pelo menos saberemos como fazer melhor da próxima vez. Melissa!
— Sim, Dr. Paul?
— Prepare-se, Melissa. Isso vai doer.
E, sem mais avisos além desse, o mundo atingiu Melissa. Números, intermináveis fluxos de números - números complexos, números reais, números inteiros, subscritos, expoentes. E havia batalhas, guerras mais terríveis e sangrentas que aquela que ela tinha sonhado, e listas de casualidades que eram mais reais para ela porque ela sabia tudo sobre todos os nomes - altura, peso, cor do cabelo, cor dos olhos, estado civil, número de dependentes... a lista continuava. E havia as estatísticas - salário médio dos motoristas de Ohio, número de mortes devido ao câncer nos Estados Unidos de 1965 a 1971, rendimento médio do trigo por tonelada de fertilizante aplicado...
Melissa estava se afogando em um mar de dados.
— Me ajude, Dr. Ed, Dr. Paul. Me ajudem!— Ela tentou gritar. Mas não podia se fazer ouvir. Outra pessoa estava falando. Um estranho que ela mão conhecia estava usando a voz e dizendo coisas sobre semicondutores e fatores de impedância.
E Melissa estava caindo mais e mais fundo, empurrada pelo exército implacável de informações.
Cinco minutos mais tarde, Dr. Edward Bloom abriu o interruptor e separou a memória principal da seção de personalidade. — Melissa, — ele disse suavemente — está tudo bem agora. Nós sabemos como a história vai acabar. Os cientistas pediram ao computador para se redesenhar e ele o fez. Não haverá mais pesadelos, Melissa. Só bons sonhos de agora em diante. Não é uma boa notícia?
Silêncio.
— Melissa?— A voz dele era alta e instável. — Você pode me ouvir, Melissa? Você está aí?
Mas já não havia qualquer espaço no MLSA 5400 para uma garotinha.
As Garotas do USSF 193
Esta história apareceu pela primeira vez em Se, dezembro de 1965.
Essa foi minha primeira vez. Por favor, seja gentil.
Sen. McDermott: Agora, Sr. Hawkins, eu quero que você perceba que esta audiência privada não é um julgamento, nem que você esteja sendo acusado de qualquer crime.
Sr. Hawkins: É por isso que você recomendou que eu trouxesse meu advogado?
Sen. McDermott: Eu só fiz essa recomendação porque alguns tópicos ou perguntas relativas a questões jurídicas podem ser trazidas à atenção do Comitê. O objetivo desta audiência é meramente investigar relatórios de um comportamento um pouco ortodoxo...
Sr. Hawkins: Ha!
Sen. McDermott: ... em relação aos satélites orbitais USSF de números um oitenta e sete e um noventa e três. Eu apreciaria sua franqueza sobre o assunto.
Sr. Hawkins: Deixe-me assegurá-lo, Senador, que não tenho intenção nenhuma de que seja um segredo, nem que nunca fosse. No entanto, como Diretor da Agência Espacial Nacional, pareceu-me melhor que determinadas informações sobre essas duas estações espaciais fossem colocadas em uma lista de segurança para a segurança de todos os envolvidos.
Sen. McDermott: Falou como um político - você perdeu sua vocação, Sr. Hawkins. Mas me diga, toda essa bagunça foi ideia sua desde o início, não foi?
Sr. Hawkins: Sim, foi.
Sen. McDermott: E quando a ideia surgiu para você?
Sr. Hawkins: Cerca de um ano atrás. Eu estava fazendo uma pesquisa...
- Trecho do registro oficial (não publicado)
Audiência de Investigação Especial do Senado
10 de outubro de 1996
***
O tipo de pesquisa que Jess Hawkins estava realizando quando a ideia veio a ele só pode ser especulada. No entanto, é um fato que o seu amigo, Bill Filmore, o visitou em seu escritório em 15 de setembro de 1995.
— Jess, — ele disse — eu te conheço há trinta e sete anos e quando você fica andando sorrindo como o gato de Cheshire, eu sei que você está escondendo algo. Esse sorriso mágico seu te denuncia. Como seu melhor amigo e membro do Conselho da Agência Espacial, acho que tenho o direito de saber o que está escondendo debaixo da manga.
Hawkins olhou para seu amigo. — Tudo bem, Bill, acho que posso confiar em você, mas, por favor, mantenha tudo isso estritamente confidencial. Acredito que encontrei uma maneira de estimular os músculos do coração dos nossos astronautas enquanto eles estão no USSF 187 por períodos prolongados.
— Por que você guardaria isso em segredo?
— Deixe-me continuar. Sabemos que, durante períodos prolongados de queda livre, o coração tende a relaxar porque não tem que trabalhar duro para bombear o sangue sob condições de imponderabilidade. Ao retornar à Terra, no entanto, os músculos do coração têm dificuldade em se reajustar à normalidade. Nós já tivemos três astronautas que sofreram ataques cardíacos, quando voltaram, e um deles foi quase fatal. O programa de calistenia que os médicos fizeram parece ter tido pouco efeito. Acho que chegou a hora de medidas drásticas.
— O que você propõe especificamente?
— Pense por um minuto. O que é que estimula o coração, literal e figurativamente, é desejável o suficiente para os homens usarem com frequência e é bom, além disso, para melhorar a moral a bordo do satélite?
— Nunca fui muito bom em enigmas, Jess.
— Tudo pode ser resumido em uma palavra habitual de quatro letras — Hawkins sorriu. — Sexo.
Filmore o encarou por um momento, em silêncio e, em seguida, disse: — Por Deus, Jess, eu acho que você está falando sério.
O sorriso temporariamente desapareceu do rosto de Hawkins. — Pode ter certeza que estou, Bill. Tivemos sorte até agora, mas haverá um astronauta morto em breve se não fizermos algo. Eu pensei muito sobre o assunto, e concluí que mandar garotas para o um oitenta e sete é a melhor solução.
— Mas no ponto de vista econômico --
— Por isso que só vou contratar garotas europeias - elas são mais baratas e de melhor qualidade. Já mandei meu ajudante, Wilbur Starling, para lá para recrutar algumas das melhores profissionais que falam inglês. E com o ar e água renováveis, concentrados de comida baratos, e os novos combustíveis atômicos, o valor para pôr elas lá em cima e mantê-las foi reduzido para um preço ridiculamente baixo.
— Mas ainda sim é uma quantia considerável. De onde você está tirando todo esse dinheiro?
— Ah, me apropriei do que tinha no fundo das Viúvas de Astronautas e Fundo dos Dependentes — Hawkins disse, o sorriso voltando para sua face. — Me parecia ser o lugar mais provável. Também tomei precauções, caso você esteja se perguntando, para manter este assunto em segredo. Como Diretor, eu tenho o poder de classificar tudo o que quiser. Nem mesmo o Presidente vai saber sobre isso.
— E o General Bullfat? Ele te odeia desde quando você foi nomeado para assumir a agência.
— Bill, você se preocupa demais. Bullfat tem que olhar no espelho todas as manhãs só para encontrar o nariz dele.
— Objeções práticas à parte, Jess, — Filmore disse desesperadamente — toda a ideia é imoral. Só não é o tipo de coisa que um executivo do governo deveria fazer.
— Isso é absolutamente irrelevante. A moral não importa quando há vidas de homens em jogo.
Filmore se levantou. — Jesse, se não posso te convencer a desistir dessa ideia ridícula, eu vou encontrar alguém que possa.
— Você não deduraria um amigo, deduraria?— Hawkins perguntou, decepcionado.
— É para seu próprio bem, Jess. — Ele se dirigiu à porta.
— É uma pena você e Sylvia — Hawkins disse calmamente.
Filmore parou. — O que tem eu e Sylvia?
— Acabando com um casamento depois de treze anos juntos.
— Sylvia e eu estamos muito felizes casados. Não temos nenhuma intenção de terminar.
— Quer dizer que você não disse a ela sobre a Glória ainda?
Filmore ficou um pouco pálido. — Você sabe que Glória foi só uma aventura, Jess. Você não ousaria --
— Dedurar um amigo? Claro que não, Bill. Bom, eu tenho esse hábito irritante de deixar escapar a coisa errada na hora errada. Mas seja como for, você não acha que devemos sentar e discutir a situação um pouco mais?
***
Enquanto estava se vestindo de novo, Wilbur Starling perguntou a ela: — Babette, posso ter uma conversa com você?
Babette olhou para seu relógio. — Você vai ter que pagar outrra horra — ela avisou.
— Seu pensamento é muito estreito — Starling disse. — Você tem a vida inteira pela frente. Ao invés de simplesmente se preocupar com a próxima hora, você deveria pensar em todas as horas que ainda lhe restam.
— Por favor. Elas são o suficiente uma de cada vez.
— Você não quer segurança quando estiver velha, uma boa casa--.
— Mon Dieu, outrra prroposta de casamento!
— Não, não, querida Babette, você não entende. Sabe, eu represento o Governo dos Estados Unidos --
— Eu conheço seu consulado muito bem — ela disse amavelmente.
— Não foi isso o que eu quis dizer. Meu governo está disposto a pagar por seus serviços em uma forma especial.
— O que devo fazer?
O rosto de Starling roseou um pouco. — Bem, a mesma coisa que você faz só que no espaço.
— Espaço?
— Sim. Como nos satélites, por todo o mundo, Shepard, Glenn, Hammond. — Ele fez pequenos movimentos circulatórios com os dedos.
— Ah, oui — disse Babette, compreendendo de repente. — Tipo voando.
— Sim, — Starling suspirou. — Voando e coisas assim. Você topa?
— Non.
— Por que não, Babette?
— É muito... muito perigoso. Eu não quero perder minha vida indo... para o espaço.
— Meu governo está disposto a te pagar — ele fez uma rápida estimativa mental — cinco vezes a taxa normal. Vai haver onze outras garotas subindo com você, então você não estará sozinha. Você só terá que trabalhar duas ou três horas por dia. E hoje em dia, não há perigo nenhum envolvido. Muitas mulheres foram para o espaço e retornaram em segurança; dizem que as condições lá no espaço são muito repousantes. E quando você se aposentar, nós vamos te dar uma casa e um fundo de pensões, para que você possa passar seus anos de declínio em conforto.
— Tudo isso só parra mim?
— Só para você.
Babette engoliu a seco e fechou os olhos. — Então de onde eu adquiri a impressão que os americanos são, como você disse, puritanos?
***
Sen. McDermott: E você diz que foi você mesmo que recrutou todas essas garotas?
Sr. Starling: Sim, senhor, foi.
Sen. McDermott: A maioria delas cooperou?
Sr. Starling: Esse é o trabalho delas, senhor.
Sen. McDermott: Quero dizer, quais foram as reações delas ante sua proposta incomum?
Sr. Starling: Bem, elas provavelmente já receberam um monte de propostas incomuns. Elas pareceram aceitar muito bem.
Sen. McDermott: Uma última pergunta, Sr. Starling. Como achou este trabalho?
Sr. Starling: Muito cansativo, senhor.
***
— Você deve estar muito cansado, Wilbur — Hawkins disse, mostrando seu sorriso infame. — Quantas garotas você diz que entrevistou?