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O Homem À Beira-Mar
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O Homem À Beira-Mar

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"Becca Lees tinha nove anos," continuou Arthur. "Encontrada nas poças do lado sul da praia na maré baixa."

"Afogada," disse Slim, lembrando o que tinha lido da história. "Morte acidental."

"Nem uma marca nela," acrescentou Arthur. "Eu estava no primeiro carro na cena. Eu-" Slim ouviu um som como um soluço suprimido. "- Eu a enrolei."

"Ouvi muito sobre essas correntes de retorno," disse Slim.

"Era outubro," disse Arthur. "Nessa mesma época do ano. Meio da semana, mas tivemos uma tempestade e a praia estava coberta de escombros. A jovem Becca, de acordo com sua mãe, tinha ido catar madeira para um projeto de arte escolar."

Slim suspirou. "Lembro-me de uma vez fazer o mesmo. E ela decidiu dar um mergulho rápido, e foi puxada pela corrente."

"A mãe dela a deixou no caminho para Carnwell. Voltou uma hora depois para buscá-la, e era tarde demais."

"Você acha que ela foi assassinada?"

Arthur bateu no painel com uma ferocidade que assustou Slim.

"Droga, eu sei que ela foi assassinada. Mas o que eu podia fazer? Você não mata alguém na praia a menos que já seja maré baixa. Sabe por quê?

Slim balançou a cabeça.

"Você deixa rastros. Já tentou limpar rastros deixados na areia? Impossível. No entanto, havia alguns. Isso é tudo. Até a beirada da água, então havia um pequeno espaço onde a maré tinha abaixado. A menina tinha sido arrastada pela água e jogada nas rochas, deixada à deriva quando a água recuou."

"Parece afogamento. Ela chegou muito perto, foi puxada, e arrastada pela praia."

"É o que parece. Exceto que Becca Lees não sabia nadar. Ela nem gostava da praia. Ela não tinha maiô com ela. Nós aparecemos, e há um ziguezague pela areia onde ela estava recolhendo coisas. Em seguida, a cerca de meio caminho até a marca da maré baixa, há uma única linha reta até a borda da água, que termina com duas pegadas na areia, voltadas para o mar. O que isso te diz?"

Slim soltou uma respiração profunda. "Que ou uma garota que não gostava de água sentiu uma vontade repentina de andar até a costa... ou ela viu algo que chamou sua atenção."

Arthur assentiu com a cabeça. "Algo que veio da água."

Slim pensou na figura que ele pensou ter visto na costa. Becca Lees teria visto algo parecido? Algo que a compeliu a deixar sua coleta de madeira e andar direto para a beira da água?

Algo que a atraiu para a morte?

"Há outra coisa," disse Arthur. "O legista percebeu, mas não foi o suficiente para impedir uma sentença de morte acidental. Os músculos na parte de trás de seus ombros e pescoço exibiam uma tensão não natural, como se tivessem endurecido imediatamente após sua morte."

"Como isso pôde acontecer?"

"Falei com o legista, e coloquei ao superintendente como meu motivo para estender a investigação, mas não havia outra evidência. O que poderia ter provado é que Becca estava tentando suportar uma grande pressão no momento de sua morte."

Slim assentiu com a cabeça. Ele esfregou os olhos como se quisesse banir uma imagem indesejada de sua mente. "Alguém estava segurando-a debaixo d'água."

Os dois trocaram números antes de Arthur deixar Slim perto da casa dele com a promessa de desenterrar o que pudesse encontrar dos arquivos do caso. Havia mais para contar, ele disse, mas com sua esposa e o jantar esperando teria que deixar para outra hora.

Slim, com o cérebro desgastado depois de um dia exaustivo, chegou a apenas uma conclusão concreta: ele precisava falar com Emma sobre Ted.

10

Ele encontrou Emma em um parque florestal a alguns quilômetros da cidade. Ela escolheu o local por ser um onde eles tinham menos chance de serem vistos, onde eles poderiam conduzir seus negócios sem nenhum risco de alguma coisa chegar a Ted. Enquanto esperava por ela, Slim foi atormentado pela sensação de que eles eram um par de amantes secretos, e a solidão que o acompanhava por toda parte gostava da analogia mais do que ele achava apropriado. Quando Emma se aproximou, caminhando rapidamente, com a cabeça baixa, Slim enfiou as mãos nos bolsos do casaco, com medo de que elas pudessem o trair.

A expressão de Emma era concisa. "Já se passaram quase dois meses," ela disse. "Você já tem respostas para mim?"

Disse ela sem qualquer saudação formal. E o analista em Slim queria ressaltar que tinham sido sete semanas e quatro dias.

"Sra. Douglas, por favor, sente-se. Sim, tenho algumas informações, mas também preciso de algumas."

"Oh, certo, Sr. Hardy, você está na minha folha de pagamento, mas ainda está descobrindo as coisas, é isso?"

Slim ficou tentado a mencionar que ele ainda não havia recebido um centavo. Em vez disso, ele disse: "Minha conclusão é que seu marido não está tendo um caso—" o alívio no rosto de Emma foi um pouco temperado pela palavra final de Slim: "ainda."

"Do que você está falando?"

"Acredito, nesse momento, que seu marido esteja tentando entrar em contato com uma antiga namorada ou amante. Para que fim, não tenho certeza, mas o óbvio vem à mente. Entretanto, eu preciso saber mais do seu marido a fim de estabelecer que tipo de relacionamento Ted tem ou quer com a pessoa que está tentando contatar."

Slim se repreendeu mentalmente por tratar especulação como fato, mas ele precisava fazê-la soltar a língua.

"Aquele desgraçado. Eu sabia que não deveríamos ter voltado aqui. Todo mundo transa com todo mundo nessas cidadezinhas horríveis."

Slim quis apontar que se Carnell estivesse no meio de uma orgia em massa ele tinha infelizmente sido negligenciado, mas invés disso tentou forçar um olhar de simpatia em seus olhos.

"Três anos atrás, você me disse, não foi? Que você voltou aqui?"

"Dois," Emma disse, corrigindo o erro deliberado de Slim. Ela respirou fundo, e forneceu todas as informações que Slim esperava que levariam a algo que ele precisava. Era sempre melhor quando o cliente contava tudo antes dele pedir. Fazia a língua, frequentemente uma fera tão arredia, se tornar uma companheira voluntária.

"Lhe ofereceram um trabalho, ele disse. Eu estava feliz em Leeds. Eu tinha meu trabalho de meio expediente, amigos, meus clubes. Não sei porque ele quis voltar. Quero dizer, seus pais já se foram e sua irmã mora em Londres-não que ele ligue para ela -então não é como se ele tivesse algum laço aqui. Quer dizer, nós fomos casados vinte e sete anos, e ele só me trouxe a este lugar algumas vezes, a caminho de outro lugar mais interessante. Tá, teve aquela vez que paramos para comer chips, mas eles realmente não eram bons; secos demais..."

"E seu marido, trabalha em um banco?"

"Já lhe contei isso antes. Investimento. Ele passa o tempo todo afundado no dinheiro dos outros. Quer dizer, é uma existência enfadonha, não é? Mas nem sempre dá pra ganhar a vida fazendo o que queremos não é, Sr. Hardy?"

"Verdade."

"Quer dizer, se desse, eu seria paga para beber vinho do Porto no almoço."

Slim sorriu. Talvez tivesse encontrado uma alma gêmea afinal de contas. Emma Douglas era pelo menos dez anos mais velha do que ele, mas ela tinha se cuidado de tal forma que mulheres com cartão de membro de academia e tempo livre em excesso não conseguiam. No interesse de fechar o caso, ele percebeu que, com uma bebida ou duas, ele faria o que fosse necessário para manter as línguas soltas.

E pro inferno com a moral.

"E o histórico do seu marido… ele sempre trabalhou com finanças?"

Emma deu uma bufada. "Oh, Deus, não. Ele tentou de tudo, eu acho, depois de se formar. Mas não se ganha muito com besteiras como poesia, não é?"

Slim levantou uma sobrancelha "Seu marido era poeta?"

Emma fez um gesto desdenhoso. "Oh, ele gostava dessas coisas. Ele estudou os clássicos. Sabe, Shakespeare?"

Slim permitiu-se não se ofender. "Conheço alguns títulos," ele disse, escondendo um sorriso.

"Sim, Ted amava esse tipo de coisa. Era um verdadeiro hippie no final da década de setenta. Tentou poesia, teatro, esse tipo de coisa. Ele se formou em 82, e trabalhou por um tempo como professor de inglês substituto. Não é algo que paga as contas, é? É legal quando você é jovem se dedicar a isso tudo, mas não é algo para fazer a longo-prazo. Um amigo arrumou-lhe um trabalho no banco logo depois que nos casamos, e eu acho que ele achou a renda bem viciante, como se esperaria."

Slim assentiu lentamente. Ele estava traçando um perfil de Emma tanto quanto de Ted. O romântico reprimido, preso em uma vida baseada no dinheiro, com uma esposa troféu materialista colada em seu braço, sonhando com os velhos tempos, de poesia, liberdade, e talvez praias e antigas amantes.

"Ted fala muito sobre os velhos tempos? Digo, antes de vocês se casarem?

Emma deu de ombros. "Ele falava, às vezes. Quer dizer, eu nunca quis ouvir sobre velhas amantes ou algo assim, mas ele falava sobre sua infância de vez em quando. Menos conforme os anos passaram. Quer dizer, nenhum casamento fica como era, não é? As pessoas não conversam como antes. Não foi assim com você?"

"Comigo?"

"Você me disse que foi casado, não disse?"

Às vezes, pintar-se como vítima fazia as pessoas se abrirem, e ele precisava que Emma sentisse algum companheirismo antes de perguntar as próximas perguntas, mais difíceis.

"Nove anos," ele disse. "Nos encontramos quando eu estava de licença depois da primeira guerra do Golfo. Eu estive nas barracas a maior parte do tempo durante nosso casamento. Charlotte se juntou a mim nas primeiras bases, quando eu estava na Alemanha. Mas ela não curtiu o Egito, ou mais tarde, o Iêmen. Ela preferiu ficar na Inglaterra e "cuidar da casa", como ela disse."

Emma colocou a mão no joelho dele. "Mas o que ela estava realmente fazendo era assumir o controle de suas finanças e levar outros homens para sua cama?"

Se a escolha das palavras fosse dele, Slim, que assistia muito menos novelas do que era claro que Emma fazia, teria dito de forma diferente, mas ela não estava totalmente errada.

"Foi mais ou menos por aí," disse ele. "Ela estava feliz até que um ferimento caçando piratas no Golfo Persa me fez ser transferido à inteligência militar no Reino Unido. Então eu poderia ir para casa nos fins de semana. Passou um mês até que ela fugiu."

"Com o açougueiro?"

Slim sorriu. "Eu lhe contei sobre isso? Sim, com o açougueiro. Sr. Staples. Eu nunca soube seu primeiro nome. Eu só descobri mais tarde. Ela flertava com um colega que avisou que se mudaria para Sheffield. Eu juntei as peças e me ferrei."

"Coitado." Emma deu um tapinha no joelho dele, e depois deu um leve aperto. Slim tentou ignorá-la.

"As coisas são como são. Não sinto falta do exército nem um pouco. A vida é muito mais interessante como investigador particular, sobrevivendo de pagamento em pagamento.

"Bem, fico feliz," disse Emma, sem perceber a dose pesada de sarcasmo de Slim.

"As coisas pioraram," continuou Slim, indo para o golpe final que os selaria na posição de amigos de piedade para sempre. "Ela mexeu alguns pauzinhos, legalmente falando, quando eu estava servindo. Ela pediu o divórcio e eu descobri que a casa que eu estava pagando agora estava apenas no nome dela. Ela alegou que era uma propriedade pré-existente que ela já tinha antes do nosso casamento. Ela arrumou alguém para ajustar algumas datas em documentos legais e eu perdi tudo. E ela estava grávida, o que lhe dava vantagem. Isso depois de abortar nosso primeiro filho enquanto eu estava na ativa, porque ela não queria que o bebê crescesse sem pai.

"O segundo filho era seu?"

Slim riu. "Claro que não. Não estivemos próximos em anos. Eu presumo que fosse do açougueiro, como o resto da minha vida."

"Oh, isso é horrível." Emma estava acariciando a coxa de Slim, mas ele, com as mãos ainda enfiadas nos bolsos, ignorou. Em vez disso, ele encolheu os ombros. "Uma dessas coisas," disse ele.

"Deve ter sido de partir o coração."

Slim fechou os olhos por um momento, lembrando de um par de botas na areia. "Já vi piores," disse ele.

Emma ficou em silêncio por um momento, franzindo a testa enquanto olhava para a estrada, a mão ainda subindo e descendo pela coxa de Slim como se tentasse aquecê-lo contra o frio.

"Posso te fazer uma pergunta pessoal?" Slim disse.

"Quão pessoal?"

"Este seria o primeiro caso de Ted?"

Emma retirou a mão e pareceu surpresa. "Hum, bem, eu acredito que sim. Quer dizer, eu não tenho certeza, mas ele sempre foi um bom marido."

"E você?"

"O quê?"

"Eu sinto muito por lhe perguntar isso, Sra. Douglas, mas já teve algum caso?"

Emma se afastou dele. O espaço vazio entre eles no banco olhava para Slim como uma criança de olhos arregalados.

"O que isso tem a ver?" Emma levantou-se e recuou. "Olha, Sr. Hardy, acho que está na hora de rescindir nosso contrato. Você não me deu nada de útil e agora está me fazendo perguntas assim. Eu não sou uma esposa solitária que você pode simplesmente -"

"Ted alguma vez mostrou algum interesse no oculto?" Slim interrompeu.

Emma olhou para ele, de boca aberta, em seguida, balançou a cabeça. "Eu nunca deveria ter contratado você," ela surtou. "Eu vou descobrir o que está acontecendo sozinha."

Sem mais uma palavra, ela foi embora, deixando Slim sentado sozinho no banco, com os dedos acariciando o lugar quente que sua mão havia deixado em sua coxa.

11

Sem ideias melhores, Slim foi para a biblioteca e pegou uma antologia de Shakespeare. Então, uma hora depois, ele estava de volta à mesa sob o olhar condescendente do aspirante a escritor para devolver o livro — que tinha sido tão útil quanto ler em francês — e em seu lugar alugar as cópias de DVD da biblioteca.

Na quinta-feira à noite, depois de dois dias na frente da televisão, ele tinha assistido todos os filmes de que ouvira falar e mais alguns. Mesmo vendo o drama acontecer, muita coisa não fazia sentido, mas se Ted Douglas tivesse passado seus anos de formação absorto com Hamlet e Macbeth, era fácil ver de onde um interesse pelo oculto poderia ter vindo.

Bêbado com vinho tinto barato, Slim cochilou nas cenas finais de Romeu e Julieta, e acordou quando seu telefone tocou, se deparando com os dois amantes mortos e os créditos rolando.

Ele não foi rápido o suficiente para atender a chamada, e a pessoa não deixou nenhuma mensagem. Ao verificar o número, ele percebeu que não era conhecido, e quando ligou de volta não teve resposta. Provavelmente era de Skype ou algum provedor digital parecido.

Ele sentou-se na cadeira, pensando em como proceder. Arthur era sua melhor pista; o chefe falastrão da polícia teria mais a dizer e o know-how para fornecer detalhes internos a Slim.

Mas aonde isso ia dar? Contratado para investigar a possível infidelidade de um rico banqueiro de investimentos, ele encontrava-se remexendo detalhes de um caso antigo, além de vários outros em torno deste.

Ele não estava sendo pago para isso. Era melhor esquecer. Ele tinha aluguel para pagar. Ele não podia arcar com uma tangente tão cara.

No entanto, a mesma compulsão que o fizera se alistar a tantos anos atrás, agora o impulsionava novamente. A necessidade de aventura, de exotismo; era inegável.

12

Sexta-feira de manhã, ele acordou com uma ressaca pior do que qualquer uma que ele se lembrava nas últimas semanas, olhou para o par de garrafas de vinho vazias na lixeira e, em seguida, tentou persuadir-se de volta à sobriedade com um café da manhã em uma birosca na esquina de sua rua.

Ted estaria na praia de novo esta tarde, mas haveria motivo para ir vê-lo? Era o mesmo ritual toda vez. De qualquer jeito, Emma o havia dispensado. Ele estava de tocaia por nada.

Ele estava voltando para casa quando seu celular tocou. Era Kay Skelton, seu amigo tradutor.

"Slim? Tentei te ligar ontem à noite. Podemos nos encontrar?"

"Agora?"