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Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz
É justamente nesta fase da vida que há um maior número de condutas de risco, devido à falsa crença de que nada lhes vai acontecer e, por outro lado, é o momento em que ocorrem mais acidentes, sejam eles de trânsito, ou de outro tipo. Atitudes que ao longo do tempo vão “relaxando”, embora se mantenham ao longo da vida, basta ver como tradicionalmente existem profissões majoritariamente masculinas associadas a uma maior atividade física, ou a condutas de risco, seja no campo do esporte ou do entretenimento; por outro lado, as mulheres há muito ocupam uma porcentagem maior das salas de aula, obtendo melhores resultados acadêmicos em todos os níveis.
No caso dos órgãos e forças de segurança, apesar de cada dia mais mulheres ingressarem nessas corporações, ainda há uma grande diferença entre homens e mulheres, assim, na Espanha, no caso específico da Polícia Nacional em 2019, o número de mulheres representa 14,5% dos membros da corporação, ou seja, 9.063 mulheres de 62.953 agentes (El Plural, 2019), muito atrás de países como a Estônia com 33,9%, a Holanda com 28,9% ou a Suécia com 28,8% em 2012 (Instituto de Segurança Pública da Catalunha, 2013).
Quanto à origem e “utilidade” destas diferenças, foi identificado que se trata de um comportamento “herdado” de nossos ancestrais, onde o macho era quem deveria “sair” para caçar e enfrentar as dificuldades do mundo exterior, ao invés disso, a fêmea permaneceu dentro do “território seguro” onde havia menos perigo, o que lhe permitia desenvolver outras habilidades mais “úteis” para as funções que tinha. Essa contribuição vem sendo discutida, pois atualmente não existe uma distribuição tão marcada de papéis, como acontecia no passado, embora continuem ocorrendo, mas qual seria o motivo das diferenças na tomada de risco por gênero?
Para responder a esta pergunta, um estudo foi conduzido em conjunto pela Universidade de Ciências Eletrônicas e Tecnologia da China, o Hospital Geral Universitário Médico de Tianjin; e a Academia Chinesa de Ciências (China); juntamente com a Universidade de Adelaide e a Universidade de Queensland (Austrália) (Zhou et al., 2014), participaram do estudo 289 voluntários com idade média de 22 anos, aos quais foram administrados 15 testes psicotécnicos, além de estudar a atividade cerebral por meio de ressonância magnética funcional (fMRI). Os resultados relacionam os dados obtidos em todos os testes, encontrando diferenças significativas entre os participantes no córtex somatossensorial secundário direito, que incluía o córtex dorsal anterior bilateral, córtex insular médio e córtex cingulado anterior dorsal.
O estudo tenta, portanto, responder a um comportamento que até agora não tinha podido ser explicado, verificando como o comportamento diferencial entre homens e mulheres é sustentado por importantes diferenças cerebrais, que revelariam a maior tendência para assumir condutas de risco por parte dos homens.
Com base nesses resultados, era de se esperar que houvesse uma taxa maior de suicídio entre policiais homens e mais jovens, que também apresentariam condutas de risco, para verificar isso, os dados obtidos junto à Associação Reformista Policial são utilizados em seu Estudo e Análise Complementar do Plano de Prevenção ao Suicídio na Polícia Nacional, onde são coletadas estatísticas sobre a incidência de suicídios nesta corporação de 2000 a 2017 separados por idade (A.R.P., 2019) ver tabela I.
Idade de 24 a 29 de 30 a 35 de 36 a 41 de 42 a 47 de 48 a 53 de 54 a 59 de 60 a 65 Porcentagem 11,84 21,71 17,11 16,45 16,45 15,79 0,66Tabela I. Distribuição de suicídios em função de faixa etária na Polícia Nacional de 2000 a 2017
Com esses dados é possível verificar que a maior taxa de suicídio na Corporação da Polícia Nacional não ocorre entre os mais jovens, na faixa de 24 a 29 anos com incidência de 11,84%, mas entre os que têm 30 a 35 anos com uma incidência de 21,71%, ou seja, esses dados vão contra a premissa mencionada sobre o maior índice de suicídio entre os mais jovens devido à maior apresentação de condutas de risco. As possíveis causas dessas discrepâncias podem ser encontradas no fato de que a vigilância durante os primeiros anos de serviço por veteranos nos “recém-chegados” é muito mais rigorosa, justamente para garantir a sua segurança e para que realizem adequadamente o seu trabalho, supervisão que vai “relaxando” ao longo dos anos.
Indicam que, na população geral, a maior porcentagem de casos de suicídio ocorre em jovens entre 15 e 24 anos e entre idosos com mais de 75 anos (O.M.S., 2009), é justamente nessas idades que os maiores esforços são feitos pelos planos de prevenção devido à incidência de suicídio, mas que no caso da Polícia Nacional nem sequer são contemplados, pois ultrapassam as idades de incorporação ou aposentadoria da corporação; diferenças que também se refletirão nas prioridades das políticas de prevenção que podem ser desenvolvidas a este respeito.
Em relação à Inteligência Emocional como fator de proteção contra condutas de risco, deve-se destacar que tem sido um conceito que tem sido relacionado à capacidade de gerenciar o estresse, habilidades sociais e até aspectos da saúde. Dentro do mundo do trabalho, hoje em dia a Inteligência Emocional é considerada peça-chave e fundamental em qualquer líder, daí que as escolas de negócio enfatizam esta formação, também se constatou que está relacionada positivamente com melhor desempenho no cargo, e negativamente com o absenteísmo e renúncia ao cargo. Algumas teorias apontam que as pessoas com alta Inteligência Emocional são capazes de conhecer melhor os outros, portanto são mais afetivos nas relações interpessoais, conferindo-lhes certa habilidade para conhecer os pontos fortes e as limitações do interlocutor, mas isso afeta a percepção do outro por nossa Inteligência Emocional?
É precisamente o que se buscou averiguar numa pesquisa realizada pelo Departamento de Administração e Negócios Internacionais, Universidade de I-Shou (Taiwan) juntamente com a Diretoria e o Departamento de Gestão, Escola de Negócios (Noruega) (Lee & Selart, 2015). No estudo participaram trinta estudantes da escola de negócios, dos quais onze eram mulheres, com uma idade média de 23 anos. Os participantes foram submetidos a uma situação controlada, onde se observava o desempenho de uma pessoa em uma tarefa de resolução matemática, um Sudoku, e logo tiveram que avaliar se essa pessoa poderia resolver outro, mas em um período limitado de três minutos. Foram manipuladas as variáveis correspondentes a dificuldade da segunda tarefa, a possibilidade ou não de ganhar dinheiro por acertar segundo seu nível de confiança na resposta, e a introdução ou não de uma tarefa distrativa entre as duas tarefas.
Os participantes tiveram que preencher uma prova online sobre Inteligência Emocional chamada Teste de Inteligência Emocional Mayer-Salovey-Caruso (Mayer, Salovey, & Caruso, 2002) onde o desempenho dos participantes foi comparado de acordo com a pontuação no M.S.C.E.I.T., como com alta ou baixa Inteligência Emocional. Os resultados mostram que não existiram diferenças nas previsões de desempenho da tarefa dos demais em função da Inteligência Emocional dos participantes.
É necessário levar em consideração o limitado número de participantes, e que se trata de uma manipulação experimental com baixa validade ecológica, com a qual é provável que em uma situação real o fenômeno de previsão esperado possa ser observado. Apesar das limitações do estudo tem de se destacar a abordagem inovadora desta pesquisa, que busca conhecer como a Inteligência Emocional possibilita que a pessoa tenha um melhor desempenho social. Embora não pareça que uma maior Inteligência Emocional tenha a ver com acertar as previsões de desempenho de um terceiro em uma tarefa matemática concreta, isso não descarta que não dê à pessoa essa qualidade para outras tarefas, de natureza mais emocional; ou seja, conhecer os pontos fortes e fracos de um interlocutor não significa saber exatamente como vai atuar em todas as tarefas, mas sim que tipo de compromisso e comportamento geral esperar dessa pessoa.
Algo que sim se consegue comprovar mediante pesquisas posteriores estaria informando que aquelas pessoas com altos níveis de Inteligência Emocional estão melhor preparadas para a hora de conhecer aos demais, daí a vantagem observada nas interações sociais. Um último ponto sobre a Inteligência Emocional é que, ao contrário de outras inteligências, esta se pode melhorar com um treinamento adequado, ou seja, uma vez conhecidas as muitas vantagens que possui sobre o trabalho e o mundo social, pode-se encontrar uma forma de reforçar as próprias habilidades e com isso melhorar a Inteligência Emocional.
Com o exposto, na medida que seja útil a aplicação da inteligência emocional entre as corporações e forças de segurança na redução das condutas de risco, seria de se esperar que as taxas de suicídio também reduzissem, onde estão incluídos estes acidentes.
Levando em consideração que o suicídio é, em última análise, um drama para as famílias que sobrevivem, mas também para a corporação que perde um companheiro e agente preparado. Embora as causas associadas ao estresse e a pressão social procurem “justificar” esta conduta entre os agentes das corporações e forças de segurança, deve-se levar em consideração que o ingresso a estas corporações é restritivo e muito exigente, devendo ser submetidos a testes psicológicos específicos e um intenso treinamento posterior tanto físico como psicológico, mas apesar disso, as taxas de suicídio são extremamente elevadas.
Referências
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Capítulo 2. Características dO suicÍdio NO Âmbito policial
Conforme indicado na seção anterior, nem todo suicídio vai ser considerado como tal, uma vez que acidentes por condutas de risco teriam que ser descartados, além disso, vale a pena distinguir vários termos que às vezes são empregados de forma indistinta, mas que possuem diferenças importantes, portanto, de acordo com relatório publicado pela Comissão de Saúde Mental do Ministério da Saúde Pública do Governo do Canadá (Mental Health Commission of Canada, 2018) é possível falar de:
–Suicídio como ato fatal de autoagressão com intenção de tirar a própria vida.
–Comportamento suicida que inclui desde pensamentos suicidas, tentativas de suicídio e a morte por suicídio.
–Tentativa de suicídio, que é um comportamento potencialmente autoagressivo associado à intenção de morrer.
–Pensamentos ativos de suicídio que podem levar a tirar a própria vida, o que pode incluir: identificar um método, ter um plano e/ou ter a intenção de agir.
–Pensamentos passivos de suicídio, pensamentos sobre a morte ou de querer estar morto, sem ter nenhum plano nem realizar nenhuma tentativa de suicídio.
–Automutilação não suicida, condutas sem a intenção de morrer.
–Eventos suicidas com o aparecimento ou agravamento de pensamentos suicidas ou com tentativas reais de suicídio.
–Automutilação deliberada, que são comportamentos autoagressivos, onde se incluem os pensamentos.
Portanto, a partir de agora não falaremos mais de suicídio de forma genérica, mas os termos anteriores serão empregados para definir se estamos falando de pensamentos, tentativas ou suicídios em si. A esse respeito, deve-se destacar que um dos problemas com relação aos dados relacionados a essa questão no caso da polícia é que as estatísticas geralmente coletam apenas informações sobre suicídio consumado, desconhecendo quantos policiais têm pensamentos suicidas ou quantos já realizaram tentativas de suicídio. Aspecto que poderia pertencer à esfera privada do agente, mas que impede a aplicação de políticas de prevenção adequadas, visto que, se não for do conhecimento, as medidas não podem ser aplicadas para que estes pensamentos ou tentativas não terminem em suicídio, daí a importância, antes de tudo, de obter dados e informações confiáveis através de questionários, que podem até ser anônimos, mas que pelo menos dariam conta da dimensão do problema.
Por exemplo, se um questionário for aplicado em uma determinada delegacia de forma totalmente anônima para apurar sobre pensamentos e tentativas de suicídio, será possível avaliar o grau de gravidade com que um suicídio poderia ocorrer nesta delegacia e com isso se poderá intervir com políticas diferentes que serão descritas neste texto para evitar ou pelo menos reduzir tal possibilidade entre os agentes desta delegacia.
O Perfil do Suicídio entre a Polícia
Deve-se destacar que, embora os policiais sejam pessoas que em princípio não diferem do restante dos cidadãos de sua população e, portanto, o perfil dos agentes que atentam contra a própria vida não teria que ser diferente do observado em dita população. Apesar do exposto anteriormente, deve-se destacar que há uma série de características que conferem ao agente algumas peculiaridades em termos de suas funções e desempenhos, bem como no que diz respeito à realidade que enfrentam e que dificilmente se pode encontrar em outras profissões, o que determinará em muitos casos um perfil “peculiar” no âmbito do suicídio.
No que diz respeito ao perfil sobre o suicídio levando em consideração 446 artigos selecionados por sua relevância e qualidade (Comissão de Saúde Mental do Canadá, 2018), se pode extrair um perfil sobre o risco de suicídio a nível mundial, indicando que as pessoas que mais se suicidam são homens, por outro lado, as mulheres têm mais condutas suicidas, sendo a adolescência a idade em que ocorrem mais casos. Da mesma forma, geralmente está associado na população geral com variáveis sociodemográficas como ter mais de 40 anos, estar divorciado, ter problemas psicossomáticos, vivenciar sua realidade de maneira desagradável, sofrer de depressão ou altos níveis de ansiedade (Grassi et al., 2018); além de ter mais de 85 anos, ter sofrido de transtornos alimentares, esquizofrenia ou transtorno bipolar; com histórico de abuso de substâncias (Brodsky, Spruch-Feiner, & Stanley, 2018).
Na mesma linha, a OMS destaca a importância das relações de casal como fator de proteção ou de estresse psicossocial no caso de divórcio ou separação, constatando que as pessoas envolvidas nestes processos de dissolução da convivência têm entre 2 a 3 vezes mais probabilidades de ter pensamentos suicidas, e de 3 a 5 de atentar contra a própria vida (O.M.S., 2009).
São várias as contribuições teóricas que foram realizadas para explicar o fenômeno do suicídio, as quais podem ser agrupadas em três:
a)Perspectiva biológica, que tenta explicar uma maior propabilidade de suicídio se houver um parente próximo que o tenha sofrido, inclusive alegando que existem genes que aumentam a possibilidade de suicídio, conforme observado em uma pesquisa onde foram analisadas 43 famílias de Utah (EUA), nas quais pelo menos um de seus membros havia cometido suicídio nas últimas sete gerações (Coon et al., 2018). No total foram coletadas mais de 4.500 amostras de DNA, e analisaram 207 genes diferentes, encontrando uma associação entre um aumento de risco na presença de variantes nas proteínas SP110, rs181058279; AGBL2, rs76215382; SUCLA2, rs121908538; APH1B, rs745918508
Apesar do exposto e como apontam os autores, estes genes não explicam todos os casos de suicídio, mas apenas 50% deles (Pedersen & Fiske, 2010).
b)Perspectiva social, onde o foco não é tanto no indivíduo como uma entidade biológica ou psicológica, mas como reativo das condições sociais em que vive, assim o suicídio tem sido associado à perda de valores, inconsistência de normas, desorganização social, ruptura de laços com a sociedade, aspectos que são observados em certos agentes que tentaram tirar a própria vida, quem estava envolvido em algum tipo de investigação ou havia sofrido condenação ou afastamento do trabalho, de modo que o sentimento do dito agente em relação a essa “sociedade” era de que esta havia “falhado” com ele, ou que ele não poderia “confiar” nas instituições que representava até o momento, o que poderia tê-lo levado ao suicídio (Palacio., 2010).
Deve-se destacar um fator fundamental no âmbito social e que não são afetados por crises econômicas e taxas de desemprego, ambos os aspectos se correlacionam a nível social com taxas de suicídio mais altas, mas que, sendo a polícia, pelo menos na Espanha, funcionários públicos do governo central, regional ou local, ou seja, são funcionários com contratos vitalícios, com salário fixo, independentemente da conjuntura econômica do país, o que significa que ambos os fatores não têm impacto.
Apesar do exposto, os agentes podem perder sua condição e com ela a referida estabilidade econômica devido a uma série de pressupostos, que no caso da Polícia Nacional estão incluídos no artigo 5º da Lei Orgânica 9/2015, de 28 de julho, sobre o Regime de Pessoal da Polícia Nacional (Chefia de Estado, 2015)
a) A aposentadoria.
b) A demissão do cargo de funcionário.
c) A perda da nacionalidade espanhola.
d) A sanção disciplinar de afastamento do trabalho que tenha caráter definitiva.
e) A pena principal ou acessória de desqualificação absoluta ou especial para o exercício do trabalho ou cargo público que tenha caráter definitiva.
Aspecto, o do afastamento do serviço, voluntário ou não, que tem sido associado a um aumento nas taxas de suicídio (LaMontagne et al., 2018).
c)Perspectiva individual, onde a psicologia desenvolveu diversas teorias associadas ao suicídio entre os membros da corporação e forças de segurança (Violanti, Owens, McCanlies, Fekedulegn, & Andrew, 2019):
–Psicodinâmica, a superexposição a um ambiente “inapropriado” pode levar à superação das barreiras psicológicas do agente e que isto o conduza ao suicídio.
–Cognitiva, onde se observou como os policiais mostram uma falta de flexibilidade cognitiva em seu trabalho, associado a dificuldades em administrar o estresse contínuo, aumentando a ideação suicida.
–Taxonômico, onde existem quatro fatores associados ao suicídio no âmbito militar (aplicável à polícia), o formativo, os antecedentes, os precipitantes, e os associados aos sentimentos de alinhamento e impotência.
–Com base na autópsia psicológica, empregando este método se chegou a entender como existem fatores sociais prévios que afetam a sua rede de contatos e a sua integração com os colegas.
–Perspectiva de pressão, onde os agentes vão reagir de forma desigual aos estressores de seu trabalho, podendo enxergar o suicídio como uma “solução” para dito sofrimento.
–Interpessoal, onde o estresse no trabalho está relacionado a exposições traumáticas, aliadas ao sentimento de isolamento e falta de pertencimento social.
–Diátese-estresse interativa, onde o suicídio está relacionado ao estresse e os fatores pessoais de predisposição (Mann, Waternaux, Haas, & Malone, 1999).
Fatores de Risco
São considerados fatores de risco aqueles em cuja presença aumentam as chances de sofrer atos suicidas. Estes podem ser quantitativos ou qualitativos, no primeiro caso estaríamos falando de fatores que precisam “se acumular” ao longo do tempo, ou que requerem uma alta intensidade para poder ter essa influência na conduta suicida; e no caso dos fatores qualitativos, se falaria mais da mera presença desse fator como sendo suficientemente determinante para “provocar” tal ato.
Em relação aos fatores que aumentam a probabilidade de suicídio, destaca-se (Comissão de Saúde Mental do Canadá, 2018):
–os antecedentes familiares tanto de casos de suicídio como de distúrbios psicológicos.
–as tentativas anteriores de suicídio.
–os pacientes crônicos hospitalares.
–o abuso de álcool.
–a prisão.
–as mudanças de estação.
–a influência dos meios de comunicação.
–os fatores sociais, como o isolamento ou eventos vitais recentes.
–a exposição à violência.
–o trabalhar em determinadas profissões, como no campo da saúde, em serviços de emergência ou na polícia.
Sobre este último ponto no que diz respeito ao trabalho que é realizado, outras pesquisas têm associado uma maior taxa de suicídio a profissões como a de fazendeiro, médico, policial ou soldado (Tiesman et al., 2015); embora haja um maior número de suicídios na polícia em comparação com a população geral, dentro dos empregos de risco eles ficam atrás das taxas de suicídio de bombeiros, soldados e funcionários penitenciários (Milner, Witt, Maheen, & Lamontagne, 2017; Stanley, Hom, & Joiner, 2016).