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A Atriz
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A Atriz

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‘Dificilmente. Pelo menos você tem talento.’

‘Obrigada por notar. Podemos começar outra vez?’

Ela sabia que no final Eric era sempre pragmático. Ele tinha explosões de orgulho intolerante mas no final, ela era sua estrela ativa e ele não queria perdê-la se pudesse evitar. Ao longo dos dois últimos anos ele tinha concentrado cada vez mais sua atenção nela enquanto sua popularidade crescia, sendo que ele tinha deixado de lado alguns de seus fãs. A mãe de Mai tinha dito a ela que isso era um erro, porque ele deveria querer aumentar seu público, e não reduzi-lo por causa dela, mas ele provavelmente a enxergava como um ticket refeição – o primeiro que ele tinha tido em quase trinta anos de trabalho de representação.

Ele inflou suas bochechas e colocou suas mãos nos bolsos da sua calça de veludo cotelê. ‘Você é uma fulana pequena e cruel quando quer, não é? Gostaria de saber de onde você tirou isso – não foi da sua mãe, que era tão doce quanto uma torta de maçã da Bramley.’

‘Olhe, eu tenho que voltar agora. Ligue para mim amanhã e faremos uma reunião. Você pode chamar isso de uma reunião estratégica se você se sentir melhor assim. Agora dê-me um beijo e vá para casa.’

Ele deu um passo à frente e eles trocaram beijos dignos de Hollywood.

Ele disse, ‘Não vá fazer nada às pressas sem antes falar comigo. Tem certeza que quer fazer isso? Você sabe que isso é um vício, não sabe?’

‘Helena Cross não pode fazer nada para me prejudicar.’

Eric recuou. ‘Você nunca deveria dizer esse tipo de coisa. Ela é como uma bola de praia – você até pode tentar colocá-la em uma caixa, mas ela sempre salta para fora novamente.’

CAPÍTULO QUATRO

BILLIE PUXOU OS cães do local onde estavam farejando e depois os seguiu, segurando-os de volta enquanto eles a puxavam em direção ao bolo de casamento do Museu Nacional Marítimo, no centro do Parque Greenwich. Eles puxavam implacavelmente suas guias, tossindo de forma rouca, alegres por estarem indo a algum lugar, em qualquer lugar.

Ela achou que estavam animados para ver a Mai. Se ela conseguisse o papel de Deannah, isso seria um nível total de fama para ela. Seria comparado à Kristen Stewart ou àquela garota de Harry Potter, cujo nome ela não se lembrava. Seria um grande passo para sua carreira – estaria às portas de Hollywood. Ela provavelmente teria que contratar William Morris no lugar de Eric, mas isso seria uma grande perda. Ela seria capaz de comprar sua casa própria em Londres ao invés de ter que alugar.

Ela de repente percebeu que tinha muito que investir para que Mai ganhasse a enquete. Isso era imprescindível, uma obrigação. Ela já tinha escutado rumores de que a estúpida da Helena Cross estava liderando as pesquisas depois de apenas um dia. Mas isso era compreensível porque ela tinha recentemente participado como celebridade em uma maratona televisiva, dançando com cinco membros do parlamento em um evento beneficente. Quando souberem que Mai está pensando seriamente em concorrer para o papel, as pesquisas certamente mudarão, ela estava certa disso.

Billie via que a responsabilidade para o sucesso de Mai poderia estar sobre ela. Ela se sentia sempre responsável quando as pessoas não conseguiam viver de acordo com seu potencial. Era como se tranferisse um peso dos ombros para os dela – mas que ela poderia suportar. De fato, ela aceitou essa condição porque isso a permitia encontrar algum valor real em sua vida. Geralmente não havia nenhum reconhecimento ou recompensa pelo stress que ela impunha a si mesma, mas ela sabia que com o tempo as pessoas iriam reconhecer o sacrifício que ela fazia e iriam reconhecer seus dons. Era apenas uma questão de tempo.

Ela pensou em Mai por um momento, puxando os cães da estátua do Capitão Cook descendo a ladeira em direção ao centro do Greenwich. Ela estava trabalhando para Mai há um ano, desde que ela pegou os cães, e ela sabia que Mai levava a sério tudo o que ela tinha realizado como atriz. Ela desejava melhorar e ser a melhor atriz que ela poderia ser. Billie concordava com isso – era uma boa forma ética de trabalho para alguém tão jovem e inexperiente.

Por outro lado, desde que terminou com Dennis, Billie começou a ver que havia outras coisas mais importantes na vida do que o trabalho. Se vocês pensam que o trabalho é suficiente para satisfazê-los, vocês estão enganados. A vida não é um ensaio. Você faz o que pode para se satisfazer com isso e conseguir o que quer quando isso está ao seu alcance.

Mesmo que isso signifique ter que quebrar o galho para alcançar isso em primeiro lugar.

‘Assista ao filme comigo,’ Mai disse quando Billie entrou.

‘Ok. Você é quem manda.’

Billie estava secretamente emocionada pelo convite de Mai. No último ano, elas tinham assistido juntas à vários filmes e ela sempre gostava das explicações dadas por Mai sobre o que os atores estavam fazendo. Elas iriam praticamente assistir a um velho filme que já haviam assistido antes, para que elas pudessem se concentrar nas técnicas dos atores e na filmagem e não no enredo.

Ela acalmou os cães e se juntou a Mai na sala de estar. Ela tinha baixado um filme de Hitchcock e utilizou um cabo para conectar o laptop dela à TV, que estava sobre um suporte na parede. Billie a ajudou a mover o sofá para a frente da TV, e então elas desligaram as luzes da mesa, com exceção de uma.

Doris Day e James Stewart estrelaram O Homem Que Sabia Demais. A história começou em Marrakech, onde Stewart, um médico, está passando o feriado com sua esposa e seu jovem filho. Eles se envolvem com um homem francês que, deixa claro ser membro do serviço secreto francês, e é assassinado na frente deles em um Mercado em Marrakesh. Antes de morrer, ele conta um segredo para Stewart – um homem será assassinado em Londres. Stewart não conta a ninguém essa informação porque ele recebe um telefonema com uma ameaça de que seu filho estaria em perigo se ele contasse a alguém.

Toda essa trama levou-as a cerca de metade do filme. Mai estava tranquila, sentada sobre seus pés no sofá e enrolada em um roupão. Billie abriu uma garrafa de vinho branco sul-africano e estava pronta para servir. Ela inclinou-se para frente e pausou o filme no laptop.

‘Posso encher?’

Mai disse, ‘Doris Day está lá, não é a personagem, ela está realmente presente.’

‘O que quer dizer?’

‘Você pode vê-la ouvindo os outros atores, mesmo quando não aparece na tela. Quando eles aproximam a imagem o outro ator está lá com o texto, lendo-o. Doris não permite que isso mude o modo dela reagir. Os olhos dela estão se movimentando para cima e para baixo enquanto ela está observando a fala do personagem, olhando dos olhos à boca. Então quando ela sorri, ela realmente sorri. Não é um sorriso forçado – isso sobe para seus olhos também. E fica perfeitamente natural. Emma Thompson faz isso – dando a sensação de que há um ser humano lá, e não alguém atuando como um ser humano.’

‘Eu gosto do Jimmy Stewart – pela maneira como ele mudou de um Americano mediano de férias em uma terra estrangeira, para um homem com força de caráter e determinação.’

‘Ele também é inteligente. Ele sabe que isto está nos olhos. Essa parte agora quando ele abraça Doris para confortá-la e seu rosto está sobre o ombro dela ... viu o que ele fez com os olhos e com a boca? Os olhos para um lado procurando fugir, a boca levemente aberta, e então, um rápido olhar para Doris e desvia novamente – tudo aconteceu de uma forma rápida, porém perfeitamente controlada. Demonstrou medo, pânico e determinação.’

‘E ele também é engraçado.’

‘Aquela parte no restaurante marroquino, comendo o frango com as mãos. Ele é capaz de fazer graça e cinco minutos depois está totalmente sério, dando ordens aos policiais ao redor. Ele muda a sua linguagem corporal, movimentos mais angulares, mais diretos, mais verticais. Coloca hesitação na sua voz, fala mais lentamente.’

Billie se levantou e foi até a cozinha para encher seu copo de vinho. Ela gritou, ‘Quer uma xícara de chá ou alguma outra coisa?’

Mai disse que não queria nada e Billie entrou na sala de estar – a grande tela da TV tinha imagem de Doris Day e Jimmy Stewart congelada em um abraço apaixonado, e o rosto pálido de Mai virou-se para a tela de maneira suplicante, absorvendo todo o talento deles. Billie ficou parada por um instante na soleira da porta. Ela teve um repentino pensamento de que momentos como aqueles eram perfeitos ... e ao mesmo tempo sentiu medo. Sua vida era de uma dependência, como uma daquelas aves que viviam atrás dos elefantes e rinocerontes ... seria um pássaro secretário? Quando ela foi embora à noite, ele dirigiu de volta até um pequeno apartamento em Twickenham, que ficava em cima de uma agência de seguros. Ela subiu as escadas, tomando o cuidado com a saliência dos degraus que poderia rachar sua testa se não se desviasse ao subir, virou-se à esquerda no hall e abriu a terceira porta à direita. Uma cama, uma pia, uma janela guilhotina. Uma cadeira, uma cômoda, um guarda-roupas estreito. Era um quarto escuro nos fundos disfarçado de apartamento, com um acesso compartilhado a um banheiro. Era um inferno, mas o único inferno que ela podia pagar depois que se separou de Dennis. Ela estaria miserável e infeliz se tivesse que voltar à cidade de Bude, apesar do atrativo e revigorante ar do mar.

Então ela temia que tudo isso pudesse terminar – sua vida atual, a amizade e a proximidade. Tudo o que ela tinha era o inferno de Twickenham. Desde que terminou com Dennis ela se preocupava com o fato de nunca mais ter amigos novamente. Ela dizia para si mesma que era uma pessoa muito exigente e muito velha para mudar isso. Ela tinha medo que em algum momento, a domesticidade ao redor dela – entre seus clientes, sua família, seus amigos – pudessem frustrá-la para sempre. Ela dizia a todos que ela tinha um espírito livre, que não queria ser amarrada, que estava muito ocupada se divertindo ... mas as palavras tornavam-se cinzas na sua boca ao mesmo tempo em que as dizia.

Ela tinha percebido há algum tempo que ela tinha medo do compromisso com alguma linha de raciocínio ou algum modo de vida ... mas tinha igualmente medo da solidão que isso pudesse lhe causar.

Portanto, sua solução era a de ser amada. Certificar-se de que as pessoas gostassem dela e quisessem a sua companhia, sua amizade. Ela trabalharia para eles, por dinheiro, mas ela também poderia bajulá-los. Ela queria tornar-se insubstituível. Ela seria honesta, contanto que a honestidade não fosse dolorosa e convencional, enquanto não houvesse nenhuma crítica subentendida. Ela caminhava em uma linha tênue, para parecer prestativa e carinhosa mas ao mesmo tempo, era capaz de falar francamente quando necessário.

Mai disse, ‘Você está vindo? Eu quero ver se eles irão conseguir resgatar a criança.’

‘É Hollywood, é claro que irão resgatar a criança. E os bandidos serão punidos.’

‘Bem diferente da vida real,’ disse Mai de forma sarcástica.

Por muitas vezes Billie ficava pensando o que motivava Mai. Às vezes ela se comportava como uma criança que tinha sido mantida de castigo por um tempo, ansiosa para sair dos limites de ser Mai Rose. Outras vezes parecia passiva e observadora, como se fosse mais divertido olhar os outros lutarem com a vida e talvez falharem, do que ela própria se arriscar.

Talvez essa disputa pudesse esclarecer qual versão dela mesma fosse a real.

CAPÍTULO CINCO

O PERCURSO DE TÁXI até o clube onde a The Gastric Band iria se apresentar parecia interminável, como uma longa jornada em um sonho onde você nunca chega ao destino, embora esteja sempre à vista.

O taxista Addison Lee tinha passado para pegá-los primeiro, em seguida foi encontrar Stefan antes de começar a longa jornada pelo norte de Londres até Kentish Town e Hampstead, dirigindo agressivamente para além de Golders Green. Aqui há dragões, pensou Mai, enquanto o taxista seguia adiante. Atriz em ascensão foi encontrada abandonada em local ermo de Londres. Afirma que não havia nenhuma viva alma no local ...

Stefan disse, ‘Você precisa admirar a ousadia deles. Fazer todo este trajeto apenas para tocar algumas músicas.’

‘Eu não acho que a banda de Alfie sabe o que é uma melodia. Você sabia que o punk nunca morre? Apenas entra em coma e revive de vez em quando.’

Stefan deu uma olhada para ela. ‘O homem dos seus sonhos sabe o quanto você admira a carreira que ele escolheu?’

Mai não disse nada e continuou olhando para fora da janela. Ela tinha falado rapidamente com Alfie naquela manhã para perguntar o nome do local. Ela tinha sentido novamente uma certa tensão em sua voz. Ela estava disposta a acalmá-lo – afinal, era seu primeiro show com sua recém-lançada banda – mas ele parecia estar amargo sem motivo. Ela sabia que isso tinha a afetado em seu ensaio naquela tarde, embora Pedro parecia ter percebido seu mau humor e não a tinha pressionado. Ela imaginou se seus outros amigos tomavam cuidado para falar com ela quando ela estava de mau humor. Era ela temperamental? Ela assustava as pessoas? Ela lia biografias de showbiz para estar ciente dos perigos da auto-estima e da vaidade, e a última coisa que ela queria era afastar as pessoas. Ou assustá-las.

‘O que você está pensando?’ perguntou Stefan.

‘Eu deveria estar em casa decorando textos e descansando, e não indo para um local suado para destruir os meus tímpanos.’

‘São as coisas que fazemos por amor.’

Ela não virou sua cabeça mas levantou as sobrancelhas. ‘É claro que sim.’

Ela chegou aos bastidores. Foi conduzida para baixo em alguns corredores escuros, passando por assistentes de palco que carregavam guitarras e rolos de fitas adesivas, movendo-se orgulhosamente como se fossem integrantes da banda. O ar exalava eletricidade de alta voltagem em meio a cabos isolados.

Alfie, Joe e outros dois integrantes da banda estavam sentados em poltronas rasgadas em um camarim que nunca tinha visto dias melhores. Joe estava magro e Mai pensou que ele pudesse estar se esforçando para parecer com um integrante da banda Franz Ferdinand – de todos os ângulos e de cabelo curto. Os outros dois eram de estilo techno-geek e passavam a maior parte do tempo conversando sobre os equipamentos. Um usava óculos e o outro não – essa era a única maneira que Mai conseguia diferenciá-los.

Alfie se levantou e abraçou Mai, depois cumprimentou Stefan. Ele tinha se barbeado pela primeira vez em meses e deixou seu cabelo crescer desde a última vez que ela o viu. Ele parecia magro mas forte, como um prisioneiro que tinha se exercitado bastante mas que não tinha se alimentado bem. O que estaria bem perto da realidade, ela pensou. Ela sentiu um pouco de emoção quando ele a abraçou.

Ele perguntou, ‘Como está lá fora? Alguém se preocupou em vir?’

‘Fervendo,’ disse Mai. ‘Estão ansiosos e na expectativa.’

Joe disse, ‘Obrigado por vir. Alguém veio com você?’

‘Desculpe. Não tenho falado com ninguém há alguns meses.’

Joe moveu a cabeça em sinal de compreensão e Mai pensou se ele era mais um que a via como a famosa da televisão e queria se aproveitar de alguma forma do reflexo de sua glória. Ela encontrou algumas pessoas que não fizeram nada, mas perguntaram sobre o Terraço Amberside e sobre os outros participantes, como se isso tivesse sido um acontecimento real em uma rua real.

Alfie disse, ‘O som está uma droga. O cara da gravadora não fez nada a não ser pedir desculpas desde às quatro horas. Algo também deu errado com os ingressos. Você teve sorte que não desistimos e abandonamos você no meio da cidade.’

‘Talvez na próxima vez. Onde está Pete?’

‘Está com o The O2 – o grande show, ele teria mais a perder. Não precisamos dele aqui.’

Pete Graham gerenciava três bandas, duas das quais foram as atrações principais. Mai ficou pensando se a The Gastric Band estava na sua lista de prioridades.

Ela disse, ‘Vocês estão bem? Prontos para destruir a bateria, ou qualquer outra coisa que os bateristas dizem?’

‘Estamos bem, não estamos?’ Ele olhou em volta esperando alguma resposta e conseguiu apenas uhus e sinais de ok. ‘Viu a empolgação desses garotos? Eles estão ligados.’

‘É melhor eu ir. Ficarei no meu camarote real, acene para mim.’

Fora do camarim ela disse a Stefan, ‘Eles irão decepcionar. Estão muito nervosos.’

‘Não seja pessimista. Eles ficarão bem. Nervosismo é bom, mantém o sistema funcionando, não preciso dizer isso a você.’

‘Há algum lugar onde podemos pegar uma bebida? Eu acho que estou mais nervosa do que eles, e isso quer dizer alguma coisa.’

Stefan pegou-a pela mão e passando pela plateia que estava lotada, conduziu-a para um pequeno bar no fundo da casa de show. Mai observou que a plateia era de maioria adolescentes e tinha um grande número de garotas. Por alguma razão muitas delas tinham em seu rostos uma pintura que simulava cortes diagonais que atravessava de um lado ao outro.

Stefan reparou a mesma coisa. ‘É aquela música do YouTube – Garota Navalha. Elas não perceberam que se trata de cortar os pulsos e fazem apenas a maquiagem.’

Mai se lembrou da música agora, algo que Joe tinha escrito aparentemente sobre sua ex-namorada que constantemente se cortava. Não havia nenhuma imagem da banda no vídeo do YouTube, mas alguém tinha incluído algumas imagens para a música – fotos de uma garota com uma pintura colorida de um corte diagonal que atravessava seu rosto de um lado ao outro, copiando David Bowie no álbum Aladdin Sane. Suspeitavam que a foto era do próprio Joe, embora ele não admitisse isso.

Após quarenta minutos de show, Mai olhou nos olhos de Stefan e acenou em direção ao fundo da casa de show, pela lateral da multidão que pulava. Ele a alcançou e eles entraram no bar.

‘O que houve?’

‘Dor de cabeça,’ ela disse. ‘Eles são mais barulhentos do que eu me lembrava. Você já conseguiu detectar alguma melodia?’

‘Não seja cruel. Eles estão bem, embora eu esteja farto das divagações de Joe no meio das músicas. Ele deveria apenas contar um, dois, três, quatro e então cantar.’

Mai encontrou uma frágil cadeira no bar, sentou-se e inclinou sua cabeça para baixo apoiando-a com suas mãos. O som da música ultrapassava a parede que separava o bar, era uma batida pesada sobreposta com um tipo de lamúria que Joe fazia quando esticava ao máximo a variação da sua voz em toda música. Esse era o ‘som’ deles, um truque com a intenção de diferenciá-los da concorrência. Eles poderiam ir tão longe enquanto os acordes vocais de Joe permanecessem intactos. Mel e água era o que ele precisavam, pensou Mai, lembrando-se da receita infalível de sua mãe.

Ela levantou a cabeça e olhou ao redor. Que lugar era aquele? Ela tinha dado o endereço ao taxista mas não sabia onde realmente era, algum lugar desabitado do Ártico ao norte de Londres. Tinha a sensação de ser algum tipo de boate precária em uma falida e depressiva cidade ao norte. Poderia ser lugar de comediantes que contavam suas piadas sexistas, talvez com shows de striptease aos domingos. Bingo na segunda-feira à noite para aposentados locais. Por que será que Alfie estava tocando em um lugar desses? Será que a gravadora estava tentando dar algum um golpe com impostos, dizendo à receita que eles estavam gastando milhões com novos lançamentos, quando de fato estavam fazendo shows na Sibéria?

Stefan colocou a bedida no balcão em frente à ela. Tinha uma efervescência com um tipo de agitação que ela não podia discernir.

‘Água tônica,’ ele disse. ‘Beba devagar. Vou voltar para lá. Ore por mim.’

Conforme ele abria a porta corta-fogo para voltar ao show, o som da banda ecoava estrondosamente.

Não havia mais ninguém no bar, exceto dois atendentes chatos e um homem que ela achava que conhecia, que estava sentado à uma mesa a quem ela observava. Assim que ele percebeu que ela o observava, ele olhou para ela e esboçou um sorriso inseguro. Então ela o reconheceu – ele estava no mesmo ensaio que ela estava algumas semanas atrás. Ele provavelmente era de uma gravadora, para acompanhar o desempenho da banda em seu primeiro show.

Ela apoiou sua cabeça novamente sobre sua mãos e respirou profundamente, tentando acalmar a pulsação da sua têmpora direita. Ela podia sentir o cheiro de álcool amanhecido nas poças no chão e do cigarro velho que sem dúvida estava impregnado como DNA no papel de parede.

Quando ele se aproximou e falou com ela, ela teve certeza de que era ele. Ela deveria ter advinhado que ele iria falar com ela.

‘Você está bem? Precisa de alguma coisa?’

Ela não se moveu, não queria dar-lhe nenhuma oportunidade.

‘Senhorita Rose?’

‘Estou bem, obrigada. Um pouco de dor de cabeça. Você deveria ir assistir ao show. The Gastric Band. Parece que eles estão mais descontraídos.’

Ela ouviu dele uma risada e ela sorriu para dentro das palmas de suas mãos.

Ele disse, ‘Eu soube que eles não estão escrevendo nada por enquanto. Estão com problemas.’

Ela sorriu novamente. ‘Eles estão cientes disso.’

‘Pelo menos eles não forçam a música deles goela abaixo.’

Nesse momento ela olhou para ele. ‘Não funcionou. Você estragou a piada.’

Ele estava pálido mas não tinha uma má aparência, algo em torno dos vinte e quatro a vinte e seis anos, ela pensou. Talvez mais velho. Cílios longos e bom de conversa. Um ar de confiança provocante que beirava um certo carisma. Hmm.

‘Eles não esperam ver você lá dentro, com sorriso encorajador, batendo palmas junto com o magnata Richard Branson ou outra pessoa?’

‘Eu verifiquei o teste do som. Não é a mesma coisa não conhecer as músicas. Tem certeza que você está bem? Eu poderia ficar com você lá fora, se quiser, enquanto você vomita.’

‘É o que está parecendo? Pronta para vomitar.’

‘Hey, como você sabe o nome da próxima música?’

Agora ela riu alto. ‘Eu estava pensando em usá-la como título da minha autobiografia de celebridade, uma vez que encontrei um escritor fantasma que iria fazê-la por um preço mais em conta.’