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O Mеdico Enigmаtico
Serna Moisеs De La Juan
Tinha levado menos tempo do que o calculado no trajeto, porque com estes avan?os nos meios de locomo??o eu mal tinha percebido ele enquanto estava revisando algumas pаginas do jornal que eu havia comprado momentos antes na esta??o. Tinha levado menos tempo do que o calculado no trajeto, porque com estes avan?os nos meios de locomo??o eu mal tinha percebido ele enquanto estava revisando algumas pаginas do jornal que eu havia comprado momentos antes na esta??o. O que eu achei mais dif?cil naquela viagem foi tomar a decis?o final, aquela que sempre deixa d?vidas como as borras de um bom cafе no fundo da x?cara, sobre se a op??o escolhida era a mais correta ou n?o, mas depois de uma noite de sono profundo resolvi o problema com determina??o e comecei este que seria, sem d?vida, o meu destino mais desejado. Finalmente me encontrei diante de um dos mais belos e majestosos portais medievais preservados, portas de pedra esculpidas com esfor?o e cuidado por experientes pedreiros na arte de converter o material frio e аspero das pedreiras prоximas em belas colunas, linteis e arcos.
O
Mеdico
Enigmаtico
Juan Moisеs de La Serna
Traduzido por Valеria Cristina Ferreira Ventura
Editorial Tektime
2019
“O Mеdico Enigmаtico”
Escrito por Juan Moisеs de La Serna
1? edi??o: junho 2019
© Juan Moisеs de La Serna, 2019
© Edi??es Tektime, 2019
Todos os direitos reservados
Distribu?do por Tektime
https://www.traduzionelibri.it
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Prоlogo
Tinha levado menos tempo do que o calculado no trajeto, porque com estes avan?os nos meios de locomo??o eu mal tinha percebido ele enquanto estava revisando algumas pаginas do jornal que eu havia comprado momentos antes na esta??o
O que eu achei mais dif?cil naquela viagem foi tomar a decis?o final, aquela que sempre deixa d?vidas como as borras de um bom cafе no fundo da x?cara, sobre se a op??o escolhida era a mais correta ou n?o, mas depois de uma noite de sono profundo resolvi o problema com determina??o e comecei este que seria, sem d?vida, o meu destino mais desejado.
Finalmente me encontrei diante de um dos mais belos e majestosos portais medievais preservados, portas de pedra esculpidas com esfor?o e cuidado por experientes pedreiros na arte de converter o material frio e аspero das pedreiras prоximas em belas colunas, lintеis e arcos.
Dedicado aos meus pais
?ndice de contenido
Prоlogo (#ue4d80f76-7a6a-5765-a277-f23e4cdd935c)
CAP?TULO 1. A VOLTA (#u6a4a0a7c-522c-5f92-9e83-79289d4cd29b)
CAP?TULO 2. A CRUZ (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 3. A CIDADE (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 4. O MENINO DA АGUA (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 5. O PARENTE (#litres_trial_promo)
CAP?TULO 1. A VOLTA
Tinha levado menos tempo do que o calculado no trajeto, porque com estes avan?os nos meios de locomo??o eu mal tinha percebido ele enquanto estava revisando algumas pаginas do jornal que eu havia comprado momentos antes na esta??o
O que eu achei mais dif?cil naquela viagem foi tomar a decis?o final, aquela que sempre deixa d?vidas como as borras de um bom cafе no fundo da x?cara, sobre se a op??o escolhida era a mais correta ou n?o, mas depois de uma noite de sono profundo resolvi o problema com determina??o e comecei este que seria, sem d?vida, o meu destino mais desejado.
Finalmente me encontrei diante de um dos mais belos e majestosos portais medievais preservados, portas de pedra esculpidas com esfor?o e cuidado por experientes pedreiros na arte de converter o material frio e аspero das pedreiras prоximas em belas colunas, lintеis e arcos.
Um monumento imperec?vel e imоvel, um espectador silencioso da lenta passagem das dеcadas que deixa de pequenas e min?sculas fendas a grandes vazios, como marcas indelеveis do passar do tempo, como sulcos indelеveis mais prоprios do rosto cansado de um anci?o de idade avan?ada.
Uma testemunha inevitаvel dos acontecimentos que ocorreram a seus pеs, desde as еpocas de maior esplendor e auge, de grande nobreza e festan?as, o centro dos mais destacados senhores e o ber?o de distintos artistas, estudiosos e filоsofos, atе ?quelas еpocas que foram especialmente dif?ceis para os seus habitantes enfrentando duras batalhas, que provocaram enquanto foi poss?vel a fuga em massa de seus vizinhos.
Uma espetacular fortaleza natural localizada na colina de uma grande rocha, como um mosteiro, distante e isolada do mundo, suas encostas s?o atravessadas por um amplo e sinuoso rio que a envolve como um fosso natural, que aumenta seus dotes defensivos e a transforma em um extraordinаrio e forte lugar a conquistar, testemunhado pelos in?meros fracassos de seus inimigos que viram seu ?mpeto frustrado para conseguir o saque t?o desejado.
Uma cidade milenar com um grande patrimоnio histоrico-monumental com o qual se pode deleitar onde quer que se olhe, com casas antigas preservadas em t?o bom estado que е fаcil adivinhar como as pessoas viviam hа sеculos.
Um belo destino de muito charme, com edif?cios centenаrios cheios de histоria, lugares escondidos que ainda cheiram a velho e que parecem melhorar a sua espetacularidade com o tempo como bom vinho.
Uma cidade rodeada de muralhas largas e guardada por ameias de ferro, cujo acesso sо podia ser feito a partir daqueles enormes pоrticos ricamente esculpidos e ornamentados com bras?es, dentro dos quais se estendia uma rede de ruas estreitas, terminando em frente as edifica??es mais comemorativas ou em frente a belas pra?as com terra?os vividamente coloridos pelas mais belas flores.
E tudo isto num lugar sem igual, uma extraordinаria combina??o da natureza na sua forma mais pura com a arquitetura mais modesta, que me cativou desde o primeiro momento em que a vi e cuja memоria me acompanhou ao longo da minha vida, pois o tempo n?o tinha conseguido abalar na minha memоria.
Esta era a segunda vez que eu vinha, mas agora era diferente, eu n?o me sinto como um estranho, um turista em busca de uma bela recorda??o, ansioso para viver algo memorаvel para contar aos meus companheiros e amigos quando eu voltar para casa, agora eu n?o venho de passagem, eu sinto que estou no lugar que corresponde a mim e pretendo ficar. Mas para isso eu teria que resolver uma pequena mas importante quest?o, para a qual eu tinha gasto muito tempo pensando em poss?veis alternativas sem encontrar qualquer solu??o, conseguir um emprego com o qual pudesse pagar minha estadia e minha manuten??o.
Anteriormente e sem ter deixado cair os anеis, eu tinha realizado muitos e variados trabalhos, desde os mais simples e ao mesmo tempo fisicamente custosos, como trabalhador de obras, atе aqueles que exigiam o desenvolvimento de habilidades especiais no tratamento com as pessoas e no momento de lembrar datas e nomes, como o de guia tur?stico.
Eu tinha me defendido mais ou menos muito bem nestas tarefas que n?o implicavam qualquer responsabilidade ou obriga??es maiores do que a de cumprir o meu dia de trabalho e esperar receber o pagamento correspondente no final do dia, independentemente de qual fosse a jornada de trabalho.
Ainda que seja verdade que tinha prefer?ncias entre uns trabalhos e outros, porque as for?as e energias que me acompanhavam na minha juventude foram dando lugar ? quietude e tranquilidade da maturidade, de modo que o esfor?o que fazia com as tarefas de constru??o ou de campo jа se tornavam eternas e pouco gratificantes.
Por outro lado, o trabalho de guia era cada vez mais atraente para mim, n?o sо porque n?o exigia tanta dedica??o f?sica, mas porque eu ficava muito mais grato no que diz respeito ? remunera??o, especialmente quando, alеm do pagamento acordado, obtinha generosas gratifica??es dos clientes que se sentiam geralmente satisfeitos por terem tido uma boa viagem, em que tinham aprendido alguns aspectos que certamente lhes eram desconhecidos.
Com este trabalho de guia aprendi muito, porque cada cliente que vinha tinha seu prоprio interesse em conhecer um aspecto ou outro dos lugares que eu mostrava, atе mesmo ocasionalmente o visitante conhecia detalhes da histоria do lugar que para mim eram desconhecidos com o qual muito me enriquecia, e ser t?o bem pago me permitiu poupar algum dinheiro para viajar que no final me levou atе aos mesmos port?es desta cidade.
Alеm de aprofundar meu conhecimento dos lugares que visitei, tive uma certa curiosidade em conhecer alguns dos mistеrios que envolvem a condi??o humana, querendo desvendar um pouco mais sobre como ao longo da histоria as diferentes civiliza??es t?m levantado as mesmas quest?es essenciais, oferecendo respostas distintas e atе contraditоrias de um lugar para outro.
Querer conhecer e controlar os acontecimentos futuros, saber o que vem depois desta vida e se hа algo alеm do que vemos e tocamos; procurar o sentido ?ltimo da nossa exist?ncia ou tentar entender por que, como espеcie, somos t?o diferentes do resto dos seres vivos da natureza, quest?es importantes que cientistas, estudiosos, filоsofos, oradores e atе charlat?es t?m tentado resolver.
Todos eles procurando acalmar as consci?ncias inquietas de alguns ansiosos por compreender o mundo que os rodeia e o seu futuro, o qual por vezes se mostra t?o incerto como imprevisto, podendo se apresentar extremamente benevolente ou cruel.
Mas, para minha surpresa, em vez de encontrar uma ?nica resposta que revela uma verdade superior, vаlida para todos e em todos os momentos, encontrei uma amаlgama de respostas parciais, que refletia mais o interesse particular dos governantes que chefiavam os povos, sejam pol?ticos, militares ou religiosos, do que um verdadeiro conhecimento independente do poder.
O que me enchia de espanto quando eu refletia sobre isso, era como o homem n?o havia podido chegar ? verdade depois de tanto tempo?, e se tivesse chegado, o que era e por que n?o era conhecida e assumida por todos?
Com minhas roupas quase esfarrapadas, mais pelo excesso de uso que por falta de cuidado e higiene pessoal, passei entre aquelas massas de pedra esculpidas que formavam uma bela porta medieval, em cujo pоrtico orgulhosamente mostra aquele bras?o em relevo do escudo de armas de um dos maiores e mais poderosos governantes da Europa, sо comparаvel ? majestade alcan?ada por Napole?o ou pelo Rei Sol.
Ladeado por robustas muralhas amea?adoras que guardavam a ricamente decorada entrada, a cujos lados se estendiam aquelas inating?veis e grossas muralhas que separavam o mundo exterior conhecido do misterioso e t?o zelosamente guardado tesouro escondido atrаs das volumosas e pesadas portas de madeira, refor?adas com ferro que se cruzavam para ficar amea?adoras, como lan?as em punho.
De acordo com os anos em que esta edifica??o se conservou em pе e de sua espessura, atrevo-me a calcular para mim que foram milhares os operаrios que trabalharam nesta grande obra, tantos quantos poderiam ter sido utilizados para construir uma das catedrais majestosas da еpoca, um inegаvel tra?o da fе fеrrea e da conviv?ncia e cumplicidade da religi?o com o poder governador do momento.
Constru??es assim jа n?o s?o poss?veis, pois requerem uma idеia clara de como chegar a um fim t?o importante que vai sobreviver milhares de anos para alеm das breves vidas de seus construtores, tal como sucedeu antigamente para levantar as edifica??es mais longevas e lindas que o homem jа conheceu, as pir?mides.
Foram tempos dif?ceis para os povos submetidos, convertidos em escravos a fim de garantir uma m?o-de-obra barata, um trabalho minucioso e trabalhoso, sem outra recompensa que a de continuar vivos no dia seguinte, e com os oficiais brandindo seus chicotes ? espera de que alguеm se atrase para fazer uso justo deles para deixar a sua marca na pele daquele escravo.
Agora, uma situa??o como esta seria impensаvel, e ainda menos quando hа tantas mаquinas, elevadores e guindastes dispon?veis, o que facilita grandemente qualquer tarefa pesada, com a qual parece agora rid?culo ter tantos trabalhadores envolvidos numa obra t?o colossal.
Alеm disso, agora seria desnecessаrio usar uns blocos de granito t?o grandes, jа que atualmente existem materiais mais resistentes, menos pesados e mais rаpidos de instalar, dando maior seguran?a, mas claro, isso е agora, antes… era o ?nico que tinham.
Era tudo t?o artesanal e rudimentar, com poucas ferramentas, todas elas manuais, utilizando principalmente a for?a bruta acompanhado de muita perseveran?a e capacidade de sacrif?cio.
Na verdade, n?o invejo nenhum desses infelizes trabalhadores que, com muito esfor?o e sofrimento, deram forma a uma edifica??o t?o luxuosa, pois certamente mais de um deixou sua vida neste trabalho, especialmente quando tiveram que faz?-lo sob este sol de justi?a, que fadiga e esgotam a vontade dos mais determinados.
A escolha desta cidade para a qual estou indo, atravessando uma passagem pequena, mas imponente, que separa o acesso da porta interna, e que serve como o ?ltimo contraforte na defesa, embora eu pudesse ter escolhido qualquer outro lugar neste momento da minha vida , senti-me internamente levado a vir aqui e tentar desvendar seus segredos.
Tenho visto muitos turistas admirar as constru??es antigas como as pir?mides espalhadas pelo mundo, tanto no Oriente Mеdio como na Amеrica Latina ou as mais recentes edifica??es, maravilharem-se da grandeza do Coliseu de Roma ou da altura da Torre Eiffel, em Paris.
Tenho sido testemunha de como alguеm se encolhia diante de monumentos gigantescos e estаtuas como a de David de Miguel Angelo, que representava a mitologia do lugar, mas o que ouvi desta cidade sempre foram maravilhas surpreendentes.
N?o sо por sua arquitetura rica, mas tambеm, nem por causa de sua histоria, que ela tem e muito! Е outra coisa! Algo que a tornou um ?m? por tantos e tantos anos, como um local de culto ou de peregrina??o que acolhe todos de bra?os abertos, sem distinguir entre homem ou mulher, grande ou pequeno, nem mesmo entre ra?a ou religi?o.
Muitas s?o as localidades que recebem devotos fervorosos ao longo do ano que viajam para os lugares que consideram especiais, ?s vezes indicados por uma constru??o megal?tica erguida ou por uma simples travessia como sinal ou monumento natural, como montanhas ou cavernas, ou que chegam certas еpocas do ano para comemorar uma data especial em que o ciclo sazonal muda como os solst?cios ou um evento extraordinаrio como os eclipses.
Mas um lugar como este em que me encontro n?o е encontrado todos os dias e, felizmente, tive a sorte de poder vir e viver atrаs das suas portas, na zona mais antiga e humilde, mas para mim tambеm a mais aut?ntica e original.
Viajei meio caminho ao redor do mundo trabalhando como guia, visitando cada vilarejo, vila ou cidade, levando meus clientes de um lugar para outro, tentando ensinа-los e explicar o que eles estavam procurando por si mesmos.
Para alguns, eram as maiores maravilhas que a natureza havia esculpido pacientemente, durante sеculos, como o Grand Canyon do Colorado ou as mais majestosas constru??es que se conservam atualmente.
Em contrapartida, outros procuravam o contrаrio, lugares humildes mas n?o com menos encanto, onde pudessem ver a tradi??o de suas festividades, tentando abordar a histоria em estado vivo que pode ser contemplada em algumas cidades longe das grandes multid?es, onde е dif?cil chegar mas е dif?cil de ecoar, comentando nestes casos as histоrias de cada lugar, por vezes muito bem documentadas e outras quase improvаveis que se mant?m atravеs da tradi??o oral entre os anci?os da localidade, conservando com ela a ess?ncia dos lugares visitados.
Eu mesmo fiquei surpreso com a beleza de alguns lugares que nem sequer estavam marcados no mapa, ou com o charme de alguns povoados que eram dif?ceis de encontrar devido ao seu pequeno tamanho, mas tudo ficou pequeno, quase insignificante, ao lado do que eu estava prestes a encontrar.
Pelo menos assim o vivia, com grande emo??o e incerteza, como uma crian?a a quem е dado um presente embrulhado, o qual a enche de inquieta??o e alegria ao mesmo tempo em que fica apreensiva por saber o que estа por baixo desse embrulho cativante e impressionante, maravilhosamente ornamentado com uma grande fita vermelha.
Pela minha longa experi?ncia e pelo muito que falei com outros viajantes com quem encontrei em lugares t?o estranhos e escondidos, sei o que outros sentiram e vivenciaram quando chegaram aqui, e a ?nica coisa que eu esperava a este respeito era poder ter uma experi?ncia pelo menos semelhante ? que eles me contaram, algo que muda substancialmente a minha maneira de ver e compreender o que me rodeia, como o batismo que me introduz em uma nova vida, com o que me desperta para outra realidade e me transporta a um n?vel superior de compreens?o de mim e dos outros, talvez estivesse esperando demais, mas se outros jа haviam sido capazes de experimentа-lo antes, por que n?o eu?
Qualquer outra sensa??o de surpresa, admira??o e atе confus?o, seria uma decep??o para mim, porque jа a vivi, alеm do efeito moment?neo que recebi quando estava presente do que me surpreendeu, nada mudou em mim. Continuei sendo o mesmo que antes daquela vis?o, com meus defeitos e virtudes, sem transcender para alеm de tudo o que conhe?o e sinto, tudo o contrаrio, ao que espero nesta cidade.
Talvez seja confiar demasiado numa constru??o t?o antiga, е provаvel que eu tenha de me contentar em ter uma boa estadia e que n?o tenha problemas, como me aconteceu em alguma ocasi?o, mas, hа que dizer tudo, nunca foi culpa minha, eu estava simplesmente no lugar menos indicado no momento mais inoportuno.
Ainda que isso, evidentemente, nunca tenha convencido as autoridades policiais ou judiciais, por isso tive de visitar em mais do que uma ocasi?o as paredes frias e h?midas da pris?o, onde a boa companhia de celas era escassa, sendo b?bados, perturbadores ou reincidentes, ou os tr?s ao mesmo tempo.
Foi um dif?cil aprendizado de humildade que eu tive que passar quando fui injustamente tratado, preso e mantido contra a minha vontade por dias atе que o julgamento fosse realizado e eu fosse libertado, mas enquanto isso eu estava sujeito a condi??es t?o precаrias que n?o desejaria isso ao meu pior inimigo.
Mas por estranho que pare?a, foi nesses sombrios ex?lios, precisamente na quietude da noite quebrada apenas pelo vaguear do carcereiro para verificar se tudo estа em ordem ou pelo comentаrio vil de algum outro prisioneiro reclamando de seu confinamento.
Na escurid?o da minha pequena sala emprestada, iluminada apenas pelo reflexo da lua cheia que е introduzida como um hоspede inesperado entre as grades de uma pequena janela no topo da cela, е ent?o que percebi que a nossa passagem pela vida tem de ser algo mais do que uma sucess?o desorganizada e por vezes arbitrаria de momentos de alegria ou tristeza.
Como eu acredito que aconteceu com todos eles, eu recebi muitos paus ao longo dos anos, mas tambеm gostei, me diverti e compartilhei minha alegria com amigos e familiares, e suponho que ainda terei muitos bons e maus momentos para viver.
Mas algo dentro de mim se quebrou na primeira noite que tive que passar encolhido em um canto daquele quarto ?mido, onde eu enfrentei solid?o for?ada, sem ninguеm ao meu lado para me apoiar ou mesmo me ouvir, assustado com a idеia de n?o poder acordar no dia seguinte ?quela terr?vel experi?ncia que superou qualquer pesadelo que eu tivesse tido antes.
Pensando nisso, a minha vida n?o era t?o diferente da dos outros, talvez um pouco mais agitada e comovente, comparаvel ? de qualquer marinheiro que visite vаrios portos, ? dos pilotos de avi?es que por vezes amanhecem todos os dias num pa?s diferente, ou ? de um soldado que vai onde a sua pаtria o exige, Seja para impor a paz ou para participar em miss?es humanitаrias, profiss?es que, a longo prazo, tornam dif?cil recordar todos e cada um dos locais visitados, nem sequer е poss?vel recordar todos os bons momentos partilhados, nem as pessoas que se conhecem, sejam colegas, amigos ou qualquer outra coisa.
Talvez se eu tivesse nascido num desses grandes e inоspitos desertos, que surgem em quase todos os continentes como cogumelos que recordam a fragilidade do ecossistema em que vivemos e a necessidade de cuidar de um bem t?o precioso como a аgua, talvez eu tivesse tido este tipo de experi?ncia muito antes.
Se tivesse sido um nativo do deserto do Saara, outro berbere, um daqueles que atravessam as dunas sem fim, sob um sol de justi?a, ?s vezes sem outra companhia sen?o a do incessante vento escaldante que caprichosamente redesenha a paisagem, seguindo caminhos que n?o existem mas se cruzam hа gera??es, fazendo caminhos com as pegadas dos dromedаrios, instantaneamente apagada pela brisa silenciosa que silencia a voz afogada do tempo, orientada apenas por aquelas estrelas estаticas e luminosas, e pelas belas histоrias contadas de caminhante a caminhante em que se observa os lugares para abastecer-se de аgua ou onde se abrigar em caso de encontro com uma tempestade de areia.
Sendo assim, teria a oportunidade de experimentar, que eu n?o me sentiria diferente do resto, mas sim o contrаrio, estaria mais ligado ao mundo que me rodeia, aceitando a natureza tal como ela е, sem questionar por que acontecem certos acontecimentos, e os outros pelo que s?o e n?o pelo que possuem, sem fazer distin??es entre pa?ses, ra?as ou religi?es.
Quando voc? anda pelo mundo tanto quanto eu, percebe que o que une a humanidade е sua capacidade de se reinventar continuamente e que muitas vezes nos limitamos a essas fronteiras, ?s vezes t?o absurdamente inventadas que dividem uma popula??o ou um vale em dois, transformando em inimigos os habitantes que atе aquele momento eram fam?lia e vizinhos.
Ou a linguagem, n?o haverа uma inven??o pior do que a linguagem que separa e divide, que impede a comunica??o fluida, que confunde e obstrui o processo de compreens?o? Quantas vezes eu jа vi outras pessoas sofrerem por n?o serem capazes de se comunicar adequadamente, tentando gesticular para para se explicarem, injustamente detidos, ou sofrendo a indiferen?a e o desprezo daqueles que n?o os compreendem?
Quando voc? quer dizer alguma coisa e os outros n?o te compreendem, turistas, visitantes, imigrantes ou exilados t?m de enfrentar a nova realidade, vendo-se for?ados a aprender um novo idioma como meio para sobreviver, e n?o apenas para poder encontrar um trabalho.
Para mim n?o hа pior do que a inven??o desses dialetos que surgiram como castigo pela arrog?ncia humana, pelo menos е assim que os Livros Sagrados os recolhem quando se lembram com vergonha do que aconteceu com a torre de Babel, que seria a maior constru??o da humanidade, que chegaria com seu cume ? abоbada celeste e ficou inacabada como s?mbolo da dissolu??o desse povo, que se acreditava ser t?o superior.
Seja qual for a origem das l?nguas diferentes, estas ao longo da histоria, em vez de servir para comunicar-se melhor, separam e dividem comunidades em guetos, impedindo a troca de ideias e experi?ncias fluidas, chegando a confundir e dificultar o processo do entendimento, em prol de um falso modernismo e ideal de diferencia??o e independ?ncia.
Apesar de terem sido feitas muitas tentativas para ultrapassar estas diferen?as, tentando dominar uma l?ngua sobre as outras, durante muitos anos o ingl?s tem sido a l?ngua dominante a n?vel comercial, enquanto o franc?s, em termos de diplomacia e rela??es entre pa?ses, tem sido a l?ngua dominante. Inclusive chegou-se a criar uma l?ngua que inclu?sse uma boa parte das l?nguas ocidentais existentes, com a ideia de substitui-las todas, estabelecendo assim uma l?ngua ?nica e universal, o esperanto.
Um belo sonho de unidade sob uma ?nica l?ngua que procurava facilitar a comunica??o entre os povos, evitando assim conflitos, disputas e invejas, conduzindo ao interc?mbio e ? compreens?o, criando, em ?ltima anаlise, uma sociedade onde todos pudessem compreender, independentemente do lugar, ra?a ou religi?o de origem.
Um sonho que ficou no esquecimento, presente apenas aos mais nostаlgicos e que poucos se empenham em manter vivo, com a esperan?a de que um dia, aquilo que nos une, superarа o que nos diferencia e nos separa, e que criou tantos problemas e dificuldades no que diz respeito ? conviv?ncia.
Quantas vezes vi pais sofrerem com seus filhos, detidos nas fronteiras por quererem acessar o que entendiam ser um mundo melhor para sua fam?lia, apenas por n?o serem capazes de se comunicar adequadamente, tentando gesticular para se explicarem, presos injustamente enquanto sofriam a indiferen?a e o desprezo daqueles que n?o entendem ou se importam em entender a sua situa??o.
Ou profissionais altamente qualificados que se mudam para outro pa?s e t?m de recome?ar a sua vida profissional, assumindo empregos abaixo do seu potencial e que nunca pensaram que poderiam desenvolver por serem considerados demasiado simples e desmotivantes, e tudo porque n?o dominavam a l?ngua do pa?s de acolhimento.
Е o que acontece com turistas, visitantes, imigrantes ou exilados, quando eles querem dizer algo e outros n?o os entendem, ent?o eles t?m que enfrentar a nova realidade lingu?stica, sendo for?ados a aprender o que atе agora era uma l?ngua desconhecido, tanto para encontrar trabalho quanto para sobreviver naquele pa?s estranho durante sua estadia.
Um esfor?o de adapta??o que n?o faz distin??o de idade ou condi??o, jа que afeta a todos igualmente quando devem emigrar ou quando a perman?ncia no pa?s se torna algo mais longo do que uma simples viagem tur?stica.
Mas se a injusti?a se refere, o mais aborrecido para mim е o sofrimento causado de propоsito e sо justificado por ter a pele de outra cor ou por algo t?o ?ntimo e pessoal, como е a prаtica de qualquer outra religi?o.
Quanta loucura no mundo, ao querer diferenciar-nos, dividir-nos e separar-nos, assinalar a uns e a outros, de acordo com sua ideologia, g?nero, ra?a ou cren?a, e tudo para qu??