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A Vida No Norte
A Vida No Norte
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A Vida No Norte

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Ao rejeitar as notificações, vejo uma luz a começar a brilhar à minha direita. Viro-me, a pensar em quem ou o que será o meu novo Companheiro.

***

— Fugir, esconder ou lutar. Não é assim tão difícil decidir, miúdo.

Olhem, eu não sou perverso. Não precisava de uma fada gira e atraente como meu Espírito Companheiro do sistema. Claro, uma parte de mim esperava que o fosse. Sou um homem de sangue quente que não se importaria de olhar para algo bonito. Ainda assim, em termos práticos, ter-me-ia contentado com um autómato sem género, que fosse eficiente e respondesse às perguntas com o menor número de palavras possível. Em vez disso, calhou-me ele...

Olho para o meu novo Companheiro e suspiro mentalmente. Mal chega aos 30 cm e parece um jogador de futebol americano com uma barba castanha cerrada e encaracolada. Cabelo castanho, olhos castanhos, pele morena e um fato laranja bastante justo, que realça os sítios errados, complementa o conjunto. Ali, o meu novo Companheiro, só aqui está há dez minutos, a explicar-me o mais importante, e eu, em parte, já me arrependi da minha escolha.

Em parte, porque, apesar de todas as suas críticas, até é bastante útil.

— Fugir — decido finalmente, enquanto parto a barra de chocolate e lhe dou outra dentada. Não vale a pena lutar, não posso utilizar nada que consiga afetar um monstro de Nível 110, segundo o Ali. E apesar de não haver garantias de que um deles se irá reproduzir imediatamente, até os monstros de nível mais baixo, que são as suas refeições, seriam demasiado difíceis para mim.

Esconder-me só atrasa as coisas. Portanto, tenho de me pôr a andar do parque, o que, na verdade, não deve ser assim tão complicado. Demorei meio dia a subir a montanha, com uma caminhada árdua, a partir do parque de estacionamento, que fica mesmo dentro da nova zona. A um bom ritmo, devo chegar lá abaixo em algumas horas, o que significa, se percebi bem as coisas, que não devem existir assim tantos monstros. Assim que sair, parece que Whitehorse tem uma Zona Segura, ou seja, posso abrigar-me e descobrir o que raio se está a passar.

— Já não era sem tempo — resmunga o Ali. Com um movimento das mãos dele, uma série de novas janelas surgem à minha frente. Pouco tempo depois de aparecer, ele pediu acesso total ao meu sistema, o que lhe permite manipular a informação que eu vejo e recebo. É muito mais rápido assim, visto que ele me mostra a informação e me deixa ler as coisas, enquanto faz a pesquisa mais aprofundada. As novas janelas azuis (mensagens do Sistema, segundo ele) são as suas opções para as regalias médias e pequenas.

Prodígio: Habilidade Furtiva

És um espião natural. Os Intrépidos contratar-te-iam imediatamente.

Efeito: Todas as habilidades Furtivas são ganhas 100% mais depressa.

+ 50% de aumento do Nível de Habilidades para todas as habilidades Furtivas.

— Porquê esta? — olho com ar de desagrado, enquanto toco no lado da habilidade Furtiva. Não sou bem o típico miúdo espião, sou mais direto na maioria das minhas interações. Nunca senti muito a necessidade de mentir e certamente não me imagino a esgueirar-me e a entrar à socapa em edifícios.

— São habilidades furtivas. Dão um bónus imediato a todas, o que significa que as ganhas mais depressa. Uma Regalia Pequena iria dar-nos acesso direto à base das habilidades Furtivas. Mas, a este nível, temos de avançar para a categoria principal — responde o Ali e continua. — Se conseguires sobreviver, deve ser útil no futuro, de qualquer maneira.

Manipulador de Física Quântica (MFQ)

O MFQ permite ao seu portador mudar de estado, posicionando-se numa dimensão adjacente à atual.

Efeito: Enquanto estiver ativado, o seu utilizador torna-se invisível e é indetetável através de meios normais e mágicos, desde que o MFQ permaneça ativado. Objetos sólidos podem atravessar, mas gastam energia mais depressa. A energia dura cinco minutos em condições normais.

— Como recarrego a energia do MFQ?

— O MFQ utiliza um Cristal Manipulador de Categoria III. O Cristal aproveita o ambiente e alinha especificamente... — O Ali olha para a minha cara durante algum tempo, antes de me dispensar com a mão. — Recarrega-se automaticamente. Fica completamente carregado num dia, em condições normais.

—Não requer nenhum Nível?

— Nenhum.

Escolhi o Ali porque ele conhece o Sistema melhor do que eu. Portanto, posso aceitar o que ele diz ou posso fazê-lo sozinho. Vendo as coisas desta forma, não é uma escolha assim tão difícil. É aquilo de que falámos, mas a habilidade Furtiva não vai ser muito útil para mim. Por outro lado, qualquer bónus para me poder esconder é fantástico e o MFQ permite-me fugir, se for descoberto. Assim, sobra apenas a Regalia Superior.

Classe Avançada: Guarda de Honra de Erethran

A Guarda de Honra de Erethran é uma elite de membros das forças armadas de Erethran.

Habilidades de Classe: + 2 por nível em Força; + 4 por nível em Constituição e Agilidade; + 3 por nível em Inteligência e Determinação; 3 atributos gratuitos adicionais por nível; + 90% de Resistência Mental; + 40% de Resistência aos Elementos.

Pode designar uma arma pessoal. A arma pessoal é vinculada à alma e pode ser melhorada.

Os membros da Guarda de Honra podem ter até 4 ligações a pontos de abrigo, antes de serem aplicadas as penalizações de essência.

Atenção! Não possui os atributos mínimos requeridos para a Classe de Guarda de Honra de Erethran. Habilidades de Classe bloqueadas até possuir os requisitos mínimos.

Classe Avançada: Cavaleiro Dragão

Preparados antes de nascerem, os Cavaleiros Dragão são guerreiros de elite do reino de Xylargh.

Habilidades de Classe: + 3 por nível em Força e Agilidade; + 4 por nível em Constituição; + 3 por nível em Inteligência e Determinação; + 1 em Carisma; 2 atributos gratuitos adicionais por nível; + 80% de Resistência Mental; + 50% de Resistência aos Elementos.

Ganha Afinidade Elementar, uma Superior e uma Inferior.

Atenção! Não possui os atributos mínimos requeridos para a Classe Cavaleiro Dragão. Habilidades de Classe bloqueadas até possuir os requisitos mínimos.

— É só isso?

— Não, também podes ter este.

Classe: Semideus

Seu humano sensual, vais ser um semideus. Inteligente, forte e lindo. Que mais podes querer?

Habilidades de Classe: + 100 em todos os atributos

Ganhas todas as afinidades maiores

Traço de Super Sensualidade

— Isso não existe.

— Nem por isso — com um sorriso matreiro, o Ali abana a mão e a última janela desaparece. — Querias uma classe que te ajudasse a sobreviver? Isso significa resistência mental. Caso contrário, vais fazer xixi nesses lindos boxers do Pac-Man assim que vires um monstro de Nível 50. Querias algo derradeiro? A Guarda de Honra são uns verdadeiros mauzões. Eles combinam magia e tecnologia, o que faz deles um dos grupos mais versáteis que existem e os progressos da classe de Mestre deles é bastante assustadora. Os Cavaleiros Dragão lutam com Dragões. Se for de um para um, por vezes, chegam a ganhar. E nenhum deles, passo a citar: “me transforma num monstro”.

— Se estas são as Classes Avançadas, quais são as outras classes? — pergunto ao Ali, ainda hesitante. Isto parece ser uma escolha importante.

— Básica, Avançada, Mestre, Heroica, Lendária — o Ali enumera e encolhe os ombros. — Posso conseguir-te uma classe de Mestre com a tua regalia, mas ficarias com as habilidades de classe bloqueadas para sempre. Também irias demorar uma eternidade a passar de nível, porque a experiência necessária para passar de nível é mais elevada. Em vez disso, consegui-te uma classe Avançada rara. Vai dar-te um maior ganho de estatísticas base por nível e não vais ter de esperar eternamente para ganhar acesso às tuas habilidades de classe. Ter uma classe Básica, até mesmo uma classe Básica rara, seria um desperdício de uma Regalia Superior. Portanto, o que vai ser?

Por muito fixe que dar um murro a um dragão possa ser, soube o que ia escolher assim que ele o mencionou. Mentalmente, escolho a Guarda e sou inundado por uma luz. No início, apenas me faz contorcer, mas começa a piorar, a pressionar o meu corpo e a minha mente, enfiando garras elétricas e quentes nas minhas células. A dor é a pior que alguma vez senti e eu já parti ossos, costelas e até já me consegui eletrocutar.Sei que estou a gritar, mas a dor persiste, apoderando-se de mim, do meu controlo. Felizmente, a escuridão engole-me, antes de a minha mente se desfazer.

Capítulo 2

— Podias ter-me avisado que aquilo ia acontecer! — gritei para o Ali, que paira sobre o meu ombro direito, enquanto arrumo à pressa o conteúdo da minha tenda e o equipamento.

— Como querias que soubesse que ias ser fraquinho e desmaiar, como um goblin num primeiro encontro? — goza o Ali, a voar satisfeito ao meu lado e de vigia.

— Podias... Ah! — quero gritar, mas tenho de me conter e continuar a arrumar tudo. Tenho de reprimir esse sentimento e o medo que sinto dentro de mim, que quer assumir o controlo e forçar-me a não fazer nada. Perdemos mais de duas horas a mudar a minha classe e o Sistema já está operacional. O Sistema está a funcionar e impregnou o parque de Mana, portanto, muitas das mutações espontâneas já se estão a espalhar por toda a zona, segundo o Ali. Tenho de sair daqui, de preferência, em silêncio e depressa. Além de tudo isso, o rasto de fumo no fundo da montanha, no sítio onde estava o parque de estacionamento, era um indício de todas as coisas más que aconteceram ao meu carro.

Resumindo, gritar seria a reação menos útil que poderia ter, neste preciso momento. Quer dizer, exceto ficar sentado como um autêntico idiota.— Podias dar uma ajuda, sabes?

— Eu estou a ajudar — o Ali suspira e abre os braços. — Estou a proteger-te.

Podia discutir com ele, mas a mala já está feita e está na altura de irmos embora. Abro outra barra de chocolate e mastigo-a, enquanto ponho a mochila às costas e ajusto as alças.

Paro para olhar à volta da clareira, a registar a vista maravilhosa. O lago Kathleen mantém a sua glória glacial, a ondulação das águas forma ondas e o vento uivante envolve as montanhas cobertas de neve que o rodeiam. Uma natureza intocada, que poderia estar reproduzida num postal, é agora um perigo para mim. As suas florestas escondem todo o tipo de novos monstros. Ao virar-me, os meus olhos vagueiam pelo acampamento, para me certificar de que não há mais nada que possa fazer ou encontrar. A vegetação alpina rasteira é escassa e as árvores são pequenas, pois não se desenvolveram por ter sido um verão tão curto. Por isso, decidi abrir caminho pela floresta para descer a montanha, em vez de usar o trilho. Mais vale ir devagar e silenciosamente, do que descer pelo trilho e dar de caras com seja que criatura for que decida aparecer neste novo mundo.

Passados trinta minutos, recebo uma notificação de que ganhei a habilidade Furtiva. Não posso dizer que fiquei surpreendido, esconder-me fazia parte do plano que eu e o Ali delineámos. Entre a minha Regalia Média e ter um nível extremamente baixo num ambiente com Mana elevado, o Sistema está a gerar automaticamente bónus adicionais para eu aprender mais depressa, para ajudar a equilibrar a relação risco/recompensa. Assim que a notificação aparece, um ligeiro formigueiro percorre o meu corpo. O conhecimento altera a forma como me movimento, penso e analiso o que me rodeia.

O primeiro sinal de perigo com que me deparo é o chilrear, é demasiado alto. Deteto-a logo a seguir, uma sombra negra do tamanho de um Dobermann a mover-se pelo chão, com seis pernas e antenas. As formigas não deveriam ser assim tão grandes. Congelo e, depois, começo a recuar lentamente. Ainda bem que aquilo não me viu.

— Ei! Seu monstro lindo e grande. Aqui! Olha um pedacinho delicioso para a tua rainha. Ei! — um Ali com um sorriso maníaco grita por cima de mim e abana os braços para chamar a atenção.

— Que raio? — Não há tempo para fazer mais nada, apenas pude começar a refilar com ele, porque a formiga, atraída pelas pequenas artimanhas do idiota, vira-se para mim e, passado um pequeno momento de hesitação, avança diretamente para mim. Levanto o bastão de caminhada e avanço, na esperança de o usar como lança.

Sim, não faço esgrima e isto também não é uma espada. A ponta desliza inofensivamente e a formiga já está em cima de mim, a empurrar-me contra o chão e a tentar arrancar-me a cabeça com as suas mandíbulas.

Levanto-me com esforço e começo a espernear, antes de a conseguir tirar de cima de mim. Felizmente, a minha mochila ajuda um bocadinho e o ângulo não me deixa ficar deitado, até consegui que a formiga ficasse debaixo de mim, quando a atirei. Em cima da formiga, estico-me todo e espeto-lhe o bastão no pescoço, mantendo-o fixo com um braço, enquanto procuro desesperadamente pela minha faca de sobrevivência. Demoro um pouco a encontrá-la no cinto e, depois, passo alguns minutos a espetá-la desenfreadamente, até a criatura não se mexer.

Estou sujo, malcheiroso e cheio de entranhas de formiga. Não quero saber de nada disso, apenas me levanto, completamente furioso.

— Que raio foi aquilo?

— Um treino — o Ali encolhe os ombros, descontraído. — Tinhas de passar de nível. Aquela era uma formiga de Nível 1. Nunca conseguirias encontrar uma presa tão fácil. Vais apanhar o teu saque?

— Tu, tu, tu… — gaguejo. Viro-me para a formiga e dou-lhe alguns pontapés para descarregar a frustração e o medo acumulados. Depois de passar a adrenalina, deixo-me cair ao lado do corpo, antes de finalmente me aperceber do que ele disse. — Saque?

— Pousa a tua mão na formiga e pensa ou diz “saque”.

Obedeço e pestanejo quando surge uma janela. Estico a mão e pego no saque que está à minha frente, enquanto faço uma careta. Um naco de carne de formiga.

— Põe no teu inventário, estúpido.

Já desisti de questionar as coisas impossíveis que estão a acontecer e obriguei-me a aceitar tudo isto. Quando penso no inventário, surge uma grelha de cinco por cinco. Ao pôr a minha mão na grelha, a carne aparece dentro dela, preenchendo um espaço. Pergunto-me se será acumulável.

— Boa – começo a abrir a mochila, quando sou interrompido.

— Não vale a pena. Só os itens gerados pelo Sistema podem ficar no inventário – comenta o Ali, enquanto continua a andar à minha volta.

— Que aldrabice! — resmungo. Continuo com a mochila posta e observo o resto do corpo da formiga. Suponho que este mundo não tenha uma engenhoca para dissolver corpos.

Passaste de Nível!

Chegaste ao Nível 2 de Guarda de Honra de Erethran. Os pontos foram distribuídos automaticamente. Tens 3 atributos livres por distribuir. As habilidades de classe estão bloqueadas.

É estranho a notificação só ter aparecido agora. Paro e olho para o Ali, que me levanta o polegar. Ele está a ocultá-las até ser uma boa altura para as ver. Quando acordei, fiquei bastante desiludido ao ver que a experiência que tinha acumulado não me tinha feito passar de nível, nem mesmo para um Nível 2. Mas o Ali tinha explicado que as classes Avançadas tinham requisitos de experiência mais avançados. Bastou-me olhar para os pontos de estatística gratuitos para os despejar a todos na Sorte. Sim, eu sei que podia fazer coisas mais inteligentes com os pontos, como maximizar a minha Agilidade ou talvez a minha Força, para ficar todo-poderoso.

Contudo, quem quer que pense isso, não teve a minha vida. Se a minha estatística de Sorte está assim tão baixa, isso explica muitas coisas do meu passado. Eu nem sequer estaria em Yukon, se o meu apartamento não tivesse ardido uma semana depois de perder o meu trabalho como programador, o que me levou a vir para aqui com a minha namorada da altura. Também foi uma bela porcaria, o que aconteceu entre nós. O raio da companhia de seguros não aceitou os meus pedidos, o que me deixou sem absolutamente nada, a não ser umas poupanças miseráveis. Em vez de ir para casa envergonhar o meu pai, peguei na mala e mudei-me para um novo território. Preferia morrer a ver o meu pai envergonhado. Agora que tenho a oportunidade de reencaminhar algum carma negativo ou o destino, vou aproveitar.

— Sabes que não é esse tipo de sorte, certo?

Sou superior a ele. Sou superior a ele. Sou superior a ele. Mostro-lhe o dedo do meio, continuo e voltamos a ficar sérios.

***

Durante o resto do dia, fui descendo cautelosamente, evitando criaturas gigantes e bastante ubíquas sempre que pude e, ocasionalmente, matando-as, quando não o conseguia. Matá-las não foi uma decisão minha, mas, depois de uma negociação apressada, eu e o Ali chegámos a um consenso. Ele ficou de me avisar de quaisquer monstros de nível baixo que encontrássemos e eu iria atacá-los e matá-los, se o conseguisse fazer de forma segura. Por sua vez, ele não me iria obrigar a nada, desde que eu me esforçasse a sério. Se estivesse no exército, teria de lhe chamar sargento. Como não estou, chamo-lhe apenas idiota.

As coisas só se tornaram mesmo assustadoras uma vez. Estava a andar sob o que achava serem árvores e apercebi-me de que eram as pernas do que apenas posso descrever como um ogre gigante. Felizmente, ele falhou o primeiro golpe e, depois de o fazer acreditar que estava a correr pela colina abaixo, ativei o MFQ e corri pela colina acima, passando por ele. Passei a meia hora seguinte a vê-lo correr, a derrubar árvores e a esmagar monstros que apareciam no seu caminho. Nunca tive tanto medo na vida, principalmente porque a dieta do ogre parecia consistir em qualquer coisa que tivesse carne.

Por outro lado, tinha de lhe agradecer pela minha morte de nível mais elevado, uma raposa cuja coluna foi esmagada por uma árvore que caiu. O saque só consistiu em mais órgãos e no pelo dela, mas não me queixo da experiência gratuita e do saque.

Gostaria de dizer que passei o resto do dia a descer a colina com dificuldade, a esforçar-me de forma heroica, apesar da exaustão e do medo. Mas, às três da tarde, estava acabado. Estar constantemente com a adrenalina elevada, a esconder-me e a recuar incessantemente, tinha-me esgotado e eu sabia que se continuasse assim, iria cometer um erro. Não estava a fazer um bom tempo, de todo, mal tinha percorrido metade do caminho que tinha de fazer. Quando encontrei uma pequena depressão que estava relativamente bem escondida, desisti simplesmente. Tirei o meu telemóvel e tentei ligá-lo. Permaneceu desligado e olhei para o Ali.

— Não te dês ao trabalho. Os aparelhos eletrónicos são sempre os primeiros a morrer quando o Mana no ambiente chega a este ponto. Se não estiver protegido ou não for feito para funcionar com Mana, nada sobrevive — explica o Ali.

— Bolas! Todos os aparelhos? — questiono e ele acena. Raios, isso deve significar que a maioria dos veículos recentes está morto, juntamente com a Internet, os telemóveis e a maioria das comodidades modernas. Esfrego a testa, guardo o telemóvel e encolho-me, decidido a descansar durante uns minutos. Devo ter adormecido porque, quando dei por mim, eram 19 horas.

— Porquê nós? — perguntei ao Ali, enquanto fazia o jantar com as minhas provisões do campismo.

— São flocos de neve únicos, os humanos. Completamente únicos com um potencial sem limites — o Ali, que estava a vigiar lá fora, responde sem olhar para mim.

— Chega de sarcasmo. A sério, porquê nós? Porquê agora?

— Lamento dizer que não há uma razão especial. O fluxo do Mana chegou finalmente ao ponto em que podem ser adicionados ao Sistema.

— Muito bem, vamos recuar um bocadinho. O que é o Mana? Continuo a vê-lo no meu quadro de estatísticas e tu continuas a falar dele, mas isso não explica nada.

— Tenho milhares de explicações e nenhuma delas é para ti, miúdo. São nano-robôs que entram no teu corpo e o controlam, utilizando cordas quânticas e energia ultra dimensional. Ou podes chamar-lhe uma força ambiente do universo, a força única que compõe todos os elementos. Podia ser matéria escura feita de carne ou de magia. É tudo a mesma coisa, pessoas a tagarelar sem terem a mínima ideia — o Ali encolhe os ombros. — É o que nos rodeia, o que faz o Sistema funcionar.

— Está bem. Então, o que é o Sistema?

— As caixas azuis. Os pontos de experiência. O saque. A Loja que te permite comprar qualquer coisa em qualquer lugar ou os lojistas que arrendam o espaço. É a forma como nos melhoramos a nós mesmos e ao nosso mundo. É o que me obriga a trabalhar contigo e para ti. É tudo. O Sistema é o teu mundo e o teu universo agora — exclama o Ali, com fatalismo.

— Pensava que o Conselho Galáctico o tinha criado. Quer dizer, no anúncio... — fiz sinal para onde as caixas azuis estavam.

— O CG fazer alguma coisa? A única coisa que aqueles burocratas conseguiriam fazer é um monte de porcaria. E só porque alguém lhes teria dito como o fazer. Aqueles idiotas têm o mínimo controlo possível do Sistema e a galáxia é mais feliz assim. Esquece isso, miúdo. O Sistema apenas existe.

— Vá lá, não estás nem um bocadinho curioso por saber o que é o Sistema? Controla as nossas vidas e...

— Chega. Para com isso — o Ali vira-se, flutua até à minha cara e olha para mim.

— Só quero saber, bolas!

Parabéns! Demanda atribuída: O Sistema

Descobre o que é o Sistema.

Recompensas: Saber é poder. Ou algo parecido.