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Futuro Perigoso
Futuro Perigoso
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Futuro Perigoso

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– Não é, a gente tá se dando bem. E não, não encontrei nada que eu goste, são todas casas antigas.

– As casas antigas tão na moda agora, eu mesma moro em uma.

– Eu nunca morei em uma. Em Birmingham, eu morava em uma casa que era tipo um chalé, bem moderna. Na Alemanha, também tinha um Sistema de Controle, assim como aqui.

– Você não quer tentar? Digo isso porque tem um quarto vazio no meu apartamento.

– Eu não me vejo morando com outras pessoas.

– Você acha que sobreviveria sem que as luzes se acendessem sozinhas ou tendo você mesma que dar a descarga?

– São avanços, facilitam a nossa vida.

– Também geram desemprego. Debaixo da minha casa tem um restaurante retrô. Ninguém entra. No final, vai acabar fechando.

– Gosto mais dos retrôs do que dos modernos, mas admito que vou muito mais nos modernos porque são mais rápidos.

– Sim, é verdade, mas a comida é uma merda.

– Não em todos.

– Tá, pode ser que em toda Maiorca tenha uns dois ou três que sirvam comida boa, mas em outros lugares também não é tão ruim. Quer dizer, a comida dos robôs pessoais de cozinha é muito boa.

– É verdade. Acho que é porque já existiam há séculos e foram melhorando, e, como nos restaurantes modernos as pessoas não reclamam, e mais e mais pessoas vêm, eles não melhoram.

– Muitas pessoas reclamam, mas da boca pra fora.

– Veja! – Keysi apontou animada para um longo vestido vermelho escuro com mangas compridas. – Leve esse, tenho certeza que vai ficar lindo em você.

Carolina se aproximou e passou o pulso pelo código da peça. Automaticamente, seu avatar pessoal vestiu a roupa, convencendo-a do resultado.

– Adorei, Keysi, muito obrigada por encontrar. Se dependesse de mim, eu não teria visto.

– Não tem de quê. Mas se você me der o vestido verde, eu te dou o vermelho.

– Me parece justo.

***

Dois dias depois, Carolina acreditava ter encontrado um antígeno para o vírus da Austrália.

– Acho que consegui – disse Carolina, depois de pausar a música.

– Deixe eu dar uma olhada – Keysi revisou os dados. – Tomara que funcione.

– Vou chamar Clara.

Antes que a maiorquina saísse da sala, Norberto apareceu.

– Onde você tava indo?

– Avisar pra Clara que eu tenho um possível antígeno pro vírus da Austrália.

– Ótimas notícias, mas lembre que você pode avisar ela daqui – Norberto apontou para o teledor, um instrumento que permitia a comunicação com todo o laboratório por meio de ligações ou videochamadas.

– Eu pensei que, pela importância da notícia, eu deveria contar pessoalmente.

– Tá bom. Tenho que contar uma coisa, e vocês não vão gostar. – Norberto ficou sério. – Na próxima semana, um grupo de virologistas chineses do prestigiado laboratório Árvore Alta vai nos visitar. Não se trata de uma visita de cortesia, eles querem ver como trabalhamos e, é claro, querem trabalhar com vocês enquanto estiverem aqui.

– Mas isso pode atrasar nosso trabalho – reclamou a inglesa.

– De fato, esse é o meu maior receio. Se, em vez de pesquisar, vocês tiverem que ensinar técnicas, como nossos dispositivos funcionam e assim por diante, fico preocupado que vocês demorem muito para encontrar antígenos. Vou fazer o meu melhor pra que eles deixem vocês em paz. Keysi, como tão indo os possíveis antígenos que você me contou?

– Tem uma coisa que eu não entendo. Quando aplico o vírus nas células sintéticas e depois injeto meus antígenos, o vírus cresce, não sei como, mas eu maximizo ele, quando na verdade tento fazer o oposto.

– Claramente, você tem uma ou mais variáveis ao contrário – disse Carolina.

– Eu pensei nisso, fiz outras combinações coerentes, mas ainda não funciona.

– Às vezes, o mais coerente é ser incoerente – disse Norberto.

– E a CoHu do vírus indiano? – perguntou Keysi, preocupada que seu antígeno tivesse falhado.

– Todos em perfeito estado e sem efeitos colaterais, você não precisa se preocupar. O antígeno foi um sucesso.

Duas horas depois, uma CoHu estava pronta para testar o antígeno criado por Carolina. Ele era um jovem de trinta e tantos anos, que estava suando muito deitado em uma maca.

– Relaxe – disse uma das enfermeiras que trabalhava nas Salas de Testes.

– Você tem família? Filhos? – perguntou Carolina para acalmá-lo.

– Dois divórcios, quatro filhos – respondeu o homem, sem olhar para ela.

– Você é muito corajoso, poucas pessoas se arriscam a ser CoHu.

– Faço isso pelos meus filhos.

– Você quer dormir durante o processo? Eu tenho que avisar que isso pode te afetar negativamente – informou a enfermeira.

– Você me perguntou se eu quero morrer dormindo?

– Não diga isso, você não vai morrer.

– Sinceramente, não me importo. Sei lá quem criou esse soro milagroso que vão colocar em mim.

– Esse soro milagroso, como você chama, é o que possivelmente vai evitar que milhares de pessoas morram e muitas outras sejam infectadas e acabem do mesmo jeito. E fui eu que criei – disse Carolina, irritada.

– Desculpe. – disse o homem, olhando para o rosto de Carolina pela primeira vez. – Você é muito nova, eu não sabia que as pessoas que pesquisavam essas coisas eram tão jovens. Você também é muito bonita.

Carolina ficou vermelha com o elogio do homem.

– Vai doer? – perguntou a CoHu.

– Não sei – respondeu a maiorquina.

A enfermeira entrou no módulo de contenção onde a CoHu estava. Vestida em seu traje de isolamento, aproximou-se dele, injetando o vírus, para em seguida injetar o antígeno.

– Vou ficar um tempo observando ele. Se precisar de ajuda, ligo pra um dos médicos.

– Agora só nos resta esperar – disse Carolina à enfermeira.

6. Você se perdeu, mas eu te encontrei

Samuel acordou às quatro da manhã chorando por causa de um pesadelo e encontrou Mónica no andar de baixo, sentada no sofá e parecendo triste. Mónica estava acordando todos os seus conhecidos e vizinhos durante toda a noite para perguntar se eles sabiam onde estava seu filho Óscar. Ninguém sabia de nada.

Mónica continuava sentada no sofá, com Samuel dormindo com a cabeça em seu colo, com um sentimento de culpa pela discussão com o filho. A única pessoa para quem ele não tinha ligado era o pai de seu filho, mas ele rapidamente descartou que Óscar pudesse estar com ele, pois não sabia onde ele morava e não tinha levado o celular, então era praticamente impossível.

O despertador começou a tocar às sete da manhã, e nesse dia ela começaria a trabalhar novamente. Mónica levantou-se da cama depois de ter dormido só alguns minutos; seu filho mais novo estava dormindo ao seu lado. Depois de se vestir, ela o acordou.

– Acorde, filho. – Samuel fez um barulho. – Acorde ou eu vou te dar um ataque de cosquinha.

– Não! – protestou o menino.

– Quem você prefere: Maribel ou Rocío?

– Nenhuma.

– Você tem que escolher, mamãe tem que trabalhar.

– Não posso ficar com o mano?

– O mano não tá em casa, escolha – insistiu Mónica, enquanto se penteava.

– Eu fico sozinho.

– Não pode.

– Vou com você.

– Também não pode.

– Mas mãe, é que eu não gosto de Maribel e Rocío.

Trinta e dois minutos depois, Mónica chegou à casa de seu cliente. A casa era uma grande mansão na área nobre da cidade, cercada por árvores exuberantes.

Um homem mal-humorado, vestido com um terno completamente branco e com um lenço roxo no bolso do paletó, segurando um copo de plástico cheio de café, abriu a porta de trás da limusine que Mónica estava dirigindo.

– Você está ciente de que está dois minutos atrasada? Espero que os atrasos não se repitam, ou vou ter que te demitir. – o homem olhou para o banco do passageiro. – Quem é o menino? – Mónica ficou vermelha.

– Desculpe, ele é meu filho, eu não tinha onde deixar e… – se justificou Mónica.

– Sim, sim, me poupe, não tô interessado em desculpas e não gosto de pessoas que sempre têm uma na ponta da língua, prefiro pessoas determinadas. Eu não me importo que você trouxe seu filho, eu gosto de crianças. Mas por que você ainda não saiu?

– Desculpe, não sei onde o senhor trabalha. Poderia me dizer?

– Não te deram o endereço?

– Não.

O homem suspirou.

– Tá bom, dessa vez eu vou lhe indicando o caminho. E, por favor, não se desculpe de novo, e não me chame de senhor, eu não sou tão velho assim.

O homem parecia jovem, apesar de ter o cabelo completamente grisalho. Mónica calculou que ele deveria ter cerca de quarenta anos.

A moradora de Elche saiu com a limusine seguindo as instruções de seu chefe. Estava nervosa, não queria estragar seu novo emprego no primeiro dia. O trajeto durou apenas dez minutos; se estivesse em uma estrada automática, levaria mais de cinquenta. Mónica começou a entender a utilização das estradas antigas para evitar engarrafamentos e chegar mais cedo aos lugares.

– Você foi uma grata surpresa. – o homem sorriu para Mónica pela primeira vez. – Quantos anos você tem? – perguntou ele a Samuel.

Samuel levantou a mão escondendo o polegar e mostrando um quatro. O homem se aproximou dele e acariciou sua cabeça.

– Vejo você à uma, não se atrase desta vez – disse ele, virando-se para Mónica, que balançou a cabeça.

O homem colocou óculos de sol bastante modernos e saiu da limusine, mas deu azar de derramar o que restava de seu café nas calças brancas.

– Merda! Porra!

Samuel e sua mãe riram, colocando a mão na frente da boca para esconder. O chefe de Mónica virou-se e deu um sorriso forçado.

Mónica foi com o filho a um estacionamento abandonado que não ficava longe da empresa de seu chefe, lembrando as palavras do homem que telefonou para ela no dia anterior, que disse para ela não se afastar da empresa.

– Temos que esperar no carro até que ele termine?

– Sim, você quer brincar de alguma coisa?

Samuel balançou a cabeça em sinal de negação.

– Prefiro ler.

– Sabe, seu pai também gostava muito de ler.

– Mãe, quando eu for pro outro lado, eu vou ver ele?

– Não sei, meu amor, espero que sim – respondeu ela, de forma carinhosa.

Samuel pegou um dos dois livros que havia trazido e começou a ler. Mónica, enquanto isso, pesquisou sobre seu novo chefe na internet. O nome dele era Alexis, tinha quarenta anos, como tinha estimado, e, quando era mais novo, tinha sido capa de várias revistas por causa de escândalos. Pelo que ela conseguiu descobrir, ele se casou quatro vezes, todos casamentos curtos, exceto o atual, que já durava quatro anos, e do qual nasceram suas duas lindas filhas: Yolanda, de três anos, e Aura, de um ano e meio. A empresa onde ela o havia deixado, O Diamante Dourado, pertencia à sua família há três gerações e trabalhava com a fabricação e pesquisa de novos aparelhos tecnológicos. Além disso, ele construiu centros de armazenamento de energia solar e reservatórios sobre o mar em áreas muito chuvosas, para um projeto beneficente que permitiria custo zero de eletricidade e água potável para as pessoas, um projeto anunciado anos atrás, que Mónica e outras pessoas necessitadas desejavam que acontecesse.

Procurando nas fotos de adolescente de Alexis, ela finalmente se lembrou. Ela não tinha reconhecido por causa de sua grande mudança física. Quando ele era mais jovem, era gordinho, seu rosto era cheio de espinhas, e daria para dizer que ele era feio. Agora, apesar de não dar para dizer que ele era bonito, era muito atraente, graças, em parte, à sua aparência mais madura. Na juventude, ele teve várias namoradas que se aproximaram dele por dinheiro. Mónica lembrou que uma dessas namoradas era justamente uma amiga dela de infância, mas a história não acabou muito bem. Sua atual esposa era uma ex-modelo sueca de lingerie, famosa por ter desfilado três vezes para o prestigiado desfile do estilista ítalo-espanhol Fiordi Ramos e por ter feito participações especiais em filmes famosos.