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Storey
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Storey

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Rick estava com ele nessa noite e ainda conseguia ver o corpo no chão, outros elementos da equipa à volta, a olhar para ele, todos a pensar: Pobre filho da mãe, Storey, isto vai dar merda.

Independentemente de quanto se treinar, as coisas podem sempre correr mal.

Não importa. Pensou no que Thomas lhe dissera – Traz o Storey de volta, precisamos dele – era uma dos melhores, olho vivo, bons pulmões. Ir aonde Storey morava antigamente não levara a parte nenhuma, com exceção dum remoque da vizinha, aquela jovem de provocar suores que, pensava ele, sabia mais do que dizia. Provavelmente gostava de Storey. Era frequente as mulheres gostarem dele.

“Percebo por que razão te afastaste, precisavas de tempo, e essa merda toda. Mas estás a deitar fora coisas a mais. Devias recompor-te e voltar para aqui.”

“Eu demiti-me – já não te lembras?”

“Podes ser desdemitido.”

“O Thomas tem falado contigo? O encanto habitual em pessoa? Estou a vê-lo a querer que fales comigo para voltar porque não suporta fazê-lo ele pessoalmente.”

“Não interessa, pois não? Não tem a ver com ele.”

“Eu sei, estás a pensar em mim. Vocês aí são tão calorosos e fofos… Vai dormir abraçado a um ursinho de peluche.”

Kirkland estava a treinar o seu swing, a olhar para a sua extensão, segurando a sua última posição e inspecionando a inclinação do cotovelo, como se pertencesse a outra pessoa. Rick virou as costas e disse a Storey: “Então, se não voltas e não me dizes onde estás, porquê esta chamada? Se não te importas, tenho aqui um jovem à espera duma boa pancada. E não, não quero corrigir a frase.”

“Tu e a porra do teu golfe. Por acaso, podias ser-me útil.”

Aí está, pensou Rick. Nunca desligam, quando precisam de alguma coisa. Não conseguem tirar o sistema da cabeça – acesso a informação que não conseguem obter em mais parte nenhuma. Sabia que havia muitos homens que deixavam a polícia para ir para a segurança privada e depois faziam uma chamada, como quem não quer a coisa, só para saber como estamos, e podes arranjar-me um endereço… Normalmente dizia: “Não, não posso. Se querias esse tipo de acesso devias ter ficado na polícia.”

Mas provavelmente era melhor manter Storey do seu lado em vez de o chatear já. Se Thomas o queria de volta, tinha de continuar a falar com Storey até ceder alguma coisa e poder fazer a sua jogada.

“Queres usar-me e deitar-me fora como se fosse uma toalha suja” – disse.

“É isso mesmo.”

Então Rick ouviu Storey falar-lhe no pequeno grupo em que tropeçara, uma mulher chamada Araminta e um homem chamado Cliff. Por alguma razão envolvera-se com eles e agora estava a alinhar para descobrir o que andam a fazer. Não sabiam nada acerca dele, mas parecia que gostavam da maneira como se portava.

“Então que é que queres? Prisões? Cauções?” – perguntou Rick.

“Tudo. Conheço o Elliott porque já o conhecia da escola. Bem, via-o por aí. Quanto a esta Araminta, acho que é uma completa fraude. Era bom se de repente aparecesse relacionada com ele, mas duvido que apareça.”

“Devias entregar isso aos polícias locais. Para que diabo estás a envolver-te?”

“Dá-me algo para fazer. Além disso, sou um combatente contra o crime, não sou? Nascido para combater o crime.”

“Desaparece. Agora vou dar uma pancada para o buraco catorze, portanto, desampara-me a loja.”

“Vê lá se cais e te magoas.”

Rick cortou a ligação, virou-se e viu Kirkland a olhar para ele, levantando o sobrolho como que à espera de que lhe dissesse de quem era a chamada.

Esquece. Não precisava de saber de nada. Se ia violar a lei, dando informações a Storey, quanto menos pessoas soubessem, melhor.

CAPÍTULO DEZ

Viu-os antes mesmo de chegar à porta do bar – os três homens de Cliff estavam cá fora, dois deles a fumar, o terceiro, o que pensava que provavelmente era holandês, com uma imperial na mão. Merda. Estaria ela presa a ele? Não podia fazer nada sem que Cliff lá estivesse?

Olhou em redor. O Litten Tree era um bar-restaurante numa zona movimentada perto do centro, na rua que ia para a estação ferroviária e, finalmente, para Kenilworth. Conseguia ver através da porta dupla o grande televisor de parede, que devia ter dois metros ou mais de largura. O local parecia movimentado, embora a rua estivesse calma.

“Que diabo de coincidência voltar a encontrar os três” – disse ele.

Gary, o baixote com olhar intenso, apagou a beata com o pé. “Desbocado, como de costume. És sempre assim?”

“Tu fazes sobressair o melhor que há em mim. A Araminta está por aí?”

Gary olhou para Tarzan. “Que é que achas, Tarz? Viste-a?” Gostava de usar o grandalhão como seu ajudante nas piadas, pensou Paul, uma maneira de provocar os outros. Antes que Tarzan pudesse responder, continuou: “Tenho a certeza de que lhe teria sentido o cheiro. Borracho à procura de alguém debaixo de quem se rebolar como uma porra duma cadela com o cio. Tarz, viste alguém que corresponda a esta descrição?”

Tarzan puxou uma passa do seu cigarro e abanou a cabeça.

“Ultimamente, não. Nada de borrachos cheirosos por estas bandas.”

“Então, que se passa? Estão à espera de alguém? Sabem, alguém me disse há muito tempo que se visse três homens à porta dum bar, dois deles provavelmente eram gays e o outro, invejoso. Portanto, qual é o quê?”

Gary puxou as calças para cima pelo cinto, olhando em redor, a ver se estava alguém a observar, e Paul preparou-se para a eventualidade de vir aí um murro. Tarzan a deitar fora o cigarro, Paul a pensar que estavam a preparar-se, à procura duma oportunidade, quando o Holandês começou a rir-se.

“Levei-vos, os dois, aos arames” – disse ele. “O perito da provocação pregou-lhes uma partida.”

“Cala-te” – disse Gary, com Paul a vê-lo ficar vermelho. “Ao contrário do meu colega Tarzan, estou seguro da porra da minha masculinidade.”

“Sim, eu vi” – disse o Holandês. “Estava-se a ver na porra da tua cara.”

A porta do bar abriu-se e ali estava agora Cliff, atarracado e musculoso, sólido no seu espaço, começando Paul a ver melhor o poder que exercia sobre as pessoas. “Que merda de mariquice é esta?” – disse Cliff.

“Estávamos só...”

“Sim, sim, eu disse-lhes que me avisassem quando este idiota aparecesse.”

“O idiota sou eu?” – perguntou Paul.

“Achas que sim? Serve-te a carapuça e tudo. Anda, anda por aqui” –, pegando no braço de Paul e afastando-o da luz da porta, passando intencionalmente pela zona pedonal de Bull Yard em direção à passagem subterrânea que levava a um silo automóvel com vários andares.

Paul, libertando o braço, começou a perguntar a si mesmo aonde iam. Era ali que Cliff entrava, tentando convencê-lo a alinhar no golpe que estava a planear? Ou havia algo mais?

Pararam no meio da passagem subterrânea, à frente duma parede de azulejos pretos e brancos. Retesou os músculos e, depois, descontraiu-se. Concentrou-se. Sintonizou o ouvido, hipersensível agora ao barulho pés no asfalto, cinco homens a posicionarem-se, a leve brisa a vir da passagem subterrânea, o fedor a vir de meia dúzia de caixotes de lixo industriais azuis.

“Tenho de falar contigo acerca da Minty, como sabes, não sabes?” – disse Cliff.

“Ela está cá?”

“Não te preocupes. Que andas tu a fazer com aquela rapariga? Estás a ver se lhe dás uma? A uma rapariga com bom aspeto como ela? Pode ser uma vaca miserável a maior parte do tempo, mas sabe muito bem tratar dela, concedo.”

Paul inclinou-se para trás, abrindo distância entre ele e Cliff, e disse descontraidamente: “Qual é a vossa? Ela tem um namorado, não tem?”

“Conheceste-o, não conheceste? Ontem. Sei a história toda. Está muito aborrecida por teres falado com ele. Acha que estás a arruinar a sua vida amorosa. Devias perceber, companheiro, que uma pessoa não se mete entre uma rapariga e uma pila amigável. Percebes o que estou a dizer?”

Paul sentiu que, de repente, estava no meio dum círculo, tendo os outros mudado de posição.

“Que é isto?” – disse. Depois, entendeu acrescentar: “Estão a ameaçar-me?”

Cliff olhou para cada um dos seus homens antes de voltar a ele.

“Parece uma ameaça? Cinco sujeitos a conversarem numa túnel merdoso. Podíamos estar a falar de pesca, não podíamos? É uma coisa que nunca compreendi – porque é que chamam a isto ‘pesca recreativa’? Que é a porra dum recreio? Neste contexto, claro.”

“Que é que tens em curso com a Araminta e o David? É a história do cancro? Dar-lhe algum dinheiro enquanto se trata… Estou surpreendido por ele ter caído nessa.”

“O quê? Com a tua grande experiência de psicologia humana enquanto avaliador de seguros, é isso que queres dizer?”

“Entre outras coisas.”

Cliff acenou com a cabeça no escuro, como se soubesse que Paul ia dizer aquilo ou algo semelhante. “Está bem, eu sabia que não eras um miserável dum manga de alpaca. És demasiado agressivo. Que mais há? No teu passado?!”

Paul não disse nada, limitou-se a olhar para ele, deixando os olhos repousarem em cima do outro homem como um peso pesado.

“Aposto que estiveste no exército” – disse Cliff. “Toda essa merda das viagens… Aposto que fizeste uma missão na Irlanda, no Iraque ou noutro sítio qualquer, não fizeste?”

Paul continuava a olhá-lo em silêncio… deixa andar, não digas nada.

Então, Cliff pareceu fartar-se e disse: “Que se foda – não incomodes o David. É um bom homem e está a fazer um trabalho importante. Ao contrário de ti.”

“Se tu o dizes...”

“Ah! Agora já falas, não falas? Pensei que o gato te tinha comido a língua. Portanto, vais manter-te afastado dele, está bem?”

“Vou pensar nisso...”

Mais tarde, perguntou a si mesmo se Cliff fizera algum sinal em que não tivesse reparado ou se a altura já estava combinada… mas um golpe violento atingiu-o na nuca, fazendo-o cambalear, atirando-o para a frente, provavelmente uma pirueta dum dos compridos braços do Tarzan, e depois lá estava o Holandês com a sua cara, uma expressão estranha a aflorar-lhe ao rosto, Paul a dobrar-se quando um murro o atingiu no estômago e o fez expelir o ar dos pulmões. Estava à espera dalguma coisa vinda de Gary na fração de segundo seguinte, mas nada aconteceu.

Cliff estava, então, à sua frente; sentiu umas mãos a agarrarem-lhe os braços e a endireitá-lo, a chiadeira da sua respiração, a visão toldada e uma dor de cabeça a formar-se na parte de trás do crânio. Pensou que estava a ser inspecionado.

Voltou a inclinar-se para a frente e queria cuspir, mas não o fez. Agora, Cliff deixava-o em paz e dava-lhe palmadas nas costas, como se tivesse passado num teste. Paul disse para consigo que devia calar-se e apenas respirar fundo. A visão começava a clarear, embora pudesse facilmente vomitar.

Cliff voltou a aproximar-se e baixou a voz para lhe falar ao ouvido. “Entra quando estiveres em condições. Não há pressa. Não é nenhuma sangria desatada” – disse, baixinho.

Depois, Paul ouviu os homens afastarem-se, a conversar entre eles. Apoiou as mãos nos joelhos e sentiu bílis na garganta.

Estava satisfeito por terem tirado aquilo do caminho.

Quando chegou à porta sentia-se melhor e perguntava a si mesmo por que razão havia de voltar para dentro do bar. Queria uma bebida, mas não sabia até quando conseguiria aguentar Cliff e as suas rotinas pseudomafiosas. Mas também sabia que se se fosse já embora daria parte de fraco e, fosse qual fosse a relação que tinha com Cliff, não podia fazer isso.

Ali estavam eles, sentados junto da janela da frente, sem um pelo fora do sítio e com o cabelo penteado com brilhantina, todos com um aspeto sóbrio, exceção feita de Gary, que queria mostrar ser agora superior a Paul.

Limpou a cadeira e sentou-se em frente de Cliff, olhando-o nos olhos, e virou-se a seguir para Gary, que ainda estava com um meio sorriso para ele e os olhos brilhantes.

Com um movimento displicente, Paul derrubou a imperial de Gary, entornando-lha no colo, e, antes que Gary conseguisse recuar e pôr-se em pé, Paul agarrou-lhe o cabelo e empurrou-lhe a cara contra a mancha de cerveja, mantendo-o assim enquanto olhava de novo para Cliff, ignorando as tentativas de Gary para se libertar. Tarzan e o Holandês ficaram tensos, mas não fizeram nada.

Cliff não se movera. “O Gary nunca te tocou” – disse.

“A sério? Então, devia ter cuidado com as companhias.”

“Está a ficar molhado. Além disso, depois cheira mal.”

“De qualquer modo, precisava duma muda de roupa. Eu já estava a ficar farto daquele casaco.”

Paul afastou a cabeça de Gary, empurrando-a, e o homenzinho levantou-se, cerveja a pingar-lhe da cara, e deu um passo em frente.

Em voz baixa, Cliff disse: “Não faças isso. Aqui, não. Vai lavar a cara. Aprende a não te rires dos infortúnios dos outros.”

“Vou lixá-lo” – disse Gary, limpando o queixo. “Espera e vais ver se não o lixo. Quando ele menos esperar.”

Afastou-se, encaminhando-se para a casa de banho. O Holandês foi ao balcão, trouxe guardanapos e secou a mesa.

“Lembro-me de ti da escola” – disse Cliff –, “mas, na realidade, não me recordo. É como se soubesse de ti – jogaste râguebi, capitão da equipa de ténis. Não me lembro de te ver muito. Repara, eu não ia muito à escola. Meti-me sempre em sarilhos. A minha vida levou uma volta diferente da tua, não foi? Meti-me na droga e, depois, no pequeno crime para a pagar. A merda do costume. Consegui sair antes de entrar nas drogas duras. Desde então, vivo aqui. Peixe miúdo em lago pequeno. Olha lá, onde é que aprendeste isso?”

“Isso, o quê?”

“O Gary estava a tentar sair de debaixo de ti, mas tu mantiveste-o seguro só com uma mão. Na merda das Forças Especiais ou coisa parecida? Pontos de pressão, etc.?”

Paul disse para consigo que tivera sorte – estava sentado num ângulo em que conseguia pressionar a cabeça de Gary para baixo sem demasiado esforço. Também não estava completamente fora de forma, pelo que conseguia rodar o ombro e o cotovelo para manter o homem, mais baixo, pressionado.

“Apanhei uma ou duas coisas. Autodefesa. Os seguros podem ser um negócio sujo” – disse.

Cliff estava a olhar por cima do ombro.

“Lá vem o Gary. Já podemos ir-nos embora. Levanta-te.”

Paul pensou que estavam finalmente a chegar a algum lado quando saíram e Cliff o guiou até um grande furgão branco estacionado na rua, perto duma praça de táxis.

Cliff abriu a porta do condutor e subiu, enquanto o Holandês abriu uma porta de correr do lado do passageiro e disse a Paul que entrasse. Uma vez lá dentro, Paul procurou um lugar e reparou que o Tarzan entrara atrás dele e ocupara o lugar à sua frente, com as molas a rangerem quando o grandalhão se sentava. Perguntou a si mesmo se o Tarzan estaria a guardá-lo. O Holandês e Gary iam à frente com Cliff, que ligou o motor, meteu a primeira e partiu, afastando-se do centro.


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