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Cativeiro
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Cativeiro

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Um outro grito da mulher o fez se virar para encará-la. Olhos verdes horrorizados o perfuraram mais profundamente do que as inúmeras agulhas que enfiavam nele. Ele podia sentir o cheiro do medo dela, sem mencionar o do sexo dela. Suas narinas sensíveis não cheiravam uma fêmea havia muito tempo. Foi avassalador e seu corpo instintivamente reagiu.

Uma necessidade primordial percorreu suas veias e um rosnado baixo escapou de sua garganta enquanto seu lobo rondava a superfície, exigindo ser liberado.

— Saia! — gritou ele, puxando as correntes. — Não vou me transformar para você ou qualquer outra pessoa. Chegue perto de mim e você ficará no chão ao lado desses dois! — vociferou ele, chutando o segurança morto na direção dela.

Ela deu um passo na direção dele, os braços estendidos em sinal de rendição.

— Não sei o que você está falando. Não conhecia essa área do prédio. Deixe-me ajudá-lo — implorou ela.

À medida que ela se aproximava, um perfume doce provocou e tentou o corpo dele. Seu pênis enrijeceu, precisando de alívio, mais do que ele precisava de ar para respirar. Ele nem ficava atraído por humanas, mas agora ele estava pronto para despi-la, curvá-la e fazer sexo com ela.

Tremendo incontrolavelmente, ele se virou. Não para bater nela, mas para assustá-la. Se ela desse mais três passos em sua direção, ele teria a fêmea em suas garras, e não havia como dizer o que faria com ela.

— Dane-se, mulher. Quer ajudar? Abra isto — exigiu ele, puxando os punhos de metal novamente.

Ela hesitou e Lawson se sentiu inseguro, mas ela parecia estar contemplando as palavras dele quando, de repente, virou-se e fugiu da sala. Parte dele queria chamá-la de volta e explicar que não era um assassino a sangue frio. Lawson não gostava do horror que representou, mas não viu outra opção. Não podia ficar na presença dela sob tal excitação.

Lawson puxou as correntes de novo, tentando se libertar. Não que não tivesse passado todos os momentos em que estivera acordado tentando escapar, mas a porta estava entreaberta, e essa poderia ser a única chance que teria. Precisava sair daquele lugar infernal. Se tivesse que suportar mais uma surra ou, sem querer, derramar mais uma gota de sangue, poderia ceder.

Há muito tempo ele havia parado de contar os dias em que estivera em cativeiro. Pela sua estimativa, estava preso por pelo menos dois anos, talvez mais. Não tivera uma refeição decente, um banho quente ou uma cama aquecida o tempo todo. Era alimentado uma vez por dia, lavado com água gelada uma vez por semana e dormia no colchão sujo sem um lençol para se aquecer.

Determinado a não passar mais uma noite naquele buraco, Lawson apoiou o pé na parede de concreto para ter mais força. Respirando fundo, puxou as correntes pesadas. Nada. Tentou de novo. Nem mesmo um leve movimento no fixador preso à parede. Ele colocou os dois pés na parede e puxou até que os músculos do braço pareciam rasgar de tensão.

De repente, ocorreu-lhe que o guarda provavelmente tinha seu cartão de acesso. Havia um pequeno teclado na base das algemas que os travava eletronicamente. Tudo naquele maldito lugar estava ligado através do sistema de segurança.

Desejando não ter chutado o guarda para longe de seu alcance, ele caminhou até onde as correntes permitiam. Esticou-se e alcançou os pés do homem. Finalmente, seus dedos tocaram as botas de couro e ele agarrou a sola. Puxando o melhor que pôde, ele finalmente trouxe o homem perto o suficiente para poder agarrar os tornozelos.

Arrastando-o para perto, Lawson rapidamente procurou dentro do uniforme do homem. Poderia finalmente escapar se encontrasse a droga do cartão. A alegria encheu seu coração. Precisava desesperadamente ir para casa. Sua mãe, pai, irmão e irmãs deveriam estar muito preocupados. Pensavam que ele estava morto? Estavam seguros? Ele sabia que outros estavam sendo mantidos em cativeiro porque ouviu batidas nas proximidades, mas não fazia ideia de quantos estavam lá ou se os conhecia.

Uma maldição saiu de seus lábios quando não encontrou nada nos bolsos da frente ou de trás do guarda. Era difícil para Lawson, com suas mãos grandes, mexer na jaqueta e procurar. Droga, ele estava tremendo por causa da pressa. Lado esquerdo, vazio. Quando se moveu para o bolso direito, uma voz grave perturbou sua concentração.

— E que diabos você pensa que está fazendo?

Lawson olhou para cima e viu Jim Jensen. O bastardo covarde, ridículo e grosseiro encarregado de toda aquela operação. Lawson havia fantasiado estrangulá-lo com as próprias mãos. Mais cinco homens entraram na cela e a felicidade de Lawson rapidamente esvaziou junto com sua esperança de sair da prisão.

— Agarre-o, Kevin. Parece que nosso amigo aqui cometeu um crime — zombou Jim, esfregando a covinha do queixo em desaprovação, enquanto examinava os corpos no chão. Lawson daria um olho para socá-lo naquele queixo em forma de bunda apenas uma vez.

Kevin deu um passo em sua direção e Lawson avançou, mostrando as presas. Enquanto o grupo de homens o cercava lentamente, Lawson agachou-se em posição de luta. As probabilidades estavam contra ele, e Lawson decidiu que, se tivesse que cair, cairia lutando.

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* * *

Jogando uma nota de dez dólares na direção do caixa, Liv entrou correndo na casa noturna, ainda se recuperando do que havia acontecido. Estava morrendo de medo e pegou seu telefone uma dúzia de vezes, dividida entre ligar para o chefe ou alertar a polícia sobre o que havia testemunhado. Por fim, decidiu conversar com Cassie antes de fazer qualquer coisa, porque, francamente, ficou perturbada com a ideia de que sua importante empresa pudesse estar envolvida em algo tão hediondo.

Examinando o salão, ela localizou Cassie e correu na direção da mesa onde ela estava sentada. Despencando na cadeira em frente à amiga, Liv pegou a bebida diante de Cassie e a bebeu de um gole só. A tequila parecia um maçarico, queimando-a garganta abaixo

— Ei, que diabos aconteceu? Esperei quinze minutos para ter essa bebida — gritou Cassie, acima do barulho alto da música. — E você está atrasada. Tive que dar umas malditas desculpas para três desventurados dando em cima de mim. Onde você esteve?

— Garota, você não faz ideia. Onde está essa maldita garçonete, afinal? Preciso de uma garrafa inteira, depois do que acabei de passar — explicou Liv, examinando o clube e procurando a familiar regata esportiva com os dizeres “SUGUE-ME” no peito, nas moças de seios excessivamente aumentados que costumavam trabalhar no Popsicles, o local “quente” de Chattanooga.

— Bem, desembuche. É melhor que seja bom, porque boa era essa droga que você acabou de beber. Esta não é uma noite romântica, e tenho certeza de que você não vai me colocar para dormir mais tarde — exclamou Cassie, mascando um chiclete.

— Pare de reclamar e ouça-me. Sério, você não vai acreditar no que aconteceu no trabalho — interveio Liv, agitando os braços com excitação. — Acabei de ver dois homens sendo estrangulados bem na minha frente. Mortos. Você me ouviu? Mortos! — Mesmo enquanto gritava as palavras, mal podia acreditar nelas.

Os olhos castanhos esbugalharam-se como se Liv tivesse admitido ser viciada em heroína, fumando crack em uma igreja.

— Hummm, diga de novo? Devo ter ouvido errado, Liv. Você disse… mortos?

— Sim! Mortos. Dois homens. Mortos! Como, tipo, o oposto de vivo — gritou Liv, vendo uma funcionária caminhando na direção delas. Quando Liv percebeu que os peitos aos saltos estavam diretamente alinhados com a mesa dos turbulentos universitários, ela se moveu para a linha de visão da moça.

— Gostaria de uma garrafa de tequila. Não um copo, mas toda a maldita garrafa. E, não posso comprar coisas realmente boas, lembre-se disso, se você espera que seja eu a pagar. Ah, e dois copos e alguns limões, por favor. — Liv fez um biquinho e estampou o que sabia ser um sorriso desequilibrado, tentando parecer calma, mesmo que estivesse prestes a explodir de ansiedade.

— Claro, querida. Deixa comigo. Volto em um instante — respondeu a loira fatal, digitando em seu tablet.

Liv exalou, tentando recuperar a calma e depois se apertou na mesa ao lado de Cassie. Todo mundo no clube provavelmente pensaria que eram lésbicas, mas ela não se importava. Precisava conversar em particular com a amiga.

— Ok, acalme-se e comece do começo — pediu Cassie, colocando uma reconfortante mão sobre a de Liv e sorrindo, solidária. Liv não poderia ter pedido por uma vizinha e amiga melhor que Cassie. Haviam passado por muitas coisas juntas, desde celebrações a corações partidos, e se havia alguém com quem Liv podia contar, era Cassie. Era o tipo de amiga que, se Liv dissesse que precisava se livrar de um corpo, ela pegaria uma pá sem hesitar.

Liv recordou a primeira vez em que se encontraram. Estava morando em sua casa havia mais ou menos uma semana, e ouviu batidas na porta da frente. Quando atendeu, Cassie estava lá, de camiseta masculina, e nada mais, querendo mel emprestado. Depois, Liv descobriu que o mel seria usado para ser espalhado por todo o corpo de Cassie e do namorado dela. Ela disse a Cassie para ficar com o mel, mas rapidamente se tornaram amigas e parceiras de crime.

Despertando de suas recordações, ela organizou os pensamentos antes de explicar os eventos no trabalho. Depois que começou a falar, não conseguiu mais parar. Contou-lhe sobre o corredor secreto, os shifters sendo mantidos prisioneiros e sobre como o guarda e outro cientista haviam morrido nas mãos do homem que então ameaçou matá-la. O estranho era que ela não havia acreditado nele. Os olhos cinzentos dele guardavam calor e bondade, embora ele mostrasse presas afiadas.

— Caramba! O que vai fazer? Seu chefe respondeu sua mensagem? — perguntou Cassie, enquanto a garçonete, Penny, se aproximava da mesa e pousava uma garrafa de tequila Camarena, dois copos e uma tigela pequena de fatias de limão sobre a mesa.

Era uma tequila decente. Provavelmente, para se cobrar o dobro do que ela pagaria na loja de bebidas, um pouco acima dos recursos de Liv, mas pelo menos ela não ficaria enjoada ou teria uma ressaca terrível no dia seguinte.

— Posso ajudar em mais alguma coisa? — perguntou Penny, desatenta, piscando para um dos caras na mesa perto da delas.

— Não. Estamos bem, obrigada — respondeu Liv, e Penny rapidamente correu para o cara musculoso com um sorriso lindo. Voltando a atenção para Cassie, Liv respondeu: — Não faço ideia. O que você acha? Envolver a polícia? Ligar para o meu chefe e me despedir? Realmente preciso desse emprego. Talvez os homens não estivessem mortos, mas apenas desmaiaram — sugeriu Liv.

A verdade era que ela não sabia ao certo. Aconteceu tão rápido. Talvez estivesse errada sobre eles estarem mortos.

— Eu não ligaria para a polícia, especialmente se você estiver errada. Isso a faria ser demitida, com certeza. Eis o que sugiro. Vá trabalhar segunda-feira e aja como se tudo estivesse normal. Você saberá em breve o que aconteceu. Com sorte, você está enganada sobre o LPP. Jim me pareceu bem agradável quando o conheci no piquenique do ano passado. Talvez você tenha deixado sua imaginação prevalecer — explicou Cassie, enquanto servia uma dose para cada uma e entregava o copo com logotipo em relevo para Liv.

Liv bebeu tudo e pegou um limão, enquanto seu rosto se contraía com o gosto forte. Ela mordeu e sugou. Melhor combinação de sempre. A acidez do limão acalmou seu paladar, e de um zunido reconfortante veio logo a seguir.

— Você está certa. Fingir até conseguir, certo? — brincou Liv, servindo outra dose a cada uma delas.

— Vou beber em homenagem a isso! falou Cassie, com voz estridente, brindando os pequenos drinques.

Liv sentiu uma vibração no bolso e percebeu que ainda estava vestindo seu jaleco. Ok, aquilo era embaraçoso como os diabos. Não era de se admirar que nenhum homem tivesse se aproximado de sua mesa. Eram elas as lésbicas tolas se pegando na mesa do canto, pensou ela enquanto pegava o celular.

— Oh, droga, isso não pode ser bom — deixou escapar Liv, enquanto olhava para a mensagem na tela.

— O quê? Quem é? — perguntou Cassie, curiosa.

— É o Jim. Ele diz que a primeira coisa que precisa fazer amanhã de manhã é me ver — suspirou Liv, olhando para o telefone.

Ela tinha a sensação de que aquela porcaria estava prestes a atingir o ventilador e que ela se encontrava em pé, na frente dele, coberta de estrume.

Capítulo Três

— Entre — vociferou Jim, por detrás da porta fechada do escritório.

Liv se encolheu com a voz rude e tentou decifrar o humor dele. Não queria ser questionada sobre o que viu com os shifters. Havia ficado obsessiva com o encontro da tarde anterior e a tequila não ajudou em nada além de lhe dar dor de cabeça. E ela que pensava que era de uma marca decente. Então, mais uma vez, elas beberam a garrafa inteira.

Desistindo de seu exame, Liv abriu a porta e foi recebida por uma expressão solene. Aparentemente, ele estava irritado. Não era o dia certo para chegar ao trabalho sem ter dormido e de ressaca.

Entre o incidente no laboratório, a bebida e a mensagem de texto de seu chefe, ela não havia fechado os olhos. Tomou três xícaras de café antes de sair de seu apartamento, esperando que isso a ajudasse a se concentrar. Infelizmente, ao ouvir a agitação de Jim, havia uma alta probabilidade de vomitar o café.

A grande questão era se Jim estava ciente do possível duplo homicídio e, mais importante, se ele sabia que ela os havia testemunhado. Ela fechava e abria os punhos ao lado do corpo, enquanto seu coração dava a impressão de ser um boneco de molas em uma caixinha de surpresas, pronto para saltar do peito a qualquer momento. O suor escorria por sua espinha enquanto ela caminhava em direção à mesa dele.

— Bom dia, Jim. Espero não tê-lo deixado esperando — gaguejou, odiando o tremor em sua voz.

Se o cara não soubesse os detalhes da noite anterior, em breve saberia. A culpa devia estar estampada em todo o seu rosto. Ela sabia que sua expressão gritava: estou escondendo algo, em grandes letras de néon. Ser evasiva e usar de subterfúgios não eram seus pontos fortes.

Mesmo quando criança, Liv não conseguia escapar através da mentira. Uma declaração acusatória e ela cederia, contando tudo e confessando seus pecados. É claro que, quando criança, seus pecados consistiam em não escovar os dentes antes de dormir, roubar um biscoito ou não terminar o dever de casa.

Agora, ela havia avançado para crimes muito maiores, envolvendo brutalidade e assassinato. Não havia participado, mas ficou inerte enquanto um shifter estava sendo brutalizado e depois viu o homem retaliar, tirando vidas.

Oh, inferno. Liv não considerou o que isso poderia significar para ela. Poderia ir para a cadeia? Ela se amaldiçoou por não ter chamado a polícia. O que a polícia faria com ela por permanecer calada? Isso fazia dela uma cúmplice? Oh, Deus, ela seria presa.

Sua mente girava com as possibilidades. Havia se prendido à ideia, na noite anterior, de que Jim iria lhe poupar, e agora ele a demitiria e, depois, a entregaria à polícia.

Sua respiração ficou irregular e a cabeça girou. Droga, ela precisava se sentar antes de desmaiar. A bebida cafeinada chacoalhava e agitava seu estômago. Ugh. Graças a Deus, ela não havia conseguido comer nada de substancial naquela manhã ou estaria jogando-a na cesta de lixo de Jim antes que ele pronunciasse a primeira palavra.

— Bom dia. Estou aqui há um tempo, mas não por sua causa. Obrigado por vir em um domingo. Por favor, sente-se — ofereceu, com um gesto rápido para a cadeira em frente à sua mesa.

Liv caminhou até a poltrona de couro preto e sentou-se.

— Cuidei do problema do ar condicionado que você me relatou em uma mensagem ontem. Espero que não tenha sido muito difícil trabalhar. Conseguiu fazer alguma coisa? — continuou Jim, erguendo uma sobrancelha curiosa.

O homem forte estava sentado atrás de sua grande mesa, com os braços cruzados sobre o peito. Ele era grande e corpulento, para não dizer intimidador.

Era sério que ele a chamara para perguntar sobre trabalhar no calor? Ele sabia que não devia questioná-la. Ela havia sido a funcionária do mês mais vezes do que se lembrava. Fugir dos deveres não fazia parte da composição genética de Liv.

Ele estava testando-a para ver o que ela sabia? Os olhos azuis escuros dele não davam pistas sobre seus pensamentos interiores. O homem conseguia fazer uma tremenda cara de paisagem, e ela pensou em lhe sugerir que ele jogasse cartas em vez de golfe.

— Hum, na verdade o calor estava insuportável e terminei mais cedo. Sem dúvida, ele está funcionando agora — expressou ela, esfregando os braços, com frio.

Estava gelado no escritório de Jim e um calafrio percorreu a espinha dela. Era verdade que seus tremores tinham mais a ver com o medo que sentia de que ele a despedisse e a entregasse à polícia.

— Olivia, gosto de você, realmente, e é por isso que você precisa parar enquanto está vencendo — aconselhou ele, estreitando os olhos enquanto se inclinava para a frente e apoiava os cotovelos na mesa.

— Não sei se estou entendendo bem o seu raciocínio, senhor — respondeu ela com cautela, descruzando as pernas e remexendo-se na cadeira.

Torcendo as mãos no colo, Liv sentiu um rubor nas faces. Nossa, ela era patética. O desejo de confessar agitava seu estômago. Se não vomitasse a verdade, tinha certeza de que desmaiaria.

— Vamos ser francos, não é? — perguntou ele. — Cheguei ontem à noite para acabar encontrando dois homens mortos em um dos laboratórios. Você pode imaginar meu choque e preocupação. Não é o tipo de coisa que precisamos vazar para a mídia. Esta é uma empresa respeitável e eu gostaria que continuasse assim. Agora, por que estou compartilhando isso com você? Bem, digamos que revi as fitas de segurança da noite passada. Quer conversar sobre o que viu? — perguntou Jim.

O tom dele perdeu a aspereza e seus olhos se arregalaram de preocupação. Liv se perguntou se a preocupação que ela via no rosto dele era sincera. Ele não parecia aborrecido ou preocupado por dois homens estarem mortos. Ela não viu remorso, o que era alarmante.

— Sr. Jensen, juro que não estava bisbilhotando. Estava a caminho da sala de descanso quando notei uma porta aberta. Esperava que outra pessoa estivesse trabalhando e pudesse me ajudar com o problema do ar — despejou ela, quando finalmente as comportas se abriram e as palavras saíram de sua boca.

— Está bem. Não estou acusando-a. Você deve ter perguntas sobre o homem acorrentado. Por favor, sinta-se à vontade para dizer o que estiver pensando — persuadiu ele, com um sorriso de escárnio, antes de rapidamente mascarar sua expressão.

Os cabelos na nuca de Liv se arrepiaram. Ela precisava proceder com cautela até descobrir a verdadeira intenção dele. O seu instinto lhe dizia que sua vida estava em risco. O perigo vinha dele, não da polícia. Ele sabia dos abusos ocorridos em seu laboratório e os tolerava. O que isso dizia sobre o chefe dela? Nada de bom.

— Bem, não vou mentir. Ver aquele homem acorrentado e espancado foi chocante, horrível — murmurou ela, sabendo que ele vira sua reação inicial na fita. — Por que estamos mantendo-o contra sua vontade? O que ele fez para merecer esse tratamento? — perguntou ela, esperando não ter cruzado nenhuma linha com seu desafio.

— Você está ciente de que ele é um shifter? — perguntou ele, incrédulo, como se isso explicasse tudo.

— Sim, mas isso não me responde por que estamos mantendo-o prisioneiro — admitiu ela, enquanto se levantava da cadeira.

Seu sangue acelerou nas veias e sua raiva esquentou, sabendo que aquele homem poderia considerar as ações do guarda como justificadas. O shifter estava agindo puramente em legítima defesa. Sim, ele parecia mais um animal raivoso, mas quem não seria assassino sob aquelas condições? De repente, seu senso de autopreservação voou pela janela.

— Olivia — interveio ele, levantando-se da cadeira, contornando a mesa e agarrando as mãos dela. Elas estavam frias e úmidas e, sem pensar, ela as puxou das mãos dele.

Estreitando os olhos, ele continuou:

— Sei que você está ciente sobre a nossa pesquisa contínua sobre câncer, para encontrar uma cura para a doença mortal. Esse é um dos pilares desta empresa. Dito isto, devemos realizar experiências e pesquisas difíceis para obter as respostas que buscamos.

Conhecer os pilares deles? Claro que sim. Era um dos queridinhos dela. Ela tinha milhares de horas investidas no arquivo número 4467557. Sem mencionar que ela havia perdido a avó por causa de um câncer de ovário quando tinha apenas dez anos de idade. Observá-la definhar e morrer, uma sombra da mulher que havia conhecido deixara uma marca indelével.

Liv esfregou o anel com pedra de ametista na mão esquerda enquanto pensava na avó. Era a única joia que sua avó usava, e ela a entregara à mãe de Liv para que a guardasse até Liv completar dezoito anos. Foi o amor e a devoção de Liv por sua avó que a deixaram tão determinada a encontrar uma cura para a doença.

— Claro que estou ciente. O que isso tem a ver com o shifter? — perguntou ela, sem saber o que Jim estava querendo com aquilo.

— Temos motivos para acreditar que o sangue de um shifter é a chave. Todo mundo sabe que eles têm uma capacidade superior de cura. Estamos no caminho certo… sei disso. Olivia, podemos estar à beira de uma descoberta. Imagine o reconhecimento que minha empresa, nossa empresa, receberia se fôssemos os primeiros a encontrar a cura — vangloriou-se ele, entusiasmado, sorrindo de orelha a orelha.

Mais uma vez, o cabelo da nuca de Olivia se arrepiou. Algo não estava encaixando. Ela desejava a cura tanto quanto qualquer pessoa, mas não às custas dos outros. Lembrou-se do shifter gritando com ela, recusando-se a lhe dar sangue ou a qualquer outra pessoa.

Como o LPP encontrou aquelas cobaias? Era contra a lei fazer experimentos em humanos, até mesmo em shifters. Ela não conseguia imaginar aqueles homens respondendo a um anúncio para ganhar dinheiro extra doando seu sangue. Além disso, nenhum dos homens que ela viu estava ali voluntariamente. A única maneira de obter respostas era voltar para a sala onde estava o shifter e conversar com ele. E Jim era seu bilhete de entrada.

— Que notícia maravilhosa, Jim. Nada me agradaria mais do que encontrar uma cura. Muitas vidas foram perdidas. O que exatamente você está me dizendo? Como conseguiu permissão para que esses shifters participassem e por que a situação é tão instável? Ele está se recusando a cooperar? É por isso que está acorrentado? — perguntou ela, tentando uma aliança com Jim.

— Sim e não — afirmou ele, exalando e ignorando completamente a pergunta sobre a legalidade do estudo. — O homem que você viu afirma que seu sangue não pode ajudar. Ele se recusa a mudar de forma por nós, o que acho que precisa acontecer. Minha teoria é que o sangue em sua forma animal difere daquele de seu estado como humano, e esse é o sangue que procuro. Além disso, você viu como ele se torna violento. Está acorrentado para que mais funcionários meus não sejam mortos. Recuso-me a arriscar suas vidas — explicou Jim, enquanto começava a andar pelo escritório espaçoso.

— Posso entender por que você está dizendo isso. Não estava preparada para a raiva e violência que ele mostrou. Sabia que não deveria ter saído correndo da sala, mas estava apavorada. Ele ameaçou me matar também — disse Liv ao seu chefe, e outro tremor percorreu sua espinha ao se lembrar dos olhos cinzentos do shifter, cheios de fúria.

Novamente, ela questionou a ameaça dele. Ela estava perto o suficiente para que ele pudesse agarrá-la se quisesse, mas ele não o fez.

— Sim, ouvi tudo quando vi a fita. Então, você pode entender por que aquela seção do edifício está bloqueada. Temos mais de cinquenta funcionários e não posso me arriscar a repetir os acontecimentos da noite passada. Não quero você perto daquele corredor de novo. Estamos entendidos? — perguntou Jim, mas não era um pedido. Era uma ordem.

Parte de Liv queria evitar aquele corredor terrível. Não estava mentindo quando disse que era assustador. Nada em sua vida foi tão horrível quanto testemunhar dois assassinatos. Saber que aconteceu através das mãos desarmadas do shifter a assustava terrivelmente. Ele poderia quebrar seu pescoço apenas com uma de suas mãos.

Ela colocou a palma da mão sobre o estômago revolto enquanto sua mente continuava com a rotina de Sherlock Holmes. Precisava se aprofundar no assunto. Sem dúvida, Jim queria que aquilo fosse mantido em segredo. Duas vidas foram perdidas. Como ele poderia esconder isso? E quanto às famílias? Ela não lembrava se David tinha família, mas certamente alguém sentiria sua falta. E, por que diabos Jim não envolveu a polícia?