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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)
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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)

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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)
Amy Blankenship

Com o feitiço de sangue quebrado, Kane escavou com garra para sair da terra e procurou a alma gémea que o havia libertado, apenas para descobrir que ela tinha desaparecido. Sem nada mais a perder e com a vingança em mente, ele começou uma guerra. A última coisa que esperava era encontrar a sua alma gémea esquiva no rastro de destruição que causara. Ficando rapidamente obcecado, ele observa-a quando ela não está a ver, escuta sem ser convidado e segue todos os seus movimentos… e o demónio que o persegue sabe que ela é a sua fraqueza. Para protegê-la, Kane promete fazer com que ela o odeie, mesmo que tenha de se unir ao lado dos demónios para o conseguir. Mas como poderá ele protegê-la do seu maior inimigo, quando esse inimigo é ele mesmo?

Amy Blankenship, RK Melton

Ligação de Sangue

Ligação de Sangue

Saga Laços de Sangue – Livro 5

Amy Blankenship, RK Melton

Translated by Andreia Pereira

Copyright © 2012 Amy Blankenship

Segunda Edição Publicada por TekTime

Todos os direitos reservados

Capítulo 1

A cidade de Los Angeles estendia-se à sua volta num caleidoscópio de cores e luzes intermitentes. Os sons distantes da vida urbana ecoavam nos seus ouvidos, mas Syn não lhes prestava atenção, escutando em vez disso o sussurro da brisa suave que se movia à sua volta. Estava de pé, em equilíbrio perfeito, no pico de um dos edifícios mais altos da cidade, com os pés a tocar apenas no seu pináculo.

Syn tinha as mãos enterradas nos bolsos das calças, enquanto a sua gabardina esvoaçava atrás de si como uma capa longa que parecia desaparecer e surgir de novo de forma aleatória, como se tivesse vida própria. O vento afastara o seu longo cabelo escuro, revelando no seu rosto uma beleza intemporal, do tipo que raramente se vê neste mundo.

Tinha tomado a precaução de colocar um escudo sobre a sua aura para se proteger de todas as criaturas que o pudessem detetar, mas conseguia sentir essas auras no chão, bem lá em baixo. A andar nas suas vidas entre os humanos, praticamente sem preocupações.

Olhando para o terraço da cobertura diretamente por baixo de si, sorriu maliciosamente quando ouviu Damon entregar a Alicia a pedra de sangue. Colocou-a dentro dela para que ela pudesse estar sempre protegida da perigosa luz solar, que ameaçava a sua nova existência. Syn tinha orgulho na sua nora, alguém que desafiasse Damon e o mantivesse alerta em relação a tudo aquilo que era importante.

O seu sorriso afetado alargou-se quando os gritos de dor dela foram brevemente seguidos por gemidos de prazer e ele acenou a cabeça em aprovação. Ele mal podia esperar para conhecê-la.

Syn focou uma vez mais o seu olhar de tom ametista na cidade e viu as sombras escuras e malignas, mesmo em zonas de luz. Coisas que os outros não conseguiam ver. Ele não compreendia porque é que os seus filhos tinham decidido lutar nesta guerra contra os demónios. Na sua mente, ele via os demónios da mesma forma que via os humanos. Não se importando realmente com nenhuma das espécies. No entanto, os seus filhos e a sua obstinada alma gémea tinham decidido fazer-lhes frente, escolhendo proteger aqueles que não conseguiam defender-se face a tal guerra.

Um pequeno sorriso assomou-lhe os lábios quando se lembrou da sua esposa… A sua alma gémea. Ela torcia sempre pelo mais desfavorecido, defendendo sempre os que eram considerados fracos. Ele imaginava que pouca coisa tivesse mudado desde as suas vidas anteriores. A alma era a mesma, independentemente de quantas vezes renascesse. Ela olhara para ele como inimigo uma vez, simplesmente porque o seu poder era muito superior ao da maioria no seu mundo. Ela demorou anos a mudar de ideias.

O sol já espreitava sobre o horizonte e Syn levantou o rosto para saudá-lo, permitindo que a luz fluísse por ele, sentindo a enorme quantidade de energia e preenchendo o seu corpo com ela. Syn sabia que os seus filhos tinham escolhido viver uma vida humana. Algo que ele nunca tinha tentado até agora. Outro indício de sorriso passou pelos seus lábios perfeitos quando uma ideia interessante lhe ocorreu.

Sim, poderia ser bastante divertido juntar-se a eles, já que a sua alma gémea também achava que era uma mera humana e vivia pelas suas leis. Ia juntar-se a eles, aproximar-se dela e convencê-la de que ele não era o inimigo, nem dela nem de ninguém. Desta vez, ia manter a maioria dos seus poderes ocultos para que ela não se sentisse tão ameaçada por ele. Ia tornar-se seu aliado, seu amigo e depois, uma vez mais, o seu companheiro.

*****

Misery sentou-se numa rocha, balançando as pernas para trás e para a frente, agitando os seus caracóis loiros com cada movimento. Tinha estado muito ocupada nessa semana, recrutando demónios para o seu exército crescente. Mesmo agora, alguns deles mantinham-se escondidos na escuridão que a rodeava, observando curiosamente.

A maioria dos demónios que reunira eram fracos, sem grandes poderes a referir, mas um soldado era mesmo assim. Por si só, era débil. Mas reunidos num exército, poderiam abrir caminho por entre os inimigos mais fortes sem receio quanto às suas próprias baixas.

Esta noite, Misery tinha sentido o poder de uma aura antiga na floresta que rodeava um dos lados da cidade e tinha-a seguido até uma gruta profunda. A energia malévola erguera-se na direção dela, tentando afastá-la da sua casa, mas Misery apenas achara divertido o seu esforço. Isso até a força a empurrar fisicamente para trás.

Quando ela se levantou para encarar o demónio, tudo o que viu foi um corvo sentado numa pedra com as asas eriçadas. Ao procurar a sua alma negra, Misery acalmou-se ao perceber que esta ave era um dos mestres antigos que ficara esquecido quando os caídos levaram os outros para o submundo.

Este demónio tinha-se fundido com o cenário e fizera ali a sua casa. Os Nativos Americanos deste território consideravam o demónio como um grande espírito a ser adorado e reverenciado e, com essa adoração, o mestre demoníaco tinha-se fortalecido.

Misery conseguia sentir o sabor da raiva que este demónio tinha contra os humanos pálidos que deambulavam livremente pelas suas terras e procurou tirar partido disso. Ela faria um acordo com o demónio, em vez de lutar contra ele. Uma batalha que ela sabia agora que teria perdido. O demónio antigo pareceu agradado com a ideia de libertar a sua espécie da sua prisão dimensional e deu-lhe instruções para que realizasse um sacrifício de sangue… Uma das ferramentas de que ele iria precisar para ajudá-la antes de voar na direção da floresta.

Quando Misery voltou à caverna com dois vampiros e um homem semiconsciente e fascinado, o espírito malévolo já a aguardava. Os olhos vermelhos e reluzentes do corvo fixavam-na de forma penetrante antes da ave levantar voo. Misery seguiu-a, embrenhando-se na floresta mesmo até ao limite da reserva de caça. Entrara numa pequena clareira e foi com alguma surpresa que viu um velho sentado junto a uma grande fogueira.

“Chamo-me Black Crow”, afirmou o velho.

Misery acenou respeitosamente. Lembrou-se das formas sagradas de lidar com o poder de um demónio que fosse superior ao seu próprio poder. “Sou a Misery”.

Black Crow riu-se em tom de escárnio. “O que sabes tu da verdadeira miséria?”

Misery permaneceu em silêncio, mordendo a língua para evitar responder. Ela tinha poder e ele sabia-o. Ela tinha a certeza de que ele conseguia senti-la da mesma forma que ela o sentia a ele.

Black Crow levantou-se e aproximou-se deles. Ela observava a sua aparência humana e não conseguia compreender porque é que alguém tão poderoso havia de escolher um corpo tão frágil. Ele parecia idoso, muito velho e enrugado, com longos cabelos brancos, e vestia calças de pele curtida de veado. A camisa era feita da mesma pele de veado e adornada com contas e penas. Trazia uma pequena bolsa pendurada na anca e tinha mais penas entrançadas no cabelo acima de uma orelha.

Black Crow esticou o braço de forma abrupta e levantou a cabeça do humano pelo cabelo para olhar para o seu rosto. “Este serve perfeitamente”, disse ele e voltou para junto da fogueira.

“O que queres que faça?” Perguntou Misery.

“Temos de aguardar”, proferiu Black Crow e adicionou mais troncos à fogueira.

Misery deu azo à sua irritação: “Aguardar o quê, ancião? Eu não tenho a eternidade. A minha guerra irá acontecer com ou sem a sua ajuda.”

Ignorando-a, Black Crow juntou mais lenha à fogueira e começou a cantar. Misery estava prestes a afastar-se quando deu por si congelada. Conseguia sentir os seus poderes a serem sugados e a sua forma juvenil começou a apodrecer. Isto não era o mero efeito da sua aparência cadavérica. Todo o seu ser estava lentamente a ser drenado dos poderes que ela havia roubado aos humanos.

“O teu plano falhará sem mim.” Disse Black Crow num tom condescendente. “A tua existência tornou-se minha quando fizeste o teu acordo. És fraca e não deténs poder nenhum sobre mim, pois não tens nada que eu queira.”

Misery foi subitamente libertada, mas olhou ferozmente para ele enquanto permanecia sentada na enorme rocha à espera sabe-se lá de quê. Black Crow alimentava constantemente o fogo e as chamas já atingiam uma altura impressionante. O ancião ergueu-se e dirigiu-se ao lado oposto da clareira, até junto de uma velha sequoia em que Misery não tinha reparado.

Black Crow ajoelhou-se junto às suas raízes imensas e agarrou num punhado de terra. Regressando à fogueira, o seu cântico tornara-se muito alto e rítmico, até atirar a terra para o fogo. O fogo chispou e subiu ainda mais alto quando a terra atingiu as chamas ardentes. O seu corpo começou a mover-se numa dança tribal enquanto os seus cânticos subiam de tom.

As sombras à sua volta estendiam-se para a frente de tal modo que apenas não tocavam em Black Crow, dançando no interior de um círculo perfeito. Subitamente, ele parou e esticou-se para tocar nas sombras que se aproximavam dos seus pés. A escuridão intensa alongou-se para chegar à sua mão, procurando o toque de calor que Black Crow exumou antes de a puxar do chão. Também ela foi ao encontro das chamas, com um chispar que rapidamente se transformou numa explosão, obrigando Misery a proteger os olhos.

Um lamento inumano invadiu a clareira e Misery observou a sombra e erguer-se das chamas, tornando-se avermelhada devido ao calor. Voou atravessando a clareira de volta ao local onde Black Crow tinha agarrado na terra e desapareceu no solo. Momentos depois, a terra começou a agitar-se como se estivesse a respirar e dois braços ossudos e ressequidos ergueram-se do solo.

Black Crow dirigiu-se imediatamente ao sacrifício de sangue que os vampiros de Misery tinham arranjado e arrastou-o do alcance das suas garras.

O jovem, um estudante na universidade pública local, despertou do torpor em que os vampiros o colocaram quando Black Crow o possuiu. Ainda desorientado, não sabia o que estava a acontecer até ter visto a lâmina comprida a aproximar-se da sua garganta. Antes mesmo que pudesse fazer fosse o que fosse, a lâmina rasgou a sua carne e o seu grito foi silenciado.

O sangue espirrou sobre as chamas acesas, alimentando a fogueira com silvos e faúlhas. Os braços que se tinham erguido do solo arrastavam agora os restos do seu corpo pela noite escura. Um lamento longo e grave irrompeu da sua garganta, acompanhado por grunhidos de fome, enquanto se arrastava na direção do homem moribundo.

Os dedos esqueléticos fixaram-se na camisa do homem e a criatura baixou a cabeça até à ferida aberta, deliciando-se com o sangue e a carne fresca. À medida que comia, os músculos e a carne começaram a crescer sobre os seus ossos salientes e Misery deu por si entusiasmada com a cena. Não conseguia tirar os olhos da obra de arte que Black Crow criara e bateu palmas de alegria.

“Ele vai precisar de mais para se alimentar até se poder reanimar por completo. Mas este será suficiente por agora”, disse Black Crow com uma pitada de aborrecimento na sua voz grave.

“Podemos fazer mais?” Perguntou Misery enquanto via o sangue e a violência brilhar à luz da fogueira.

“Eu posso”, disse simplesmente Black Crow e Misery não deixou passar a sua insinuação. Ele podia, ela não.

“Agora, jovem demónia…mostra-me o teu poder”, ordenou Black Crow.

Misery sorriu e tocou no pingente de aranha que lhe pendia do pescoço. A aranha imediatamente se desfez em milhares de pequenos aranhiços que depois voltaram a rastejar de volta, reagrupando-se. Black Crow observou dois dos aracnídeos a rastejar pelas pernas dela e chegar ao chão irregular. As criaturas pararam a meio do caminho entre ele e Misery antes de enterrarem na terra.

Black Crow manteve-se em silêncio enquanto o chão começou a tremer e uma fissura estreita cor de sangue se abriu na terra com um pequeno terramoto. As árvores agitaram-se e os gemidos de animais florestais fizeram-se ouvir à medida que o chão rugia. Cinco demónios sombra voaram da abertura e por toda a clareira. Os seus gemidos preenchiam a noite com a sua melodia. Convergiam na fogueira e voavam em círculos em torno da mesma, aproximando-se para depois se afastarem no último segundo.

Isto continuou até que os demónios se cansaram do jogo e desapareceram na escuridão da floresta, em direção à cidade, onde conseguiam detetar as suas presas. Black Crow fitava a fenda para o submundo com uma expressão insondável. No entanto, quando se aproximou da fenda recortada, colocou o pé sobre ela e fechou a fissura, impedindo outros demónios de escapar.

“Um esforço razoável”, proferiu Black Crow. “Mas és jovem e tonta. Uma fissura destas entre mundos apenas permite a simples demónios sombra entrarem neste reino, deixando os nossos verdadeiros aliados ainda presos do outro lado. Vais precisar de mais poder!”. A sua voz elevou-se e depois acalmou. “Enquanto ganhas esse poder, vou criar-te um exército, mas que em última instância irá obedecer-me a mim.”

Misery não teve outra escolha senão acenar em concordância e humildade. Ao virar-lhe as costas, os seus lábios infantis torceram-se num esgar maléfico. O velho demónio tinha razão numa coisa, ela precisava de mais poder. E sabia exatamente como obtê-lo.

Permitindo que as trevas dentro de si se expandissem, ela disparou em direção à cidade deixando que os seus subordinados a seguissem. Tinha começado a formular um plano e precisava de localizar a criança demoníaca que a podia ajudar. Teria de abrir mão da sua última reserva de sangue de Kane, mas o fim justificava os meios. Ia valer a pena o sacrifício.

Esvoaçou sobre a cidade na direção do bairro onde encontrara um lar temporário. Seguindo de rua em rua à procura das trevas, tentou captar o cheiro do seu alvo. O problema com este demónio é que ele tinha a capacidade de ocultar a sua aura demoníaca. Para quem o tentasse caçar, ele pareceria humano e nada poderia estar tão longe da verdade.

Pouco tempo depois de ter começado a sua busca, Misery sentiu o híbrido Skye a segui-la. Não interferiu com a atividade dela e não se aproximava, mas ela conseguia senti-lo a acompanhar cada movimento seu. Será que tinha saudades de estar preso na gruta com ela? Ela estava a pensar refrescar-lhe a memória caso ele tentasse interferir com os planos dela. Já era suficientemente mau que dois caídos andassem a seguir os movimentos dele. Se ele continuasse assim, iria levá-los até ela.

O dia estava prestes a nascer quando ela finalmente encontrou o pequeno demónio que procurava. Ele saiu das sombras e apressou-se a atravessar a rua e entrar numa outra ruela. Misery encontrara-o por acaso uns dias antes e tinha-o confundido com um humano. Até ele ter dizimado os vampiros que o tinham atacado.

Visto de fora, o demónio não parecia passar de um rapazinho de oito anos a viver como um rato de rua. O seu cabelo escuro pelos ombros pendia-lhe em mechas oleosas e emaranhadas em torno do rosto, que era pálido, mas docemente angélico quando se ignorava tudo o resto. Isso apenas reforçava a sua camuflagem humana quando ele queria atrair os corações e mentes das suas vítimas. As suas roupas eram esfarrapadas e não tinha sapatos. Quando levantou a cabeça para olhar para a rua atrás de si, os seus olhos brilharam como diamantes negros.

Misery moveu-se sobre a ruela acima dele antes de se deixar cair precisamente à frente do outro demónio, assumindo a forma de menina loira à medida que caía. Aterrou de cócoras à frente dele antes de se levantar e sacudir o seu vestidinho de folhos.

“Olá Misery”, disse o rapaz fazendo Misery sorrir à sua vozinha.

“Olá Cyrus”, cumprimentou Misery imitando-o.

“Foste tu que fizeste com que aqueles humanos se matassem uns aos outros no autocarro na outra noite”, sussurrou o rapaz.

Misery sorriu orgulhosa, “Sim, fui eu, e preciso daquilo que tu sabes fazer.”

Cyrus inclinou a cabeça para o lado. “O que é que eu sei fazer que tu não saibas?”

Misery riu-se e retirou o colar de aranha que tinha o resto do sangue de Kane e colocou-o no pescoço dele.

“Ficarias surpreendido, pequenito”, sussurrou ela.

“Vou poder brincar?”, perguntou o rapaz, fazendo com que Misery se apercebesse de como este demónio era realmente jovem.

“Oh, sim, vais poder brincar tudo o que quiseres”, respondeu Misery.

A obscuridade dos olhos do rapaz expandiu-se, bloqueando toda a cor até os seus olhos parecerem dois poços infinitos de vazio.

“Eu gosto de brincar”, disse o rapaz com um sorriso malicioso, enquanto os seus dedos brincavam com a aranha pendurada na ponta da corrente.

*****

Kriss deitara-se na cama do apartamento na cobertura de um dos mais prestigiados edifícios na baixa de Los Angeles. Refugiara-se ali para evitar Tabatha e os seus sentimentos crescentes por ela.

A sua mente reconstituiu a última vez que a tinha visto. Ele mantinha firmemente a distância em relação a ela há alguns dias para evitar que a separação se tornasse demasiado dolorosa para ele. O seu peito começara a doer por não poder estar perto dela e quando entrou no apartamento e a viu adormecida com lágrimas secas a manchar-lhe o rosto, a sua única vontade era abraçá-la e fazer com que estivesse tudo bem.

Enfiara-se na cama com ela, sem perceber que ela estava nua até a ter envolvido num abraço protetor. Aí ele ficou paralisado, tenso, agarrado a ela e ao mesmo tempo tentando afastar-se. Ela virou-se para ele a dormir, lançando o braço à sua volta para se aconchegar, como fazia geralmente com as suas almofadas. Quando os seios dela se comprimiram contra o peito dele, o autocontrolo de que ele tanto se orgulhava rebentou.

Durante meses os seus pensamentos tinham-se resumido às coisas que lhe queria fazer…que queria fazer com ela…coisas que não podiam ser feitas, por muito que a amasse e a desejasse. Mas nesse instante, ele queria estar dentro dela, o suficiente para arriscar matar a mulher que amava. Ele sentia a sua dureza vibrar e pressionar a sua carne macia.

Quando uma sombra irada se abateu sobre a cama, Kriss congelou e depois, lentamente, virou a cabeça e encontrou o olhar prateado e acusador de Dean. Ele sabia que tinha pisado a linha, passando da amizade para uma zona de perigo, ao ver aquela expressão no seu rosto.

Ele saíra com Dean nessa noite, determinado a não cometer os mesmos pecados do pai. Sentia-se vibrar novamente com essa memória. Até conseguir controlar as suas emoções, ele sabia que Dean tinha razão. Ele tinha de se manter longe de Tabatha.

Como precaução adicional, já tinha deixado o seu emprego na Silk Stalkings, só para o caso de ela ir lá à sua procura. Tinha feito tudo o que podia para garantir que Tabatha se mantinha o mais longe possível dele, mas a separação magoava-o de uma forma que ele nunca imaginara possível. Quando um caído amava alguém…era um nível acima daquilo a que um humano chamava amor e a loucura que a emoção muitas vezes gerava nos humanos quando não podiam estar com a pessoa amada era dez vezes maior, quando comparada à reação gerada num caído.

Kriss agitou uma vez mais as amarras que lhe prendiam um pulso. Odiava Dean por amarrá-lo. Contudo, Kriss compreendia aquilo que quase tinha acontecido. Se ele tivesse cedido à sua luxúria…a dor de perder Dean e matar Tabatha ao mesmo tempo teriam destruído a sua mente.

Ele fechou os olhos quando uma brisa fresca deslizou pelas portas abertas do terraço e sobre o seu corpo nu. Embora as amarras lhe permitissem algum movimento no enorme apartamento, ele já estava deitado há horas, mas não conseguia dormir e a confusão de cobertores caídos no chão era prova disso. Kriss estava agora deitado de barriga para baixo com um joelho dobrado contra o colchão e a outra perna coberta com a ponta do lençol.

Outra brisa percorreu o quarto, trazendo com ela um aroma familiar. Kriss abriu os olhos, observando as sombras das cortinas translúcidas na parede à sua frente. Quando surgiu junto destas uma sombra alada, Kriss manteve-se silencioso e na expetativa.

Dean andava no telhado, oferecendo presas aos seus demónios e descanso a um esquivo híbrido caído. Ao descer do telhado do edifício para o terraço da cobertura, ficou de pé junto à janela a olhar para Kriss. O lençol branco tinha sido atirado para o lado, expondo o seu corpo nu ao brilho do luar que entrava no quarto. Dean sentia a solidão que Kriss tinha no seu coração e sabia que ficar o tempo suficiente longe de Tabatha seria a única cura para tal dor.

O seu olhar fixou-se nas amarras sobrenaturais que impediam Kriss de sair do apartamento durante a sua ausência. Não queria magoar Kriss daquela maneira, mas sentia o amor de Kriss por Tabatha a crescer a cada dia. Ele lembrara Kriss que dormir com uma mulher deste mundo seria o mesmo que matá-la e não era mentira. A semente de um caído criaria raízes até numa mulher infértil. Curaria a infertilidade para poder criar vida se fosse preciso. Mas essa vida mataria a mulher que lha concedeu.

Dean tinha contado a Kriss a verdade sobre os seus próprios pecados. Era a única forma segura de impedir Kriss de estar com Tabatha. Quando ele fora inicialmente enviado para este mundo, ficara encantado com uma jovem rapariga da mesma idade de Tabatha. Passara muito tempo com ela e uma coisa levara a outra. Acabara apaixonado por uma fêmea humana.

Pensando que a maldição não iria segui-lo…pensando, por amá-la tanto, que iriam ter um filho caído, cedera à sua luxúria. Ela encorajara-o, pois desejava-o com igual intensidade. Fazer amor com ela fora divinal, mas apenas demorara algumas horas para que o demónio se formasse totalmente dentro dela. Quando ela o acordara a meio da noite com os seus gritos, tivera que matar o seu próprio filho quando ele começara a comê-la por dentro,

Kriss tinha-se enganado a ele próprio, pensando que poderia dormir com Tabatha noite após noite, sem fazer amor com ela, mas Dean sabia que isso era mentira…e uma mentira perigosa. Kriss nunca poderia viver consigo mesmo se assinasse a sentença de morte de Tabatha com a semente do seu próprio amor.

Os caídos ansiavam por amor, mas foram enviados para um mundo onde não poderiam tocar nas mulheres. Apenas se tinham uns aos outros. A beleza de Kriss sempre tocara Dean, encantara-o mesmo, e ele sabia porquê. Kriss era realeza entre a sua espécie. Nunca deveria ter sido enviado para aquele sítio para combater demónios. Ponderava silenciosamente quanto tempo teria demorado para que um dos reis percebesse que o seu príncipe tinha desaparecido. Kriss fora feito para ser mimado, amado e acarinhado.

Entrando no quarto, Dean moveu-se lentamente certificando-se de que a sua sombra permanecia na parede para que Kriss pudesse ver claramente o que ele estava a fazer e tivesse tempo de o parar, se assim entendesse.

“Os demónios estão inquietos na cidade esta noite. Consegues senti-los?” Dean manteve uma voz calma, não esperando uma resposta. Os seus lábios separaram-se quando a voz melancólica de Kriss emitiu um eco suave pelo quarto.

“Deixa-os vir.”

Dean puxou o casaco dos ombros e atirou-o contra a parede para cair numa cadeira. Em seguida a camisa, desapertou-a e deixou-a cair no chão num monte suave de algodão. Desapertou as calças e desceu lentamente o fecho, quase sorrindo quando captou a atenção de Kriss. Tirando os sapatos e as meias, Dean puxou as calças até ao chão e deu um passo em frente, retirando-as.

Avançando para a cama, Dean agarrou num dos postes do dossel por um momento para apreciar Kriss antes de se juntar a ele na cama. Colocando Kriss de lado, Dean aninhou-se em concha atrás dele puxando-o para perto de si, cedendo ao ciúme que se agitava no seu coração.

Ele sabia que a tristeza de Kriss resultava do seu amor por Tabatha. Ele sentira uma premonição do perigo a aproximar-se na noite em que Tabatha e Kriss se conheceram. Por isso é que tinha atacado Tabatha no parque de estacionamento da Silk Stalkings. A sua intenção era avisá-la da ameaça, mas Kriss impedira-o, usando o seu próprio corpo como escudo dela, usando a obsessão de Dean contra ele.

Kriss rolou, ficando de costas, e virou a cabeça para olhar para Dean. Olharam fixamente um para o outro durante o que pareceu uma eternidade, até que Dean encurtou agilmente a distância entre eles e roçou sensualmente os seus lábios em Kriss.

Quando Kriss inspirou profundamente, Dean aproveitou e aprofundou o seu beijo, tornando-o mais exigente. Estava farto de estar deitado ao lado de Kriss, noite após noite, a lamentar-se por uma mulher que nunca poderia ter. Se pudesse, simplesmente inalaria a dor de Kriss e substitui-la-ia pelo amor frenético dos caídos.

Kriss sentiu o fogo a alastrar-se pelas suas veias, mas a sua própria culpa fê-lo virar a cara, quebrando o beijo. Recolheu-se nos braços de Dean, envolvendo os seus próprios braços à volta do corpo de Dean antes de entrelaçarem as suas pernas.