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Forças Opostas
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Forças Opostas

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A experiência da possessão (#)

A prisão (#)

Diálogo (#)

A visita de Renato (#)

O terceiro encontro com Christine (#)

A invocação do anjo (#)

A batalha final (#)

O desmoronamento das estruturas vigentes (#)

Conversa com o major (#)

Despedida (#)

A volta (#)

Em casa (#)

Pós-livro (#)

Uma nova era

Após uma tentativa malsucedida de publicar um livro, sinto minhas forças restaurando-se e revigorando-se. Afinal, acredito no meu talento e tenho fé de que vou realizar meus sonhos. Aprendi que tudo tem o tempo certo e acredito estar suficientemente maduro para realizar meus objetivos. Lembrar sempre: quando a gente quer muito um objetivo o mundo conspira para que ele aconteça. É assim que me sinto: com forças renovadas. De relance, olho para as obras que há tanto tempo tenho lido e com certeza enriqueceram a minha cultura e o meu saber. O livro traduz atmosferas e universos desconhecidos para nós. Sinto que devo fazer parte dessa história, a grande estória que é a literatura. Não importa que eu seja um anônimo ou um grande literato, reconhecido mundialmente. O que importa é a contribuição que cada um dá a esse grande universo.

Sinto-me feliz por essa nova atitude e preparo-me para realizar uma grande viagem. Uma viagem que mudará a minha história e a de todos que, pacientemente, puderem ler este livro. Vamos juntos nessa aventura.

Preparativos

Arrumo a minha mala com os meus objetos pessoais de primeira necessidade: algumas mudas de roupa, alguns bons livros, o meu crucifixo e minha Bíblia, inseparáveis, e alguns papéis para escrever. Sinto que terei muita inspiração nessa viagem. Quem sabe não serei autor de uma história inesquecível para muitos corações. Antes de ir, porém, terei que me despedir de todos (principalmente da minha mãe). Ela é superprotetora e não me deixará ir sem um bom motivo ou com promessas de que voltarei logo. Sinto que terei, um dia, que dar meu grito de liberdade e voar como um pássaro que criou asas, e ela terá que entender isso, pois eu não pertenço a ela, e sim ao universo que me acolheu sem exigir de mim nada em contrapartida. É por ele que decidi ser escritor e cumprir o meu papel e desenvolver o meu talento. Quando eu chegar ao fim do caminho e tiver me realizado, estarei pronto para entrar em comunhão com o criador e conhecer um novo plano. Eu tenho certeza de que também terei um papel especial nele.

Agarro a minha mala e sinto uma angústia dentro de mim. Indagações me vêm à mente e perturbam meu coração. Como será esta viagem? O desconhecido será perigoso? Que precauções devo tomar? O que sei é que será instigante para minha carreira e estou disposto a realizá-la. Agarro a minha mala (reitero) e, antes de partir, procuro meus familiares para despedir-me. Minha mãe está na sala preparando o almoço juntamente com a minha irmã. Aproximo-me e abordo a questão crucial.

– Veem esta mala? Ela será a única companheira (além dos leitores) da minha viagem que estou disposto a realizar. Busco a sabedoria, o conhecimento e o prazer da minha profissão. Espero que entendam e aprovem a decisão que tomei. Venham, deem-me um abraço fraternal e seus bons votos.

– Meu filho, esqueça os seus objetivos, pois eles são impossíveis para pobres como nós. Eu já lhe disse mil vezes: você não será um ídolo ou coisa semelhante. Entenda: Você não nasceu para ser um grande homem – disse minha mãe.

– Escute a nossa mãe. Ela é bastante experiente e tem toda razão. O seu sonho é impossível, pois você não tem talento. Aceite sua missão, que é ser um simples professor de exatas. Você não passará disso – completou minha irmã.

– Então, não me abraçam? Por que vocês não acreditam no meu sucesso? Eu garanto a vocês: mesmo que eu pague para realizar o meu sonho, eu terei sucesso, pois o grande homem é aquele que acredita em si mesmo. Eu farei esta viagem e descobrirei tudo o que ela me revelar. Eu serei feliz, pois a felicidade consiste em seguir o caminho que Deus ilumina ao nosso redor para que sejamos vencedores.

Dito isso, encaminho meus passos na direção da porta com a certeza de que serei vencedor nesta viagem. Viagem que me levará ao destino desconhecido.

A montanha sagrada

Um tempo atrás, ouvi falar de uma montanha extremamente inóspita na região de Pesqueira. Ela faz parte da Serra do Ororubá (nome indígena) onde habita o povo indígena Xukuru. Dizem que ela se tornou sagrada após a morte de um pajé misterioso de uma das tribos Xukuru. Ela é capaz de tornar qualquer desejo realidade, desde que a intenção seja pura e sincera. Este é o ponto de partida da minha viagem, cujo objetivo é tornar possível o impossível. Acreditam, leitores? Então permaneçam comigo prestando atenção na narrativa.

Seguindo a Rodovia BR-232, chegando ao município de Pesqueira e aproximadamente 24 km da sede desse município, localiza-se Mimoso, um dos seus distritos. Uma ponte moderna, recentemente edificada, dá acesso ao lugar que fica entre as serras do Mimoso e do Ororubá, banhado pelo rio Mimoso, que corre ao fundo de um vale. A montanha sagrada fica exatamente nesse ponto, e é para lá que vou me dirigir.

A montanha sagrada fica próxima ao distrito e em pouco tempo estarei no sopé dela. A minha mente vagueia por espaços e tempos distantes, imaginando situações e fenômenos desconhecidos. O que me espera ao galgar totalmente a montanha? Certamente serão experiências revigorantes e instigantes. A montanha é de baixa estatura (700 m) e, a cada passo que eu dou, sinto-me mais confiante e expectante também. Vêm à memória lembranças de experiências vividas intensamente nesses meus vinte e seis anos. Nesse breve período, ocorreram situações fantásticas que me fizeram crer que eu era especial. Gradativamente, poderei repartir essas reminiscências com vocês, leitores, sem culpa. Porém, este não é o momento. Continuarei subindo as veredas da montanha em busca de realizar todos os meus desejos. É o que eu espero e pela primeira vez sinto-me cansado. Devo ter percorrido a metade do percurso. Não sinto o cansaço físico, mas principalmente o mental por suportar estranhas vozes me pedindo para eu voltar atrás. Elas insistem muito. Porém, eu não me dou por vencido facilmente. Quero chegar ao topo da montanha por mais que isso me custe. A montanha respira, para mim, ares de transformação que emanam para aqueles que acreditam em seu aspecto sacramental. Quando chegar lá, acho que eu saberei exatamente o que fazer para chegar ao caminho que me conduzirá à viagem tão esperada. Eu permanecerei em minha fé e meus objetivos, pois tenho um Deus que é o Deus do impossível. Continuemos a caminhada.

Já percorri três quartos do percurso total e continuo sendo perseguido pelas vozes. Quem sou eu? Para onde eu irei? Por que sinto que minha vida mudará radicalmente depois da experiência na montanha? Afora as vozes, parece que eu estou sozinho nesse caminho. Será que outros escritores sentiram a mesma coisa ao percorrer caminhos sagrados? Acredito que meu misticismo será diferente de qualquer outro. Tenho que prosseguir, tenho que vencer e suportar todos os obstáculos. Os espinhos que ferem o meu corpo são extremamente perigosos ao ser humano. Se eu sobreviver a essa subida, já me considerarei um vencedor.

Passo a passo, vou me aproximando do topo. Já estou a poucos metros dele. O suor que escorre sob o meu corpo parece impregnado por sagrados aromas da montanha. Paro um pouco. Será que meus entes queridos estão preocupados? Bem, isso não importa agora. Tenho que pensar em mim mesmo, neste momento, para chegar ao topo máximo da montanha. Disso depende o meu futuro. Alguns passos a mais e chego ao topo. Um vento frio sopra, vozes atormentadas me confundem o raciocínio e não me sinto bem. As vozes gritam:

– Ele conseguiu, vai ser agraciado! Será que ele é mesmo digno? Como ele conseguiu escalar toda a montanha?

Sinto-me confuso e tonto, acho que não estou bem.

Os pássaros gritam e os raios de sol acariciam todo o meu rosto. Onde estou? Sinto-me como se tivesse tomado um porre um dia atrás. Tento levantar-me, mas um braço me impede. Vejo que está ao meu lado uma senhora de meia-idade, cabelos ruivos e pele bronzeada

– Quem é você? O que aconteceu comigo? Meu corpo inteiro dói. Sinto minha mente confusa e vaga. Este topo é a causa de tudo isso? Acho que eu deveria ter ficado em minha casa. Meus sonhos me impeliram até aqui. Escalei vagarosamente a montanha, cheio de esperanças num futuro melhor e apontando para um auto crescimento. No entanto, praticamente não posso mover-me. Explique-me tudo isso, eu lhe imploro.

– Sou a guardiã da montanha. Sou o espírito da Terra que sopra de lá para cá. Fui enviada aqui, pois você venceu o desafio. Quer realizar seus sonhos? Eu o ajudarei a conseguir, filho de Deus! Você ainda tem muitos desafios a enfrentar. Eu o prepararei para tal. Não temas. O seu Deus está contigo. Descanse um pouco. Eu voltarei com água e alimentos para suprir suas necessidades. Enquanto isso, descanse e medite como você sempre faz.

Dito isso, a senhora desapareceu da minha visão. Essa imagem perturbadora deixou-me mais aflito e cheio de dúvidas. Quais desafios eu teria de vencer? Em quais etapas esses desafios consistiam? O topo da montanha era realmente um lugar esplendoroso e tranquilo. Do alto, podia avistar-se toda a pequena aglomeração de casas do Mimoso. Ele representa um planalto cheio de íngremes caminhos e repletos de vegetação por todos os lados. Esse local sagrado, intocado da natureza, me ajudaria realmente a realizar meus planos? Tornar-me-ia escritor ao sair dele? Só o tempo poderia responder essas indagações.

Diante da demora da senhora, pus-me a meditar no topo da montanha. Utilizei-me da seguinte técnica: primeiramente, deixo a mente limpa (livre de quaisquer pensamentos). Começo a entrar em sintonia com a natureza ao redor, contemplando todo o local mentalmente. A partir daí começo a entender que faço parte da própria natureza e estamos totalmente interligados, num grande ritual de comunhão. O meu silêncio também é o silêncio da mãe natureza. O meu grito também é o grito dela. Gradativamente, começo a sentir seus desejos e aspirações, reciprocamente. Sinto seu pedido de socorro pela vida e suas menções à destruição humana: desmatamento, mineração, caça e pesca excessivas, emissão de gases poluentes na atmosfera e outras atrocidades humanas. Em contrapartida, ela me escuta e me apoia em todos os meus planos. Estamos completamente interligados durante a meditação. Toda essa harmonia e cumplicidade deixaram-me totalmente tranquilo e concentrado em meus desejos. Até que algo mudou: senti o mesmo toque que outrora me despertara. Abri os olhos, vagarosamente, e percebi que estava diante da mesma senhora que se denominou a guardiã da montanha sagrada.

– Vejo que entendeu o segredo da meditação. A montanha o ajudou a descobrir um pouco do seu potencial. Você crescerá muito em todos os sentidos. Eu o ajudarei nesse processo. Primeiramente, peço que vá retirar da natureza caibros, ripas, esteios e linhas, para erguer sua cabana, e lenha, para fazer uma fogueira. A noite já está chegando, e você precisa se proteger dos animais ferozes. A partir de amanhã, eu o ensinarei a sabedoria da mata para que você possa vencer o seu verdadeiro desafio: a gruta do desespero. Somente o coração puro sobrevive ao fogo de sua análise. Quer realizar seus sonhos? Então pague o preço por eles. O universo não dá nada de graça a ninguém. Somos nós que nos tornamos dignos de alcançar o sucesso. Esta é uma lição que você deve aprender, meu jovem.

– Entendo. Aprenderei tudo o que for necessário para vencer o desafio da gruta. Não tenho ideia do que seja, mas estou confiante. Se eu venci a montanha, também vencerei a gruta de seu topo. Quando eu sair de lá, penso que estarei preparado para vencer e ter sucesso.

– Espere, não tenha tanta confiança. Você não conhece a gruta da qual eu estou falando. Saiba que muitos guerreiros já foram provados por seu fogo e foram destruídos. A gruta não tem pena de ninguém, nem mesmo dos sonhadores. Tenha paciência e aprenda tudo o que vou ensinar. Assim você se tornará um verdadeiro vencedor. Lembre-se: a autoconfiança ajuda desde que na medida certa.

– Compreendo. Obrigado por todos os seus conselhos. Prometo segui-los até o fim. Quando o desespero da dúvida me açoitar, eu me lembrarei deles e do Deus que me guarda sempre. Quando eu não tiver mais saída na noite escura da alma, eu não temerei. Vencerei a gruta do desespero! A gruta da qual ninguém jamais escapou.

A senhora despediu-se amigavelmente, prometendo voltar no outro dia.

A Cabana

Um novo dia aparece. Pássaros assobiam e cantam suas melodias, o vento é nordeste, e sua brisa refresca o sol que, nessa época, é forte, mesmo quando amanhece. O mês corrente é dezembro e representa para mim um dos mais belos meses por ser o início das férias escolares. É um descanso merecido após um longo ano de dedicação aos estudos no curso de licenciatura em Matemática. O momento requer o esquecimento de todas as integrais, derivadas e coordenadas polares. Preciso preocupar-me agora com todas as provas que a vida me desafiar. Disso depende o meu sonho. As minhas costas doem, é o resultado de uma noite mal dormida no terreno batido que eu preparei. A cabana que construí com muito esforço e a fogueira que acendi me deram uma certa segurança à noite. Porém, não deixei de ouvir uivos e passos ao redor dela. Onde os meus sonhos me levaram? A um fim de mundo onde as comodidades da civilização não chegam. O que você faria, leitor? Arriscar-se-ia numa viagem para realizar seus sonhos mais profundos? Continuemos a narrativa.

Envolto em pensamentos e indagações, nem percebi que, ao meu lado, estava a estranha senhora que prometia me ajudar no meu caminho.

– Acordou bem?

– Se bem significa estar inteiro, sim.

– Antes de qualquer coisa, devo avisar que o solo que você está pisando é sagrado. Portanto, não se deixe levar pela aparência ou por impulsividade. Hoje é o seu primeiro desafio. Não lhe trarei mais alimentos nem água. Você irá buscá-los por conta própria. Siga seu coração em todas as situações. Você deve provar que é digno.

– Há água e alimentos nesse matagal, e eu devo pegá-los? Olha, senhora, que estou acostumado a fazer compras em supermercado. Vê esta cabana? Custou-me muito suor e ainda considero que não está segura. Por que não me concede o dom de que necessito? Creio que já provei ser digno no momento que escalei essa montanha tão íngreme.

– Procure o alimento e a água. A montanha é apenas uma etapa do seu processo de aperfeiçoamento espiritual. Você ainda não está pronto. Devo lembrar que eu não concedo dons. Não tenho poder para isso. Sou apenas a seta que indica o caminho. A gruta é quem realiza os desejos. É chamada a gruta do desespero por ser procurada por aqueles cujos sonhos se tornam impossíveis.

– Eu vou tentar. Não tenho mais nada a perder mesmo. A gruta é a minha última esperança de sucesso.

Dito isso, levantei-me e comecei a realizar o primeiro desafio. A senhora desapareceu como fumaça.

O primeiro desafio

À primeira vista, percebo que na minha frente há uma estrada de vereda batida. Começo a andar por ela. Diante daquele matagal cheio de espinhos, o melhor seria seguir a trilha. As pedras que meus passos derribam parecem querer me dizer alguma coisa. Será que estou no caminho certo? Penso em tudo que deixei para trás em busca do meu sonho: casa, alimento, roupa lavada e meus livros de Matemática. Será que valerá a pena? Penso que vou descobrir (o tempo dirá). A estranha senhora parece não ter me dito tudo. Por mais que eu ande, não encontro nada. O topo não parecia ser tão extenso assim logo que cheguei. Uma luz? Vejo uma luz à frente. Preciso ir até lá. Chego a uma clareira espaçosa, onde os raios de sol refletem claramente o aspecto da montanha. A trilha se desfaz e renasce em dois caminhos distintos. O que fazer? Há horas que eu ando e minhas forças parecem ter se esgotado.

Sento-me um momento para descansar. Dois caminhos e duas escolhas. Quantas vezes, na vida, nos deparamos com situações como essa. O empresário que tem de escolher entre a sobrevivência da empresa e a demissão de alguns funcionários. A mãe pobre do sertão do Nordeste que tem de escolher um dos filhos para alimentar. O marido infiel que tem de escolher entre sua esposa e a amante. Enfim, são inúmeras as situações na vida. A minha vantagem é que a minha escolha só afetará a mim mesmo. Preciso seguir minha intuição, como a senhora recomendou.

Levanto-me e escolho o caminho da direita. Caminho a largos passos nessa trilha e não demora muito para eu vislumbrar outra clareira. Desta feita, encontro um poço de água e alguns animais à sua volta. Eles se refrescam na água límpida e transparente. Como proceder? Encontro a água, mas ela está infestada de animais. Consulto o meu coração e ele me diz que todos têm direito à água. Eu não poderia tangê-los e privá-los desse bem. A natureza dá em abundância seus recursos para a sobrevivência de seus seres. Eu sou um de seus fios que ela tece. Não sou superior a ponto de me considerar dono dela. Com as minhas mãos, tenho acesso à água e a reservo em um pequeno pote que trouxe de casa. A primeira parte do desafio está cumprida. Preciso achar agora o alimento.

Continuo andando para a frente, na trilha, esperando encontrar alguma coisa para comer. O meu estômago ronca, pois já passa do meio-dia. Começo a olhar de lado. Talvez o alimento esteja dentro da mata. Quantas vezes não procuramos o caminho mais fácil, mas não é ele que conduz ao sucesso (nem sempre o escalador que percorre uma trilha consegue ser o primeiro a chegar ao topo de uma montanha). Os atalhos conduzem mais rápido ao objetivo. Com esse pensamento, saio da trilha e, pouco tempo depois, encontro uma bananeira e um coqueiro. É deles que vou retirar alimento. Preciso subir neles com a mesma força e fé que escalei a montanha. Tento uma, duas, três vezes. Consegui. Voltarei agora para a cabana, pois cumpri o primeiro desafio.

O segundo desafio

Ao chegar à cabana, encontro a guardiã da montanha mais fulgurante do que nunca. O seu olhar não consegue separar-se do meu. Penso que sou realmente especial para Deus. Em todos os momentos, sinto a presença Dele. Ele me ressuscitou em todos os sentidos. Quando eu estava sem trabalho, ele me abriu as portas; quando eu não tinha oportunidades de crescer profissionalmente, ele me abriu caminhos; quando eu estava em crise, ele me libertou das amarras do demônio. Enfim, aquele olhar de aprovação da estranha senhora lembrou-me o homem que eu era até pouco tempo atrás. O meu objetivo atual era vencer, sem me importar com os obstáculos que eu tivesse que transpor.

– Então você venceu o primeiro desafio? Meus parabéns! – Exclamou a senhora. – O primeiro desafio teve como objetivo explorar a sua capacidade de tomar decisões, de partilha e de sabedoria. Os dois caminhos representam as “forças opostas” que dominam o universo (bem e mal). O ser humano é totalmente livre para escolher qualquer um dos caminhos. Se escolher o caminho da direita, ele terá plena luz e a ajuda dos anjos em todos os momentos da vida. Foi o caminho que você escolheu. Porém, não é um caminho fácil. Muitas vezes, a dúvida assaltará o seu coração, e você se perguntará se vale mesmo a pena esse caminho. As pessoas do mundo irão sempre lhe magoar e aproveitar-se de sua bondade. Além disso, a confiança que você depositará nos outros será quase sempre decepcionada. Quando você se afligir, lembre-se: o seu Deus é forte e nunca lhe abandonará. Nunca deixe que a riqueza ou luxúria pervertam o seu coração. Você é especial e, por seu valor, Deus o considera seu filho. Nunca perca essa graça. O caminho da esquerda pertence a todos que se rebelaram ao chamado do Pai. Todos nós nascemos com uma missão divina. No entanto, alguns se desviam dela, por materialismo, más influências, corrupção do coração. Todos os que escolhem o caminho da esquerda não têm um bom destino, ensinou-nos Jesus. Toda árvore que não der bons frutos será arrancada e jogada nas trevas exteriores. É esse o destino dos maus porque o Pai é justo. No momento em que você encontrou o poço e aqueles animais sôfregos, seu coração falou mais alto. Escute-o sempre, menino, e você irá longe. O dom da partilha resplandeceu em você naquele momento e o seu crescimento espiritual foi surpreendente. A sabedoria que você tem ajudou-o a encontrar o alimento. Nem sempre o caminho mais fácil é o certo a seguir. Creio que agora você está preparado para o segundo desafio. Daqui a três dias, você sairá de sua cabana e procurará um fato. Aja conforme sua consciência. Se você for aprovado, passará para o terceiro e último desafio.

– Obrigado por me acompanhar todo esse tempo. Eu não sei o que me espera na gruta nem o que acontecerá comigo. A sua contribuição é muito importante para mim. Desde que escalei a montanha, sinto que minha vida mudou. Estou mais tranquilo e convicto do que quero. Eu vou cumprir o segundo desafio.

– Muito bem. Vejo-o daqui a três dias.

Dito isso, a senhora desapareceu mais uma vez. Deixou-me sozinho na quietude do entardecer juntamente com grilos, pernilongos e outros insetos.

O fantasma da montanha

A noite desce sob a montanha. Acendo a fogueira, e o seu crepitar acalma mais o meu coração. Já faz dois dias que subi a montanha, e ela ainda me parece desconhecida. O meu pensamento voa e pousa na minha infância: as brincadeiras, os medos, as tragédias. Lembro-me bem do dia que me vesti de índio: com arco, flecha e tacape. Agora estava numa montanha que era sagrada justamente por ter morrido um indígena misterioso (o pajé da tribo). Eu tenho que pensar em alguma coisa, pois o medo me congela a alma. Barulhos ensurdecedores rodeiam a minha cabana e não tenho ideia de que ou de quem se trata. Como vencer o medo numa ocasião dessas? Responda-me, leitor, pois eu não sei. A montanha é ainda desconhecida para mim.

O barulho se aproxima cada vez mais, e eu não tenho para onde fugir. Sair da cabana é uma temeridade, pois poderei ser devorado por animais ferozes. Eu vou ter de enfrentar seja o que for. O barulho cessa, e uma luz surge. Ela me deixa com mais medo ainda. Com um ímpeto de coragem, exclamo:

– Quem é, em nome de Deus?

Uma voz, fanhosa e obscura, responde:

– Sou o bravo guerreiro a quem a gruta do desespero destruiu. Desista de seu sonho, ou terá o mesmo fim. Eu era um pequeno indígena duma aldeia da nação xukuru. Ambicionava ser chefe supremo da minha tribo e ser mais forte que o leão. Então procurei a montanha sagrada para realizar meus objetivos. Venci os três desafios que a guardiã da montanha me impôs. Porém, ao entrar na gruta, fui devorado pelo seu fogo, que estraçalhou meu coração e meus objetivos. Hoje meu espírito sofre e está preso irremediavelmente a essa montanha. Escute-me, ou você terá o mesmo fim.

A minha voz congelou em minha garganta e por instantes não pude responder ao espírito atormentado. Tinha deixado para trás abrigo, alimento, um calor familiar. Eu estava a dois desafios da gruta. A gruta que poderia tornar a impossível realidade. Eu não desistiria facilmente do meu sonho.

– Escute-me, você, bravo guerreiro. A gruta não realiza sonhos mesquinhos. Se estou aqui, é por um motivo nobre. Eu não ambiciono bens materiais. O meu sonho vai além disso. Quero realizar-me profissional e espiritualmente. Em suma, quero trabalhar no que gosto, ganhar dinheiro com responsabilidade e contribuir com o meu talento para um universo melhor. Eu não desistirei do meu sonho tão facilmente.

O fantasma retrucou:

– Você conhece a gruta e suas armadilhas? Você não passa de um pobre jovem que desconhece a alta periculosidade do caminho que está traçando. A guardiã é uma charlatã que o está enganando. Ela quer a sua ruína.

A insistência do fantasma me aborreceu. Ele me conhecia, por acaso? Deus, em sua benignidade, não permitiria meu fracasso. Deus e a Virgem Maria estavam efetivamente ao meu lado, sempre. As provas disso foram as várias aparições da Virgem em minha vida. Em Visão de um médium (livro que eu não publiquei), está descrita a cena em que, sentado em um banco de praça, onde pássaros e o vento me agitavam, pensava no mundo e na vida. Repentinamente, não mais que de repente, apareceu a figura de uma mulher que, ao me ver, indagou:

– Acredita em Deus, meu filho? Eu, prontamente, respondi:

– Certamente e com toda a fé.

Instantaneamente, ela colocou a mão na minha cabeça e orou:

– Que o Deus da glória lhe cubra de luz e o deixe repleto de dons.

Dizendo isso, afastou-se e, quando eu percebi, ela não estava mais do meu lado. Simplesmente desapareceu. Foi a primeira aparição da Virgem em minha vida. Outra vez, disfarçou-se de mendiga e aproximou-se de mim pedindo alguns trocados. Ela falou que era agricultora e ainda não estava aposentada. Prontamente, entreguei-lhe algumas moedas que tinha em meu bolso. Ao receber o dinheiro, agradeceu e, quando percebi, havia sumido. Na montanha, naquele momento, eu não tinha a menor dúvida de que Deus me amava e estava ao meu lado. Por conseguinte, respondi ao fantasma com certa rudeza.

– Eu não ouvirei seus conselhos. Eu conheço meus limites e minha fé. Vá embora! Vá assombrar uma casa ou qualquer outro lugar. Deixe-me em paz!

A luz apagou-se, e escutei o barulho de passos afastando- se da cabana. Eu estava livre do fantasma.

O dia D

Passaram-se os três dias que me separavam do segundo desafio. Era uma manhã de sexta-feira, clara, ensolarada e resplandecente. Estava eu contemplando o horizonte dessa manhã, quando a estranha senhora se aproximou.

– Está preparado? Procure um fato inusitado na mata e aja conforme seus princípios. É o seu segundo teste.

– Está bem. Há três dias espero por esse momento. Acredito que estou preparado.

Apressadamente, dirigi-me à trilha mais próxima que dava acesso à mata. Os meus passos seguiam uma cadência quase musical. Em que consistia realmente esse segundo desafio? A ansiedade tomou conta de mim, e meus passos aceleraram em busca do objetivo desconhecido. Logo à frente, surgiu a mesma clareira em que a trilha se desfazia e bifurcava-se. Quando cheguei lá, para minha surpresa, a bifurcação não existia mais, e pude visualizar a seguinte cena: um menino, arrastado por um adulto, chorava muito. A emoção tomou conta de mim diante da injustiça e por isso bradei:

– Solte o menino! Ele é menor do que você e não pode se defender.

– Não solto! Estou o maltratando porque ele não quer trabalhar.

– Bruto! Meninos não devem trabalhar. Eles devem estudar e ser bem-educados. Solte-o!

– Quem vai me obrigar? Você?

Eu sou totalmente contra a violência, mas nesse momento o meu coração me pediu para reagir ante esse canalha. O menino devia ser solto. Com delicadeza, afastei o menino de perto do bruto e comecei a espancar o homem. O canalha reagiu e me desferiu alguns golpes. Um acertou-me mesmo em cheio. O mundo rodou, e um vento forte penetrante invadiu todo o meu ser: Nuvens brancas, azuis e pássaros ágeis invadiram a minha mente.

Num momento, parecia que todo meu corpo flutuava sob o céu. Uma voz bem fininha me chamou de longe. Noutro momento era como se eu ultrapassasse portas e portas como obstáculos. As portas eram muito bem trancadas, e eu fazia um imenso esforço para abri-las. Cada porta dava acesso a salões ou santuários, alternadamente. No primeiro salão encontrei jovens vestidas de branco, reunidas ao redor de uma mesa onde no centro havia uma Bíblia aberta. Eram as virgens escolhidas para reinar no mundo futuro. Uma força me empurrou para fora do salão e, quando abri a segunda porta, fui parar no primeiro santuário. À beira do altar, estavam sendo queimados incensos com pedidos dos pobres do Brasil. Do lado direito, um sacerdote orava em voz alta e repentinamente começou a repetir: Vidente! Vidente! Vidente! Ao lado dele, havia duas mulheres com camisetas brancas onde estava escrito: sonho possível. Tudo começou a escurecer e, quando dei por mim, fui arrastado violentamente para fora com tal velocidade que me deixou um pouco tonto.

Abri a terceira porta e desta feita encontrei uma reunião de pessoas: um pastor, um padre, um budista, um islamita, um espírita, um judeu e um representante das religiões africanas. Eles estavam dispostos em círculo e no centro havia um fogo, cujas chamas desenhavam a expressão: união dos povos e caminhos para Deus. No fim, eles se abraçaram e me chamaram para o grupo. O fogo se moveu do centro, pousou na minha mão e desenhou a palavra aprendizado. O fogo era pura luz e não provocava queimaduras. O grupo se desfez, o fogo apagou-se e novamente fui empurrado para fora do salão.

Abri a quarta porta. O segundo santuário estava totalmente vazio e aproximei-me do altar. Ajoelhei-me em reverência ao santíssimo, peguei um papel que estava no chão e escrevi meu pedido. Dobrei o papel e coloquei-o aos pés de uma imagem. A voz que estava longe gradativamente tornava- se mais clara e nítida. Saí do santuário, abri a porta e finalmente acordei. Ao meu lado estava a guardiã da montanha.

– Então você acordou? Meus parabéns! Você venceu o desafio. O segundo desafio teve como objetivo explorar sua capacidade de autodoação e ação. Os dois caminhos que representavam as “forças opostas” tornaram-se um só, e isso significa que você deve trilhar o lado direito sem se esquecer do aprendizado que terá ao conhecer o esquerdo. A sua atitude salvou o menino, apesar de que ele não precisasse disso. Toda aquela cena foi uma projeção mental minha para avaliá-lo. Você tomou a atitude certa. A maioria das pessoas, quando se deparam com cenas de injustiça, preferem não se intrometer. A omissão é um pecado grave, e a pessoa torna-se cúmplice do agressor. Você auto doou-se como fez Jesus Cristo por nós. Isso é uma lição que você levará para toda a vida.

– Obrigado por me parabenizar. Eu agiria sempre em favor dos excluídos. O que me intriga é a experiência espiritual que tive agora há pouco. O que significa? Poderia me explicar, por favor.

– Todos nós temos a capacidade de penetrar em outros mundos através do pensamento. É o que se chama viagem astral. Há alguns experts em relação a esse assunto. O que você viu deve estar relacionado ao seu futuro ou ao das pessoas. Nunca se sabe.

– Entendo. Eu subi a montanha, cumpri os dois primeiros desafios e devo estar crescendo espiritualmente. Creio que brevemente estarei pronto para enfrentar a gruta do desespero. A gruta que realiza milagres e torna os sonhos mais profundos.

– Você deve realizar o terceiro desafio, e eu lhe direi qual é amanhã. Aguarde instruções.

– Sim, general. Esperarei ansiosamente. O filho de Deus, como a senhora me denominou, está com muita fome e preparará uma sopa para mais tarde. A senhora está convidada.