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Ouviram-se algumas gargalhadas, quando o Kamui embateu no Kyou, atirando-os ao dois para dentro e fora de vista.
"SIM!" gritou o Toya e agitou o punho no ar enquanto pairava em frente à varanda. "Tenho dois pelo preço de um!" Com um sorriso, voou de volta para dentro das portas da varanda e tudo se tornou extremamente calmo.
"Parece que acabou", disse o Zachary encolhendo os ombros.
O Storm sorriu: "Espera..." De repente, duas janelas no terceiro andar explodiram de cada lado do castelo, o Toya disparando numa direção e o Kamui na outra. O Storm não conseguiu controlar a gargalhada, sabendo que agora estavam os dois a fugir da ira do Kyou.
"Ok", disse Jason depois de um momento. "Lembrem-me lá outra vez como é que me meti convosco."
O Trevor deu uma chapadinha no ombro do Jason. “Podias ainda ser um isco para demónios, com uma tatuagem adorável no tornozelo."
"Se eu for para o cemitério esta noite, isso não significa que ainda sou isco para demónios?" Jason retorquiu, mais uma declaração do que uma pergunta.
"Sim, acho que sim" o Trevor sorriu, como se lhe tivessem acabado de conceder um desejo. "E pensa só nisto... Serei uma das pessoas a protegerem-te."
"Oh que bom!" o Jason quedou-se silencioso e franziu a testa: "Ainda não estás triste por perder a Envy, pois não?"
O sorriso do Trevor desvaneceu-se e deu um passo em direção ao Jason, mas a Storm passou-se entre eles. Ele pestanejou quando de repente estava no estacionamento da esquadra.
"O Chad precisa de ajuda para controlar este lugar", o Storm explicou. "Brinca como deve ser com as outras crianças.”
E o Storm deixou-o lá e reapareceu no castelo onde Jason ainda estava no processo de dar um passo para trás.
O Jason pestanejou quando Trevor se tinha desvanecido e o Storm sorriu-lhe.
"Para onde é que o Trevor foi?” Perguntou o Jason olhando em volta.
"Ele está sob restrição", respondeu o Storm com um sorriso.
O Zachary olhou outra vez para o terraço, em seguida, para baixo, para a janela abaixo dele. Ele podia ver a Angélica de pé à janela a segurar a cortina aberta. Tinha um sorriso na cara e o Zachary sabia que tinha visto o que se passara. Ela olhou para ele e acenou-lhe, antes de fechar a cortina.
Começaram todos a voltar lá para dentro, agora que o espetáculo tinha acabado. A Tiara parou e seguiu o olhar do Zachary para a menina bonita à janela. Sentindo uma desilusão estranha, tentou concentrar-se em estar agradecida por ele não ser tão mau como ela temia... Não podia ser, se tinha uma namorada assim tão doce. Não querendo ainda voltar para dentro, olhou para o oceano e vagueou em direção ao longo caminho que levava à beira-mar.
O Guy estreitou os olhos em direção à Tiara, a querer falar com ela. Ela nem sequer lhe tinha dado a oportunidade de lhe contar a ideia dele. Ao vê-la separada dos outros, viu a sua oportunidade e seguiu-a a uma distância discreta.
"Tenho uma pergunta para ti", disse o Zachary, retirando os olhos da janela da Angélica e virando a sua atenção para o Storm.
"Queres saber sobre a Angélica", respondeu o Storm, tendo-o visto a olhar para ela.
Zachary assentiu: "Somos parceiros há muito tempo e acho que tenho o direito de saber porque é que não vamos estar juntos nisto. Não podemos incluir a Angélica na equipa da Tiara?"
"O tipo de poder da Angélica é necessário noutro lugar, e ela tem um novo parceiro... pura e simplesmente", disse o Storm a sério.
O Zachary estreitou os olhos: "Quem, o Syn? Aquele tipo dá-me arrepios e a Angélica também não pensa muito bem dele."
"Esta tudo como deveria estar", o Storm olhou para os olhos do Zachary, "Temos estado a mantê-la segura para ele... e ele está aqui agora.”
"Ela é a minha melhor amiga", apontou o Zachary, caso Storm tivesse perdido o memorando.
"E tu provavelmente serás sempre o melhor amigo dela." O Storm sorriu reconfortantemente. "Mas o Syn é o destino dela e não há como lutar contra isso. Na verdade, aconselho-te a não tentares. Pode tronar-se na última coisa que fazes.”
"Tens a certeza?" perguntou o Zachary teimosamente.
"Sabes que tenho" respondeu o Storm colocando a mão no ombro do Zachary. "Ajudaria se te dissesse que ela vai ser mais feliz do que alguma vez sonhou ser?"
Zachary inalou profundamente e lentamente expeliu o ar, enquanto sentia um peso no peito. Ouvi-lo do Storm soava tão final... provavelmente porque o era. Ele apertou os lábios enquanto tentava endurecer o coração e deixar a Angélica ir.
Mudando de assunto, o Storm gesticulou em direção à Tiara que já quase tinha chegado ao penhasco. "É porque protegeste a Angélica tão bem que me sinto suficientemente confiante para pôr a Tiara sob os teus cuidados agora."
"O que é que queres dizer?", o Zachary desviou o olhar da Tiara e virou-se para o Storm: "É só por esta noite... certo?
O Storm sacudiu a cabeça sem simpatia: "Não, não é só por esta noite."
"E eu não tenho uma palavra a dizer?" o Zachary arqueou uma sobrancelha. Ele tinha riscado os necromantes da sua lista de colegas de equipa há muito tempo.
"A Tiara vai precisar de ti mais do que a Angélica alguma vez fez." Salientou o Storm. “A Myra treinou-a para usar poderes que a menina nem sequer tinha ainda. Ela pode ter aprendido os feitiços e rituais, mas ainda não aprendeu a controlá-los."
"Como uma criança humana fingindo ser um feiticeiro?" propôs o Zachary.
Tempestade acenou e encolheu os ombros ao mesmo tempo, “E agora, só tem esses poderes há duas semanas. Pelo que sei, ela ainda não usou a sua necromancia. Lembras-te de quantos incêndios começaste acidentalmente até aprenderes a controlar os teus poderes? Já para não falar do facto de teres feito os teus próprios pais esquecerem-se de quem eras."
"Não me lembres", o Zachary passou a mão pelo cabelo e olhou para a Tiara, enquanto ela desaparecia nos degraus que levavam à praia.
"Esta noite será a sua primeira vez e o trabalho que ela enfrenta não é apenas um zombie... é uma cidade de monstros que vai tentar ressuscitar os mortos mais depressa do que ela pode mantê-los em baixo.” Insistiu o Storm, "Tudo o que ela fizer a partir de agora será a primeira vez para ela."
"A mãe dela fez tudo parecer tão fácil," A voz do Zachary estava um pouco mais áspera do que queria. Tentou encobrir a raiva perguntando: "Onde está o pai dela?"
"Ele morreu antes da Tiara nascer", o Storm repetiu o que a Myra tinha sempre dito.
"O que queres dizer é que não fazes ideia de quem é o pai da Tiara porque a mãe dela dormia com montes de homens." Zachary retrucou obscuramente, tentando bloquear o flashback perturbador do passado.
"Isso é um efeito colateral da necromancia", assentiu o Storm.
O Zachary franziu a testa em confusão: "O que queres dizer... efeito colateral?
"Quanto mais um necromante usa o seu poder para controlar os mortos, mais a sua alma anseia pela vida para evitar serem puxados pelos mortos para a outra dimensão," O Storm explicou. "Não era a culpa da Myra, ansiar por sexo depois de usar o seu poder... é um desejo incontrolável que tem de ser saciado.”
"Então era por isso que a Myra o fazia?" Sussurrou o Zachary. Se fosse honesto consigo mesmo... tinha uma paixão pela Myra todos aqueles anos. Mas vê-la fazer amor com o inimigo transformou aquela paixão em algo mais próximo do ódio.
"Pensei que sabias" Admitiu o Storm com uma expressão ligeiramente chocada. "Os necromantes são criaturas muito sexuais por uma razão... querem viver."
O Zachary fez uma careta: "E como a Myra nunca escolheu um companheiro, optou por ser a noite de sexo de todos, para se manter viva."
"Ela tentou combater essa fome no início, mas quanto mais tempo se absteve... mais fraco o seu corpo se tornava. Os necromantes sempre se alimentaram da força vital do sexo... embora a maioria deles tenha escolhido um companheiro", confirmou o Storm.
"Porque e que a Myra não escolheu apenas um amante?" O Zachary perguntou, mas a sua atenção estava no Guy, que desaparecia pelo mesmo caminho que a Tiara tinha tomado poucos minutos antes. O homem bem podia usar uma t-shirt com a palavra "Tarado” impressa na parte da frente.
"Não interessa, vejo-te mais tarde", disse o Zachary por cima do ombro enquanto se dirigia para o oceano.
O Storm sorriu secretamente... O Zachary não se sentia verdadeiramente feliz a não ser que estivesse a lutar para salvar alguém de si mesmo. Se a Tiara fosse parecida com a mãe, o Zachary teria uma dor de cabeça durante muito, muito tempo. Virou-se para voltar para dentro, mas fez uma pausa ao ver o Ren sair pelas portas duplas.
O Ren tirou o telemóvel e leu a mensagem. Ele sorriu antes de ir para o lado do castelo onde estava a enorme garagem, mas fez uma pausa quando sentiu algo a estalar debaixo dos seus pés. Olhando para baixo, Ren reparou que o, outrora belo vitral que tinha agraciado as janelas superiores do castelo, estava agora despedaçado na relva.
Franziu a testa... não podiam ter um castelo com janelas partidas. Levantou ligeiramente a mão e o vidro que tinha caído durante o voo de Kamui e Toya lentamente levantou-se da relva, juntando-se como um puzzle de mil peças. Empurrando a mão para cima, Ren observou, enquanto o vidro brilhante subia pelo ar, deslizando de volta para o seu lugar no terceiro andar.
Seguindo o Ren, o Storm levantou uma sobrancelha quando viu um reboque a sair da garagem e perguntou-se se o condutor tinha visto o espetáculo do céu há alguns minutos. Sorriu quando viu que era o Hunter no lugar do motorista e levantou a mão quando Hunter acenou.
Entrando na garagem, o sorriso do Storm alargou-se. O Ren andava à volta do carro do Trevor a olhar para ele com um olho crítico. Também tomou nota da placa de circuito de alta tecnologia que o Ren tinha na mão.
Ren olhou para o Storm a aproximar-se e notou o sorriso, antes de voltar a atenção para o carro.
"Porque é que estás a sorrir?" perguntou o Ren.
"Às vezes é bom não ser capaz de ver o futuro", disse o Storm com sinceridade.
"E o que é que isso quer dizer?" o Ren interrogou.
"Significa que, pelo menos por enquanto... Estou a andar na minha própria linha do tempo", declarou o Storm.
O Ren acenou, decidindo que nem ia tentar processar o teaser cerebral e continuou a passar a mão pela borda do carro como se o sentisse.
"O que planeias fazer com isso?" O Storm acenou com a cabeça em direção ao computador.
"Vou atualizar o carro do Trevor", respondeu o Ren.
O Storm encostou-se contra um dos outros carros, “Estou confuso, porque é que estás a atualizar o carro do Trevor?"
"Porque estou entediado", encolheu os ombros, mas o olhar dele dizia que estava a gostar daquilo. "E porque preciso dum escape para este poder antes de me afogar nele."
"Não quero perder isto!", riu-se o Storm.
O Ren sorriu, enquanto colocava a placa de circuito no para-brisas e deu um passo atrás, ficando de frente para o carro. Levantou as palmas das mãos em direção ao carro e respirou fundo. De repente, os faróis piscaram e fios despidos serpentearam por debaixo do capô arruinado, prendendo-se à placa de circuito e puxando-a para dentro.
O chassis começou a ranger e a gemer, remodelando-se a si próprio e uma cor nova começou a aparecer em pequenas manchas. Amolgadelas endireitaram-se, enquanto o chassis se alinhava. Os pneus repararam-se e encheram-se de ar enquanto as jantes começaram a mover-se. O capô abriu-se e o Storm viu o motor a reconstruir-se... o óleo velho desaparecendo lentamente e a cor cromada original retornando ao seu lugar.
As manchas de cor iam crescendo e logo um lindo preto lustroso cobria o chassis todo. As janelas escureceram, tornando quase impossível ver o interior e o Storm assobiava suavemente enquanto andava à volta do carro. Tinha a mesma aparência de um Mustang clássico. O Storm não pode deixar de sorrir quando viu o nome do Ren numa pequena insígnia cromada na traseira, em vez de um conhecido fabricante de automóveis.
"Pelo menos não és egoísta", riu-se o Storm.
O Ren finalmente baixou as mãos e sorriu orgulhosamente para o carro novo e melhorado. “Apresento-te… a Evey.”
O Storm olhou para o Ren e arqueou uma sobrancelha. "Evey?"
O Ren encolheu os ombros: "O Stephen King tem a Christine, acho que posso ter a Evey. Além disso, é a coisa mais próxima de “Envy” que consegui, sem que seja o nome dela."
O Storm não conseguia parar de se rir: "És tão mau."
"Gosto de pensar que sim", disse uma voz feminina sexy.
O Storm olhou para o carro. "Ela fala?"
"Claro que falo" a Evey disse e a porta do carro abriu-se lentamente. "Quer conduzir-me?"
O Storm sacudiu a cabeça, confiando apenas no seu próprio modo de transporte, "Desculpa, por mais bonita que sejas... Receio não poder fazer isso."
A Evey suspirou: "Muito bem, mas um dia há-de viajar no meu banco de trás."
O Storm olhou para o Ren: "Ela é muito... coquete.”
O Ren enfiou as mãos nos bolsos, "Carros falantes são sempre sexy."
“Obrigada, Ren", ronronou a Evey.
"O que a torna perfeita", continuou o Ren, "é que a voz da Evey é uma réplica exata da Envy."
O Storm apertou os lábios, tentando parar o riso e acenou vigorosamente. O Ren não mostrava muitas vezes este lado da sua personalidade, mas quando o fazia, fazia com que valesse a pena a espera.
"Evey", chamou o Ren.
"Sim Ren", respondeu a Evey.
"Tu pertences ao Trevor, ele é o teu dono."
A Evey cantarolou: "O Trevor cuidou sempre bem de mim... agora vou eu cuidar dele.”
O Storm abriu a boca para dizer algo... qualquer coisa, mas as lagrimas escorriam-lhe dos olhos e as bochechas doíam-lhe como o diabo. Ele andou rapidamente para a porta mais próxima, que por acaso era a entrada do armário de casacos, antes de se começar a rir novamente.
"Está tudo bem, Storm?", ouviu a Evey a perguntar através da porta fechada.
"Estou bem", conseguiu dizer o Storm. "Saio daqui a pouco."
Os lábios do Ren contraíram-se, enquanto ele e a Evey esperavam que o chefe recuperasse a sanidade.
Capítulo 4
O Guy seguiu a Tiara pelos degraus esculpidos no penhasco numa combinação de mãos humanas e forças naturais. Seguiu silenciosamente o seu alvo até à praia privada.
A silhueta da Tiara ficou visível na areia e ele fez uma pausa no último degrau, por tempo suficiente para olhar para baixo, para a sua silhueta ágil. Quando os pés dele finalmente tocaram na areia, o Guy parou a admirar a imagem que ela criava. Com o seu longo cabelo branco e um bronzeado dourado... parecia uma bela ninfa aquática que tinha chegado à terra para tentar os homens.
A Tiara estava à beira da água, deixando as ondas molharem-lhe as sandálias. Mesmo que a escuridão fria a chamasse, ela adorava a sensação do sol quente na sua pele. Olhando para o oceano, ela podia sentir as vidas que a água tinha levado ao longo dos milénios e nunca tinha restituído.
A maioria dos humanos que morriam passava para a outra dimensão..., mas havia sempre aqueles que recusaram a chamada. Ela inclinou a cabeça para o lado a pensar se aqueles fantasmas nadavam com os peixes e estavam felizes.
Um sorriso suave apareceu-lhe no rosto ao recordar as muitas histórias que tinha ouvido, ao longo dos anos, de homens perdidos no mar e que viam alguém na água com eles. Essa pessoa ficava com eles até o resgate chegar. Em cada caso, essa segunda pessoa nunca era encontrada e a Tiara sabia que outra pessoa era o fantasma de um morto há muito tempo que se recusava a deixar o seu oceano.
Os fantasmas eram normalmente criaturas suavemente sussurrantes que não possuíam poderes externos. Ela deveria saber disso... tinha até brincado com eles quando era criança. O verdadeiro poder deles residia dentro dos seus espíritos... esse poder interior era o que atraia os demónios para eles. Uma vez sob o controlo de demónios, os fantasmas tornavam-se em pouco mais do que marionetas, acatando as ordens do mestre... vítimas inocentes nos jogos que os demónios jogavam.
Os passos do Guy eram silenciosos, enquanto estreitava a distância entre ele e a Tiara; até que a água salgada lhe rodeou as solas das suas botas. A brisa ainda era quente, apesar do Halloween estar a algumas semanas de distância... a noite em que os humanos se vestiam de monstros. Nem queria pensar no que aquela noite traria.