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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)
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Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)

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“E o que aconteceu na Love Bites?” Perguntou Trevor. “Essa não se encaixava propriamente no MO dela.”

“Poderemos ter de alargar a zona dela em breve” – propôs Chad. “E o corpo que encontrámos hoje?”

Todos estremeceram ao relembrar a cena. Tinham recebido uma chamada da polícia sobre o facto de terem encontrado um corpo de um jovem e acharem que eles deveriam vê-lo. O homem teria cerca de vinte anos de idade e usava vestígios de uma t-shirt com o nome da universidade local.

Quando lá chegaram, a polícia tinha isolado a zona com um raio adicional de cerca de cem metros. Chad achara aquilo estranho e fora falar com dois dos seus colegas das autoridades. Quando voltou, o seu rosto estava visivelmente mais pálido.

“O que foi?” Perguntara Zachary.

“Eles disseram que temos de ver por nós mesmos…é tão mau como o que tu descreveste no outro dia sobre o autocarro.”

À medida que os quatro se aproximavam, Trevor teve de respirar pela boca para evitar ficar maldisposto com o cheiro. O pior é que ele conseguia sentir o sabor acre e isso era igual ou pior. Zach dera-lhe uma máscara cirúrgica do bolso do seu casaco. Mantinha sempre umas à mão para situações como esta. Quando viram o corpo, até Zachary teve de se virar e respirar fundo algumas vezes.

O corpo tinha sido completamente dilacerado e tudo o que devia estar dentro estava virado para fora. O pior é que conseguiam ver onde é que algo tinha andado a comer partes, pois via-se que pedaços inteiros tinham sido arrancados. Longas marcas de garras cobriam a pouca carne que restava e os ossos estavam expostos, alguns deles partidos e espetados para fora.

As órbitas oculares também eram aterradoras, os olhos tinham sido arrancados. Parte do escalpe tinha sido arrancado e crânio tinha sido perfurado, com matéria cerebral ainda a escorrer lentamente pelo buraco. A boca tinha sido escancarada e deixada assim, tendo a língua sido devorada.

Grandes pedaços tinham sido puxados para fora do corpo e o estômago estava aberto. Angelica afastou-se da cena e cobriu a boca com uma mão para evitar a náusea. Não estava a ajudar.

“Pobre coitado” – sussurrou Zachary, ajoelhando-se junto do rapaz. Esta última semana tinha passado a voar com um frenesim de atividade demoníaca e ao que parecia, não estava prestes a abrandar tão cedo. “Qual é o termo oficial?”

“A polícia diz que foi um ataque animal.” Respondeu Chad.

Angelica abanou a cabeça. “Não foi um animal que fez isto” – retorquiu ela de forma áspera e dirigiu-se de volta ao carro. “Foi o túmulo.”

Zachary sacudiu a memória e tirou os olhos do mapa para olhar para Angelica. “O que queres dizer com isso, foi o túmulo?”

Angelica tinha uma expressão fechada – “Foi só isso que consegui sentir do corpo. Os ferimentos são quase demasiado antigos para eu conseguir detetar. Não sei como descrever melhor do que dizendo que foi o túmulo que o matou.”

Zachary afastou-se do mapa e foi até ao seu portátil que estava pousado na mesa do café. Fazendo ligação à PIT, enviou uma mensagem a Storm documentando os últimos acontecimentos. A sua resposta foi imediata.

“Parece que o Storm está a chamar os melhores jogadores da PIT.” Zachary informou os outros e fez uma pausa antes de olhar de novo para os colegas. “Ele chamou o famoso Ren, ele já está aqui.”

Trevor estremeceu visivelmente com a referência ao nome de Ren. Ren fora sempre o fantasma do grupo, mais uma lenda do que uma pessoa real, pois Storm fora o único com quem se encontrara. Uma vez, perguntara a Storm quem era o membro mais poderoso da PIT e Storm nem sequer hesitara na sua resposta. Mas se Storm ia enviar o seu segundo homem no comando, isso significava que iria enviar um exército logo a seguir.

Zachary e Trevor ambos sabiam o que isso queria dizer – a guerra ia começar.

Capítulo 3

Durante a sua adolescência, Ren tinha adquirido o hábito de aceder à base de dados da Equipa de Investigação Paranormal para se manter a par dos últimos acontecimentos. Também era suficientemente inteligente para depois destruir o computador que utilizasse para que não pudesse ser rastreado até ele. Era empolgante violar as firewalls definidas numa divisão do governo que supostamente nem existia.

A equipa de investigação paranormal, também conhecida como P.I.T., sabia que Ren seguia as suas missões e subtraía as suas informações encriptadas, mas até ao momento nunca o tinham apanhado e nunca tinham encontrado uma firewall suficientemente resistente para o manter afastado do seu sistema privado. Ren não só lhes roubava dados, mas ainda deixava para trás informações das suas próprias investigações paranormais.

Ao fim de vários anos, o diretor da PIT tinha começado a deixar mensagens a Ren por trás das mais resistentes e encriptadas firewalls que ele já tinha visto. Foi por trás dessas barreiras que Ren se juntou secretamente ao esquivo grupo da PIT, mas apenas nos seus próprios termos: que ele pudesse trabalhar sozinho.

Quem quer que fosse que estivesse por trás dessa barreira não só sabia o seu nome, como também mais algumas coisas sobre ele que mais ninguém sabia. Como o facto de ele não ser totalmente humano. Só quando ele enfrentou um demónio de nível sete que começara um culto carnívoro no Congo e ficou gravemente ferido é que o diretor da PIT o descobriu.

Ren estava a meio de um combate com o demónio e praticamente a ser derrotado, quando uma mão lhe agarrou o ombro. Quando deu por si, estava numa pequena ilha privada no meio do oceano. Ren virara-se para ficar frente a frente com o homem por trás das barreiras encriptadas – Storm.

Ren sacudiu a cabeça ao lembrar-se desses primeiros momentos. Storm tinha todo o aspeto de um cantor de banda de rock dos anos 80, não da grande mente por trás do grupo de pessoas mais secreto do mundo.

Storm apenas sorrira e removera a mão que ainda lhe agarrava o ombro. “Estás a tentar reformar-te da PIT da forma mais dura e rápida? Porque é que não ficas por lá mais um pouco? Não gostava nada de perder o meu melhor amigo antes mesmo de termos a oportunidade de nos tornarmos amigos.”

“O quê?” Ren encolheu-se, levando a mão ao peito onde o demónio tinha tentado arrancar o seu coração.

“Desculpa”, suspirou Storm esticando-se novamente na direção dele. Subitamente, estavam nas instalações metade subterrâneas, metade subaquáticas que estavam ocultas nas profundezas da ilha. “Não há aqui ninguém com o poder de curar, mas posso sempre levar-te a alguém que o consiga fazer, se preferires.”

“Não”, rosnou Ren. “Se me deres agulha e uma linha, acho que consigo ficar num sítio só durante uns minutos.” Inclinou-se sobre um armário, tentando manter-se fora do alcance de Storm. “E se me tocares outra vez, vais ficar sem a mão.”

Storm riu-se e abriu um dos armários superiores, acenando com a mão para mostrar todos os suprimentos médicos. O seu sorriso desvaneceu quanto Ren desapertou a camisa e Storm viu os golpes profundos que o demónio tinha feito. Mais alguns segundos e Ren teria sucumbido.

“Acho que, como tens um fetiche por demónios, poderás ter de aprender um pouco sobre eles antes de desafiares um deles para lutar.” Storm desviou o olhar das marcas das garras, já sabia qual seria o aspeto das marcas. Já conhecia Ren há muito tempo. Aquela amizade ainda não estava formada.

Ren esticou o braço para o armário aberto e agarrou no que parecia um kit de pontos esterilizado, depois dirigiu-se ao espelho pendurado na parede. “Se conheceres um demónio, é como se já os tivesses conhecido a todos, certo?” Não conseguia disfarçar o sarcasmo na sua voz enquanto tentava mentalmente bloquear a dor. Não estava a funcionar.

“Errado.” Storm corrigiu-o – “Só sabes aquilo que eu permiti que fosse carregado na base de dados.” Sentou-se na cama de hospital que estava no meio da divisão.

Ren olhou pelo espelho para o homem atrás dele. As coisas ocultas naquela base de dados eram o suficiente para incendiar o mundo, ao ponto da mera existência dessa base de dados ser um perigo. Era difícil de acreditar que ainda pudesse haver mais. Mas ele também sabia de algumas coisas que nem sequer estavam na base de dados.

“Estou a ouvir.” E ele ouviu, durante semanas.

O Storm estava certo em manter a informação que tinha partilhado fora dos arquivos, pelas mesmas razões que levavam o Vaticano a manter arquivos em cofres secretos. Se algumas destas informações chegassem à população normal, seria o fim do mundo como o conhecemos.

Ren sabia, sem sombra de dúvidas, que ele ainda estava a reter informações porque, quaisquer que fossem os deuses que lhe tinham dado o poder de saltar através do tempo e do espaço, também tinham garantido que seria perigoso para ele contar a alguém o que quer que fosse para além do momento presente. Podia ser o melhor professor de história do mundo. Mas se Storm tentasse contar a alguém sobre o futuro, isso poderia romper o vínculo espaço-tempo…e o vínculo era o próprio Storm.

Também estava certo em relação à sua amizade. Eles tornaram-se amigos desde o primeiro dia e isso já era muito, tendo em conta que nenhum deles confiava em ninguém. A verdade é que eram muito parecidos em vários aspetos.

O pequeno refúgio de Storm na ilha era, na verdade, proveniente do passado, mas Storm dera-lhe todos os confortos de uma mansão moderna e base futurista. Um lado do edifício dava a Ren a sensação de estar num enorme aquário, enquanto o outro lado estava embutido na rocha robusta que rodeava a ilha. A maior vantagem do local era o isolamento completo. Este era o único local onde Ren podia vir em que nada de paranormal poderia tocá-lo, à exceção da capacidade de Storm de saltar no tempo.

À primeira vista, pensara que Storm estaria apenas na casa dos vinte anos, mas depois de o conhecer há mais de dez anos, Storm não envelhecera um único dia, por isso perguntava-se há quanto tempo é que Storm andaria por aí. Até o próprio envelhecimento de Ren tinha abrandado por causa de passar tanto tempo com Storm e os seus poderes.

Ren recuou quando uma voz o sacudiu dos seus pensamentos.

“Acabei de te tornar no orgulhoso proprietário de uma das casas mais antigas de LA” – anunciou Storm, aparecendo ao fundo do longo cais que o levava para fora da ilha. Esboçou um sorriso afetado ao ver Ren praticamente saltar fora da sua pele.

“Raios, importas-te de fazer algum ruído quando apareces assim do nada?” Ren virou-se e encostou-se à balaustrada, vendo o olhar satisfeito no rosto de Storm.

“Estavas à espera de outra pessoa?” Storm riu-se.

Ren dirigiu-lhe um olhar irritado, já que nunca ninguém tinha posto os pés na sua ilha. “Ok, vou morder o isco. Porque é que me compraste um barraco velho e degradado? Nem sequer faço anos.”

Sem aviso, Storm dirigiu-se a ele e agarrou o ombro de Ren e o oceano afastou-se, deixando-os de pé na relva e de frente para o que poderia ser uma mansão gótica moderna feita de pedra escura. Ouvindo o rebentar das ondas, Ren olhou para a direita para ver o mar. Virando-se num círculo completo, franziu o sobrolho ao notar que a estrada de acesso se prolongava até perder de vista e o lado esquerdo consistia apenas numa espessa floresta.

“Não mau para uma cabana degradada” – Storm acenou na direção da casa. “Duzentos metros quadrados de mar à frente e remodelada com todas as atualizações. É difícil de acreditar que isto já tenha sido um pequeno castelo.

“Nem é muito” – Ren virou a cabeça e olhou para Storm. – “Qual é a contrapartida?”

“LA precisa de ti” – Storm encolheu os ombros e avançou. “Não consegues senti-lo?”

Ren não respondeu enquanto seguia Storm para entrar na casa. A verdade é que o seu sensor de aranha lhe dizia para fugir a correr. Los Angeles… Para já, parecia-lhe mais umas férias forçadas.

Uma vez lá dentro, deu por si num enorme espaço circular com uma escadaria sinuosa e aberta no lado oposto da divisão, levando ao piso superior que se dividia em duas alas separadas. Storm dirigiu-se às enormes portas duplas à direita, por isso Ren suspirou e seguiu-o.

“Isto já é mais o meu estilo”. Ren respirou fundo ao ver sistemas de monitorização de uma parede a outra e uma secretária de vidro com computador integrado.

“Achei que ias gostar disto”. Storm esticou-se no sofá isolado num canto vazio da divisão enorme. Observou Ren enquanto este deslizou para trás da secretária e começou a investigar os controlos. “Ninguém te consegue rastrear aqui, a não ser talvez tu mesmo…e felizmente, tu não contas.”

Storm viu os olhos do amigo brilhar quando Ren pairou as mãos sobre o teclado. Era um poder estranho de se ter e ele não conhecia mais ninguém que o conseguisse fazer, mas era assim que Ren conseguia invadir as firewalls da PIT, que eram cem anos mais avançadas que as que o governo já tinha. Ele estava literalmente a sugar toda a informação daquele computador e, imaginava ele, ainda lhe estaria a ensinar uma coisa ou outra.

Era engraçado, pois Ren não parecia nada um típico nerd de informática. O seu aspeto era bastante impressionante. Já tinha visto mulheres a tropeçar nos próprios pés só de olhar para ele.

O seu cabelo passava um pouco dos ombros, de um tom negro intenso com reflexos azulados quando o sol incidia da forma certa. Mas, mesmo sem sol, não era possível passar ao lado das suas espessas madeixas prateadas que davam a Ren um aspeto mais rebelde. A juntar a isso, o brinco com cruz pendente e o facto de ele usar sempre roupa preta formavam uma combinação bastante marcante. Para potenciar ainda mais o efeito, as íris de Ren eram como prata polida, com realces azulados, e um aro negro à volta. Ele usava sempre óculos escuros devido à sua excentricidade.

O que mais o deixava perplexo em relação a Ren era o facto de os computadores serem uma das coisas que deixavam Ren feliz no que tocava aos seus poderes. Ren era um súcubo em todos os sentidos. Se ele estivesse perto de um computador, ele alimentava-se da energia do computador quase como se de uma transferência se tratasse. Mas esta forma de súcubo também lhe permitia obter os poderes de alguém e usá-los para seu próprio benefício.

Por exemplo, se estivesse próximo de um ser metamórfico, também ele poderia realizar metamorfose. Se estivesse perto de um demónio, teria todos os poderes que aquele tipo de demónio tivesse, mas a desvantagem é que seria como usar um espelho. Não poderia retirar os poderes do demónio. Ambos os lados teriam os mesmos poderes, por isso nem sempre era uma situação vantajosa. Sobretudo se o adversário tivesse os poderes há mais tempo e soubesse usá-los melhor.

Uma forma de Ren usar isso a seu favor era quando havia mais de um poder paranormal ao seu alcance, podendo assim usá-los todos em seu proveito.

Outra falha era o facto de Ren não se dar bem com os outros, por isso recusava um parceiro, o que era mesmo lamentável. Storm poderia tê-lo apresentado a pessoas poderosas e ele poderia ter espelhado qualquer um deles. Mesmo agora, se Ren se quisesse teletransportar para o outro lado do mundo e cinquenta anos para o passado, poderia fazê-lo. Felizmente, não se interessava por esse tipo de coisa. Ele via a luz nos olhos de Ren esmorecer enquanto voltava do mundo do ciberespaço.

Ren piscou os olhos e afastou as mãos do teclado para se inclinar para trás na sua cadeira giratória. “Ninguém sabe que estou aqui?”

“Só o Zachary” – Storm admitiu que sabia que iria ter de se debater com Ren em relação a isto. “Vou pedir ao Zachary que vigie a maioria daqueles que já cá estão”.

“Porque é que isso não me soa nada bem?” Ren estreitou os olhos, mas teve a sensação de que não valia a pena lutar nessa batalha. “Qual é a cena da mansão e deste cenário todo? Porquê o suborno?”

Storm levantou uma sobrancelha. “É um bocado difícil subornar alguém que pode chegar a um multibanco e pedir-lhe dinheiro.”

“Estás a evitar a pergunta.” – atalhou Ren.

“Deixei-te esconder das equipas de investigação paranormal durante este tempo todo. Aliás, até me juntei a ti na solidão mais vezes do que devia.” Storm levantou a mão quando Ren começou a rebater. “Sempre disseste que me ficavas a dever um favor. Estou a cobrá-lo agora.”

“E o que seria esse favor?” – a voz de Ren perdera a sua dureza devido à sua honra. Storm tinha razão, tinha uma dívida de vida para com ele e Storm não a cobraria por motivos frívolos.

Storm começou a caminhar de um lado para o outro em frente à secretária. “A única resposta verdadeira que te posso dar agora é que estás aqui para me ajudar a lutar. Estou a cobrar muitos favores com isto. Vou trazer os melhores elementos das equipas PIT aqui para a cidade e tu acabaste de ser promovido a segundo comandante.”

“Que sorte a minha.” O facto de isto ter sido dito sem qualquer emoção foi ignorado por ambos.

“O Zachary ficará no comando caso nos aconteça alguma coisa” – Storm fez questão de adicionar. “E mais cedo ou mais tarde, vocês os dois vão ter de trocar informações, sobretudo se não for possível contactar-me.”

“Isso também não me soa bem” – Ren ficou em silêncio enquanto ponderava porque é que Storm não tinha já as respostas às suas próprias questões. Para alguém que conseguia viajar para o futuro, era estranho não saber quem sairia vitorioso de uma batalha.

“Não vou estar por aqui durante algum tempo porque vou ter de ir caçar a maioria das equipas. Embora trabalhem aos pares, têm o irritante hábito de desaparecer do radar e formar as suas próprias missões quando passam por eles.” Passou as mãos pelo cabelo. – “Até para mim vai ser difícil localizá-los.”

“E quando os largares aqui, vou ter de tomar conta dessa gente?” Perguntou Ren à espera de esclarecimento.

“Não” – Storm abanou a cabeça, sorrindo com a ideia. “Estas pessoas não são crianças. O trabalho delas é o mesmo que o teu: proteger a cidade. Se comunicam entre vocês ou não já será problema vosso. Mas com os teus poderes, podes fazer uma grelha da cidade e informá-los onde são os pontos de conflito. Esta é só a base de operações por agora. Tu e o Zachary serão os únicos que me poderão contactar se eu não estiver aqui.”

“A sério?” Ren balançou a cadeira para trás e para a frente, começando a ficar intrigado com todo aquele mistério. “E eu que pensava que eu é que era o antissocial de nós os dois” – apontou Ren. “Estás a planear desaparecer?” Era suposto ser uma piada, mas quando notou a hesitação de Storm, parou de balançar a cadeira.

Storm esfregou o pescoço, tentando ser cuidadoso com as palavras: “Sou um viajante no tempo nesta dimensão, mas se houver uma zona em que as paredes dimensionais tenham sido estreitadas ou rompidas, elas rejeitam o meu poder.” Isto era um eufemismo.

A leitura de Storm tinha-se tornado uma ciência para ele e Ren percebeu subitamente a razão pela qual Storm não sabia quem venceria a batalha. “Estou a seguir-te, para já” – disse.

Storm dirigiu-se à enorme janela virada para o mar e bateu no vidro. “Este vidro é mais do que à prova de bala.” Suspirou enquanto se virava e encostava a ele. “Mas não é à prova de maldade.” Ele acenou a cabeça na direção do sofá de onde tinha acabado de sair e sussurrou palavras há muito esquecidas pela história.

Ren inquietou-se quando o teto e o chão se acenderam num vasto círculo que abrangia todo o lado direito da sala, com o sofá mesmo no centro. Até via as paredes de barreira luminescentes a fazer a ligação entre o círculo do teto e o círculo do chão.

“O que é isso?” – tentou disfarçar o assombro na sua voz, mas falhou miseravelmente.

“Em termos leigos…é uma armadilha de demónios.” Storm respondeu aproveitando o facto de ter oficialmente surpreendido Ren, o que era algo difícil de conseguir. “Vai lá…passa através da barreira. Não te vai magoar.”

Ren esticou o braço, mas parou antes de tocar nela. “Devo esperar um visitante demoníaco?”

Storm inclinou a cabeça – “Deixa-me lembrar-te de uma coisa. Se um filho dos caídos se aproximar de ti, és tu que te transformas no demónio.” Ele baixou a voz, tornando-a arrepiante ao dizer “o demónio”. Ele e Ren não estavam bem de acordo sobre esse assunto. Ren ainda tinha preconceitos em relação a tudo o que não compreendesse.

Ren deu um passo atrás enquanto pensava no que Storm acabara de dizer. Até demorou alguns segundos a pensar numa boa resposta para lhe dar. “Pelo menos serei eu a saber onde está a chave da jaula. A questão é: como é que os ponho lá dentro? Ponho biscoitos de demónio no sofá?”

Storm sorriu e empurrou Ren na direção do círculo.

Ren girou e voltou a vir na direção de Storm, mas foi de encontro a algo que lhe parecera gelo. Recuando, colocou as mãos de encontro à barreira e piscou os olhos ao ver as paredes ondular na zona em que lhes tocava, como se a superfície da barreira fosse feita de água.

Sacudindo-a outra vez, grunhiu para Storm: “Não sou um demónio!”

Storm levantou uma sobrancelha. “Bom, ainda bem que tivemos este momento.”

Ren sacudiu a parede de…o que quer que fosse.

“Relaxa, eu afinei o feitiço o suficiente para que ele prenda tudo o que não seja humano e como tu és um súcubo e eu estou dentro to alcance…” – sorriu outra vez, sabendo que esta era uma lição que Ren precisava de aprender – “A não ser que me queiras chamar um demónio?”

“Entendido. Empurrar a coisa para o círculo e não entrar na minha própria armadilha. Agora deixa-me sair.”

Storm repetiu o feitiço, praticamente da mesma forma como tinha feito da primeira vez, mas com duas sílabas diferentes.

Ren aprendia rapidamente e já tinha memorizado ambos os feitiços antes de voltar à segurança da sua secretária. O silêncio prolongou-se até Storm ter percebido que o humor do momento anterior se tinha desvanecido e só aí voltou a falar.

“Este castelo costumava estar na Escócia. Trouxe-o para aqui, tijolo a tijolo, e reconstruído durante a corrida por terra, mas as atualizações são mais recentes. Há armadilhas de demónios em quase todas as divisões e só tu é que as podes acionar.”

“É lindíssimo” – assentiu Ren, perguntando-se onde é que Ren quereria chegar. Por vezes, as histórias dele eram mais longas que as de um velhote, à medida que ele começava a deambular pelas suas memórias intemporais. Era-lhe permitido falar sobre o passado o quanto quisesse, mas era perigoso para ele divulgar algo sobre o futuro.

Uma vez tinha perguntado a Storm porque é que ele não passava o seu tempo a voltar atrás no tempo e corrigir todos os erros da humanidade, como eliminar Hitler. Tinha sido aí que Ren lhe tinha revelado que os seus poderes tinham limites. E alterar a história humana era um deles.

“Este castelo foi um presente de casamento para um amigo muito próximo.” Storm olhou pela janela que abarcava a vista da terra descampada a cair no mar. Era verdadeiramente arrebatadora. Ele engoliu em seco, afastando aquela memória assombrosa por agora.

Olhando para trás para Ren, Storm perceber que, pelo menos desta vez, alguém para além dele precisava de ter uma ideia do que estava para vir. Já que o poder dele implicava regras irritantes que o impediam de o ver algumas das coisas mais importantes e o proibiam de manipular os assuntos do coração, ele teria de arranjar um motivo muito bom para que Ren quisesse ficar.

Já sentia a dor a perfurar-lhe a mente por causa das regras que estava prestes a quebrar, mas ignorou-a.