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Futuro Perigoso
Futuro Perigoso
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Futuro Perigoso

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Suas duas vizinhas, Maribel e Rocío, eram muito parecidas. Eles competiam em tudo, queriam ser as primeiras a saber de tudo. Todos os vizinhos fugiam delas assim que as viam se aproximar. Para Mónica, suas duas vizinhas fofoqueiras eram cansativas.

Assim que a porta se fechou, a campainha tocou. Mónica abriu a porta, saindo para a pequena varanda da casa. Um homem baixinho, com pouco cabelo e óculos esperava na porta.

– Oi, Mónica – o homem cumprimentou.

– Oi, Ignacio.

– Tudo bem com Samuel?

– Sim, tudo perfeito – respondeu Mónica, que pensava que seus vizinhos não a deixariam em paz nem por um momento.

– Fico feliz. – o homem tirou os óculos e os limpou. – Vi você entrar e aproveitei pra vir perguntar se você já tem o dinheiro do aluguel.

– Ignacio…

– Você me deve dois meses, sem contar com o atual. Sou bom com você porque você tem dois filhos pra cuidar sozinha, mas eu também tenho que comer.

Mónica olhou automaticamente para a barriga proeminente de Ignacio, e, sem saber por que, começou a rir. Ignacio olhou para ela irritado.

– Desculpe, mas acho que a minha pensão de viúva não dá pra tanto.

– Então você vai ter que procurar outro lugar…

Mónica bateu a porta sem deixar Ignacio terminar de falar. Mónica sabia que as ameaças de Ignacio nunca eram cumpridas; no ano anterior, ela chegou a dever seis meses, e ele não a despejou. Mónica era uma mulher de trinta e quatro anos bastante atraente, aos olhos de Ignacio inclusive. Ele vinha flertando com Mónica desde que ela tinha se mudado, alguns anos atrás, após a morte de seu marido.

Ignacio era seu vizinho, mas também era o dono de todo o bloco de casas. Ele comprou depois que ganhou na loteria, quando as casas estavam 90% construídas. Ele morava em uma delas e alugava as outras. Vários vizinhos tentavam comprá-las, mas ele recusava, alegando que assim ganhava mais dinheiro.

Ignacio morava sozinho. Todos os vizinhos pagavam um dia, exceto Mónica, por isso que ela, quando ouviu que ele também precisava comer, começou a rir. Ela sabia que ele não precisava de dinheiro, ao contrário dela.

Mónica sentou-se em sua mesa e começou a fazer contas. Naquele mês, também não poderia pagar o aluguel a Ignacio, era impossível. Ela analisou as ofertas de emprego em vários sites, nada em que pudesse trabalhar: uma oferta muito bem paga como engenheiro de computação, uma oferta para ser o motorista pessoal de uma celebridade, outra oferta procurando um advogado e assim por diante. Mónica havia começado uma carreira em arquitetura, mas depois de dois anos ela a deixou. Depois disso, ele fez vários cursos de design de interiores e exteriores, e depois começou a trabalhar como assistente de arquitetos, como designer de interiores e outros trabalhos correlatos. Ela também trabalhou como jornalista freelancer para vários veículos de comunicação.

Mónica levantou-se da mesa e foi até a janela com um café na mão esquerda, sua mão mais hábil. Ela ligaria para se informar sobre a oferta de motorista. A princípio, poderia aceitá-la. A parte ruim era o horário; ela teria que contratar uma babá para ficar com Samuel pela manhã e levá-lo para a escola.

Ao meio-dia, Óscar e Mónica comeram macarrão pré-cozido em silêncio, com o som de fundo da televisão. Ela estava com uma expressão séria.

– Mãe, o que tá acontecendo?

– Temos problemas de dinheiro.

Óscar sorriu.

– Como sempre.

– Isso é engraçado pra você?

– Não, mãe, mas a gente também não tá tão mal.

– Não posso pagar o aluguel, nem os boletos…

– Mãe, para. Com a pensão de viúva e a pensão de órfão, podemos pagar quase tudo se economizarmos um pouco.

– Você tá certo, podemos pagar tudo, menos o aluguel, e já faz vários meses.

– Você pode pedir ajuda pro vovô e pra vovó.

– Não vou pedir ajuda pra ninguém.

– Não seja orgulhosa, mãe. E o meu pai?

– Quê?

– Você sabe, meu pai.

– Vou fingir que não ouvi nada.

– Mas ele teria que te pagar alguma coisa.

– Prefiro não ter que pedir nada a ele.

– Sempre tem a opção de sair com Ignacio.

Os dois riram.

– Acho que vou ligar para tentar uma oferta de motorista muito bem paga.

– Motorista? Você? – Óscar riu.

– Eu não dirijo tão mal.

– E o que acha disso? Eu posso? – Óscar apontou para um folheto em cima da mesa, de um laboratório que precisava urgentemente de CoHu.

– Nem pensar. E menos ainda quando se pede com urgência. Isso é porque eles têm algum vírus muito perigoso e têm várias curas possíveis. Você não vai ser um experimento de laboratório.

– Depois de amanhã eu faço dezoito, então você não pode me impedir.

– Meus filhos não vão ser CoHu.

– Eu pensei que você defendia as CoHu.

– Eu defendo, mas é muito perigoso.

– A maioria sobrevive.

– É o que dizem, nunca mostram provas.

– Mãe, precisamos de dinheiro. Deixa eu falar com meu pai.

– Vou pensar.

Óscar não conhecia o pai, só tinha visto em fotos antigas de quando adolescente. Se o encontrasse na rua, nem saberia. Nas fotos que ele tinha visto, notou uma grande semelhança: os dois morenos, com olhos escuros, indiscutivelmente atraentes.

Para Mónica, o pai do seu filho mais velho tinha sido seu grande amor na época, mas tudo mudou depois que ele a trocou por outra mulher. E, embora o pai de Óscar tivesse tentado vê-lo quando bebê, Mónica sempre recusou.

Mais tarde, Samuel estava brincando pela casa com seu irmão. Era quarta-feira, o que significava o dia de uma caça ao tesouro. Depois que Samuel e Óscar fizeram seus deveres de casa, os dois irmãos esconderam um objeto que o outro teria que encontrar; o que encontrasse primeiro ganhava. Quase sempre Óscar encontrava antes, mas fingia que não para deixar seu irmãozinho ganhar.

Naquele dia, Samuel estava mexendo no guarda-roupa de Mónica, que tinha saído para fazer compras. Samuel olhou as gavetas da parte de baixo sem muito sucesso. Depois, pegou uma cadeira para tentar alcançar a parte mais alta do guarda-roupa. Mas, quando puxou um lenço de Mónica, que estava lá, ele sem querer jogou uma caixa de papelão no chão. Óscar, que estava no térreo, subiu correndo quando ouviu o barulho, pensando que seu irmão tinha caído.

– Samuel, você tá bem? – Óscar estava gritando quando subiu as escadas.

– Sim, eu tô bem.

Óscar entrou no quarto de sua mãe. Samuel estava sentado olhando alguns papéis, entre os quais algumas fotografias.

– Quem é esse homem? – perguntou Samuel.

– É meu pai.

Óscar não queria se intrometer na privacidade de sua mãe, então começou a recolher os papéis e as fotos e pediu que Samuel continuasse a procura em outra cômodo. De repente, seu coração disparou. Era uma foto de sua mãe grávida com seu pai. Por trás da foto, estava escrito o nome completo de seu pai, que também se chamava Óscar. Mas naquela caixa havia muito mais. Ele fechou a porta e começou a olhar tudo. Havia cartas de seu pai endereçadas a sua mãe, dedicatórias, poesias. Aquela caixa transpirava amor. Ele encontrou um número de telefone, que ele supôs que era do pai. Mas a pior coisa para Óscar foi o que encontrou no fundo da caixa. Havia vários brinquedos e figurinhas, além de várias cartas fechadas. Ele abriu uma das cartas, que estava endereçada a ele. Todos os brinquedos eram para ele, um presente de seu pai. Inclusive havia fotos ainda mais recentes. Óscar chorava por tudo o que havia perdido. Pegou as cartas endereçadas a ele e colocou o resto na caixa. Ao sair do quarto, mudou a expressão e agiu como se nada tivesse acontecido.

– Samuel, não conte pra mamãe que vimos a caixa.

– Por quê?

– Porque ela ia ficar chateada.

Horas depois, Mónica voltou. Óscar agiu como se nada tivesse acontecido. Tudo parecia normal.

À noite, ele lia cada carta, e a cada carta ele chorava mais profundamente, tentando não fazer barulho.

No dia seguinte, à tarde, Óscar segurava o folheto do laboratório em uma mão e, na outra, o celular com o número do pai gravado. Ele decidiu ligar para ele. Ele saiu da casa com o celular chamando. Três toques. Quatro toques. Antes de soar o quinto toque, atenderam. Era uma voz masculina, quente e suave, como se fosse de uma pessoa da sua idade. Óscar congelou. E se ele tivesse outros irmãos?

– Alô? – a voz repetiu do outro lado da linha.

Óscar desligou e entrou em casa. Sua mãe estava olhando para ele.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, nada.

– Você não sabe mentir. Vamos, me diga, o que tá acontecendo?

– É que eu tô com dificuldade em um trabalho de ciências.

– Deve ser bem complicado pra ser difícil pra você.

Óscar sorriu. Ele tinha um QI alto, sempre tirava boas notas.

No jantar, comeram uma receita da avó de Samuel e Óscar.

– Tá muito bom, mamãe – disse Samuel.

– Brigada – disse Mónica, maravilhada.

– Mamãe, conta a história de como você conheceu o pai de Óscar.

Mónica olhou na direção de Óscar, que ficou vermelho.

– Nós já sabemos a história do meu pai, você já contou muitas vezes – continuou Samuel, enfatizando o "muitas".

– Tá bom, assim que terminarmos o jantar, eu vou contar pra vocês.

3. O que acontece em Maiorca fica em Maiorca

Era meia-noite, e, embora Carolina tivesse ido embora há horas, Keysi ainda estava trabalhando como se estivesse de tarde. Na sala, dava para ouvir a música de Wagner. Enquanto ouvia a abertura de O Holandês Voador, Keysi acreditava que havia encontrado um antígeno para o vírus indiano. Tinha levado cinco dias; sua colega ainda não havia alcançado resultados conclusivos. Keysi observou em seu microscópio como seu próprio vírus afetava o outro, destruindo-o completamente. Ela pegou o telefone e ligou para Norberto.

– Eu consegui – disse a virologista assim que Norberto atendeu.

– Quem é?

– Keysi.

– Keysi, você tem alguma ideia de que horas são? – A voz de Norberto parecia distante.

– Desculpe, espero não ter te acordado.

– Sim, Keysi, eu tava dormindo. Mas, me diga, o que você conseguiu?

– O antígeno do vírus indiano tá pronto para ser testado em uma CoHu.

– Meu Deus, você tá falando sério?

– Totalmente.

– Bem, eu ligo para Clara, embora ela esteja dormindo, pra que possamos fazer os testes amanhã de manhã.

– Amanhã? É muito tarde. E se eu testar em mim mesma?

– Quê? Keysi, nem pense nisso. Eu proíbo.

– Tudo bem, vou esperar.

No tempo que passou desde que Keysi começou a estudar o vírus, o número de mortos subiu para aproximadamente setenta mil, embora se calculasse que poderia haver cerca de vinte mil que não tinham sido contados. O caos reinava na Índia. Por causa desse vírus, todas as fronteiras tinham sido fechadas, e milhares de turistas tinham ficado presos no país, esperando que algum laboratório encontrasse uma cura. Era o procedimento padrão quando um vírus se tornava incontrolável.

Keysi voltou para casa esgotada. Ela passou por alguns turistas ingleses, obviamente bêbados, que estavam andando meio sonolentos. Quando entrou na casa, ligou a TV e preparou algo para comer; não comia nada há doze horas. Ela mudou para o canal de notícias. Keysi ficou espantada; uma nova lei estava sendo preparada em todo o mundo, segundo a qual todos os vírus ativos deveriam ser reportados, informando todos os detalhes. Keysi pensou nas palavras de Norberto na outra semana. Se todos os vírus fossem divulgados, onde quer que houvesse um, as pessoas iriam enlouquecer, esvaziar supermercados e entrincheirar-se em suas casas até o vírus desaparecer.

Keysi se aproximou do Sistema de Controle da casa, um sistema que controlava praticamente todas as funções da casa, e o conectou ao seu celular. No celular, ela clicou em "Encher banheira" e depois nas opções "Água quente" e "Bolhas de sabão".

Ao entrar no quarto para pegar roupas limpas, ela encontrou seu ex-namorado dormindo. Ela abriu o armário sem fazer barulho e pegou as roupas. Tinha que encontrar outra casa logo; a situação estava se tornando cada vez mais desconfortável. Todas as casas que Keysi tinha visto estavam ultrapassadas, sem um Sistema de Controle.