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De Volta À Terra
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De Volta À Terra

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— Boa noite, Coronel — disse ela, mostrando o seu melhor sorriso. — A que eu devo esta honra?

— Doutora Hunter, pare com essas pieguices. Sabe muito bem por que estou ligando. A autorização que foi concedida para completar o seu trabalho já expirou há dois dias e a senhora não pode mais ficar aí.

Sua voz era clara e firme. Desta vez, nem mesmo o seu charme inegável seria suficiente para arrancar um adiamento. Decidiu jogar sua última cartada.

Desde 23 de março de 2003, quando a coalizão liderada pelos Estados Unidos havia decidido invadir o Iraque, com o propósito expresso de depor o ditador Saddam Hussein, acusado de manter armas de destruição em massa (alegação que se revelou infundada depois) e de apoiar o terrorismo islâmico no Iraque, toda a pesquisa arqueológica, já muito difícil em tempos de paz, havia sofrido uma parada forçada. Foi apenas com o fim formal das hostilidades em 15 de Abril de 2003 que reanimou a esperança de arqueólogos de todo o mundo de poderem voltar aos lugares em que, presumivelmente, as civilizações mais antigas da história tinham se desenvolvido e em seguida, espalhado a cultura em todo o globo. A decisão das autoridades iraquianas no final de 2011 de reabrir as escavações de alguns dos locais com valor histórico inestimável, a fim de "continuar a aperfeiçoar a sua herança cultural" finalmente transformou a esperança em certeza. Sob a bandeira da ONU e com inúmeras autorizações assinadas previamente e confirmadas por um número incontável de "autoridades", vários grupos de pesquisadores, selecionados e supervisionados por funcionários competentes da comissão, poderiam operar por períodos limitados, nas áreas arqueológicas mais significativas do território iraquiano.

— Caro Coronel — disse ela, aproximando-se tanto quanto possível da webcam, de modo que seus olhos verdes-esmeralda pudessem obter o efeito que esperava: — o senhor tem toda a razão.

Sabia bem que dar razão ao interlocutor, o teria preparado de forma mais positiva.

— Mas agora que estamos tão perto.

— Perto do quê? — o Coronel gritou, levantando-se da cadeira e apoiando os punhos sobre a mesa. — Há semanas que persistiu com a mesma história. Não estou disposto a confiar mais sem ver com os meus próprios olhos algo de concreto.

— Se o senhor me der a honra da sua companhia esta noite no jantar, terei o maior prazer de lhe mostrar algo que irá fazê-lo mudar de ideia. O senhor aceita?

Os dentes brancos ostentavam um sorriso bonito e o passar de mão pelo cabelo louro e comprido fazia o resto. Ela tinha certeza que o tinha convencido.

O Coronel franziu o cenho, tentando manter um olhar furioso, mas sabia que não resistiria a essa proposta. Elisa fazia o seu tipo e um jantar tête-à-tête o intrigava muito.

Além do mais ele, apesar dos seus quarenta e oito anos, era ainda um homem atraente. Corpo atlético, traços marcantes, cabelos grisalhos curtos, olhar forte e decidido de um azul intenso, uma boa cultura geral que lhe permitia manter discussões sobre muitos temas, tudo combinado com o charme indiscutível do uniforme, fazia dele um exemplar do sexo masculino ainda muito interessante.

— Ok — bufou o Coronel — mas se esta noite realmente não me mostrar algo de extraordinário, já pode começar a recolher toda a sua bugiganga e fazer as malas — ele tentou usar o tom mais autoritário possível, mas sem muito sucesso.

— Às vinte e zero horas esteja pronta. Um carro irá buscá-la no seu hotel — e desligou, um pouco arrependido de não ter se despedido.

Raios, tenho que me apressar. Tenho poucas horas antes de escurecer.

— Hisham — gritou, espiando para fora da tenda. —Reúna toda a equipe. Preciso de toda a ajuda possível.

Ela caminhou apressadamente os poucos metros que a separavam da área de escavação, deixando para trás uma série de pequenas nuvens de poeira. Em minutos, todos se reuniram ao seu redor, esperando por suas ordens.

— Você, por favor, remova a areia daquele canto — ordenou, indicando o lado da pedra mais longe dela. — e você, ajude-o. Sugiro que tomem muito cuidado. Se é o que penso, esse objeto salvará a nossa pele.

Astronave Theos Órbita de Júpiter

O pequeno, mas extremamente confortável módulo esférico de transferência interna estava correndo a uma velocidade média de cerca de 10 m/s, o condutor número três, que levaria Azakis até a entrada do compartimento onde o seu companheiro Petri o esperava.

A Theos também tinha forma esférica e um diâmetro de noventa e seis metros, equipada com dezoito condutores tubulares, cada um com pouco mais de trezentos metros, como meridianos, construídos com dez graus de distância um do outro e cobrindo toda a circunferência. Cada um dos vinte e três níveis tinha quatro metros de altura, exceto o hangar central (décimo primeiro nível) que media o dobro; eram facilmente acessíveis graças às paradas que cada condutor fazia em cada andar. Na prática, para atravessar os dois pontos mais distantes da nave, levaria no máximo quinze segundos.

A freagem foi quase imperceptível. A porta se abriu com um leve chiado e atrás dela apareceu Petri, parado com as pernas abertas e os braços cruzados.

— Há horas que espero — disse num tom decididamente pouco convincente. — Você já terminou de entupir os filtros de ar com aquela porcaria fedorenta que sempre carrega? — a alusão ao charuto era ligeiramente velada.

Indiferente à provocação, com um sorriso, Azakis pegou do cinto o analisador portátil e o ativou com um gesto do polegar.

— Segure isso e vamos logo — disse, passando o aparelho para Petri com uma das mãos, enquanto com a outra tentava colocar o sensor dentro do conector à sua direita. — Chegada prevista em aproximadamente 58 horas e estou ficando um pouco preocupado.

— Por quê? — Petri perguntou ingenuamente.

— Não sei. Tenho a sensação de que vamos ter uma grande surpresa desagradável.

A ferramenta que Petri tinha na mão começou a emitir uma série de sons em diferentes frequências. Ele olhava o aparelho sem ter ideia do que estava indicando. Olhou em direção ao amigo à procura de algum sinal, mas não viu nenhum. Azakis, movendo-se com muito cuidado, apontou o sensor no outro conector. Uma nova série de sons ininteligíveis saiu do analisador. Depois, silêncio. Azakis pegou o instrumento da mão do seu companheiro, olhou atentamente para os resultados, e em seguida sorriu.

— Tudo bem. Podemos prosseguir.

Só então Petri percebeu que prendia a respiração. Expirou todo o ar e imediatamente sentiu uma sensação de relaxamento. Uma falha de um desses conectores, por menor que fosse, poderia acabar com a missão, obrigando-os a voltar o mais rápido possível. Seria a última coisa que desejariam. Estavam tão perto.

— Vou tomar um banho — disse Petri, tentando sacudir um pouco da poeira. — a visita aos tubos de exaustão é sempre assim… — e acrescentou, franzindo o lábio superior: — instrutiva!

Azakis sorriu: — Vejo você na ponte de comando.

Petri chamou o módulo e um segundo depois, se foi.

O sistema central anunciou que a órbita de Júpiter fora superada sem problemas e que eles estavam indo sem impedimento em direção à Terra. Com um leve mas rápido movimento dos olhos para a direita, Azakis pediu ao seu O^OCM mostrar a rota novamente. O ponto azul que se movia na linha vermelha agora tinha se movido um pouco mais para perto da órbita de Marte. A contagem regressiva indicava o tempo estimado de chegada em 58 horas exatas e a velocidade da nave em 3.000 km/s. Estava cada vez mais nervoso. Por outro lado, aquela em que estava viajando era a primeira astronave equipada com os novos motores Bousen, completamente diferente de designs anteriores. Os projetistas afirmavam que seriam capazes de impulsionar a aeronave a uma velocidade perto de um décimo daquela da luz. Ele ainda não se atrevia a ir tão longe. Para o momento, 3.000 km/s pareciam mais do que suficientes para uma viagem inaugural.

Dos cinquenta e seis membros da tripulação que normalmente teriam de ser acomodados a bordo da Theos nessa primeira missão, haviam sido selecionados somente oito, incluindo Petri e Azakis. As razões dadas pelos Anciãos não foram muito exaustivas. Limitaram-se a explicações como, diante da natureza da viagem e do destino, poderiam encontrar muitas dificuldades e que, portanto, seria melhor não colocar mais vidas em risco desnecessário.

Então nós seríamos descartáveis? Que tipo de conversa era essa? Era sempre assim. Quando tinham que arriscar a pele, quem ia na frente? Azakis e Petri.

Afinal de contas, a propensão deles por aventura e também a notável capacidade de resolver situações complicadas resultaram em uma série de vantagens.

Azakis vivia em uma casa enorme, na linda cidade de Saaran, localizada ao sul do continente, que tinha sido usada até recentemente como um depósito pelos artesãos da cidade. Ele, graças às "vantagens", tinha conseguido a posse e a permissão para alterá-la à vontade.

A parede sul havia sido totalmente substituída por um campo de força semelhante ao utilizado na sua nave espacial, de modo a permiti-lhe ver, diretamente da sua inseparável poltrona auto moldável, a maravilhosa baía. Em caso de necessidade, toda a parede podia ser transformada num sistema tridimensional gigante, onde podiam ser exibidas simultaneamente até doze transmissões da Rede. Mais de uma vez, esse sofisticado sistema de controle e gestão lhe tinham permitido obter informações decisivas antecipadas, possibilitando-o assim resolver com sucesso até crises de grande importância. Ele não saberia renunciar.

Uma parte do ex-depósito era reservada para a sua coleção de souvenirs recuperados em todas as suas missões espaciais realizadas durante os anos. Cada um deles lhe lembrava de algo especial e cada vez que ele estava no meio daquela confusão absurda de objetos estranhos, não podia deixar de agradecer a sua boa sorte, e acima de tudo, seu fiel amigo que, mais de uma vez, tinha salvado a sua vida.

Petri ao contrário, embora sempre se destacasse brilhantemente nos estudos, não era um amante da tecnologia de ponta. Embora fosse capaz de dirigir com facilidade praticamente todos os tipos de veículos em circulação, conhecer perfeitamente cada modelo de arma e todos os sistemas de comunicação locais e interplanetários, preferia, muitas vezes, confiar nos seus instintos e nas suas habilidades manuais para resolver os problemas que se apresentavam. Mais de uma vez, diante de seus olhos, o vira transformar em pouquíssimo tempo, um amontoado disforme de sucata de metal em um meio de transporte ou uma incrível arma de defesa. Poderia construir qualquer coisa que precisasse. Certamente em parte era devido à hereditariedade transmitida pelo seu pai, um hábil artesão, mas acima de tudo, à sua grande paixão pelas artes. Desde jovem, na verdade, se encantava com as habilidades manuais dos artesãos que conseguiam transformar matéria incapacitada em algo de muito útil e tecnológico, deixando intacta dentro deles a beleza.

Um som desagradável, intermitente e alto, o surpreendeu, trazendo-o imediatamente de volta à realidade. O alarme automático de proximidade soou de repente.

Nassíria O hotel

Certamente o hotel não era “cinco estrelas”, mas para alguém como ela, que estava acostumada a passar semanas em uma tenda no deserto, até mesmo um banho de chuveiro podia ser considerado um luxo. Elisa deixou a água quente e reanimadora caindo massagear o pescoço e os ombros. Seu corpo parecia apreciar muito, porque uma série de arrepios agradáveis passou várias vezes por suas costas.

Só percebemos a importâncias de certas coisas quando não as temos mais.

Ela decidiu sair do chuveiro somente dez minutos depois. O vapor tinha embaçado o espelho que estava visivelmente torto. Tentou endireitá-lo, mas assim que soltava, voltava à sua posição original. Preferiu ignorá-lo. Com um pedaço da toalha secou uma gota de água que permanecia sobre ele e se admirou. Quando mais jovem, havia sido repetidamente contatada para trabalhar como modelo e até mesmo como atriz. Talvez agora poderia ser uma estrela de cinema ou a esposa de um rico jogador de futebol, mas o dinheiro nunca a atraíra muito. Preferia suar, comer poeira, estudar textos antigos e visitar lugares remotos. A aventura sempre esteve no seu sangue e a emoção que sentia ao descobrir um artefato antigo, o desenterrar dos restos de milhares de anos, não podia ser comparado a nenhuma outra coisa.

Ela se aproximou do espelho, demais, e viu aquelas malditas rugas finas nas laterais dos olhos. A mão foi automaticamente dentro da necessaire, da qual tirou um desses cremes que “rejuvenescem dez anos em uma semana”. Com cuidado passou por todo o rosto e se olhou atentamente. O que queria, um milagre? Além disso, o efeito seria visível somente após “sete dias”. Ela sorriu para si mesma e para todas as mulheres que foram facilmente enganadas pela publicidade.

O relógio na parede acima da cama marcava 19:40. Nunca conseguiria se preparar em apenas vinte minutos.

Secou-se o mais rápido possível, deixando o cabelo loiro ligeiramente molhado, e ficou na frente do guarda-roupa de madeira escura, onde guardava as poucas roupas elegantes que tinha conseguido levar consigo. Em outros momentos, ela poderia passar horas decidindo o vestido para a ocasião, mas, naquela noite, a escolha era muito limitada. Optou, sem pensar muito, pelo vestido preto curto. Muito bonito, muito sexy, sem ser vulgar, com um decote generoso que certamente valorizaria os generosos seios. Pegou-o e, com um elegante movimento, jogou o vestido na cama.

19:50. Apesar de ser mulher, detestava se atrasar.

Ela olhou pela janela e viu um carro escuro, incrivelmente brilhante, exatamente em frente à porta do hotel. Aquele que deveria ser o motorista, um rapaz vestido com roupas militares, estava encostado no capô, aproveitando a espera para calmamente fumar um cigarro.

Usou lápis e rímel para salientar os olhos, passou um batom rapidamente, e enquanto tentava distribui-lo uniformemente com uma série de beijos no ar, colocou seus brincos favoritos, com dificuldade em achar os “buracos”.

Na verdade, fazia muito tempo que não saía à noite. O trabalho fazia com que ela estivesse sempre viajando ao redor do mundo e nunca fora capaz de encontrar uma pessoa para um relacionamento estável, que durasse mais do que alguns meses. O instinto maternal inato que toda mulher e que ela habilmente fazia questão de ignorar, agora, com a aproximação da maturidade biológica, se fazia presente sempre mais. Talvez fosse hora de pensar seriamente em começar uma família.

Abandonou esse pensamento o mais rápido possível. Colocou o vestido, calçou o único par de sapatos de salto alto de doze centímetros que tinha trazido, e com gestos largos, jogou em ambos os lados do pescoço o seu perfume favorito. Xale de seda, grande bolsa preta. Estava pronta. Uma última olhada no espelho perto da porta confirmou a perfeição do seu vestuário. Deu uma volta e saiu com ar satisfeito.

O jovem motorista, depois de colocar o queixo no lugar, que caíra pela visão de Elisa quando saiu do hotel, jogou o segundo cigarro que acabara de acender e correu para abrir a porta do carro.

— Boa noite, Doutora Hunter. Podemos partir? — o militar perguntou com voz hesitante.

— Boa noite — disse ela, testando o seu maravilhoso sorriso. — Vamos.

— Obrigada pela viagem — acrescentou enquanto entrava no carro, sabendo muito bem que a saia subiria ligeiramente e teria parcialmente mostrado as pernas ao militar envergonhado. Ela sempre gostou de se sentir admirada.

Astronave Theos Alarme de proximidade

O sistema O^OCM fez materializar, bem na frente de Azakis, um objeto estranho cujos contornos, por causa da baixa resolução da visão de longo alcance que o levavam, ainda não estavam bem definidos. Estava se movendo e andava em direção a eles. O sistema de aviso de proximidade avaliou a probabilidade de impacto entre a Theos e o objeto desconhecido em mais de 96%, se ninguém alterasse a rota.

Azakis rapidamente entrou no módulo de transferência mais próximo. — Sala de controle — ordenou ao sistema automatizado.

Depois de cinco segundos, a porta se abriu assobiando e a grande tela central da sala de controle mostrava, ainda muito turva, o objeto que estava se movendo em rota de colisão com a nave.

Quase simultaneamente, outra porta perto dele se abriu e Petri saiu fatigado.

— Que diabos está acontecendo? — perguntou o seu amigo, — Não deveria ter meteoritos nesta área — exclamou com espanto, olhando para a grande tela.

— Não acho que seja um meteorito.

— Se não é um meteorito, então o que é? — Petri perguntou, visivelmente preocupado.

— Se não corrigirmos imediatamente a rota, poderá ver com seus próprios olhos quando estivermos espalhados pela ponte de comando.

Petri imediatamente mexeu nos controles de navegação e ajustou uma ligeira variação na trajetória predefinida.

“Impacto em 90 segundos” comunicou sem emoção a voz feminina do sistema de aviso. “Distância do objeto: 276.000 km, em aproximação.”

— Petri faça alguma coisa e já! — gritou Azakis.

— Estou fazendo, mas essa coisa é muito veloz.

A estimativa da probabilidade de impacto, visível na tela do lado direito do objeto, estava diminuindo lentamente. 90%, 86%, 82%.

— Não vamos conseguir — disse Azakis com um sussurro.

— Meu amigo, ainda não inventaram um “objeto misterioso” que possa esmagar a minha nave — disse Petri, sorrindo diabolicamente.

Com uma manobra que fez os dois perderem o equilíbrio por um instante, Petri acionou os dois motores Bousen em uma inversão de polaridade instantânea. A nave espacial tremeu por longos momentos e somente o sistema sofisticado de gravidade artificial, assegurando uma compensação imediata na variação, que impediu que toda a tripulação acabasse esmagada na parede à frente deles.

— Ótimo trabalho — disse Azakis, dando um tapinha vigoroso no ombro do amigo. — mas agora, como você vai parar a rotação? — os objetos na sala já tinham começado a subir e girar, dando voltas no ambiente.

— Só um minuto — disse Petri, pressionando botões e mexendo os controles.

— É só… — uma série de gotas de suor escorria lentamente da sua testa. — abrir a… — continuou ele, enquanto tudo o que estava na sala voava descontroladamente. Os dois até começaram a se erguer do chão. O sistema de gravidade artificial já não podia compensar a imensa força centrífuga gerada. Eles estavam se tornando cada vez mais leves.

— a… a porta… três! — por fim gritou Petri, enquanto todos os objetos caíram no chão. Uma grande caixa pesada atingiu Azakis exatamente entre a terceira e quarta costela, forçando-o a emitir um gemido enfadonho. Petri, a partir da altura de meio metro de onde foi parar, caiu sobre o painel de instrumentos, em uma posição nem um pouco natural e absolutamente ridícula.

A estimativa do impacto tinha baixado para 18% e continuou a baixar rapidamente.

— Tudo bem? — logo perguntou Azakis, tentando esconder a dor no lado atingido.

— Sim, sim. Estou bem, estou bem — disse Petri, tentando se levantar.

Um momento depois Azakis estava chamando o resto da tripulação, que prontamente comunicou ao seu comandante a ausência de danos a pessoas e bens.

A manobra há pouco executada tinha desviado um pouco a Theos da rota anterior e a queda de pressão causada pela abertura da porta havia sido imediatamente compensada pelo sistema automatizado.

6%, 4%, 2%.

“Distância do objeto: 60.000 km” anunciou a voz.

Ambos estavam segurando a respiração, esperando chegarem à distância de 50.000 km, quando seriam acionados os sensores de curto alcance. Esse momento parecia interminável.

“Distância do objeto: 50.000 km. Sensores de curto alcance: ativos.”

A figura borrada na frente deles de repente ficou nítida. O objeto apareceu na tela, tornando cada detalhe visível. Os dois amigos se olharam, espantados, olhos nos olhos.

— Inacreditável! — exclamaram em uníssono.

Nassíria O restaurante Masgouf

O Coronel Hudson caminhava nervoso para lá e para cá, pela diagonal do corredor em frente à sala principal do restaurante. Praticamente olhava, a cada minuto, o relógio tático que sempre usava em seu pulso esquerdo e que nunca tirava, nem mesmo para dormir. Ele estava tão entusiasmado quanto um adolescente em seu primeiro encontro.

Para matar o tempo, pediu um Martini com gelo e uma fatia de limão ao barman bigodudo que, por baixo de sobrancelhas grossas, observava com curiosidade, enquanto limpava ociosamente alguns copos.

O álcool, obviamente, não era permitido em países islâmicos, mas, para essa noite, havia feito uma exceção. O pequeno restaurante inteiro fora reservado para os dois.

O Coronel, logo após terminar a conversa com a Dra. Hunter, havia imediatamente entrado em contato com o proprietário do restaurante, especificamente pedindo o prato especial Masgouf, do qual o restaurante levava o nome. Devido à dificuldade em encontrar o ingrediente principal, o esturjão do rio Tigre, queria ter certeza de que o local pudesse servi-lo. Além disso, sabendo que são necessárias pelo menos duas horas para prepará-lo, queria que tudo fosse cozinhado sem pressa e com absoluta perfeição.

Para a noite, como o uniforme de camuflagem não seria adequado à situação, decidiu tirar o pó do seu terno escuro Valentino, combinando-o com uma gravata de seda regimental, com listras cinzas e brancas. Os sapatos pretos, engraxados como somente um militar saberia engraxar, eram também italianos. Claro, o relógio tático não combinava com nada, mas jamais poderia ficar sem ele.

— Chegaram — a voz saiu crepitante do receptor, parecido com um telefone celular, que guardava no bolso interno do terno. Desligou o aparelho e olhou através da porta de vidro.

O grande carro escuro desviou de um saquinho amassado que esvoaçava na ligeira brisa da noite e rodopiava preguiçosamente no meio da rua. Com uma manobra rápida, parou em frente à entrada do restaurante. O motorista deixou a poeira abaixar, e em seguida, cautelosamente saiu do carro. Do fone de ouvido escondido na sua orelha direita, escutou vários avisos de “all clear”. Ele olhou atentamente para todas as posições previamente definidas, até estar certo de que tinha identificado todos os seus homens que, em uniforme de combate, cuidariam da segurança dos dois convidados durante o jantar.

A área estava protegida.

Abriu a porta traseira e gentilmente estendendo a sua mão direita, ajudou a convidada a descer do automóvel.