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A Vida No Norte
A Vida No Norte
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A Vida No Norte

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Assim que a demanda aparece, o Ali faz um som desaprovador e afasta-se a flutuar. Li tudo e fiz a mensagem desaparecer, antes de falar novamente:

— Qual é o teu problema?

— Nada. Nada de nada — o Ali está sentado no ar, a flutuar com as pernas cruzadas e recusa-se a olhar para mim.

— Ali.

— Odeio essa demanda. É a maior porcaria da galáxia. Todos a recebem e todos julgam que vão ser os primeiros a resolvê-la, mas acabam por passar os 80 anos seguintes sentados numa maldita biblioteca, a debater com outros malditos investigadores sobre um artigo Kricklik publicado há dois mil anos! E, depois, bem, bolas... — à medida que fala, a voz dele fica cada vez mais alta.

— Já percebi, já percebi. Tens assuntos por resolver. Podemos não deitar a floresta abaixo por causa disso? — faço-lhe sinal com as mãos para baixar o volume, para o tentar calar.

Depois de se acalmar ligeiramente, o Ali resmunga:

— Não tenho assuntos por resolver. Tu é que tens!

Pronto, passando à frente. Demandas. Se o sistema continua a funcionar da mesma maneira, então, o separador da demanda está em...

— Quando recebi aquela demanda? — murmuro para mim mesmo, ao olhar para a primeira demanda na lista.

— Eu aceitei aquela por ti, enquanto estavas a brincar às enguias.

— Podes aceitar demandas por mim? — olho especado para o Ali. — Quanto controlo é que te dei, na realidade?

— Não o suficiente, sortudo — o Ali sorri, antes de encolher os ombros. — Sou teu Companheiro, não posso fazer nada para te magoar e tu ias sair daqui de qualquer maneira, era indiferente se a aceitava ou não.

— Está bem. Mas avisa-me, pode ser? Não gosto de surpresas dessas — fecho o separador e olho para ele durante mais algum tempo. — O que é exatamente um Companheiro?

— Finalmente! Sou um Companheiro do sistema, um tipo de Espírito para ser preciso. Como Companheiro atribuído pelo Sistema, tenho acesso à tua interface e a certos aspetos do Sistema a que os utilizadores, em geral, não têm. Estamos ligados, por isso, quando ficares mais forte, eu também recebo mais habilidades. A Nível 2, tenho acesso à informação sobre os monstros que estão no Sistema, à nossa volta. Mais tarde, vou ser capaz de te fornecer mais detalhes e, a níveis ainda mais elevados, vou poder partilhar a minha Afinidade Elementar e até posso ganhar um corpo.

Faço um aceno para agradecer e fico em silêncio, a ponderar o que ele disse. Parece que tê-lo como Companheiro ligado é mais poderoso do que julgava. Mesmo assim, ainda há muito para aprender.

— Há um ficheiro de Ajuda?

Ele mexe uma mão e uma caixa azul gigante de textos aparece à minha frente. Eu refilo e entro ainda mais para dentro da gruta para começar a ler. Horas mais tarde, tenho uma melhor compreensão do básico. Os atributos básicos são bastante óbvios. Contudo, curiosamente, a Resistência determina não só a minha Vida básica, como também o quão rapidamente me curo. Basicamente, os pontos saram à mesma velocidade por minuto. A Inteligência determina o tamanho da minha reserva de Mana, ao passo que a Determinação atualiza essa reserva a cada minuto, com base no seu valor estatístico. É claro que não sei se isso é muito útil neste momento, visto que não tenho nada que utilize Mana, mas a informação é boa na mesma.

O mais interessante é que a Vida não é apenas o quão saudável estou fisicamente. Na verdade, é um valor numérico para a quantidade de danos que o Mana embutido no meu corpo iria absorver, atenuando os danos que sofro. Não impediria uma morte súbita, se enfiassem uma picareta no meu cérebro, mas reduziria a força do impacto da picareta, se tivesse uma reserva de Vida suficientemente grande. Claro que isso esgotaria algum do Mana embutido, reduzindo a minha Vida a um ritmo mais drástico. É muito estranho, principalmente porque o Mana embutido é completamente diferente do Mana que posso usar em feitiços. Enquanto luto contra outro bocejo, recorro a mais informações sobre as coisas que vi no quadro de estatísticas.

As habilidades de classe são habilidades especiais, que dependem do Mana para produzir os seus efeitos. No geral, podem infringir muito ou pouco as leis da física, dependendo da própria habilidade. Alguns dos exemplos fazem-me lembrar filmes de ação ou anime. A habilidade de gerar fogo nas minhas mãos ou ter um corpo blindado parecem-me fixes.

Os feitiços, por outro lado, eram apenas isso, feitiços de magia que utilizam Mana para serem lançados. A distinção entre o que é considerado uma habilidade e o que é considerado um feitiço parece-me um pouco arbitrário, mas talvez se torne mais claro quando receber um deles.

E as Regalias... Bem, as Regalias são coisas que se ganham por completar demandas especiais ou apenas por estar no lugar errado à hora errada, ao que parece. Pequenas ou grandes vantagens em relação a uma pessoa normal, sem regalias.

Agora, temos números, pontos para dizer quem somos, o que somos, aquilo em que, supostamente, somos bons ou maus. Tinha dado jeito, quando era mais novo, poder apontar para um ecrã e dizer “eu não sou quem vocês pensam” ou teria sido a mesma coisa? Se a minha vida tivesse sido ditada por este Sistema, será que teria tentado aumentar o meu Carisma ou teria treinado mais para ser mais forte? Teria falhado menos porque me teria concentrado em coisas às quais já era bom? Ou será que não teria feito a diferença?

Suspiro, esfregando os olhos. Ainda há tanto para ler, tanto para aprender sobre este estranho mundo novo. Quero ler mais, mas já não consigo lutar contra a exaustão e os meus olhos começam a fechar-se.

Capítulo 3

Parabéns. Sobreviveste um dia inteiro! Os humanos são mesmo uma raça excelente. Apenas 60% de vocês morreram, ontem. Estamos impressionados. Merecem um biscoito. E alguma experiência. Lembrem-se, os monstros vão aumentar durante a próxima semana.

— 60%! — fecho os olhos, enquanto a minha mente tenta processar o significado daquele número. 60%, mais de quatro mil milhões de mortos. 60%, seis em cada dez pessoas que já conheci estão mortas. Seis em dez ... Isso significa que a minha família está morta, uma vez que eu estou vivo. Este último pensamento faz-me respirar com dificuldade, um abismo de dor a surgir. Tenho evitado pensar neles, no que este Sistema significa para o mundo, mas, com este anúncio, o sofrimento, a raiva e o arrependimento estão a acumular-se. O abismo de dor e as emoções conturbadas aumentam ainda mais, antes de serem afastadas e postas de lado, reprimidas. Não tenho tempo para lidar com isto agora, tenho coisas para fazer, a minha própria existência para manter.

— Sabes, chorar é considerado algo muito masculino nas culturas de Kraska. Se bem que eles parecem os vossos crocodilos terrestres — o Ali flutua acima de mim e observa como lido com os meus pensamentos, antes de fazer desaparecer a notificação. — Vamos, rapaz!

— Dá-me um momento — murmuro.

— Não vais mesmo chorar, pois não? — pergunta o Ali, virado de cabeça para baixo, completamente aborrecido.

— Não, não vou — afirmo com confiança. Consigo sentir o sofrimento, se me concentrar nele. Tal como a maioria das minhas emoções, está silenciado, como se houvesse um cobertor pesado sobre uma coluna. Está ali, apenas difícil de aceder. É o suficiente para eu funcionar, pelo menos, no geral. Mas consigo perceber, mesmo assim, que o sofrimento se está a misturar com a maré de raiva em que vivo.

Raiva...

— Ali, encontra algo para eu matar — afirmo calmamente e levanto-me com a mochila na mão. — Encontra montes de coisas para eu matar — por uma vez, o Ali não me responde e faz o que lhe peço.

***

— Está morto — o Ali tenta apaziguar-me, quando dou uma última facada no esquilo-terrestre. Talvez tenha exagerado um bocadinho, o animal está desfeito. Ainda bem que a função de saquear não tem em consideração o estado do corpo da criatura e deu-me o prémio sem as feridas de faca bastante sórdidas.

— Ali, como é que consigo uma arma melhor? — observo a minha faca e a criatura. Felizmente, satisfiz os meus desejos de miúdo e escolhi uma faca de mato. Para dizer a verdade, era demasiado apenas para acampar, mas estava numa fase de Rambo quando a comprei. Agora, é a minha única arma. Bem, isso e uma lata de spray contra ursos.

— Na Loja do Sistema. É num local seguro gerado pelo Sistema que, atualmente, só existe em Whitehorse. Mas vais ter de vender o teu saque para a conseguir, a não ser que ganhes alguns créditos do Sistema, algo que apenas os sencientes recebem — o Ali continua a explicação. — Ainda tens de deitar cá para fora os teus sentimentos?

— Vamos sair daqui — abano a cabeça, a raiva finalmente a acalmar. Não sei bem o que diz sobre mim, o facto de ter descarregado naquelas criaturas. Mas, por agora, vou evitar pensar nisso. Já vamos a meio da manhã e ainda não consegui fazer muitas mortes. Caçar está a tornar-se cada vez mais perigoso, uma vez que até as criaturas da Terra se estão a mutar a um ritmo mais acelerado, superando o meu nível e a minha faca patética.

— Muito bem, miúdo, o mesmo de ontem — o Ali faz sinal para o caminho e eu sigo as indicações dele.

***

Com a faca empunhada à minha frente, salto e atiro-me para baixo. O MFQ desativa-se no último segundo, quando enfio a faca na cabeça da lebre americana. Espero ter acertado em algo importante, visto que a lebre é do tamanho de um cavalo, mas muito mais larga. Ela vira a cabeça e é apenas um bocado de pelo que agarrei à pressa que me mantém em cima dele, enquanto lhe espeto a faca repetidamente na parte de trás da cabeça e do pescoço.

Um minuto depois, tinha feito estragos suficientes para a lebre cair, morta. Há alguns momentos, ela tinha finalmente conseguido tirar-me de cima dela, esmagando-me contra um pinheiro, partindo-me o ombro e fazendo-me soltá-la. Deitado no chão, cheio de dores, não consigo deixar de pensar porque teria o Ali insistido tanto para eu lutar contra a lebre. Dou voz aos meus pensamentos, enquanto os ossos regeneram e voltam ao sítio. Ao forçar-me a sentar debaixo de uma árvore e ao tirar outra barra de chocolate da mochila, sinto-me feliz por trazer sempre demasiado chocolate comigo.

— Lebre? Achava que era um coelho — o Ali olha com desagrado, flutuando por cima da criatura. — Bolas! E eu que queria dizer: “Não se passa nada, meu”.

***

— Baixa-te!

Deito-me no chão e sou atirado para o lado, quando a criatura vai contra a minha mochila. Estamos a descer a montanha a um bom ritmo, com o Ali a avisar-me da chegada de monstros. Rebolo, ficando frente a frente com uma bola de pelo raivosa com demasiados dentes. Enfio o bastão de caminhada na barriga dele e a criatura começa automaticamente a morder a vara de metal. Estou a fazer força, pregando a criatura ao chão, quando esta começa a sufocar.

— Mexe-te!

Salto, soltando o bastão, quando outro monstro felpudo me ataca do outro lado. Estava demasiado focado em matar o primeiro. Ataco com a minha faca, cortando o pelo áspero e afasto-me aos tropeções, a agitar a arma desesperadamente.

— À tua direita — o Ali avisa e olho para a direita, usando as costas da mão para atacar o terceiro monstro Tribble. O golpe acerta-lhe e ele vai a rebolar pela colina. O segundo monstro aproveita a minha breve distração como um sinal para me morder a perna e eu grito de dor, espetando-o com a minha faca uma e outra vez, até ele me libertar.

Afasto-me, coxeando para onde o primeiro monstro felpudo continua a asfixiar e a tossir e mato-o, pisando a criatura repetidamente, até esta parar de respirar.

— Atrás de ti outra vez — avisa o Ali, já aborrecido.

Viro-me, levantando o braço a tempo de o deixar morder o meu antebraço, em vez da minha cara, e depois começo a esfaqueá-lo até à morte.

— Bem, essa é uma forma de matar monstros. Tenta não os deixar morder tanto, na próxima luta — o Ali salienta, prestavelmente, e eu olho furioso para ele, enquanto saqueio as bolas de pelo. A sério, cotão? É esse o meu saque? Cotão? Mas o que esperava de bolas de pelo? Atiro-as para o inventário com uma careta e começo a coxear em direção a um riacho que me lembro de ser aqui perto.

Lavo a minha roupa o melhor que consigo no riacho, com o Ali a vigiar, por cima de mim. Trabalho depressa, livrando-me da maior quantidade de sangue possível, sem encharcar demasiado a roupa. Quer seja de lã ou não, não deixa de estar molhada e o início de abril em Kluane significa que as temperaturas vão rondar os 6ºC à sombra. Enquanto me limpo, pergunto ao Ali algo que me tem incomodado. — Ali, porque é que os monstros nunca te atacam?

— Eles não me conseguem ver — responde o Ali.

Franzo as sobrancelhas.

— Mas naquela primeira vez...

— Eu consigo tornar-me visível com algum esforço, mas não o consigo fazer durante muito tempo, pelo menos, ainda não — o Ali faz uma pausa, virando-se para Este antes de falar. — Está na altura de irmos, jeitoso. Vamos ter companhia.

Levanto-me depressa, sacudindo a água das minhas mãos e correndo devagar para Sudoeste, dando o meu melhor para ser o mais silencioso possível.

***

O sol já quase se pôs quando finalmente chego ao parque de estacionamento. O que deveria ter sido uma caminhada de meio dia transformou-se num tormento de dois dias. Não me surpreendo ao ver o que sobra do meu veículo queimado, apesar de o sibilo da palavra “salamandra” me dar uma ideia do que possa ter causado o problema. Ou daria, se eu soubesse o que é uma salamandra.

— Um lagarto gigante com uma afinidade superior a magia de fogo. Respira mesmo fogo. Há quem julgue que são um tipo mais fraco de dragão — explica o Ali. — São boas e más notícias.

— Explica — murmuro, à procura de monstros na clareira.

— Más notícias: vai em direção a Haines Junction — o Ali aponta para o rasto bastante óbvio. Ao ver que não quebro o silêncio, suspira e explica as boas notícias. — É provável que a presença dela afaste a maioria dos monstros do seu caminho. É mais seguro se a seguirmos. Isto, se ela não voltar para trás.

Fantástico. É mesmo fantástico. Vou estar a seguir um lagarto gigante que cospe fogo no seu percurso para a civilização mais próxima que conheço e esperar que não repare em mim. Pelo menos, não se chama Godzilla.

***

Não sou lá grande jogador, mas a minha ex era e apanhei termos suficientes para saber o que é “roubar mortes”. Quase me sentiria culpado ao tirar a vida a estes alces relâmpago e ao ganhar uma quantidade minúscula de experiência com isso, mas, tendo em conta que eles estão esmagados ou a sofrer com queimaduras significantes, vou chamar a isto serviço humanitário. Além desses atos de misericórdia, ignorei com determinação os corpos queimados e meio comidos que constituem a maioria da manada e que foram a refeição mais recente da salamandra.

Passaste de Nível!

Chegaste ao Nível 3 de Guarda de Honra de Erethran. Os Pontos foram distribuídos automaticamente. Tens 3 atributos livres por distribuir. As Habilidades de Classe estão bloqueadas.

As habilidades bloqueadas levam-me a fazer uma careta, mas considerando o aumento ridículo das estatísticas, posso viver com isso. Como tenho um breve momento, invoco o quadro de estatísticas, para o rever.

Atributos não atribuídos:

Gostaria de atribuir estes atributos?

3 Pontos de estatística

(S/N)

— Uau! De onde vieram todas estas habilidades? — ver o meu quadro de estatísticas pela primeira vez em dias faz-me levantar as sobrancelhas.

— Tens andado a ganhá-las, eu é que tenho escondido as notificações, por agora — o Ali encolhe os ombros, fazendo um pino aéreo enquanto espera por mim.

— O quê? Porquê? — resmungo com o homenzinho pequeno, com os olhos cerrados.

— Seria uma distração. Não mudaria nada do que fizeste, pois não? As habilidades recebidas pelo Sistema são logo adicionadas à memória dos teus músculos e da tua mente, por isso, já tens beneficiado com isso, seja como for. O resto são apenas números — o Ali funga. — Os números não significam porcaria nenhuma se não fizeres nada. O melhor é não ficares obcecado com eles.

O que ele diz relembra-me uma conversa que tive com um orientador da escola. “O QI não significa nada, se não estudares”, ele dizia sempre isto. Ao ouvir o Ali mencionar algo tão parecido, não consigo evitar fulminá-lo com o olhar.

— Da próxima, faz-me um resumo todas as noites, está bem? Pelo menos, gostava de saber o que vai acontecendo.

O Ali suspira, amuado. Começo a andar e ajusto o quadro, até este ficar quase transparente. Continuo a estudá-lo, confiando que o homenzinho me vai manter informado. Por muito chateado que ele esteja, é bom a vigiar.

— Ali, os números não fazem sentido.

— Ganhaste alguns pontos por andares a correr e a esconder-te. E assim que escolheste uma classe, as tuas estatísticas aumentaram os pontos de dano — afirma o Ali, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Para ele talvez seja, mas teria sido bom saber que isso podia acontecer. O guia de ajuda que ele me deu fez-me compreender algumas coisas, mas é óbvio que ainda há muito que não compreendo.

— Mas não esperes mais. Já chegaste a um nível em que, a não ser que te tornes um atleta profissional, é melhor passares o tempo a passar de nível.

Aceno ao que ele diz e tento decidir o que fazer com os meus pontos gratuitos, mas apercebo-me de que não faço ideia. Os mínimos estão tão longe que mais valia estarem na lua. Ao fazer umas contas rápidas, precisaria de, pelo menos, 18 níveis para elevar a Força até onde que seria suposto esta estar, na minha classe, se não lhe acrescentasse nenhum ponto. Em vez disso, deixo os pontos por distribuir, por agora. Talvez venha a descobrir o que preciso, mais tarde.

— Ali, uma pergunta sobre as mensagens. Elas parecem mudar de tom, de formal para um bocado idiota.

— Bem, a base das mensagens do Sistema é aquilo que vês na maioria das vezes, as formais que mencionaste. Contudo, o CG também controla as mensagens. Por isso, ocasionalmente, eles metem-se ao barulho, especialmente se for algo que interessa a alguns dos observadores — explica o Ali.

— Observadores? — resmungo, olhando para ele e, depois, para o que me rodeia.

— Sim, mas terias de fazer algo muito grande para lhes chamar a atenção. Não te preocupes com isso, também não podes fazer nada quanto a isso — afirma o Ali e eu aceno. Mas sinto-me a curvar um pouco os ombros. O Big Brother está a ver-te.

***

Umas horas depois, faço uma pausa e tiro a minha bússola. Faço um reconhecimento rápido do caminho e olho para o Ali, que acena em confirmação ao que suspeitava. A salamandra mudou de percurso, afastando-se de Junction.

Assustadoramente, a salamandra vai ser um dos monstros vulgares menos poderosos que vão habitar o parque, a partir de agora, utilizando fauna nativa que cresceu demasiado depressa e se espalhou como fonte de alimento. Felizmente, a salamandra é idiota, uma criatura que segue o instinto e vagueia pelo parque e arredores.

Reajusto a minha mochila e acelero o passo. Com sorte, há um carro ou outro veículo qualquer que possa usar e me leve a Whitehorse. No mínimo, vou poder acompanhar sobreviventes.

Capítulo 4

Atravessar o Parque faz-me receber uma mensagem simples e uma recompensa. Não está nem perto de ser o suficiente para passar de nível, mas todos os bocadinhos contam.

Demanda Completada!

Sobreviveste ao parque nacional de Kluane e até conseguiste manter-te intacto!

Recebes 5000 XP.

Ao aproximar-me de Haines Junction, tento lembrar-me do pouco que conheço. É uma cidade com cerca de 800 pessoas, por isso, deve haver umas centenas de sobreviventes, se os números forem verdadeiros. O fumo que vejo a levantar-se do centro da cidade com apenas uma rua deixa-me preocupado. Portanto, levei o meu tempo, desviando-me para casas que marcam a aproximação dos poucos edifícios que representam o centro da cidade. Encontro um carro e até as chaves, mas não funciona, o carro é demasiado novo. Maldito Sistema.

Mas tenho sorte, pois deparo-me com comida e roupa que posso usar, juntamente com uma arma verdadeira, uma espingarda abandonada de calibre .56 e uma caixa com balas. A espingarda tem um cadeado no gatilho, mas, felizmente, a chave do cadeado é fácil de encontrar, pois está pendurada num parafuso do outro lado da sala. Ainda bem que os humanos são preguiçosos.