banner banner banner
Um Quarto De Lua
Um Quarto De Lua
Оценить:
Рейтинг: 0

Полная версия:

Um Quarto De Lua

скачать книгу бесплатно


embora nao estava convencida pela perspectiva, Gaia tentou tranquilizá-lo.

Elio nao queria parecer-lhe doido e, para evitar de retomar o assunto, encarou de frente o motivo pelo qual encontrava-se ali.

- Devemos descer, a tia tinha-me mandado para chamar-te, precisa de ajuda para o jantar.

- tu ficas aqui? - perguntou-lhe Gaia saltando para cima como um grilo e dirigindo-se para as escadas.

elio imaginou que nao ficaria nem sequer sonhando lá em cima sozinho.

- não, desço contigo - respondeu.

Gaia encontrou a tia atarefada a preparar o jantar e começou a ajudá-la.

Elio estava para dobrar as pernas e atirar-se no sofá quando chegou a voz de Ida.

- o que fazes? levanta, anda, venha ajudar, nao é ainda hora para repousar, prepara a mesa.

- Onde está Libero? - perguntou Gaia.

- Certamente está a terminar de fechar os currais - respondeu Ida - Elio, se terminaste, por que nao vais chamá-lo?

- vou eu - ofereceu-se Gaia feliz.

- Nao, ainda preciso de ti aqui, deixa que vá o teu irmao.

- sim, respondeu exausto Elio, que estranhamente tinha um apetite de leao.

saido da porta de casa, olhou por aí para tentar ver o primo, estava nos campos, sentado no tractor, estava a observar o céu.

elio aproximou-se gritando, parecia que naquele dia todos tivessem perdito a audiçao porque mesmo ele, como Gaia antes nao lhe respondiam.

“Esperamos que seja contagioso assim perco eu tambem a audiçao e posso deitar-me sem responder a ninguem” reflectia Elio.

Devia chegar até perto do veiculo para ter uma resposta.

- por que estás a gritar? - perguntou Libero.

- Ja devias estar dentro de casa, está na hora do jantar - respondeu Elio.

- Venha rapido - convidou-o como quem nao estivesse a ouvir o que estava a dizer.

- Eu lá em cima?

- sim, aqui em cima, quero mostrar-te uma coisa.

Elio subiu, Libero estreitou-se um pouco e sentaram-se juntos.

- Olha que maravilha! -exclamou Libero apontado o céu - imaginar que alguns anos atras nao conseguia vê-lo.

- O quê? - perguntou Elio procurando ver nao sei qual estranheza.

- O céu - repetiu.

- O céu?

- Sim o céu, é uma coisa lindissima, mas muitas vezes durante muito tempo da nossa vida nao erguemos a cabeça para observá-lo e nao tenciono observá-lo para ver o tempo que faz, mas admirá-lo em silencio, como faz-se com o mar, que estando numa posiçao favoravel aos olhos, é apreciado com mais frequencia. Tu nunca páras para observá-lo?

- nao.

- contudo deverias, é muito fortificante e coloca muitas coisas na justa prespectiva.

Elio espantou-se de tanta profundidade do primo e ficou em silencio com ele durante um pouco a fixá-lo.

do branco cegante até as tonalidades do fumo, as nuvens estavam suspensas entre as duas faixas do céu, céu plumbeo em baixo deles, céu turqui em cima, misto aos reverberos ocre de um sol ja quase a pôr-se que as iluminava tornando o seu cume dourado e dando a sensaçao de ser a luz de um outro mundo, ali a iluminar uma vida que sobre eles se desenvolvia. densas, como albumen montado em forma de neve, aquelas brancas, emporcalhadas, como no choro pictorico de uma criança de três anos, aquelas cinzentas.

entre todas distinguiam-se uma, com a forma de unicornio, que se perfilava no fundo branco como se o cinzento animal corresse nas brancas pradarias celestes. precisamente como num afresco do Tiepolo, este sotao desfundado natural tendia ao infinito que existe além do visivel, ao misterio que faz sentir as nossas pequenas almas e ao mesmo tempo eternas.

libero de repente saltou para baixo a partir do tractor.

- Agora tenho fome - disse rindo em voz alta.

- Tu nao tens Elio?

- Sim.

- entao salta para baixo e vamos comer, talves a proxima vez far-te-ei dar uma volta com o tractor.

e dirigiu-se para casa.

elio nao perdeu tempo e o seguiu, a fome voltava a fazer-se sentir.

Quarto Capítulo

como um mau pressagio, mormurava palavras numa lingua desconhecida

Elio levantou-se muito cedo, era inevitavel ceder à tia que continuava a chamá-lo com insistencia. fora era apenas a aurora, reparou para o céu que alvorecia e imaginaou novamente por um instante ao pôr do sol da noite anterior, à sensaçao de paz sentida naqueles instantes, mas durou pouco, as suas orelhas começaram a zumbir, um zumbido surdo, pungente, que rasgava a alma e o deixava atirar-se de novo na sua fria realidade.

Elio, arrastou-se ainda de pijama até à cozinha, esperando de despertar um pouco com o pequeno-almoço.

A tia, o primo e a sua irmã ja estavam vestidos e penteados como se fosse oito horas da manhã e nao apenas cinco e trinta! havia ar de festa, o seu primo Ercole teria voltado do campo de escutismo. Ida estava excitada pelo regresso do filho, tinha estado fora precisamente durante cinco dias, ficava sempre preocupada quando os seus filhos ficassem fora de casa por causa do incidente sucedido a Libero quando menino e nao quisera por acaso perdê-los de vista.

O sargento Ida, mal avistado o insubordinado Elio, expulsou-o imediatamente da cozinha para que fosse lavar-se e arrumar-se.

Ida era uma mulher forte, temperada pelas vicissitudes da vida. Depois da morte do marido e o problema com o filho, tivera que se adaptar a um estilo de vida completamente diferente daquele citadino, que tinha marcado a sua vida nos primeiros anos do matrimonio.

Dura e arrojada, tinha tomado a peito aquele novo desafio. mais que uma vez tinha-se encontrada sozinha a chorar pelo desespero, mas nao baixou a cabeça.

O seu ar de general nao devia enganar, dentro era mole como o coraçao de um suflê.

pouco depois Elio voltou vestido e quase arrumado, embora o humor era negro e a fome lhe acometia.

sentia o cheiro do leite e chocolate, mas sobretudo dos biscoitos gigantes feitos pela tia no dia anterior, que permanecera pelo ar.

Eram uns enormes pedaços de pão com leite em forma de tranças misturados com varios aromas: de canela, de anis e, para nao deixar faltar nada, as suas preferidas de sésamo.

A sua irmã e Libero já estavam a molhá-los no leite.

Libero perguntou-lhe:

- sabes quem volta hoje?

Elio espantou-se pela pergunta:

- quem? - respondeu.

- Ercole, o meu irmaozinho!

Elio nao disse nada mas tinha-se esquecido completamente do primo da mesma idade.

- Donde? - perguntou como se no dia anterior nao tivessem falado dele.

- Como donde? - respondeu Gaia - nos disse ontem a tia.

- Volta do campo de escuteiros - disse sorrindo Libero.

- Hoje o sotao vos espera - sugeriu a tia com um tom que nao admitia replicas - Mexa-se Elio, vê se acaba já o teu pequeno-almoço e põe-te ao trabalho. Gaia chegará para dar-te uma mao dentro de pouco tempo, agora preciso dela para uma incumbencia.

elio terminou de tomar o leite num gole imaginando com alivio ao facto de que por um instante ficaria sozinho no sotao numa total tranquilidade. desfrutava da ideia de poder enfiar nas orelhas auriculares do seu amado leitor mp3.

reparou por aí sem achá-lo, depois voltou para a cozinha e perguntou:

- Alguem viu o meu leitor por aí?

- Infelizmente, ontem ficou vitima de um incidente. tinha-o deixado no sofá e quando o abri para preparar a cama ficou embutido no meio do mecanismo de extracçao da rede… nao sobrou muita coisa, mas conservei para ti o cartao de memoria - contou a tia e, buscando-o num pratinho decorativo colocado em cima da credencia, entregou-lhe.

A jornada tinha precisamente começado mal, pensou o rapaz, subiu a escada que levava até ao sotao com a lentidao que o distinguia e acendeu a luz.

por toda a parte tinha amontoado coisas, deveria limpar e criar um espaço onde preparar as camas, muito trabalho para ele só de pensar. assim resolveu abrir a grande da janela central, para deixar entrar ar e luz, e depois sentar-se numa esquina qualquer a mandriar à espera da Gaia.

Os seus olhos viram algo que o afectaram, um livro em cima de uma velha caixa de madeira, como aquele que o estranho senhor entrado no compartimento lia.

Realmente uma estranha coincidencia, nao era um best-seller na moda, isto o apoquentou. de repente apagou-se a luz e elio começou a ouvir a estranha voz que, como um mau pressagio, murmurava palavras desconhecidas ao seu ouvido.

Mesmo sabendo de como nao rea possivel, teve o pavor de que aquele homem poderia encontrar-se ali, na escuridao. procurou o interruptor da luz mas nao conseguiu acendê-la de novo, devia ter-se fundido a lampada. um temor profundo apoderou-se dele, a voz era cada vez mais forte, a ouvia ecoar dentro da sua cabeça. às apalpadelas tentou chegar à janela, arrastando consigo os objectos que encontrava à sua passagem.

Chegado à manilha, nao logrou abril-lo, entao, fora de si, começou a dar murros na esperança de desbloqueá-lo.

Tremia e suava frio.

De repente acendeu-se a luz, Elio virou repentinamente, quisera gritar, mas a voz esmorecera na garganta.

viu Gaia.

- Elio estás bem? por que todo este barulho? algo nao está bem contigo?

O rapaz, branco como um lençol, tinha o olhar transtornado e tremulo.

gaia abraçou-o forte preocupada e lhe sussurrou:

- Está tudo bem? aconteceu contigo outra vez, nao é? aquela estranha coisa que te deixa ficar confuso…

Elio nao respondia, nem retribuia o seu abraço, estava ainda a viajar por aí, possuido pelos seus pensamentos, nao conseguia mesmo sentir o calor daquele abraço, como se fosse pedra.

Lentamente o abraço desfez-se, Elio começava a voltar em si.

a primeira coisa que fez foi voltar-se para controlar se aquele estranho manuscrito estivesse realmente ali, onde o tinha visto, ou entao se o tivesse apenas imaginado.

infelizmente, estava ainda ali,, o seu olhar ficou gelido.

Gaia, notada toda a cena, aproximou-se ao tomo para pegá-lo, para ver se era realmente o motivo da inquietaçao do irmao. põs-se na trajectoria entre o olhar de Elio e o livro.

Era precisamente ali que reparava, virou e pegou-o virando-se com o livro na mao para com ele e perguntou:

- É isto que tanto te tira o sossego?

Elio ficou calado.

- Fala comigo Elio, nao posso ajudar-te se nao te abres comigo e continuar a teimar.

- O comboio - sussurrou Elio.

- O comboio, o que quer dizer o comboio?

- Uma cópia daquele livro vi-a no comboio.

- o que tem de estranho nisto?

- Trazia-o um estranho fulano sentado na fila ao meu lado, no momento em que vocês estavam no vagao-restaurante.

- Muitos leem enquanto estao a viajar.

- Mas nao é um livro comum, nao ves? - agitou-se Elio.

Efectivamente Gaia tinha notado a particularidade da capa do livro e ficou um pouco espantada mal o abriu.

Estava escrito numa lingua para ela desconhecida, as imagens, todas em preto e branco, figuravam personagens estranhas, numa moldura de bosques e luas cheias. muitas daquelas figuras eram na pior das hipoteses atormentadoras.

Gaia fingiu de nao estar a notá-las, fechou imediatamente o livro e o deixou no canto, tentando simular indiferença.