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Futuro Perigoso
Futuro Perigoso
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Futuro Perigoso

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Cada tipo de estrada tinha suas vantagens e desvantagens. Nas estradas automáticas, não havia risco de colisão; o sistema informatizado de vias ao qual os carros estavam conectados traçava a rota, colocava no mapa e configurava para que não houvesse nenhum risco. Desde a introdução das estradas automáticas, cem anos antes, não houve acidentes nesse tipo de via, e por esse motivo a maioria das pessoas usava essa modalidade de estrada.

Durante algum tempo, dirigir em estradas antigas tornou-se moda, especialmente para pessoas ricas que queriam evitar os engarrafamentos das estradas automáticas. Evidentemente, a maioria não sabia dirigir, e tinha que recorrer a um motorista, um trabalho que, graças a essa moda, tinha ressurgido.

Mónica não dirigia um carro velho há anos, então ela estava nervosa. Decidiu que passaria a tarde dirigindo o carro velho que tinha deixado no estacionamento subterrâneo, no qual não tocava desde que tinha se mudado. Se ela ainda o mantinha, era porque havia boatos de que uma taxa seria introduzida para poder circular em estradas automáticas, além do imposto pago anualmente.

Mónica dirigiu até um antigo parque industrial abandonado de sua cidade, Elche, onde seria instalado um novo laboratório de pesquisa de vírus, após sua demolição e reforma, previstas para o final do ano.

Até chegar ao complexo industrial, a vários quilômetros de sua casa, o motor do carro de Mónica morria toda vez que ela parava.

– Vai, Mónica, você consegue. – disse ela a si mesma. – Faça isso pelos seus filhos e tente não ser demitida no primeiro dia.

Mónica praticou a tarde toda, até que ela foi buscar Samuel na escola.

***

Eram doze e meia quando Óscar entrou em casa.

– Foi tudo bem? – disse Mónica do sofá.

– Oi, mãe, tudo bem.

– Chegou cedo.

– Depois de tantas horas com eles, eu já tava cansado – explicou um sorridente Óscar.

– Seu irmão sentiu sua falta hoje à tarde.

– Por que você nunca me fala sobre meu pai? – ele perguntou, mudando de assunto e se lembrando das cartas que sua mãe tinha escondido.

– Você realmente quer falar sobre isso?

– Sim.

– Eu não tô preparada.

– Mãe, já se passaram dezoito anos, eu quero conhecer ele.

– Eu não tenho notícias dele há muito tempo. Eu queria poder te dar informações. Mais ainda, queria poder te dizer que seu pai era maravilhoso ou que ele procurou por você, mas ele não procurou, nunca se preocupou com você – mentiu Mónica.

Óscar entrou no banheiro para tentar se acalmar, já que há dois dias havia descoberto as cartas de seu pai. Tinha a sensação de ter vivido a vida toda com uma estranha. Já não conhecia mais sua mãe. Sempre tinha pensado que seu pai era a pior pessoa do mundo por causa do que sua mãe dizia para ele. Mas, agora que tinha descoberto parte da verdade, ele duvidava que sua mãe fosse melhor. Que motivo ele poderia ter para não deixar que se aproximasse dele?

Mónica subiu as escadas para ver se Samuel continuava dormindo; quando desceu novamente, encontrou Óscar assistindo TV angustiado.

– Olha, mãe, um laboratório de vírus em Taiwan explodiu.

– É uma tragédia. É por isso que me dá medo que queiram construir um laboratório aqui.

– É normal, Elche é a cidade mais importante da Espanha, não fazia sentido que não tivesse um aqui – disse Óscar, empolgado.

– Você vai continuar com essa besteira de ser CoHu?

–Besteira? Você acha besteira arriscar a vida pra salvar os outros? Acho que você tem que ser muito corajoso pra fazer uma coisa dessas – Óscar estava ficando exaltado.

– Você mesmo acabou de dizer, arriscar a vida. Qual a necessidade de você fazer isso?

– Alguém tem que fazer isso, se não todos morreríamos. Se ninguém se arrisca, ninguém ganha.

– E tem que ser meu filho?

– Se for preciso, sim.

– O que você quer provar?

– Só tô tentando ajudar. Ajudar as pessoas doentes a se curarem, ajudar você e Samuel com o dinheiro.

– Você não precisa, já tem muitos candidatos.

– Você é uma hipócrita, mãe. Sempre disse que as CoHu são heróis, mas não lhe parece certo que seu filho seja uma. CoHu sim, mas sem sujar as mãos. Que mãe corajosa – Óscar tinha lágrimas nos olhos.

– Você vai falar comigo sobre coragem? Quem criou você e Samuel? Quem deu tudo pra vocês?

– Acho que a mesma pessoa que me nega a chance de conhecer meu pai desde que eu nasci – disse Óscar, tentando recuperar a compostura.

– Não diga bobagens, seu pai abandonou a gente, eu não tenho notícias dele há dezoito anos.

– Pare de mentir, eu sei de tudo, encontrei sua caixa.

– Você bisbilhotou minhas coisas?

– Eu ter encontrado sua caixa te preocupa mais do que o fato de que você mentiu pra mim a vida toda? – Óscar desabou e começou a chorar.

– Só fiz isso para te proteger.

– De onde você tirou essa frase? De um filme?

– Peraí, onde você vai?

Óscar abriu a porta da frente e saiu, batendo a porta com força.

– Óscar, espera.

Mónica saiu de casa, mas já era tarde demais. Seu filho, que era campeão de atletismo, já tinha sumido de sua vista.

5. Dois são melhor que um

Keysi trabalhava no vírus encontrado em Sória; estava sendo difícil estudá-lo. O computador tocava A Cavalgada das Valquírias, ópera de Wagner. Carolina, que mostrava sinais claros de sono, tomou notas em um caderno para adicioná-las depois à sua tese. Keysi apertou o botão de pausa e disse em voz alta para a colega:

– É como se fossem dois vírus, mas é só um.

Carolina se aproximou de Keysi e olhou para os dados mostrados pelo computador.

– Keysi, você misturou dois vírus? Esses dados são impossíveis. Aqui tem variantes de dois vírus, claramente é algum erro.

– O pessoal da coleta de vírus deve ter cometido um erro.

– A gente devia reportar.

– Mas Carolina, eles poderiam ser despedidos, um erro tão sério é motivo de demissão.

– Me surpreende que você pense assim, já que você passa mais tempo aqui do que lá fora, de tanta preocupação com as pessoas infectadas.

– Eu sei, mas também me preocupo com meus colegas.

– Tá bom. Vou processar minhas amostras e comprara os resultados com os seus. Talvez tenha sido um erro.

– Brigada, Carolina. Vou ligar pro hospital de Sória para descobrir como o paciente idoso está evoluindo, e aproveito pra pedir que mandem mais amostras, se possível.

Carolina se virou, continuou com o que estava fazendo e, vinte minutos depois, começou a estudar o vírus de Sória. Keysi foi procurar o número de telefone do hospital de Sória.

Jacinto, um belo rapaz de 27 anos da área de coleta de vírus, entrou na Sala 4, onde Keysi e Carolina trabalhavam diariamente, assustando a segunda, que estava concentrada em seu trabalho.

– Você não pode avisar antes? – perguntou Carolina, irritada.

– Desculpa.

– Desculpa? Jacinto, Keysi e eu trabalhamos com material muito delicado, e somos algumas das poucas pessoas no laboratório que não usam roupas de isolamento ou qualquer proteção. Então, por favor, tenha mais cuidado.

– Eu sei, mas você nunca é exposta diretamente. Eu corro mais riscos quando vou coletar os vírus. Meu traje pode rasgar, e eu posso me infectar.

– E sua interrupção poderia ter me feito largar esse frasco que contém esse vírus misterioso que eu tenho nas mãos, e que ainda não achamos uma cura, e infectar nós duas – Carolina não queria dar o braço a torcer.

– Por que você diz que é misterioso?

– Porque todos os vírus têm suas próprias variantes simétricas. Desde que conseguimos "capturar" os vírus, pudemos descobrir que todos eles têm o mesmo padrão simétrico, com suas próprias características.

– Sim, eu já sabia disso. Trabalho aqui, lembra?

Jacinto sempre foi apaixonado por vírus, motivo pelo qual começou a estudar biologia, para depois se especializar em virologia molecular. Mas, depois de perceber que teria que trabalhar trancado em laboratório, mudou de biologia para coleta e tratamento especializado de micro-organismos.

– Ao submeter os vírus à viócula – a viócula era uma máquina que mostrava todas as características observáveis de um vírus, o que seria o ponto de partida no estudo de cada um deles —, entre outros dados, este gráfico nos mostra… – Carolina apontou para tela do computador.

– A tabela característica.

A tabela característica era um gráfico semelhante a uma cadeia de DNA, mostrando as qualidades únicas dos vírus.

– Exato. Aqui podemos ver duas tabelas características interligadas, o que é totalmente impossível. É por isso que acreditamos que esse vírus foi submetido a algum tipo de contaminação que o alterou.

– Carolina, isso é impossível. Eu mesmo coletei esse vírus.

***

Keysi ligou para o hospital onde estava o paciente idoso de Sória, selecionando “chamada holográfica” e colocando o telefone na palma da mão. Apenas os celulares modernos tinham o recurso de ligação holográfica, os outros tinham apenas opões de chamadas de voz ou vídeo. Ao responder do outro lado da linha, apareceu no telefone de Keysi um holograma de uma mulher de meia-idade, com evidências de já ter passado por tratamentos estéticos no rosto.

Keysi explicou à mulher o motivo de sua ligação.

– Lamento dizer, senhorita, mas o paciente morreu ontem à noite. A boa notícia é que, por enquanto, não há mais infectados.

A mulher se comprometeu a enviar mais amostras do vírus no mesmo dia e se despediu.

Keysi voltou à Sala 4, onde encontrou Carolina conversando com Jacinto.

– Eu tenho que ir. Tchau, Keysi – disse Jacinto, que saiu da porta consultando a localização de um vírus de que ele teria que coletar amostras.

– Não diga nada – disse Carolina, apontando o dedo para sua colega.

Keysi tinha a teoria de que Jacinto estava apaixonado por Carolina, o que a deixava nervosa, pois ela só via seu jovem colega como um amigo.

– Eu não ia dizer nada. – Keysi sorriu, deixando seus pensamentos para si mesma. – Tenho más notícias. – anunciou. – O paciente idoso morreu.

– Tem mais infectados?

– No momento não. Eles vão nos enviar mais amostras hoje. – Keysi olhou pela janela; era um dia ensolarado, os turistas estavam passeando tranquilamente, e o mar estava brilhando. – Acho que vou continuar estudando o vírus da Austrália.

– Por que você não descansa um pouco? Você tá entocada aqui há quase 24 horas, precisa descansar.

– O que você acha que os parentes dos infectados pensariam se soubessem que, em vez de procurar uma cura, eu tô descansando? – perguntou Keysi, exaltada.

– Não acho que você vai ajudar em nada cansada.

– Eu não tô cansada! – protestou a inglesa.

Por volta das duas da tarde, as amostras de vírus chegaram através da Rede de Transporte de Mercadorias Altamente Perigosas. Era uma rede de pequenos tubos à prova de fogo, anticongelantes e inquebráveis, de dois metros de diâmetro, muito rápidos, subterrâneos e que conectavam os laboratórios. No caso de ilhas, como em Maiorca, o vírus era transportado ao seu destino por um avião especial. No início, a construção começou como uma rede de transporte de mercadorias, mas, devido aos altos custos, uma rede menor e de uso médico foi construída em seu lugar. A rede foi construída paralelamente à Rede de Transporte Subterrâneo, uma rede que transportava passageiros, e que ligava praticamente todo o mundo, com uma velocidade que beirava os dois mil quilômetros por hora.

Clara se apressou em levar as amostras para a Sala 4.

– Tá aqui. Qualquer coisa, me chame – se ofereceu Clara, que naquele dia usava um penteado retrô, típico de dois séculos atrás, que simulava a figura de um leão feroz.

– Acho que vou sair um pouco.

– Eu também. Eu vou comer lá no meu apartamento. Você poderia vir comigo. Como as meninas que moram comigo tão viajando, eu tô sozinha, e assim você não teria que ver… – Carolina evitou falar o nome de Raúl, ex-namorado de Keysi.

– Não precisa, mas eu agradeço.

Carolina foi embora correndo, derramando uma lata de refrigerante pelo corredor do laboratório. Keysi ficou por mais alguns minutos, verificando o vírus estranho, tentando encontrar um erro. Ao sair do laboratório, Jacinto estava esperando por ela.

– Keysi, espera.

A britânica parou, esperando que Jacinto continuasse falando.