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Elisa agradeceu o militar pela gentileza e saiu suavemente do carro. Ela olhou para cima e encheu os pulmões do ar limpo da noite clara, pausando um momento para contemplar o magnífico espetáculo que só o céu estrelado do deserto poderia proporcionar.
O Coronel ficou por um momento indeciso se ia ao seu encontro ou se ficava dentro da sala esperando a sua entrada. Por fim, escolheu se sentar, na esperança de disfarçar melhor a sua agitação. Em seguida, fingindo indiferença, se aproximou do balcão, sentou-se em um banco, descansou o cotovelo esquerdo na madeira escura, balançou um pouco o licor em seu copo e parou para observar a semente do limão se depositar lentamente no fundo.
A porta se abriu com um leve chiado e o motorista militar se inclinou para verificar se tudo estava em ordem. O Coronel deu um leve aceno de cabeça e o militar acompanhou Elisa, convidando-a para entrar com um amplo gesto de mão.
— Boa noite, Dra. Hunter — disse o Coronel, levantando-se do banco e mostrando o seu melhor sorriso. — A viagem foi confortável?
— Boa noite, Coronel — Elisa respondeu com um sorriso deslumbrante. — Foi tudo bem, obrigada. O motorista foi muito gentil.
— Você pode ir, obrigado — o Coronel disse ao motorista com uma voz autoritária. Com uma saudação militar, o jovem se virou e desapareceu na noite.
— Uma bebida, doutora? — perguntou o Coronel, chamando com um aceno da mão o barman bigodudo.
— O mesmo que o senhor — Elisa respondeu imediatamente, apontando para o copo de Martini que o Coronel ainda estava segurando. Então, ela acrescentou: — pode me chamar de Elisa, Coronel, se preferir.
— Perfeito. E você pode me chamar de Jack. “Coronel” vamos deixar para os meus soldados.
É um bom começo, pensou o Coronel.
O barman preparou cuidadosamente o segundo Martini e entregou à recém-chegada. Ela aproximou o próprio copo ao do Coronel e brindou.
— Saúde — exclamou alegremente e deu um grande gole.
— Elisa, devo dizer que esta noite você está realmente maravilhosa — disse o Coronel, passando o olhar da cabeça aos pés da sua convidada.
— Você também não está nada mal. O uniforme pode até ser charmoso, mas prefiro você assim — disse, sorrindo maliciosamente e inclinando a cabeça ligeiramente para um lado.
Jack, um pouco sem jeito, voltou sua atenção para o conteúdo do copo que tinha na mão. Ele o observou por um momento, então bebeu tudo num gole.
— Que tal seguirmos para a mesa?
— Boa ideia — disse Elisa. — estou faminta.
— Pedi que preparassem a especialidade da casa. Espero que você goste.
— Não me diga que você conseguiu que cozinhassem o Masgouf! — ela exclamou com espanto, abrindo os belos olhos verdes. — é quase impossível encontrar o esturjão do Tigre nessa época do ano.
— Para uma companhia como a sua, não poderia faltar o melhor — disse satisfeito o Coronel, vendo que a escolha parecia ter sido apreciada. Ele gentilmente estendeu a mão direita e convidou a doutora para segui-lo. Ela, com um sorriso maroto, apertou a sua mão e se deixou acompanhar à mesa.
O local era decorado no estilo típico local. Luz acolhedora e suave, grandes cortinas em quase todas as paredes, descendo do teto. Um grande tapete com desenhos Eslimi Toranjdar cobria quase todo o chão, enquanto alguns menores foram colocados nos cantos da sala, como que para enquadrar o total. E claro, de acordo com a tradição, a refeição deveria ser consumida enquanto estivessem sentados no chão em almofadas agradáveis e macias, mas, como bom ocidental, o Coronel havia preferido uma mesa “clássica”. Essa fora cuidadosamente preparada e as cores escolhidas para a toalha eram perfeitamente compatíveis com o resto da sala. Um fundo musical em que uma Darbuka
acompanhava a batida Maqsum
com a melodia de um Oud
preenchia de modo delicado a sala toda.
Uma noite perfeita.
Um garçom alto e magro se aproximou e educadamente, com uma reverência, convidou os dois para se sentar. O Coronel fez Elisa se sentar primeiro, ajudando-a com a cadeira e em seguida, sentou-se à sua frente, tomando cuidado para não deixar a gravata cair dentro do prato.
— Aqui é realmente lindo — disse Elisa, olhando ao redor.
— Obrigado — disse o Coronel. — devo confessar que estava preocupado com a sua opinião. Então me lembrei da sua paixão por esses lugares e achei que seria a melhor escolha.
— Pois acertou em cheio! — Elisa exclamou, mostrando mais uma vez seu maravilhoso sorriso.
O garçom abriu uma garrafa de champanhe, e enquanto enchia os copos de ambos, outro se aproximou com uma bandeja na mão, dizendo: — Para começar, por favor, aceite um Most-o-bademjan.
Os dois convidados pareciam satisfeitos. Pegaram os dois cálices e beberam novamente.
A aproximadamente cem metros do local, dois tipos estranhos em um carro escuro mexiam em um sofisticado sistema de vigilância.
— Você viu como o Coronel mima a donzela? — disse sorrindo um homem indiscutivelmente obeso, que estava no banco do motorista, enquanto mordia um enorme sanduíche e derrubava migalhas na barriga e nas calças.
— Foi uma ideia genial colocar um emissor no brinco da doutora — respondeu o outro, muito mais magro, com olhos grandes e escuros, que bebia café de um copo grande de papel marrom. — daqui, podemos ouvir perfeitamente tudo o que eles dizem.
— Não faça asneira e grave tudo — avisou — caso contrário, vão nos fazer pagar por esses brincos.
— Não precisa se preocupar. Conheço muito bem esse aparelho. Não vai escapar nem mesmo um sussurro.
— Devemos averiguar o que a doutora, de fato, descobriu — acrescentou o gordo. — nosso líder tem investido muito dinheiro para seguir com esta investigação secreta.
— Com certeza não será fácil, tendo em vista a forte estrutura de segurança que o Coronel preparou — o homem magro olhou para o céu com cara de sonhador e acrescentou: — se tivessem me dado um milésimo de todo aquele dinheiro, agora estaria deitado sob uma palmeira em Cuba, tendo como única preocupação escolher entre uma Margarita ou uma Piña Colada.
— E talvez com um monte de garotas de biquíni, passando filtro solar em você — disse o gordo, caindo na gargalhada, enquanto o movimento da barriga fazia cair parte das migalhas no chão.
— Esse aperitivo é delicioso — a voz da doutora saiu ligeiramente distorcida pelo pequeno alto-falante no painel. — Devo confessar que não esperava encontrar, por trás dessa fachada de militar rude, um homem tão refinado.
— Bem, obrigado Elisa. Eu também não esperava que, por trás de uma doutora tão altamente qualificada, além de muito bonita, estivesse também uma mulher muito gentil e agradável — disse a voz do Coronel, sempre um pouco distorcida, mas com um volume ligeiramente mais baixo.
— Olha como eles flertam — disse o grandalhão no banco do motorista. — acho que eles vão acabar na cama.
— Eu não tenho tanta certeza — afirmou o outro. — a nossa doutora é muito, muito inteligente e não acho que um jantar e alguns elogios decadentes sejam suficientes para fazê-la cair em seus braços.
— Aposto dez dólares que vão chegar aos finalmentes — disse o homem gordo, estendendo a mão direita para o colega.
— Ok, aceito — exclamou o outro, apertando a mão grande.
Astronave Theos O objeto misterioso
O objeto que se materializou diante dos dois companheiros atônitos definitivamente não era nada que a natureza, apesar de sua imaginação infinita, pudesse ter criado de forma independente. Parecia uma espécie de flor metálica com três pétalas longas, sem haste, e um pistilo central levemente cônico. O lado de trás do pistilo tinha a forma de um prisma hexagonal, com a superfície da base ligeiramente maior que a do cone no lado oposto, e que servia como suporte para a estrutura inteira. As pétalas retangulares se ramificavam dos três lados equidistantes do hexágono, medindo pelo menos quatro vezes mais do que a base.
— Parece um velho tipo de moinho de vento, como aqueles que eram usados séculos atrás, nos grandes prados do leste — disse Petri, sem tirar os olhos do objeto nem por um segundo, à mostra na grande tela.
Azakis sentiu um arrepio nas costas, ao se lembrar de alguns protótipos antigos que os Anciãos sugeriram para ele estudar antes da partida.
— É uma sonda espacial — concluiu Azakis. — vi alguns assim, com design parecido nos velhos arquivos da Rede — disse, enquanto se apressava em encontrar, por meio do N^COM, mais informações sobre o assunto.
— Uma sonda espacial? — Petri disse, e se virou com ar assustado para seu companheiro. — e quando foi lançada?
— Não acho que seja uma das nossas.
— Não é nossa? O que quer dizer, meu amigo?
— Quero dizer que não foi construída nem lançada por nenhum dos habitantes do nosso planeta Nibiru.
A expressão no rosto de Petri estava ficando cada vez mais desnorteada. — Como assim? Não me diga que você acredita naquela estupidez sobre alienígenas também?
— O que eu sei é que nada desse tipo jamais fora construído no nosso planeta. Verifiquei todo o arquivo da Rede e não há nenhuma correspondência com o objeto que vemos. Nem mesmo nos projetos nunca realizados.
— Não é possível! — disse Petri. — o seu N^COM deve estar fora de fase. Verifique de novo.
— Sinto muito, Petri. Já verifiquei duas vezes e tenho certeza de que essa coisa não é nossa.
O sistema de visualização de curto alcance gerou uma imagem tridimensional do objeto, recriando meticulosamente seus mínimos detalhes. O holograma flutuava suavemente no meio da sala de controle, suspenso a meio metro do solo.
Petri, com um movimento da sua mão direita, começou a fazê-lo girar lentamente, examinando cuidadosamente cada detalhe.
— Parece ser feito de uma liga de metal leve — disse Petri, em um tom mais técnico, comparado ao de espanto que inicialmente o arrebatou. — os motores devem ser alimentados por essas três pétalas, que parecem estar cobertas com um tipo de material sensível à luz solar — ele havia finalmente começado a mexer nos comandos do sistema. — o pistilo deve ser uma espécie de antena transceptora e o prisma hexagonal é definitivamente o "cérebro" dessa coisa.
Petri estava movendo o holograma cada vez mais rápido, inclinando-o em todas as direções. De repente parou e disse: — Olhe aqui. Na sua opinião, o que é isso? — perguntou, no momento em que ampliava os detalhes.
Azakis se aproximou o máximo possível. — Parecem símbolos.
— Eu diria dois símbolos — corrigiu Petri — ou melhor, um desenho e quatro símbolos próximos.
Azakis ainda estava procurando ativamente, no N^COM, algo na Rede. Mas não havia absolutamente nada que correspondesse ao objeto à sua frente.
O desenho representava um retângulo, composto por quinze listras horizontais vermelhas e brancas. No canto superior esquerdo, havia um outro retângulo azul, contendo cinquenta estrelas brancas de cinco pontas. À sua direita, estavam quatro símbolos:
JUNO
— Parece uma espécie de escrita — opinou Azakis. — Talvez os símbolos representem o nome de quem criou a sonda.
— Ou talvez seja o seu nome — rebateu Petri. — a sonda se chama “JUNO" e o símbolo dos criadores é aquela espécie de retângulo colorido.
— Seja o que for, não foi feita por nós — afirmou Azakis. — Você acha que poderia ter alguma forma de vida nela?
— Acho que não. Pelo menos, não de nosso conhecimento. O espaço da cápsula posterior, que é o único lugar onde poderia haver qualquer coisa, é muito pequeno para manter um ser vivo.
Enquanto falava, Petri já havia começado a digitalizar a sonda, procurando qualquer sinal de vida dentro. Após alguns momentos, uma série de símbolos apareceu na tela e ele rapidamente os traduziu para o companheiro.
— De acordo com os nossos sensores, não há nada “vivo” ali. Nem parece ter armas de qualquer tipo. Em uma primeira análise, eu diria que essa coisa é uma espécie de nave de reconhecimento de exploração do sistema solar, em busca do quê, não sabemos.
— Pode ser — disse Azakis, — mas a pergunta que devemos nos fazer é: enviada por quem?
— Bem — supôs Petri — se excluirmos a presença dos misteriosos alienígenas, eu diria que os únicos capazes de fazer tal coisa só poderiam ser seus velhos amigos terráqueos.
— O que você está dizendo? A última vez quando os deixamos, mal conseguiam montar um cavalo. Como podem ter atingido um nível de conhecimento como esse em tão pouco tempo? Enviar uma sonda pelo espaço não é uma piada.
— Pouco tempo? — contestou Petri, olhando-o diretamente nos olhos. — não esqueça que, para eles, já se passaram quase 3.600 anos. Considerando que a vida média era de no máximo cinquenta ou sessenta anos, quer dizer que se passaram pelo menos sessenta gerações. Talvez eles se tornaram muito mais inteligentes do que pensamos.
— E talvez seja por isso — acrescentou Azakis, tentando completar o raciocínio do seu amigo — que os Anciãos estavam tão preocupados com esta missão. Eles haviam previsto isso, ou pelo menos, consideraram essa possibilidade.
— Bem, eles poderiam ter mencionado algo para nós. A visão dessa coisa quase me deu um treco.
— Ainda estamos no nível de conjecturas — disse Azakis, esfregando o polegar e o indicador no queixo — mas parece fazer sentido. Vou tentar entrar em contato com os Anciãos e arrancar um pouco mais de informações, se eles tiverem. Você, por sua vez, tente descobrir mais sobre essa coisa. Analise sua rota atual, velocidade, massa, etc. e tente fazer uma previsão sobre o seu destino, quando partiu e quaisquer dados armazenados. Quero saber o máximo possível do que nos espera lá.
— Ok, Zak — disse Petri, enquanto hologramas coloridos com uma infinidade de números e fórmulas flutuavam no ar à sua volta.
— Ah, e não se esqueça de analisar a parte que você identificou como uma antena. Se for real, é capaz de transmitir e receber. Eu não gostaria que o nosso encontro já tivesse sido comunicado para seja quem for que mandou essa sonda.
Dito isto, Azakis caminhou rapidamente em direção à cabine do H^COM, a única, em toda a nave, equipada para comunicações de longa distância, e estava entre as portas dezoito e dezenove dos módulos de transferência interna. A porta se abriu com um leve chiado e Azakis entrou na cabine estreita.
Por que será que a fizeram tão pequena, me pergunto… Pensou ao tentar instalar-se sobre o assento, esse também decididamente minúsculo, que abaixava automaticamente. Talvez queriam que fosse usado o mínimo possível…
Quando a porta se fechou atrás dele, ele começou a executar uma série de comandos no console à sua frente. Precisou esperar vários segundos para o sinal estabilizar. De repente, na tela holográfica, semelhante à que tinha em seus aposentos, começou a aparecer a face magra e marcada pelos anos do seu superior Ancião.
— Azakis — disse o homem sorrindo e lentamente erguendo a mão ossuda em saudação. — o que o fez chamar, com tanta urgência, este pobre velho?
Ele nunca foi capaz de saber exatamente a idade do seu superior. Ninguém tinha a permissão de saber informações tão pessoais de um membro dos Anciãos. Claro que já tinha visto vários voltas ao redor do sol. No entanto, seus olhos dançavam da esquerda para a direita com uma vitalidade que nem ele tinha.
— Fizemos um contato muito surpreendente, pelo menos para nós — começou Azakis sem preâmbulos, tentando olhar diretamente nos olhos do seu interlocutor. — quase nos chocamos com um objeto estranho — continuou ele, estudando a expressão do rosto do Ancião.
— Um objeto? Explique melhor, meu rapaz.
— Petri ainda está analisando, mas pensamos que possa ser algum tipo de sonda e tenho certeza de que não é nossa — o Ancião arregalou os olhos. Até mesmo ele parecia surpreso.
— Encontramos alguns símbolos estranhos gravados na nave em uma língua desconhecida — acrescentou. — estou enviando todos os dados.
O olhar do Ancião pareceu se perder por um momento no vazio, enquanto pelo seu O^OCM, analisava o fluxo de informações que chegava.
Depois de alguns longos momentos, seus olhos voltaram para o seu interlocutor e, em um tom que não deixou escapar nenhum tipo de emoção, disse: — Convocarei imediatamente o Conselho dos Anciãos. Tudo indica que suas deduções iniciais estão corretas. Se de fato for o caso, devemos rever imediatamente os nossos planos.
— Aguardaremos notícias — e assim dizendo, Azakis encerrou a comunicação.
Nassíria O jantar
O Coronel e Elisa já estavam esvaziando a terceira taça de champanhe e o clima se tornando decididamente mais casual.
— Jack, tenho que dizer: esse Masgouf é divino. É impossível terminá-lo, é enorme.
— Sim, é realmente ótimo. Devemos dar os parabéns ao chef.
— Talvez eu devesse casar com ele e fazê-lo cozinhar para mim — disse Elisa, rindo de modo exagerado. O álcool já estava surtindo seus efeitos.
— Bem, não, deve entrar na fila. Cheguei antes — arriscou, pensando que a frase não seria exatamente inapropriada. Elisa fingiu não perceber e continuou a mordiscar o seu esturjão.