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A Estrutura Da Oração
A Estrutura Da Oração
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A Estrutura Da Oração

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Decidimos comer p?o para o jantar, eu com um pouco de vinho e ele com um copo de sumo. Falamos ? mesa sobre temas de especial interesse para ele. Olho-o nos olhos enquanto lhe explico determinadas conce??es sobre sentir o Esp?rito Santo pulsando na palma da sua m?o. Depois levo as minhas ao seu rosto. O impacto do seu corar ro?a a minha cara. Acaricio as suas bochechas e volto a beijа-lo, desta vez de forma profunda.

*

Palpita o odiаvel beijo que delimitarа o itinerаrio da trai??o e do inferno.

*

Estou no seu quarto e mostra-me um pijama bege. Informa-me que estou apto para servir um representante de Deus no mundo, que de hoje em diante serei o seu guia espiritual. Explica-me que a batina е o ?nico vestuаrio sagrado que o ser humano possui. As minhas novas tarefas consistem em despi-lo e vestir-lhe a roupa de dormir. Parece-me uma tarefa simples e aceito com gosto servir ao padre, um filho de Deus purificado.

*

As suas m?os deslizam lentamente pelas minhas coxas. Sinto-as mornas, reparadoras, t?o perturbadoras e apraz?veis. Contenho um gemido. Vibro ao sentir a sua respira??o na zona do meu pеnis, na trepida??o dos meus pelos que se agitam atra?dos pela onda de magnetismo da sua pele navegando pela minha pele, atravеs do rosa dos seus dedos castos. Agora е o meu peito que se satisfaz, que se alegra num prazer que n?o pertence a este mundo. A minha pele arrepia-se. Sou dominado pelo seu toque. Arrebatado pelo contacto da sua pele imaculada. Os vincos da minha camisa agitam-se ao ser lentamente desabotoada. Grito sem qualquer contempla??o, mas ele n?o para. Parece ter iniciado uma tortura na qual se sente um carrasco e n?o quer deixar a sua v?tima escapar. Presencio este segmento da minha exist?ncia como um momento vital. Abra?o-o e mantenho-o assim durante um tempo, o qual n?o me atrevo a estabelecer. Sou eu quem se afasta. Veste-me com uma agilidade insuspeitаvel. Um sufoco queima o meu corpo. Ajoelha-se diante de mim, formalmente, e pede-me a b?n??o. Concedo-a com um beijo no seu cabelo espesso. Vislumbro que a minha alma n?o descansarа atе que satisfa?a o meu corpo. O meu corpo n?o estarа satisfeito atе que d? in?cio ao que a minha alma tanto nega. N?o aguento mais e aqui deitado, rendo-me ao doce supl?cio do prazer solitаrio. Depois vem o vazio. Rezo a noite toda pela minha salva??o.

*

O padre aceita a derrota da sua alma, renunciou a si mesmo e entrega-se ? vontade de Deus. Prostra-se sobre o ch?o de azulejos frescos e reza, com o rosto ca?do sobre as m?os. “Meu Pai, se for poss?vel, n?o me fa?as beber deste cаlice. Contudo, n?o seja feita a minha vontade, mas sim a tua”. Confrontado por ter iludido a sua responsabilidade espiritual, o padre Misael tenta descansar, mas torna-se imposs?vel conciliar o sono. Aproxima-se da janela e acaba por sentir a brisa que atinge o seu rosto e alivia o calor intenso.

O jovem entrou na profundidade do sono, e com ele a calamidade do pesadelo que n?o o abandona. Desta vez tenta, apesar da fragilidade da sua fissura, escapar dos suspiros da besta ciclоpea que estа a um passo de o alcan?ar com as presas cobertas de baba. Conhece o fim inevitаvel da sua histоria. O seu suor ser?o gotas de sangue que cair?o sobre a terra. Uma explos?o de calor impregnada no ar circula inutilmente sobre o corpo arrepiado do menino.

Todos sabemos que Deus, ao ser esp?rito, e o mais supremo de todos, n?o sente. Pelo menos n?o como este homem desgra?ado, e muito menos como este pobre jovem pecador de um inferno inaugurado que nem sequer se concretiza. Estа na hora de dormir, padre, descanse, que amanh? o mundo trarа um novo come?o. Deus n?o entende os seus supl?cios.

Os ombros do padre Misael recebem um peso colossal. Exausto, prostra-se sobre a cama e fecha os olhos. O pesadelo da navalha e as orelhas voltar?o a surgir do canto obscuro da culpa.

SEXTA-FEIRA

Doce e amargo

Panem nostrum quotidianum da nobis hodie…

PRIMEIRA ESTA??O

A boca abre-se num bocejo que quebra um grito inaud?vel. A l?ngua carregada e espessa obriga-o a engolir em seco com a amargura natural das manh?s. Lembra-se da queda da noite anterior. N?o е a primeira vez que imita a antiqu?ssima prаtica de On?, mas pode-se dizer que se afastou do pecado e se redimiu atravеs de um vasto caminho de expia??es e dolorosos dias de penit?ncia. Os desejos mais elementares tomaram a forma de um coro agitado que dentro do seu corpo reclama satisfa??es que a sua alma n?o estа disposta a consentir. E este facto dita a condena??o. Sente o corpo sujo, regista a sua alma manchada, detesta a sua virilha. As suas m?os ficaram manchadas pela secre??o e contempla sobreposta num ligeiro rasto, a camada r?gida que o den?ncia. Levanta-se da cama e lava abundantemente as m?os com sab?o. Profere uma ora??o.

*

SEGUNDA ESTA??O

“Perdoa-me, Pai amado, s?o grandes os meus pecados, mas a tua bondade е maior. Aceita a minha ora??o. N?o me afastes de Ti. Juro que tento suportar, Pai, esta carga que pesa sobre os meus ombros e que me oprime. Dа-me a gra?a da tua ajuda para continuar de pе, n?o deixes que os meus passos falhem, n?o permitas que a minha alma caia em pecado. S? o meu protetor. S? o meu guia. Ajuda-me, Senhor, a manter-me firme na tua palavra”.

*

TERCEIRA ESTA??O

De facto, е bom sentir o respeito que е dirigido ? autoridade de um representante de Deus na terra. Estas senhoras asseguraram com ?xito a minha aus?ncia nos preparativos e presencio uma representa??o completa da Via Sacra traduzida pelos movimentos desajeitados dos meninos. Est?o t?o esbeltos. Principalmente o meu, transformado em homem ferido e semin?, preso no madeiro. Um impulso convida-me a olhar para a cоmoda extens?o das suas pernas pаlidas, os pеs que se esticam provocatoriamente, o volume que se forma nas suas cal?as e que na minha mente articula uma imagem pouco decente que afasto com uma ora??o renovada. Sinto despertar uma parte de mim. Pe?o aos cеus que acabem com aquela trai??o do meu corpo.

*

QUARTA ESTA??O

“Como evitar, Pai amado, as ciladas do demоnio? Como? Dа-me for?as. Recorro ? tua palavra, ? tua sagrada palavra e me consolo”.

Apоs curtas invoca??es, surpreendo-me ao encontrar dentro do livro sagrado um selo da Virgem Maria. Observo as linhas que tra?am o seu perfil, o olhar emanado para o cеu, a magnific?ncia com a qual o menino repousa sobre o seu ombro, inconsciente do destino que o aguarda. O rapaz chama-me. Deixo a B?blia quase na beira da escrivaninha. Guardo o selo no bolso da camisa e saio. A comida estа salgada, mas n?o reprovo o menino. O queijo, pelo contrаrio, esmaga-se no meu paladar, atenuando a sensa??o salgada. A doce amargura do vinho compensa o choque destes extremos.

*

QUINTA ESTA??O

Estou atento ? atitude do mi?do, cujo lаbio demonstra um tra?o de m?mica que me permite pressentir a sua inten??o de falar.

“Padre, estive a pensar sobre o que falаmos ontem e n?o quero ir para o inferno. Quero cumprir as a??es impostas por Deus”.

Olho para ele, surpreso. As suas palavras s?o um apoio para suportar este fardo que me atormenta, para fechar de uma vez esta persiana pesada do desejo que se mostra como uma escapatоria fаcil, imprudente, tentadora e prejudicial, e acabar, finalmente, com as minhas inten??es.


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