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O Mistério Do Lago
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O Mistério Do Lago

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? Eu n?o sei sobre essas coisas, apenas que е assim. ? disse ela, indiferente, enquanto fechava os olhos para continuar seu sono e repouso.

? E voc? sabe por que a аgua n?o е potаvel? ? eu insisti, lembrando das informa??es que o morador anterior havia me dado, chateada pela passividade da mulher.

? A ?nica coisa que posso dizer е que е um lugar sem vida e, portanto, n?o е adequado para uso, por isso preferimos deixа-lo como estа. ? concluiu ela, um pouco irritada porque a conversa tornara-se muito longa, e moveu a m?o com parcim?nia, de um lado para outro, um gesto para que eu fosse embora.

Depois de agradec?-la por suas palavras, me voltei intrigada em dire??o ao lago, para v?-lo mais de perto, permanecendo pensativa ante aquelas breves palavras escutadas dos habitantes que pareciam n?o se preocupar em ter um lago t?o grande na frente deles e, tambеm, sem poder aproveitа-lo de nenhuma maneira.

Eu jа havia lido sobre alguns tipos de аguas que n?o s?o boas para o consumo porque cont?m certos microrganismos ou simplesmente porque possuem altos n?veis de subst?ncias tоxicas para o corpo humano, seja ars?nico, enxofre ou qualquer outro elemento nocivo presente nos confins da Terra.

Chegando quase ? margem, subi em algumas rochas que podiam servir de assento improvisado, e assim contemplar aquele estranho fen?meno em estado l?quido, do qual mal consegui obter algumas palavras dos habitantes locais, n?o muito mais que ideia repetida de que a аgua n?o е boa para consumo.

Fiquei sentada em frente ao lago por algumas horas, admirando a cor que nos impedia de adivinhar o que havia nas profundezas de suas аguas, sendo o comprimento a ?nica caracter?stica оbvia, pois n?o havia nada que indicasse um rio ou cachoeira nas proximidades que fornecesse аgua corrente, mas, ainda assim, algo me surpreendeu, porque mesmo ? curta dist?ncia em que eu estava, ainda n?o havia notado nenhum efeito negativo em minha sa?de, nem mesmo o mau cheiro que costuma ser t?o caracter?stico de аreas com subst?ncias perigosas ou em lagoas e reservatоrios com аguas estagnadas.

Logo fiquei encantada vendo as nuvens flu?rem em um ritmo lento atravеs das fendas das montanhas, ou acima de seus picos, e n?o pude evitar a compara??o com a caminhada dos habitantes daquele lugar que pareciam despreocupados com a passagem do tempo, alheios ao pulso frenеtico de uma cidade.

Aqueles conglomerados espumantes de аgua evaporada formavam imagens curiosas, ?s vezes fаceis de identificar como um animal, e que mudavam ao capricho do ar, refletindo-se como se a superf?cie negra daquele lago fosse um espelho.

Mas, por mais que eu insistisse, n?o consegui ver o menor vislumbre de movimento em sua superf?cie, como se a аgua daquele lago estivesse imune aos influxos da brisa que, em qualquer outro lago provocaria pequenas ondas, suaves e espumosas, que bateriam contra a margem, mas n?o havia vest?gios da menor perturba??o, como se as аguas fossem uma subst?ncia viscosa e impenetrаvel, mais parecida com componentes oleosos como o оleo.

Alеm disso, n?o havia nada vivo ao redor, nenhuma planta, por menor que fosse, crescendo nas proximidades de lugares ?midos ou l?quen nas rochas onde eu estava, ou algas na superf?cie daquele lago, n?o se via nada vivo perto de mim.

Isso em rela??o ao que vi, mas mesmo acostumada ?s mudan?as entre a cidade e o interior onde os sons s?o mais sutis, n?o conseguia ouvir o menor ru?do naquele lugar que era, sem d?vida, prop?cio para se descansar e relaxar, mas n?o se ouvia nem sapos nem pаssaros.

O que, sem d?vida, me confundiu bastante, porque em locais calmos, por mais baixo que seja o ru?do produzido, ele se expande por longas dist?ncias, enquanto na cidade, ?s vezes voc? precisa gritar para que a pessoa ao seu lado entenda suas palavras.

Tanto е assim que, para verificar se, por algum motivo meus ouvidos estavam comprometidos disse o que as crian?as com tanta euforia fazem quando veem alguma gruta ou cavidade que possa gerar eco e gritei “Eco” e, depois de alguns instantes… Nada, tentei novamente mas virada para outro lado, desta vez com mais for?a e… nada.

Bem, pode ser que, por ser um local aberto, eu n?o tivesse a sonoridade necessаria para formar o eco, o que havia ficado claro era que eu escutava bem. Estava segura de que n?o estava com os ouvidos entupidos nem nada parecido.

Mas, por n?o ter vida no local, nem mesmo aqueles animais pequenos e inoportunos, que costumam estar prontos para atacar tudo o que se move ou pelo menos incomodar como: moscas, mosquitos e uma sеrie de insetos que vemos em ambientes rurais assim.

E de todas essas inconsist?ncias, isto era o que mais me impressionara, porque em muitos lugares onde hа ac?mulo de аgua, se concentra muitos insetos, alguns atra?dos pela vida que е gerada ao redor e outros esperando por visitantes desavisados para dar as boas-vindas. N?o notei nenhum deles, mas durante todo o tempo em que estive lа, n?o vi nenhum, por menor que fosse. Tal descoberta me encheu de medo por um instante, tanto que atе me fez dar um pulo enquanto eu me perguntava: “E se fosse verdade que a аgua era tоxica?”, talvez eu tivesse me apressado em me aproximar sem tomar nenhuma precau??o, porque embora eu n?o apresentasse sintomas como asfixia ou tontura, eu n?o conseguia adivinhar o que causaria a aus?ncia de animais voando na аrea. Bem, decerto prefiro pensar que as aves haviam migrado e n?o que morreram todas por envenenamento.

Depois de olhar para todos os lados e verificar se eu estava sozinha e que parecia n?o haver sinal de perigo, sentei-me na rocha, onde me sentia segura, porque apesar de estar perto da margem era uma dist?ncia boa o suficiente para n?o cair por descuido.

E abandonei qualquer ideia de que, quando o sol tоrrido atingisse seu auge, talvez conviesse entrar no lago para banhar-me, ou pelo menos refrescar os pеs na beira sem precisar entrar totalmente.

Algo t?o inocente que eu jа havia feito tantas vezes sem problemas era agora visto por mim como um poss?vel risco para a sa?de, pois n?o sabia se o simples contato com a аgua negra era suficiente para me deixar doente ou se apenas a ingest?o era malеfica.

Eu estava no alto da pedra, deitada e relaxada, os olhos semicerrados e quase adormecida, meu olhar observava as nuvens quase que em hipnose, quando percebi algo muito estranho, era um som abafado, como se ouvisse a voz de alguеm com a orelha grudada em uma porta.

Tal foi o susto que pensei que algumas pessoas haviam me visto e que haviam se incomodado, e que de alguma maneira eu provocara um esc?ndalo e que deveria ir embora dali.

Olhei rapidamente para todos os lados, meu cora??o ainda estava apreensivo, mas n?o vi ninguеm, e n?o tinha ideia de onde vinha aquele barulho contundente. Eu estava sozinha naquele lugar, sentada na pedra sem ninguеm por perto quando aquela sensa??o voltou, talvez atе mais forte.

Agora eu estava bem atenta, mas n?o conseguia descobrir de onde vinha, e se eu n?o soubesse que era imposs?vel acharia que alguеm estava batendo na rocha por baixo, porque eu podia sentir o tremor.

Fiquei um pouco preocupada com isso, me mantive em alerta, olhei para todos os lados, sem identificar nada de diferente, me preparei para sair de lа ?s pressas quando acontecesse de novo, е como se a rocha estivesse oca e a tivessem atingido com viol?ncia; mas n?o podia ser, n?o havia ninguеm lа e rocha me parecia sоlida.

Naquele exato momento, talvez por reflexo, olhei para o lago para ver se havia ondas na superf?cie em decorr?ncia do tremor, como acontece quando uma pedra е lan?ada na аgua, e percebi que algo muito estranho estava acontecendo, a superf?cie que atе aquele momento permanecia calma e imоvel, parecia estar abaulada e come?ava a afundar no centro. Е como se tivessem retirado a tampa de uma banheira e o ralo drenasse com for?a, mas a calma do lago n?o foi interrompida por muito tempo, o formato c?ncavo se sustentou apenas por alguns segundos e depois voltou ao estado normal.

Tal percep??o me deixou alarmada, n?o entendia o que estava acontecendo, erai a primeira vez que via algo assim, como se algo debaixo da terra se deformasse e refletisse na superf?cie.

Assustada com o que ouvi e vi, corri em dire??o ? cidade, n?o muito longe, t?o destrambelhada que quase ca? da boca ao descer das pedras grandes, mas consegui impedir a queda no ?ltimo instante ou meu rosto ficaria gravado no solo. Depois de me levantar, e sem me importar com as m?os machucadas pelo acidente, continuei correndo, a respira??o entrecortada, n?o ousei olhar para trаs.

Corri o mais rаpido poss?vel nos trechos que serviam de rua, mesmo correndo o risco de cair de novo, sem saber o que estava procurando, explica??es ou abrigo.

Procurei em todos os lugares para ver se encontrava um morador para pedir ajuda, porque afogada pelo esfor?o n?o conseguia produzir o menor som que pudesse soar como um pedido de ajuda. Mas, apesar de me afastar daquele lago o mais rаpido que podia e desse estranho perigo, eu ainda tinha aquela sensa??o avassaladora de que n?o estava bem.

Como pude, continuei correndo para onde ficavam as casas e, quando cheguei, n?o vi ninguеm, algo ainda mais estranho, porque, quando sa?, havia cerca de uma d?zia de vizinhos, entre os que andavam de um lugar para outro e os que sentavam-se tomando banho de sol na tranquilidade, mas agora, agora… tudo estava deserto.

Talvez eles estivessem t?o assustados como eu e se trancaram em suas casas, refugiando-se, esperando que acabasse, fosse o que fosse, eu n?o tinha tempo para mais nada, nem queria descobrir esse mistеrio, estava mais preocupada em me salvar.

Cheguei na casa de quem me recebera na noite anterior, cujo dono estava preparando a comida quando sa?; era um homem velho, que os vizinhos me disseram, ? minha chegada, ser o ?nico que possu?a um quarto vago, porque sua filha havia deixado a cidade hа muito tempo, havia se apaixonado em uma viagem de estudos. Ent?o a casa dele se tornou uma pousada improvisada, onde eu poderia ficar o tempo que precisasse.

Procurei por ele em todos os c?modos e n?o consegui encontrа-lo, seja na cozinha ou em qualquer outro lugar, o que me deixou muito mais nervosa, pois pensei que estaria segura ali, mas agora tambеm duvidava que assim fosse.

Corri para o meu quarto e fui imediatamente para a c?moda. Eu procurei ansiosamente entre as gavetas sem encontrar o que estava procurando em meus pertences. Abri as pequenas portas com a chave que permanecia na fechadura e, procurando nos meus pertences, por fim encontrei minha mochila.

Respirei fundo, olhei dentro, esperan?osa, atrаs do pequeno aparelho que poderia salvar minha vida, o telefone celular e ligar para a emerg?ncia.

Eu nem me lembro de ter tido esse necessidade antes, porque tive a sorte de nunca me envolver uma situa??o que a gravidade demandasse tal aux?lio, pelo menos n?o desde que comprei um, pensei enquanto um vеu grosso era tirado de minhas lembran?as, trazendo-me momentos amargos ? tona. Uma vida que eu havia me esquecido.

Assustada, perdida e agora entristecida, eu n?o conseguia me acalmar o suficiente para me acostumar com aquilo, apalpei todos os lugares atе apertar o bot?o de ligar, digitei a senha e depois, fiquei parada, imоvel, n?o tinha certeza de que era capaz de encontrar uma explica??o para a situa??o estranha que estava vivenciando.

Mal havia pressionado os tr?s n?meros, pensei ter ouvido o primeiro toque, o segundo… mas n?o era o que estava acontecendo. Olhei para a tela e vi a inexplicаvel mensagem de “Fora da аrea de cobertura”.

N?o se dizem que funcionam no mundo todo? Contrariada, desliguei e voltei a tentar outra vez, esperando obter um resultado diferente, mas a mesma mensagem voltou ? tela.

Tremendo, tentei ligar para qualquer n?mero da minha lista, tentei entrar em contato com qualquer pessoa que pudesse pedir ajuda, mas nada, a mesma mensagem.

Eu estava com tanto medo, pois atе ent?o, sempre que eu usava o telefone, havia alguns amigos do outro lado com quem eu podia compartilhar meus momentos bons ou ruins, mas agora, que eu tanto precisava, n?o havia ninguеm.

Irritada, joguei o aparelho na cama com desprezo, e tentei deixar a casa para seguir a outro lugar mais seguro, na corrida frenеtica que sо fora interrompida pelos breves minutos que tentei usar o telefone.

Eu quase ca? quando cheguei ? rua de paralelep?pedos, quando pensei ter reconhecido um grande edif?cio branco, que se destacava em altura em meio ?s demais casas por conta de seu campanаrio. Eu corri, meu corpo envolto em suor e a respira??o acelerada, queria me refugiar naquele templo, onde supus que sempre deveria haver alguеm, em uma celebra??o ou apenas rezando.

? medida que me aproximava, suas dimens?es aumentavam e, com muita estranheza, eu me senti mais calma e segura, tanto que atе diminu? o passo antes de chegar ?s portas.

Puxando os anеis que ficavam no centro das grandes portas, abri-as depressa e entrei em busca de um dos moradores locais, porque o susto que havia sentido no lago havia se tornado uma estranheza e depois em medo pela aus?ncia de qualquer vida naquela cidade.

E para minha surpresa tambеm n?o havia ninguеm lа, depois de inspecionar o confessionаrio, corri por entre os bancos e fui ? sacristia para ver se pelo menos o padre estava lа, mas tambеm n?o o encontrei.

Sozinha, exausta e assustada, parada no meio da igreja, minhas for?as me derrotaram e deixei meu corpo cair, como chumbo, em um daqueles bancos longos. Chorando de nervosismo, com as m?os machucadas pela queda, fiquei onde estava, tremendo pelo esfor?o feito.

E naquele momento de desespero, com fiz tantas vezes quando era crian?a, olhei para o Cristo, que havia sido pregado na cruz, e estava pendurado no alto do teto, suspenso sobre o altar. Inspirei fundo, fechei os olhos devagar e me preparei para rezar e pedir por ajuda, quando de repente… senti que algo ou alguеm estava tocando meu ombro enquanto ouvia,

— Acorde, senhora! Estа na hora de comer. — sussurrou uma voz rouca, falhada pela passagem do tempo.

— O qu?? Onde? O que aconteceu? — perguntei, intrigada quando me recuperei, olhando em volta.

Depois de alguns segundos, quase o suficiente para me recompor, percebi que tudo havia sido uma espеcie de sonho, embora parecesse mais um pesadelo, porque eu estava sentada em frente ao lago, na mesma pedra em que fiquei por horas, aquela pedra que antes me pareceu oca.

Olhei em volta e n?o vi nada no lago, nenhuma imperfei??o em sua superf?cie e do outro lado, a cidade e seu povo ? dist?ncia, esse morador ao meu lado, e era o homem que me havia recebido em sua casa que agora me avisava que a comida estava pronta.

N?o sabia o que dizer, porque n?o conseguia entender o acontecido, n?o me lembrava de ter passado por tal experi?ncia antes, nada que pudesse ser comparado. Bem, sonhava como todo mundo, mas tudo havia sido t?o real que fiquei surpresa por n?o ter de fato acontecido, mas е claro que n?o poderia ter me vindo t?o rаpido da igreja atе aqui, ent?o aceitei que era sonho.

Olhei para as m?os e n?o havia vest?gios dos hematomas que arrumei ao descer da pedra, inspecionei minhas roupas e n?o havia a menor sugest?o da queda, apesar de sentir uma estranha acelera??o na respira??o.

Toquei uma das carоtidas com a m?o, as artеrias que percorrem a face externa do pesco?o de cada lado e que costumamos sentir para medir o pulso. Depois da contagem de um minuto, percebi que estava acelerado demais. Quase excessivo. Isso poderia explicar por que eu estava encharcada de suor, apesar de tudo indicar que eu n?o havia sa?do daquela rocha.

Depois de me certificar de que tudo estava como antes do sonho, desci com cuidado daquela rocha, para evitar cair e fui com o homem atе a cidade. Fiquei t?o feliz por poder ver alguеm que me dava a sensa??o de seguran?a, de modo que, durante todo o caminho de volta, eu o segurei pelo bra?o, algo que o homem n?o parece ter se importado, porque n?o fez nenhum gesto de desaprova??o, pelo contrаrio, parecia feliz com a minha decis?o.

Apesar da intensa e detalhada experi?ncia que tive, eu n?o sabia se deveria contar a alguеm, quem iria acreditar em mim? Nem meus amigos entenderiam tudo o que eu havia sentido naqueles momentos de grande solid?o e desespero.

Havia tantas emo??es e memоrias v?vidas que eu me senti estranha. O sonho havia despertado sentimentos que eu pensava terem sido esquecidos e outros da inf?ncia que considerava perdidos no tempo.

A ang?stia vital causada pela solid?o, por n?o encontrar quem me entendia e compreendia; o desespero para encontrar uma sa?da, de fazer o meu caminho na vida, apesar dos muitos obstаculos e preconceitos que tive que superar; a dor da perda abandono dos entes queridos; a devo??o religiosa em que fui educada e que n?o pratiquei mais… tantas emo??es vieram ao presente como um dil?vio sem poder entender o motivo disso.

Mesmo com essas sensa??es ? todo o vapor, quando chegamos ao chalе, larguei o bra?o daquele homem e fui depressa ao meu quarto fazer aquilo que fiz durante o sonho de instantes antes, pegar meu telefone.

Tirei da mochila, liguei, disquei o n?mero de emerg?ncia, e o coloquei no ouvido. Um toque, dois toques…

— Bom dia, emerg?ncia, como podemos ajudа-lo? — era a voz de uma mulher de meia idade do outro lado da linha.

Fiquei surpresa pela sauda??o, suponho que seja o que deveriam dizer, mas, como jа havia tentado sem sucesso, nem sequer havia preparado o que dizer.

— Desculpe, estava testando o aparelho. — respondi hesitante. N?o aconteceu nada, desculpe.

Dito isto, desliguei sem dar tempo para que a senhora me dissesse mais alguma coisa, coloquei o telefone no peito e respirei fundo. Fiquei tentada a ligar para um de meus amigos, mas n?o vi a necessidade de incomodа-los apenas para ouvir a voz de um deles, pois jа havia verificado que o celular funcionava bem, sinal forte a e boa comunica??o com o mundo exterior.

Depois de trocar de roupa, fui para a cozinha, onde o homem havia me deixado um prato de comida pronto, surpresa com a atitude de ir me buscar para comermos juntos.

— Muito obrigada, mas fiquei com fome enquanto preparava. — disse o homem, recusando meu convite.

Dito isto, ele pegou uma cadeira e saiu de casa para ficar ao lado da porta e, sentando-se sossegado, come?ou a aproveitar o sol, me deixando sozinha na cozinha para que eu pudesse comer.

Embora o cafе-da-manh? tivesse sido bastante escasso, a comida de agora parecia desproporcional. Alеm de outro peda?o do mesmo p?o duro, havia o que parecia uma sopa de legumes, embora parecesse аgua com peda?os quase transparentes de cebola flutuante.

Nada a ver com a multiplicidade de vegetais esmagados, como cenoura, tomate, cebola, piment?o ou couve-flor, que poderiam estar ali para tornа-la uma verdadeira sopa juliana e n?o um caldo simples de cebola. Deveria ser um consom? t?pico da regi?o ou algo assim.

Ent?o, em vez de uma salada abundante e brilhante, com todos os tipos de vegetais cortados em peda?os grandes, com alface, piment?o, pepino, tomate, cebola, cenoura e salsa, havia apenas uma pequena escarola com azeite

No prato principal, por mais que eu chafurdasse, n?o havia sinal de nada, nem um bife feito na grelha, nem peixe fresco fumegante e grelhado, ou nem mesmo um ensopado simples com lingui?a e bacon.

E ainda por cima, n?o vi nada para a sobremesa, apesar de gostar de uma fonte colorida de uma variedade de frutas de todas as cores imaginadas, com peras, ma??s, laranjas, tangerinas, bananas, damascos, p?ssegos, uvas, melancias, mel?es, abacates, n?speras, cerejas, morangos, cerejas, figos… ou qualquer outro fruto selvagem, mas n?o havia nada.

Acho que o homem tambеm comeu pouco, pois para compensar a escassez, encontrei um punhado de pinh?es, como se fossem um pedido de desculpas ou algo parecido.

Acredito que foi por causa da minha chegada imprevista ?quela cidade que meu anfitri?o se viu obrigado a improvisar e n?o tivesse alimentos suficientes para me receber, como seria normal em outra hospedagem. Mas, em vez de comprar outra coisa para me oferecer, ele estava sentado pacificamente ao lado da porta, ent?o, temo que ele n?o tenha muito interesse em resolv?-la, ent?o prevejo um jantar bem ralo ? minha espera esta noite.

Embora fosse poss?vel, que esta era a ?nica coisa que comiam nesta cidade, por ser t?o alto e com uma terra t?o austera e cheia de pedras, talvez fosse dif?cil para o campo produzir qualquer coisa.

N?o seria de esperar que eles pudessem tirar muito proveito daquelas аrvores circundantes, alеm dos pinh?es, pois n?o era lugar prop?cio ? аrvores frut?feras.

Alеm disso, estando t?o isolados e sem uma estrada adequada, seria muito dif?cil chegar cargas com regularidade e, portanto, se acostumaram a lidar com a escassez, a fim de sobreviver entre cada distribui??o.

Com uma dieta como essa, n?o me surpreende que os habitantes desta cidade pare?am t?o bem de sa?de, porque, apesar da idade que aparentam, se movem com bastante agilidade, tanto que podem atе competir comigo.

O dono da casa, que apenas alguns minutos atrаs havia me deixado na cozinha, me trouxe t?o rаpido desde a rocha que eu quase pensei que estаvamos competindo. Um passo constante e acelerado que me custou para seguir de bra?os dados com ele. Ele manteve o ritmo durante a caminhada sem mostrar sinais de fadiga.

Algo me incomodava com essa situa??o, de que a comida rala era me dada de forma intencional para eu n?o me recuperar e continuar com minha viagem. Poucos alimentos que, apesar de bem preparados, n?o eram um manjar para os olhos.

Eu era uma daquelas pessoas que, mesmo sem comer demais, precisavam da ingest?o de muitos nutrientes diariamente, n?o poderia faltar frutas e legumes em meu prato, e mesmo assim nunca ganhei peso.

Minha figura, quase estilizada, n?o era o resultado de uma daquelas dietas que costumam ser seguidas pelas modelos, na qual elas se alimentam de um ?nico alimento, seja uma fruta ou vegetal, apenas ele quantas vezes voc? desejar por dia, como a dieta de bananas, ma??s ou mel?es.

A esse respeito, ouvi dizer que, embora aparentemente os resultados desejados possam ser alcan?ados, pois perdemos rapidamente muitos quilos, a descompensa??o que ocorre no corpo atravеs da remo??o de subst?ncias necessаrias para o bom funcionamento pode levar a problemas, atе graves, para a sa?de.

Tambеm n?o sou uma dessas mulheres que passam horas e horas na academia, tentando queimar qualquer ind?cio, por menor que seja, do ac?mulo de gordura que poderia ser produzido. Alеm disso, eu n?o teria paci?ncia suficiente para realizar exerc?cios com pesos todos os dias, apesar das mudan?as por causa dos grupos musculares trabalhados; nem acredito que seria capaz de cumprir um desses circuitos exaustivos, nos quais a cada cinco minutos voc? deve passar de um dispositivo para outro, que, se voc? andar pela esteira pela primeira vez, depois pedalar com a bicicleta, ent?o… exercitar o maior n?mero de m?sculos do corpo em um ?nico dia; eu n?o conseguia nem terminar uma sо com sucesso, e sem me perder pela metade, uma daquelas sess?es de aerоbica ou em qualquer uma das modalidades modernas que surgiram com base no mesmo princ?pio de realizar numerosos movimentos coordenados no menor tempo poss?vel e tudo frente ao espelho.

Sou simplesmente assim, uma mulher delgada, como toda a minha fam?lia, ent?o suponho que tenha muito a ver com a genеtica. Portanto, manter a linha sempre foi algo que nunca me preocupou em excesso, ao contrаrio de alguns de meus amigos, que est?o sempre discutindo o mesmo tоpico, analisando o que podem comer ou n?o e quantas calorias tem em cada refei??o, quais alimentos comer para saber se n?o v?o exceder o mаximo permitido por dia.

Tambеm acho que ajuda a me manter em forma o fato de que quase todo fim de semana vou fazer caminhadas nas montanhas e, por qualquer motivo, n?o me apetece ir t?o longe, ou se estа chovendo e com mau tempo, fa?o uma rаpida sess?o de caminhada na pista coberta do centro esportivo ao lado de minha casa.

Um pouco de exerc?cio sempre me ajuda a me sentir bem comigo mesma e, se puder ser no meio da natureza melhor ainda, е algo que me revitaliza e me enche de energia, expelindo do meu corpo qualquer toxicidade que possa ter acumulado durante meu dia de trabalho.

Mas eu n?o como fora de hora, nem petisco jа que tento trazer algum equil?brio para a vida, valorizo o que fa?o e como, guiada por essa mаxima nutricional que gosto de lembrar pelo menos uma vez por dia, “mens sana in corpore sano”, cuja tradu??o seria “mente saudаvel e corpo saudаvel”.

Apesar de ter tido provas, em mais de uma ocasi?o, que eu posso comer qualquer coisa, prote?na, carboidratos ou gorduras, pois tudo se queima rapidamente com minhas atividades diаrias. E se restava alguma reserva, eu a eliminava nas minhas escapadas de fim de semana, nas quais o corpo consumia tudo o que podia.

Por isso, me acostumei a boa comida, n?o que fosse muito exigente em termos de variedade de pratos, mas em rela??o ? quantidade, tentando comer pouco, mas tudo.

Para mim, a pior coisa quando se tratava de comer e, portanto, que eu costumava evitar ao mаximo eram aquelas saladas cheias de grandes folhas, t?o pesadas para digest?o e com t?o poucos nutrientes.

Ent?o, com tudo ? minha frente, fiz coragem e comecei a comer devagar, sabendo que o velho havia preparado com o pouco que deveria ter, ent?o n?o queria desprezа-lo.

Alеm disso, como havia feito no cafе-da-manh?, fui para meu quarto quando terminei tudo e complementei com alguns dos alimentos ricos em minerais que trouxe na mochila.

Desde que descobri uns biscoitos desidratados que os militares costumam consumir nas competi??es e que s?o recomendados nos manuais de sobreviv?ncia, nunca me deixei ficar sem eles e os levo comigo aonde quer que eu vа, na mochila quando vou caminhar, na bolsa do trabalho ou no bolso da cal?a em uma rаpida sa?da para compras.

Para mim, era um tipo de seguro-sa?de, porque era uma fonte de energia nos momentos em que eu sentia as for?as me escapando por causa do esfor?o ou, simplesmente, para reunir uma boa quantidade delas durante o descanso.

Eles eram t?o importantes para mim que eu sempre trazia muitos, a data de validade era longa e pesavam t?o pouco, que eu n?o precisava calcular tanto a quantidade e correr o risco de ficar sem.

Especialmente porque nas montanhas е comum compartilhar suprimentos com outros viajantes ou alpinistas que se encontra no caminho, que por qualquer motivo perderam ou consumiram todos os seus recursos. Por esse mesmo motivo, sempre carregava o dobro da quantidade de аgua necessаria para a viagem de ida e volta. Dessa maneira, antes mesmo de sair, era poss?vel minimizar os efeitos de qualquer imprevisto que possa surgir, da? o ditado “mulher cautelosa vale por duas”.

Depois que terminei de comer o que podia e com a sensa??o de est?mago pesado, fui para o meu quarto suplementar meus nutrientes com os biscoitos desidratados. Algumas pessoas riam porque parecia comida de cachorro, mas eu preferia comparа-los ? comida dos astronautas.