
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Conquista Da Meia-Noite
A testa de Parlan se enrugou, pensativa, enquanto estudava Ian e Munro. Quando Munro pareceu satisfeito com o silêncio do filho, ele voltou-se para Parlan.
— Temo que você esteja certo, Parlan. Eu esperava que ele restringisse os próprios gastos e gostaria de poder dizer para onde o dinheiro está indo… — ele olhou para o filho. — Contudo, concordo com o curso de ação sugerido.
— Pai, eu tentei! — Ian contestou. — Não provei ser um marido melhor?
Munro deu um passo à frente e deu um tapa no rapaz, fazendo com que a cabeça de Ian tombasse para o lado, espirrando sangue no chão de pedra. Uma medida de culpa pulsou na consciência de Davina por gostar da situação do marido. Ao mesmo tempo, ela ponderou o significado por trás de “um marido melhor”. Em verdade, Ian tornara-se ainda mais brutal nos últimos quatro anos e pouco. Ele acreditava que disciplinar a esposa com mais severidade era o que o tornava um bom marido? Munro ergueu o punho, e Ian se preparou para outro golpe.
— Chega! — Parlan gritou. — Agora posso ver onde seu filho aprendeu técnicas de disciplina.
Munro se ergueu, esticando o peito em desafio.
— Disciplina severa é a única maneira de ele entender, Parlan. Confie em mim.
— Talvez, pois não conheço seu filho o suficiente, mas conheço Davina, e essa forma de punição não é necessária com ela. Embora possa ser bastante dramática, ela é uma mulher razoável e uma conversa basta. Sei que um homem tem o direito de fazer o que quiser com a esposa, e algumas mulheres precisam ser disciplinadas com um elemento de força, mas minha filha não.
Davina lutou para continuar a enxergar através das lágrimas que inundavam seus olhos ante a defesa do pai. Ela não sabia que seu pai sabia. O orgulho e um alívio maior em seu peito decerto a fariam explodir!
— Firmamos esse contrato de casamento para benefícios mútuos. — continuou Parlan. — Como sou primo de segundo grau do Rei James, você conseguiu conexões valiosas. Os Russell têm riqueza para investimentos e oportunidades de negócios para mim e meu filho, Kehr. — ele deu um passo em direção a Munro, ameaça em seus olhos e a voz quase em um sussurro, e Davina se esforçou para ouvi-lo. — No entanto, não aceitei brutalidade com a minha filha como parte da troca.
Munro voltou a olhar para o filho.
— Mais uma vez, Parlan, devo implorar que perdoe meu filho. — ele se virou para o pai dela, mais arrependido. — E imploro que me perdoe por tudo o que eu possa ter feito para contribuir para o zelo excessivo de meu filho como marido.
Um arrepio percorreu Davina.
Embora Munro possa ter soado sincero, e a expressão de aceitação no rosto de seu pai indicava que ele acreditava no homem, o mesmo tom de humildade fingida vinha de Ian com frequência. No entanto, essa humildade sempre se provou ser um baile de máscaras elaborado. Até mesmo as palavras indicavam que ele não se considerava culpado de nada: “O que quer eu tenha feito…” Nos quatorze meses que Davina e Ian estiveram casados, ela notou esses sinais velados destinados a atrair simpatia e rendição, mas que, na verdade, indicavam a verdade por trás da fachada.
Munro voltou os olhos penetrantes para Ian enquanto falava.
— Para mostrar meus esforços em consertar a situação, Parlan, eu farei como sugere e fecharei meus cofres para meu filho.
Um sabor sutil de satisfação presunçosa tocou as feições de Munro enquanto ele mantinha esta posição de poder quanto ao filho. Davina reconheceu com facilidade o corpo de Ian tremendo de raiva oculta, os punhos cerrados atrás das costas. Um terror agourento fluiu através dela, como a água gelada de uma corrente de inverno levando-a para baixo em sua escuridão tenebrosa. Ela com certeza seria o alvo da frustração dele, assim que estivessem sozinhos e voltassem para mansão fria somente deles.
Mantenha essa imagem de força, Davina entoou para si, como já fizera inúmeras vezes antes, sendo a voz e o rosto de Broderick essa força. Sempre que a tristeza ou o desespero ameaçavam consumi-la e deixá-la louca, ela se concentrava naqueles cabelos ruivos e flamejantes, em seu peito largo e nos braços fortes, envolvendo-a em um casulo de segurança, os lábios cheios pressionando um beijo reconfortante na testa dela. Broderick nunca a trataria como Ian, e ela encontrou refúgio na fantasia de ser a esposa do cigano. Naquele mundo, naquele reino de fantasia, Ian não poderia tocá-la, quebrar seu espírito, nem destruir seu orgulho.
Girando nos calcanhares, Munro encarou Parlan mais uma vez e deu um breve aceno de cabeça que chamou a atenção de Davina.
— Um conselho muito sábio, de fato, e estou envergonhado de não ter pensado nisso.
— Responsabilidade envolve mais do que a gestão das finanças, Ian. — Parlan estava diante do genro, olhando carrancudo para o topo da cabeça baixa do rapaz. — Davina é de bom coração, tem uma alma amorosa…
— Mais um motivo para eu estar muito feliz com a união. — interrompeu Munro, ficando ao lado de Ian. — Ela é a doce mão que vai acalmar a besta que vive dentro de meu filho. Tenho certeza de que você viu sabedoria nisso, por isso concordou com a união. Davina terá sucesso em tornar meu filho um marido e pai amoroso.
O rosto de Parlan ficou sombrio, e se aproximou dos dois homens. Estudando-os, seus olhos pousaram em Ian, que encontrou seu olhar.
— É difícil se tornar pai, Ian, quando se espanca aquela que vai carregar seus filhos.
Davina usou a manga do vestido para segurar as lágrimas de alegria. A solidão havia sido sua única companhia sob as mãos brutais do marido, e o filho que ela perdeu foi uma dor mais triste do que ela poderia suportar. Ela não fazia ideia de que o pai sabia do que ela sofrera. Ian a ameaçava repetidas vezes, dizendo que só cumpria o dever de um marido disciplinando uma esposa indisciplinada, que se ela dissesse algo a alguém acerca da constante correção merecida, ela se arrependeria. Depois que lutar contra ele provou trazer mais de seu lado dominante à tona, ela começou a acreditar ser a culpada, e que sim, ela mesma atraía a ira dele para cima dela. Afinal, muitas de suas primas falaram sobre a disciplina que todas as mulheres devem suportar nas mãos dos maridos, até mesmo os métodos cruéis que alguns escolhiam para levá-las para a cama. Por que sua situação deveria ser diferente?
Os humores inconsistentes de Ian a deixavam cautelosa o tempo todo. Em um momento ele demonstrava atenção amorosa, sussurrava promessas; e, no seguinte, a culpava por qualquer razão que o fizesse perder o bom humor. A mente dela girava com a torrente de várias acusações e razões para as mudanças de humor dele. Às vezes, Davina mal conseguia distinguir altos e baixos, e todas as racionalizações eram insuficientes para o caos de suas circunstâncias. Ao ver seu pai vir em sua defesa e saber que ele enxergava a verdade, ela agarrou-se à parede para firmar as pernas, dobrando-se de puro alívio.
Ela não estava louca! Não era culpada!
— Segure seu dinheiro, então, Munro, até que Ian possa provar ser mais gentil com Davina, ela voltará para minha casa, e aqui o cortejo recomeçará.
Ian virou a cabeça na direção do pai, e Munro deixou a boca se abrir.
— Agora, Parlan, creio que está indo longe demais. Não há necessidade de incomodar Davina a ponto de trazê-la de volta para cá, para suportar a instabilidade de uma vida doméstica inconstante.
— Uma vida doméstica segura e amorosa é melhor do que as duras penas que ela suportou sob seu teto. Vou providenciar para que os pertences dela sejam trazidos de volta agora mesmo. — Parlan estreitou os olhos na direção de Ian. — Se quer ter acesso à coroa, rapaz, é melhor provar ser um marido amoroso, digno dos meus futuros netos.
Davina lutou para acalmar as batidas fortes de seu coração que agora estava em total descompasso. Ela voltaria para casa!
— Parlan. — Munro colocou uma mão reconfortante no ombro do pai dela. — Posso garantir que Davina estará segura sob meu teto. Agora que estou ciente da situação…
— Os maus tratos estavam ocorrendo sob o seu nariz, e você não foi capaz de enxergar! — Parlan rugiu.
Munro baixou a cabeça, recuando e assentindo.
— Está certo, Parlan. Não posso expressar o pesar de minha ignorância pela dor que causei a sua preciosa filha. Hoje vejo Davina como a filha que sempre quis, e lamento que minha esposa não tenha vivido para conhecê-la. — Munro se virou e iniciou uma passada acelerada, um vai-e-vem, as mãos atrás das costas, uma visão de arrependimento. — Creio que se Ian tivesse a influência amorosa de minha esposa, ele poderia ter aprendido a ser um marido mais gentil. Temo que minha atenção a questões de propriedade e riquezas tenha me dado pouco tempo com ele, então falhei em meu dever de ensinar certas coisas. — voltando os olhos tristes para Parlan, Munro defendeu seu caso. — Entendo sua decisão, e se deseja mantê-la, não lutarei com você. No entanto, imploro que me dê a chance de consertar isso. Meus olhos estão abertos, e eu serei o protetor de Davina. Vou manter Ian sob controle.
Davina esperou, a respiração presa no peito, enquanto ousava ter esperanças na segurança que seu pai oferecia. Os momentos se prolongaram por uma infinidade de tempo enquanto ela observava Parlan considerar as palavras de Munro.
Com um suspiro profundo, ele assentiu.
— Concederei.
Davina abriu a boca, e seu coração mergulhou para as profundezas de seu âmago.
— Com uma condição: todos ficarão aqui, como nossos hóspedes, por quinze dias ou mais. Desejo passar um tempo com minha filha, e que ela tenha uma chance de alívio. Assim como um período de observação para seu filho. — Parlan apontou um dedo para o rosto de Munro e rosnou: — Entretanto, se eu vir o menor sinal de tristeza nos olhos da minha filha, qualquer indício de marcas em seu corpo, se eu não vir seu comportamento mudar para o de uma mulher contente e feliz em pouco tempo, eu anularei este casamento, não importa o escândalo ou o prejuízo que tal ação me traga.
Munro apertou a mandíbula, e seus olhos ficaram frios.
— Sim, tenho certeza de que escândalo é algo com que está bem-acostumado a lidar, considerando seu histórico.
O rosto de Parlan ficou vermelho.
— Mesmo desconsiderando de onde venho — ele rangeu os dentes. —, ainda sou aquele que tem conexões com a coroa, e não apenas através do meu nascimento ilegítimo. Ser primo e ter crescido lado a lado daquele que está hoje no trono tem seus privilégios.
Os dois homens se encararam em uma competição silenciosa, mas um largo sorriso por fim apareceu no rosto de Munro.
— Não se preocupe, meu amigo! Não ficará desapontado. Ian será um genro modelo e teremos muitos netos dos quais nos orgulhar!
Os tapas vigorosos de Munro nas costas de Parlan não fizeram nada para apagar a linha determinada da boca de Parlan, mas ele ainda assentiu.
Davina engoliu em seco as novas lágrimas de consternação que ameaçavam delatá-la. Afastando-se da porta, ela caminhou em silêncio pelo corredor, para longe desta reunião de homens, esta dominação masculina que gerava um destino cheio de condenação para a vida dela. Enquanto cambaleava pela cozinha, ia até o pátio vazio e passava atrás dos estábulos, seu coração afundou ainda mais com a ideia da proteção de Munro na qual ela não tinha fé. Ela nunca disse uma palavra ao pai, e Parlan sabia que Ian a estava maltratando pelas poucas visitas que os pais haviam feito, ou nas breves visitas deles à casa do pai. Como Munro pôde ficar ali, fingindo ignorar o que acontecia sob seu próprio teto? Ela afundou em uma pequena pilha de palha atrás de alguns barris para coleta da chuva, puxou os joelhos contra o peito e enterrou o rosto nos braços, deixou as lágrimas rolarem.
Nenhuma vez durante esse horror e farsa de casamento ela confidenciou ao irmão Kehr. Mesmo agora, ela não podia ir até ele, já que ele estava em Edimburgo, a pelo menos três dias de viagem da casa deles em Stewart Glen. Por que ela nunca compartilhou nenhuma de suas angústias em relação a Ian com o irmão? Ela não conseguia raciocinar neste momento. Compartilhava tudo com ele, incluindo as fantasias de ser a esposa do cigano vidente. Não os detalhes íntimos, é claro, mas a ideia de ele voltar e declarar seu amor por ela. Ela sentia-se grata porque o irmão aceitava os devaneios dela, embora a provocasse de vez em quando. Kehr sempre a apoiou, mas a alertou para não ficar muito presa aos sonhos. Afinal, era uma fantasia.
Respirando fundo, ela acalmou o coração que batia forte e apertou as mãos, buscando suas fantasias para aliviar a preocupação. Que impressão ele causara nela, o gigante vidente cigano. Ela havia aproveitado muitas viagens ao acampamento cigano durante a última estada deles aqui, conversou com Amice, tomaram chá perto do fogo. Quase sem olhar para Davina, Broderick ia e vinha, contando o futuro e cuidando de seus negócios. Muito tímida para se dirigir a ele de maneira direta, Davina aproveitava cada oportunidade que o via, a paixão crescendo. E quando ele se dirigia a ela, ela não conseguiu formar mais do que duas palavras sem uma onda de risos. Contudo, memorizou cada traço do rosto de Broderick: a curva de seu nariz aquilino, o ângulo bonito das maçãs do rosto, a linha definida da mandíbula quadrada. Na tenra idade de treze anos, a inocência e a inexperiência temperaram seus devaneios com passeios pelas florestas enluaradas e beijos roubados. Conforme ela crescia, essas fantasias amadureceram e queimavam com abraços cheios de paixão. Amice disse que eles voltariam. Nos oito anos desde que ela o conheceu, cada caravana de ciganos que viajava pela pequena vila de Stewart Glen colocava seu coração em chamas, que logo se apagavam pela decepção por ele não estar entre eles. Quando seu pai firmou o contrato de casamento com Munro, dando a mão dela a Ian, ela se forçou a abandonar os sonhos, e chegou à conclusão realista que precisava deixar os caprichos de lado, como seu irmão encorajou.
A realidade sombria da união com Ian, entretanto, ressuscitou tais fantasias, e ela se agarrava como se pudessem salvar sua vida.
Gatinhos miaram em algum lugar nos estábulos, gritinhos indefesos chamando a atenção dela e fazendo curvar os lábios em simpatia. Ela suspirou. Pelo menos seu coração parou de retumbar acelerado, e as mãos estavam firmes mais uma vez.
Apoiando a cabeça contra a estrutura de madeira dos estábulos, ela olhou para as pedras da parede do perímetro do outro lado… pedras que seu pai colocara com suas próprias mãos. Ela sorriu ao se lembrar da tentativa dele de projetar a abertura secreta localizada no lado norte da parede do perímetro, na parte de trás do terreno, à sua esquerda. Ele reclamou como os mecanismos eram imperfeitos. Kehr e Davina adoravam usar a passagem secreta para se divertir ao longo dos anos, embora com a severa advertência do pai para não revelar o local exato. Mesmo que a casa não tenha sido projetada para ser uma fortaleza formidável contra um exército, os muros os mantinham seguros por levar todo o tráfego para os portões da frente. Parlan sempre se preocupou com a família, como um pai responsável deve fazer.
Ela se assustou com um barulho do outro lado da parede que se encostava e levou a mão ao peito, forçando a respiração a desacelerar. Sem mover um músculo ou ousar respirar, ela esperou por qualquer outro som para revelar o que aconteceu. O sangue sumiu de seu rosto quando os resmungos de Ian chegaram aos ouvidos dela. Protestos profundos e nervosos ecoaram dos cavalos nos estábulos enquanto Ian chutava o que parecia ser baldes ou bancos.
— Megera! É tudo culpa dela! — o tilintar de fivelas e arreios soou em meio à comoção. — Fique quieto, seu animal estúpido!
Davina se agachou ainda mais no chão e espiou pelas fendas nas venezianas da abertura acima dela. Ian se atrapalhava para selar seu cavalo. Ela estremeceu a cada puxão e empurrão que o cavalo suportava do mestre, até que o cavalariço Fife pigarreou ao se aproximar da baia.
— Posso ajudar, Mestre Ian?
Ian recuou ao ouvir a voz de Fife e respirou fundo para se acalmar, afastando-se do cavalo.
— Sim, Fife, eu agradeceria.
O coração de Davina se contraiu ao ver o belo sorriso de Ian e o ar encantador. Ele agira assim com ela, durante o namoro, mas agora mostrava esse lado de sua personalidade a todos, menos a ela. As pessoas não suspeitavam do homem cruel por trás de um exterior atraente.
— Algo o incomoda, Mestre Ian? — Fife esfregou o nariz grande e redondo, semicerrando os olhos marcados pela idade enquanto dava tapinhas no pescoço do cavalo e contornava o outro lado para prender as tiras de couro.
— Oras, só um pequeno desentendimento com meu pai. Nada grave. — Ian sorriu e balançou a cabeça. — Será que em algum momento deixamos de ter desentendimentos com os nossos pais, eu me pergunto?
Fife riu e balançou a cabeça, baixando a guarda.
— É uma batalha sem fim que devemos suportar a vida toda, rapaz. Uma vida inteira. — ambos compartilharam uma risada ante tal sabedoria. Fife passou as rédeas para Ian. — Pegue leve com ela, Mestre Ian. Corra um pouco para aliviar a tensão dela, e volte na hora do jantar.
Ian balançou a cabeça com bom humor e subiu na sela de maneira elegante.
— Sinto que tenho mais de um pai por aqui com a maneira como você e Parlan me amam.
— Só estou cuidando de você, Mestre Ian. — Fife acenou enquanto observava Ian virar o cavalo e se dirigir ao portão da frente. — Bom rapaz. — ele sussurrou enquanto arrumava os estábulos.
Davina mordeu o lábio inferior em frustração. Ela era a única que via a crueldade de Ian? Cerrando os punhos, ela saiu de trás dos estábulos e voltou para o castelo, Fife lançou um olhar perplexo quando ela fechou a porta. Não, ela não era a única. O pai dela tinha olhos atentos, e ela estava certa de que ele conhecia a extensão da brutalidade de Ian.
Ela voltou direto para a sala de estar, mas a encontrou vazia, o fogo ainda queimando na lareira. Girando nos calcanhares, ela quase trombou com a mãe.
— Ora! Davina, você me deu um susto! — Lilias levou a mão ao peito e prendeu a respiração. — Seu pai me mandou buscar você.
— Estava procurando por ele agora mesmo.
Pegando a filha pela mão, Lilias conduziu Davina pelo andar térreo da casa até o primeiro andar, que comportava os cômodos privados. A cada pedra que passavam no caminho para o quarto dos pais lembrava Davina do orgulho que sentia pelos esforços do pai e da confiança em sua sabedoria para ouvir seus apelos.
Quando a mãe abriu a porta do quarto deles, Lilias conduziu Davina, fechou a pesada porta atrás delas e sentou-se no sofá perto da lareira, assumindo um lugar tranquilo, mas de apoio ao lado do marido. Parlan estava de pé junto à lareira, de costas para a porta, da mesma forma que na sala de estar.
— Não tenho certeza do quanto você ouviu fora da sala, Davina, mas lamento que a conversa tenha lhe causado tanto sofrimento. — ele se virou para encará-la, as sobrancelhas franzidas de tristeza. — Não tenha medo, fui o único que testemunhou sua retirada chorosa. As últimas palavras foram um sussurro reconfortante.
Davina puxou o lábio trêmulo entre os dentes para controlá-lo e manter-se firme diante do pai.
— O senhor não me causou nada, pai. Sinto-me grata por saber que está ciente da minha situação. — a voz dela tremeu, mas ela limpou a garganta e manteve as lágrimas sob controle. — Eu estava a caminho da sala de estar, para buscar meu bordado quando meu sogro implorava perdão a você por meu marido.
As sobrancelhas de Parlan se ergueram, parecia surpreso por ela ter ouvido tanto. Ele assentiu.
— Então você sabe da punição de Ian por sua incapacidade de gerenciar suas responsabilidades.
Ela assentiu.
Depois de uma longa pausa, ele disse:
— Sei que dada a condição desse arranjo parece que estou mandando você de volta para a cova dos leões. — Parlan estudou o couro marrom macio de suas botas antes de voltar seu olhar para ela. — Ian não está nada feliz com o esvaziamento de seus bolsos, algo em que eu confio que Munro irá cumprir. É por isso que insisto que fiquem aqui sob meu teto, para que eu possa lhe dar uma parcela de segurança e garantia de que você estará protegida.
Davina soltou a torrente de tristeza.
— Pai, por favor, não me deixe suportar mais um momento desta união! Não podemos fazer como disse e dissolver este casamento?
Parlan apertou a mandíbula e voltou os olhos tristes para a esposa. Lilias agarrou a mão dele, parecendo dar-lhe apoio.
— Davina, os Russell oferecem imensas oportunidades de negócios, tanto para mim quanto para seu irmão, e não posso contar com meu primo Rei para sempre. Devemos fazer esforços para aumentar nosso patrimônio por conta própria. — concentrando-se mais uma vez em Davina, ele deu um passo na direção dela e envolveu as mãos dela com as dele. — Lamento que tenha sofrido mais do que qualquer mulher com a mão pesada de seu marido. Agora que não posso mais negar o tratamento que ele dispensou a você, espero que me perdoe por não a ter defendido antes. Vou tomar medidas para garantir que esteja protegida e, com sua ajuda, creio podermos fazer isso funcionar.
Davina fez um grande esforço para falar, apesar do nó que se formava na garganta.
— Ser a mão gentil que domará a besta. — ela sussurrou, repetindo as palavras do sogro.
Parlan assentiu.
— Está óbvio que Munro fez um péssimo trabalho em ensinar a Ian como ser um homem. A sua estada, e a deles, aqui será indefinida. Ian e Munro ficarão nos quartos de hóspedes acima, e você terá, mais uma vez, seu quarto só para você neste andar. Fiz pressão em Munro quanto a isso, e nós dois estaremos atentos ao comportamento de Ian nas próximas longas semanas. Munro aceitou, com humildade, minha orientação como pai e de Lilias como mãe, para colocar Ian no caminho certo. Apenas quando virmos melhorias, você poderá se aventurar a estar de volta à casa deles. Somente quando eu estiver certo de que você será querida e cuidada como a mulher preciosa que é, você terá permissão para ir com eles.
Embora aliviada com o fim das surras e dos compromissos sexuais cruéis, o mundo de Davina ainda desmoronava acima dela.
— Pai, você não conhece o verdadeiro Ian. Ele é um mestre em vestir uma máscara de charme para esconder o monstro que é. Ele…
— Davina, de jeito nenhum vou deixar que ele a machuque. Concordo que ele leva as responsabilidades longe demais ao exercer seu domínio como marido, mas ele não é um perigo para sua vida. Caso eu considerasse que sim, acabaria com este casamento agora. Nós iremos protegê-la. — Davina odiou perceber que a família acreditava que ela era dramática. Ele a beijou na testa e puxou-a para um abraço apertado. — Não vou deixar que ele a machuque. Deve fazer isso por sua família. Um dia, quando Ian aprender bem o papel e deveres de um marido, você aprenderá a perdoá-lo e amá-lo. Se não, ao menos terá consolo nos filhos que terão um dia.
Ela deixou suas lágrimas rolarem, molhando a túnica do pai e segurando-o com força enquanto se submetia às ordens dele. Ela seria o cordeiro sacrificial para a estabilidade do futuro de sua família.
* * * * *
O aço colidindo com o aço ecoou no ar, ricocheteando nas paredes e no teto alto do Salão Principal, que se misturava aos grunhidos, ofegos e gemidos de Kehr e Ian enquanto duelavam. Kehr defendeu o impulso de Ian, se virou e golpeou o lado aberto de Ian, provocando um grunhido dele. Com um sorriso no rosto, Ian empurrou Kehr para frente, e Kehr retribuiu o sorriso com seu próprio impulso. No entanto, Ian obteve um bloqueio efetivo ao usar o escudo.
— Bom! — Kehr encorajou.
— Obrigado! — Ian disse com outro golpe da espada, que Kehr se esquivou.
Davina sorriu para o irmão, animada com a presença dele. Por fim ele voltava para casa depois de uma longa estada em Edimburgo visitando a corte. Havia chegado tarde na noite anterior, e embora ela antecipasse a chegada dele e a oportunidade de passar um tempo juntos, a notícia da aparição do rei James a fez desanimar.
Toda a Escócia estava alvoroçada com a experiência do rei, e Kehr contara a história com uma grande encenação na sala. Com o fogo alto na lareira que lançava sombras sinistras pelo cômodo, a família se sentou em um círculo, concentrada na encenação dramática de Kehr.