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Ndura. Filho Da Selva
Ndura. Filho Da Selva
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Ndura. Filho Da Selva

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Ndura. Filho Da Selva
Javier Salazar Calle

Melhor romance do gênero Young Adult de 2014 na Espanha e traduzido para mais de 6 idiomas!

Quando uma pessoa comum, como qualquer um de nós, se encontra de repente em uma situação de vida ou mote no meio da selva, SABERIA SOBREVIVER?

Este é o simples dilema que o protagonista da nossa história apresenta a você. Voltando de umas férias tranquilas na Namíbia, um típico safari fotográfico, ele se vê envolvido em uma inesperada situação de sobrevivência extrema na selva de Ituri, na República do Congo na África, quando o avião em que viajava é derrubado por rebeldes. Um lugar onde a natureza não é o único inimigo e onde sobreviver não é o único problema. Uma aventura que remete aos clássicos de sempre, que fazem deste livro o prato perfeito para fugir da realidade e sentir na pele a angústia e o desespero do protagonista diante do desafio que tem pela frente. Neste livro, misturam-se de forma natural a emoção e a tensão do próprio desafio de sobreviver, a degradação psicológica do protagonista ao longo da história e o profundo estudo do meio, seus animais, plantas e pessoa que o autor realizou. Também nos ensina que nossa perceção de onde estão nossos limites costuma ser errônea, às vezes para o bem e outras para o mal.

Sem dúvida, uma leitura recomendável.

Javier Salazar Calle

Ndura. Filho da selva

Ndura. Filho da selva

Javier Salazar Calle

Traduzido por Fernanda Carrascosa

“Ndura. Filho da selva”

Escrito por Javier Salazar Calle

Copyright © 2020 Javier Salazar Calle

Todos os direitos reservados

Distribuído por Tektime

https://www.traduzionelibri.it

Traduzido por Fernanda Carrascosa

Design da capa em português´© 2020 Marta Fernández García

Ndura

Filho da selva

Por

Javier Salazar Calle

Desenho da capa em português ©Marta Fernández García

Foto do autor © Ignacio Insua

Título original: Ndura. Hijo de la selva.

Copyright © Javier Salazar Calle, 2018

Tradução: Fernanda Carrascosa

1.ª Edição

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Dedicado a todos aqueles que, assim como eu, vivem aventuras e viajam sem sair do lugar; porque fazem com que o poder da imaginação sobreviva neste mundo.

Dedicatória especial ao meu melhor amigo, que faleceu há muitos anos, e ao meu filho Álex, que herdou seu nome e com o qual tenho grandes sonhos.

Começa a aventura…

DIA 0

Estou no meio da África profunda. Sentado, apoiado no tronco de uma árvore. Minha febre disparou, meu corpo tem tremores e calafrios cada vez mais frequentes, uma dor não localizada é a única que percebo do meu organismo. Não paro de tremer. Estou no alto de uma colina. Atrás de mim, a selva, uma floresta frondosa, selvagem e implacável. Adiante, desaparece como num passe de mágica, e somente uns troncos dispersos, restos de uma exploração madeireira intensiva, dão uma ideia do que antes havia neste lugar. Ao fundo, distinguem-se as primeiras casas de uma cidade incipiente. Barro, folhas e ladrilhos misturados. A civilização.

Estou a milhares de quilômetros do meu lugar, da minha gente, da minha família, da minha namorada, dos meus amigos… sinto até falta do meu trabalho. A vida cômoda, poder beber ao simples gesto de abrir uma torneira e comer simplesmente fazendo um pedido em um bar qualquer… e dormir em uma cama quente, seca e segura, principalmente segura. Como sinto falta dessa tranquilidade, quando a única incerteza era decidir em que gastaria meu tempo livre quando saísse do trabalho! Como me parecem absurdas as preocupações de antes: a hipoteca, o salário, a discussão com um amigo, a comida que me desagrada, a partida de futebol! Principalmente a comida…

Está claro que a necessidade de sobrevivência muda o ponto de vista das pessoas. Comigo, pelo menos, foi assim. O que estou fazendo a tanta distância de casa, moribundo, às margens da selva centro-africana? Como me coloquei nesta situação dantesca e aparentemente irremediável?

Reviso mentalmente as circunstâncias agourentas que me levaram à beira da morte, à entrada da estrada de trânsito para o além, à mais provável extinção da minha história no livro da vida…

DIA 1

SOBRE COMO COMEÇOU ESTA HISTÓRIA IMPRESSIONANTE

Olhei para o relógio. Nosso avião de volta à Espanha sairia dentro de duas horas. Alex, Juan e eu já estávamos na parte das lojas do aeroporto de Windhoek, gastando as últimas moedas locais e, a propósito, comprando aqueles presentes que sempre se deixa para o final. Já havíamos comido e só nos faltavam as lojas. Comprei para o meu pai uma navalha com o cabo de madeira e com o nome do país, Namíbia, entalhado, e todo tipo de figuras de animais finamente entalhadas em madeiras para as demais pessoas. Especificamente para Elena, minha namorada, comprei uma linda girafa entalhada à mão em um povoado típico da savana africana. Alex comprou uma zarabatana e muitas flechas, segundo ele para jogar com o alvo de dardos e variar um pouco o jogo, dando-lhe um estímulo, digamos, mais tribal. Durante uma hora, estivemos perambulando por aqui e por ali, mochila nas costas, desfrutando dos últimos momentos nesse país que achamos tão exótico. Até que nos chamaram para embarcar. Como já havíamos despachado as bagagens, nos dirigimos diretamente até a porta indicada e logo estávamos em nossos assentos no avião, um antigo modelo quadrimotor de hélices, depois de termos tirado algumas fotos dele. Nosso safari de quinze dias pela agreste savana africana chegava ao seu fim e, ainda que fôssemos sentir falta destas terras, já ansiávamos por uma ducha quente e uma refeição em boas condições, ao estilo espanhol. De toda forma, era uma pena partir neste momento, porque nos haviam dito que dentro de alguns dias haveria um dos eclipses solares mais impressionantes das últimas décadas e que a parte da África onde nos encontrávamos era a melhor para vê-lo com clareza.

Eu era o mais atrevido e aventureiro dos três, e acabei por convencê-los de que viessem comigo até aqui; uma coisa era ter espírito aventureiro, outra coisa era ir sem companhia. De início ficaram receosos em abandonar seus planos de umas férias relaxantes no norte da Itália em troca de um, a princípio, incômodo safari fotográfico em um lugar com temperaturas superiores a 40 ˚C o dia inteiro e sem sombra onde se abrigar. Ao fim da experiência, não estavam nem um pouco arrependidos; ao contrário, fariam tudo novamente sem pensar duas vezes. A aeronave nos levaria mais de mil quilômetros ao norte até outro aeroporto internacional, onde faríamos conexão com as modernas e cômodas linhas aéreas europeias para voltar para casa.

Depois da decolagem, começamos a ver as fotografias da viagem na câmera digital do Alex. Tinha uma foto divertidíssima do Alex e do Juan correndo apavorados e um gnu mal humorado atrás deles, a toda velocidade. Enquanto eles terminavam de revê-las, entre risadas e lembranças, eu me perdi em meus pensamentos, olhando pela janela, vendo passar as nuvens ao nosso redor. Sentia-me muito bem voltando para casa com meus dois melhores amigos, os quais conhecida desde a escola, de uma aventura maravilhosa em um país incrível. Foi como ter estado dentro de uma reportagem da National Geographic, daquelas que tanto gostava de assistir na televisão enquanto comia. Um safari em um 4x4 seguindo o rastro das grandes migrações de gnus, fotografando as manadas de elefantes ou vendo os famosos leões a poucos metros de distância em plena savana selvagem africana. Vimos lutas de hipopótamos, crocodilos à espreita em busca de uma presa, hienas ansiosas por carniça, urubus voando em círculos sobre alguma carcaça, alguns répteis estranhos, todo tipo de insetos; havíamos acampado em barracas no meio do nada, jantando à luz da fogueira com um límpido céu coalhado de estrelas… uma experiência maravilhosa. Sobretudo a visita ao Etosha National Park.

Lá embaixo, em contraste com o que vimos até agora, tudo era uma imensa mancha verde: estávamos cruzando a zona do equador. A selva o cobria totalmente. Uma exuberância verde sem fim. O objetivo da nossa próxima viagem seria algo assim, uma subida de barco pelo rio Amazonas, com paradas para desfrutar as imensas formas de vida do lugar. Já havíamos visto a imensidade de uma savana desflorestada e agora queria ver a grandiosidade de um mar de vegetação e vida transbordante. Poder avançar a golpes de facão pela selva quase impraticável, aprender como conseguir alimentos, conhecer tribos perdidas da civilização, ver animais e plantas exóticos… bem, isso seria já no ano que vem, se conseguisse convencer meus amigos; caso contrário, o norte da Itália também não me parecia nada mal.

Um forte ruído, como uma explosão, seguido de um movimento muito brusco do avião me fez despertar do mundo de fantasias. A aeronave começou a dar saltos no ar e logo parecia que estávamos em uma montanha russa. Fui parar no chão, no meio do corredor, em cima de uma senhora. Levantei-me como pude e voltei ao meu assento, tentando não cair de novo. Gritos estridentes de pânico ressoavam por todos os lados. A confusão era total.

– Fogo, fogo na asa! –gritou alguém no corredor do lado contrário ao meu no avião.

– À direita! –observou outro passageiro.

A princípio não sabia do que estava falando, mas quando olhei pela janela do meu lado pude ver uma fumaceira concentrada que fazia parecer que era noite, uma noite trágica. O avião fazia cada vez mais movimentos bruscos. Algumas pessoas começaram a gritar. No alto-falante soou a voz nervosa e quase ininteligível do piloto, que nos contava que uma guerrilha que ocorria no Congo, o qual estávamos sobrevoando, acabara de nos atingir com um míssil e que teríamos que fazer uma aterrissagem forçada. Uma mulher teve um ataque de histeria e tiveram que colocá-la sentada e presa entre duas comissárias de bordo e um homem que se ofereceu para ajudar. Nós três rapidamente nos sentamos, ajustamos os cintos de segurança e nos pusemos na posição indicada pela comissária durante a decolagem, com a cabeça entre os joelhos, olhando para o pouco alentador chão de metal. Estávamos aterrorizados. Enquanto estava nessa posição incômoda, lembrei de uma vez no noticiário em que haviam falado desses rebeldes que se financiavam porque controlavam algumas das minas de diamante do país, ou do precioso coltan, um mineral que contém um metal indispensável para a fabricação dos chips de celular, dos microchips ou componentes de centrais nucleares. Era algo assim como uma sangrenta guerra civil, na qual todos os países da região tinham interesses econômicos e militares, que já durava mais de vinte anos e que não parecia ter fim.

As sacudidelas eram tão fortes que me jogavam de vez em quando para frente com tanto ímpeto que o cinto de segurança me comprimia o estômago, me deixando com falta de ar e me fazendo golpear a cabeça contra o assento à frente. Notei como o bico do avião apontava para o solo e começava uma descida vertiginosa. O ruído era infernal, como milhares de motores funcionando a toda potência de uma vez. Logo antes de atingir o solo, o piloto emitiu um último aviso, de que iria tentar uma aterrissagem forçada em uma clareira que havia localizado. A última coisa que pensei foi que todos iríamos morrer na colisão. Logo tudo virou uma grande confusão, sons altos, golpes, escuridão…

Quando recobrei a consciência, tinha uma fortíssima dor de cabeça. Levei a mão à testa e notei que sangrava um pouco. Tinha ainda contusões e arranhões por todo o corpo; sobretudo um grande hematoma com a pele bem roxa, onde o cinto me havia apertado. Passei os dedos por cima e senti uma ardência intensa que me fez apertar os dentes com força. Olhei para os meus amigos. Juan parecia em estado de choque; emitia uma espécie de grunhidos de lamentação e se movia um pouco; Alex… Alex não se movia absolutamente; seu rosto, antes sempre alegre e cheio de vida, estava totalmente pálido, paralisado, o sangue brotando em abundância da nuca. Chamei-o desesperado, uma vez e depois outra. Toquei o seu rosto, estava muito rígido, segurei-o entre minhas mãos e o agitei levemente, chamando seu nome, implorando. Alex estava morto. Morto. Essa palavra ressoou na minha cabeça mais uma vez, como se fosse seu próprio eco. Morto.

Angustiado, dominado pela situação, tentava reagir. Na minha cabeça ecoava um bum-bum-bum, talvez por causa do golpe. Espera aí, não era a minha cabeça. Ao fundo eu ouvia o som de uns tambores em uma melodia repetitiva. Parecia que alguém estava se comunicando à distância.

– Merda! –pensei. Levantei-me cambaleante. Uma ideia surgiu na minha cabeça. Se foram os guerrilheiros que nos derrubaram, eles virão aqui e nos tomarão como prisioneiros, e pode ser até que nos matem. Era preciso fugir imediatamente. Minha primeira reação foi avisar o Alex, mas quando me virei e tornei a vê-lo, fui novamente confrontado com a sua morte. Fiquei quieto alguns segundos até conseguir voltar a reagir. Aproximei-me de Juan, que permanecia em seu assento e havia se agitado algumas vezes, como quem está tendo um pesadelo enquanto dorme.

– Juan –balbuciei– temos que sair daqui.

– E o Alex? –murmurou sem abrir os olhos.

– Alex… Alex está morto, Juan –respondi, tentando me manter de pé–. Venha, Alex está morto e nós também estaremos se não sairmos agora. Está morto.

Aos tropeços, procurei minha mochila em meio ao caos, até que a encontrei. Peguei-a e me dirigi à parte traseira do avião. Nessa parte, um lado estava em chamas e fazia muito calor. Todo o avião estava repleto de gente esparramada nas mais insólitas posições, alguns feridos, outros tentando reagir, outros mortos. Por todos os lados ouviam-se gritos, gemidos, murmúrios. Cheguei à parte da cozinha e meti na mochila tudo que encontrei: latas de sucos, sanduíches, caixas de coisas não identificadas, um garfo. Quando ficou cheia, voltei até o Juan e peguei a mochila dele, que estava em cima de uma mulher. Nessa mochila enfiei alguns cobertores do avião. Então me lembrei do estojo de pequenos socorros e voltei à cozinha. Estava ali, no chão, aberto e todo esparramado. Peguei como pude tudo o que estava próximo e voltei até o Juan.

–Vamos Juan, temos que sair daqui.

– Não posso –ele sussurrou– me dói tudo.

–Venha Juan, tem que se levantar ou vão nos matar. Vou levar as mochilas para fora e volto para buscar você.

–Está bem, vou tentar –respondeu, agitando-se um pouco no lugar.

Peguei as duas mochilas e saí ainda um pouco cambaleante pelo abalo do golpe. Tive que fazer um esforço muito grande para não parar e tentar ajudar as outras pessoas, mas não sabia de quanto tempo dispunha e queria simplesmente viver. Viver um dia mais para ver outro dia amanhecer. Estávamos em um lado de uma clareira na floresta. Pelo visto, o piloto tentou aterrissar aqui aproveitando a ausência de árvores, mas se desviou um pouco; havia perdido a asa esquerda ao se chocar contra as árvores grandes. Do avião saía uma grade coluna de fumaça até o céu, permitindo que fosse vista num raio de muitos quilômetros. Adentrei o mato um pouco e deixei as mochilas ao pé de uma grande árvore. Logo me voltei com a intenção de retornar ao avião, mas nesse instante, um grupo de homens negros armados invadiu a clareira pelo lado contrário ao que eu estava. Abaixei-me rapidamente, me escondendo atrás de um tronco. Notei uma pontada de dor no estômago. Os guerrilheiros, alguns vestidos com roupa de camuflagem e outros com roupas civis, rodearam o avião apontando com suas armas e gritando sem parar. Não entendia nada do que diziam, mas pela região em que estávamos devia ser suaíli ou sabe-se lá o que.

– Nitoka! –gritavam de vez em quando. Enyi!, nitoka!, maarusi![1 - Língua suaíli: nitoka, enyi!, maarusi!: Vocês! Saiam, depressa!]

Logo começaram a sair alguns passageiros do avião, desconcertados e confusos. Foram jogados ao chão sem contemplações e registrados conscienciosamente. Foram chegando mais rebeldes. Um dos passageiros, um homem que havia estado sentado à nossa frente, ficou nervoso e se levantou, tentando sair correndo. Os guerrilheiros dispararam diversas rajadas com suas metralhadoras, fazendo com que caísse morto no mesmo instante. Durante esse momento de confusão, Juan saiu do avião e começou a correr na direção contrária de onde todos tinham as atenções voltadas.

– Basi![2 - Língua suaíli: basi: alto!], Basi! –gritaram alguns rebeldes quando o descobriram.

– Nifyetua![3 - Língua suaíli: nifyetua!: atirem!] –gritou o que parecia ser o chefe, quando Juan estava a ponto de alcançar a borda da clareira.

Então dois deles o metralharam pelas costas sem mais demora. Algumas balas passaram por cima de mim assobiando. Abaixei a cabeça e fechei os olhos com força, com a crença estúpida de que isso poderia me salvar das balas. Caiu de joelhos a apenas cinco metros de onde eu o observava e, antes de cair por completo, chegou a me ver abaixado e me dedicou seu último sorriso.

– Nitoka, maarusi! –seguiram gritando até o avião.

Não precisei fazer muito esforço para gritar, já que fiquei completamente mudo e paralisado. Não sei quanto tempo fiquei assim, mas quando consegui reagir, soube com certeza que apenas me restava uma saída: fugir para salvar a vida. Peguei as duas mochilas e me afastei adentando a frondosidade da selva com o máximo de cautela que me foi possível, o que era pouco, já que levava tombos, e com o corpo todo dolorido, era incapaz de controlá-lo totalmente. Não sabia para onde me dirigir, mas tinha noção de que quanto mais distância desses selvagens, mais probabilidades de viver eu teria.

Caminhei por quase duas horas, impulsionado pelo pavor, pelo medo de morrer, até que minhas pernas não resistiram mais e caí ao solo, desmaiado. As mochilas me pareciam estar carregadas de pedras. Meu joelho esquerdo doía com tanta intensidade; desde que me machuquei jogando futebol nunca me recuperei totalmente e ainda me dava problemas de vez em quando, quando o forçava. Abri minha mochila e tirei uma lata de suco. Ainda estava fresca e bebi com avidez. Transpirava copiosamente; gotas de suor escorriam torrencialmente pelo meu queixo, como se tivesse acabado de chover ou se tivesse saído de uma piscina. Sentia falta de ar e abria a boca tentando aspirar grandes lufadas de ar. Engasguei-me com um sorvo um pouco mais rápido, comecei a tossir fortemente e pensei que me afogava. Quando consegui me tranquilizar um pouco, ainda ofegante, me dei conta de que havia menos luz, estava anoitecendo. Alex morto no acidente, Juan crivado de balas; meus dois melhores amigos perdidos em um pequeno instante devido à estupidez de uma guerra civil que não entendia e que não me importava. Por que não se matam uns aos outros? Por que nos matar? Por que meus amigos, Alex e Juan? Idiotas! Se dependesse de mim, poderiam se explodir, todos eles. Por culpa deles estava agora sozinho, nesta merda de lugar, úmido, acabrunhante, asfixiante, sem meus amigos. Por que eu, por que eles? A morte de Juan, metralhado por esses selvagens passava de vez em quando pela minha cabeça, como se fosse um filme. A luz de seus olhos se apagando naquele último olhar que ele me lançou… Tentei não pensar nele, escondê-lo em algum recôndito de minha mente, mas não havia como. Há duas horas estávamos juntos, rindo enquanto recordávamos as histórias da viagem, e agora…

Estive chorando por um bom tempo, não sei quanto, mas me fez muito bem. Quando consegui parar estava muito melhor, no mínimo mais tranquilo. Já era evidente que estava anoitecendo, a selva em penumbras entrava no mundo das trevas. Devia buscar um lugar para dormir. Sentia medo de dormir sozinho, sobretudo de que os rebeldes me encontrassem, mas dormir sobre uma árvore também não me tranquilizava, com serpentes, esses macacos escandalosos ou vai lá saber que fera selvagem e faminta. Precisava decidir, serpente ou homens armados e enfurecidos? As serpentes me pareceram melhor opção, ao menos ainda não me tinham feito nada. Busquei uma árvore que me parecesse fácil de escalar, difícil para as serpentes e com algum lugar onde pudesse me acomodar para dormir.

Foi nesse momento em que me dei conta da incrível quantidade de tipos de árvores e plantas que havia. Desde as menores plantas, quase minúsculas até árvores de mais de cinquenta metros cujos troncos sobressaíam por cima dos demais sem conseguir ver o final, toda uma amálgama de classes distintas de flora salpicadas por toda parte; incluindo altíssimas palmeiras de folhas desfranjadas pintadas e de vários metros de largura com grupos compactos e densos de flores[4 - Flora: Dendezeiro, Elaeis guineensis]. Havia uma camada superior de árvores de uns trinta metros com algumas que emergiam muito por cima, depois uma segunda camada de uns dez ou vinte metros de altura com forma alargada como os ciprestes de nossos cemitérios e

uma terceira camada de cinco a oito metros de altura onde chegava muito menos luz. Havia ainda arbustos, exemplares jovens de tipos diferentes de árvores, ainda que poucos, e uma camada de musgo que o cobria quase por inteiro em algumas partes, igual a um amontoado de cipós subindo por todos os troncos, pendurados de todos os galhos. Flores e frutos em todos os lados, principalmente nas camadas mais altas, inalcançáveis para mim. Também se notava todos os tipos de animais. Não era fácil vê-los, mas podia ouvir inúmeros tipos de piados de pássaros, gritos de macacos, ramos agitando-se acima de mim devido à movimentação deles, insetos zumbindo ao redor das flores por todos os lados, inclusive algum animal terrestre cujas pisadas eu escutava como um ruído distante. As borboletas e o resto dos insetos esvoaçavam por todos os lados. Se não fosse pela situação em que estava, teria desfrutado de um lugar tão bonito, mas nesse momento tudo era um obstáculo em potencial para a minha sobrevivência. E tudo me dava medo.

Após uma breve busca encontrei uma que me parecia adequada e subi com as duas mochilas nas costas. Pareciam pesar uma barbaridade e meus joelhos suplicavam por descanso. Quando estava alto o bastante para me sentir seguro, mas não para me acidentar ou me ferir gravemente quando a noite caísse, coloquei-me como pude entre dois galhos grossos que iam quase paralelos e me cobri um pouco com uma das mantas pequenas que havia trazido do avião, e a outra fiz de almofada. No céu, pude vislumbrar uma incrível quantidade de grandes morcegos marrom-escuros, agitando-se dessa forma característica que têm de esvoaçar aparentemente errantes e movendo-se por impulsos[5 - Fauna: Morcego cor-de-palha, Eidolon helvum]. Não sabia como contá-los, pois devia haver milhares, pairando principalmente sobre as palmeiras, comendo seus frutos, eu imaginava, ou caçando os insetos que comiam os frutos.

Devo ter dormido duas horas em pequenos intervalos de quinze ou vinte minutos. Os ruídos me atormentavam de todas as direções, não fazia mais que ouvir passos, vozes, gritos, rosnados, guinchos agudos, zumbidos, sussurros, um murmúrios constante que aumentava e baixava sem cessar. Até mesmo me pareceu escutar o grito agonizante de um menino várias vezes e o barrido de elefantes. Não sabia se podia ser o que parecia, ou se somente parecia. De vez em quando se ouvia algum rugido bastante inquietante, que me fazia imaginar alguma fera selvagem me devorando enquanto eu dormia. Por alguns momentos a angústia me impedia de respirar, apertando meu coração até quase me causar dor. Cada som, cada movimento, tudo o que ocorria ao meu redor era um tormento, uma sensação de angústia opressora. Quando conseguia cair no sono em algum momento, qualquer coisa me obrigava a despertar assustado. Às vezes via olhos brilhando na noite tétrica e, para tentar me encorajar, pensava que era uma simples coruja ou seu parente mais próximo que houvesse por esses lares, mas essas tentativas de me manter positivo duravam pouco e sempre acabava vendo felinos com intenções inescrupulosas ou alguma serpente perigosa à caça. Outras vezes me parecia ouvir disparos próximos, rajadas intermitentes, mas se escutava com atenção não conseguia ouvir nada.

– Javier –ouvi como Alex me chamava.

– Oi, cadê você? –disse, despertando de um sobressalto.

– Javier –tornei a ouvir.

Olhei em todas as direções, angustiado, expectante, ansioso por ver meu amigo. Até que me dei conta de que Alex estava morto e que me encontrava sozinho e sem ajuda no meio da selva. Isso me assustava; não poder contar com ninguém que pudesse me auxiliar, com quem compartilhar minha dor deste momento, meu desespero. Não devia me deixar levar pelo pânico, tinha que expulsar os maus pensamentos da minha cabeça para poder sobreviver, mas não conseguia. Uma sensação sufocante de solidão me obrigava a me aprofundar em meus medos.

– Javier, Javier.

Durante toda a noite sua chamada foi constante, inquisitiva, atraente. Teria ido com ele, se soubesse aonde ir.

DIA 2

SOBRE COMO DESCUBRO AS MARAVILHAS DA SELVA

– Não, não o matem! –gritei, agitando-me convulsivamente e causando minha queda da árvore com um ruído abafado.

Agitei-me de um lado para outro, fugindo de meus próprios fantasmas, ignorando a dor da queda. Olhei para todos os lados totalmente desorientado e fiquei quieto momentaneamente, encolhido, gemendo como um animal gravemente ferido. Enquanto esfregava as costas machucadas me dei conta de que havia sido um pesadelo, um pesadelo muito realista, já que havia sonhado que voltava a vivenciar a morte de Juan, a colisão do avião, outra vez o corpo inerte de Alex entre minhas mãos. O suor me escorria pelo rosto, minhas mãos tremiam. Respirei fundo por um momento e decidi me mover, somente desejava me distanciar o máximo possível do avião em que havia perdido parte da minha vida. Meu passado era terrível, meu futuro desolador.

Doíam-me muito as costas pela posição que havia tomado, pela queda ou por ambas as coisas ao mesmo tempo, e estava um pouco trêmulo. Subi lamuriante para pegar as mochilas e me dei conta de que a mochila com a comida havia sumido. O pulo que dei com o susto quase me derruba da árvore novamente. Sem essa mochila não teria nada que fazer. Procurei assustado por entre os galhos e, quando supus que nunca a encontraria, vi que estava caída ao solo com todo o seu conteúdo esparramado. Possivelmente eu a havia jogado, arrastando-a na minha queda ou me movendo durante a noite. Desci cuidadosamente com a outra mochila no ombro e recolhi tudo o que localizei: três latas de refresco, um sanduíche de linguiça, uns biscoitos mordiscados e cheios de formigas, uma caixa com saquinhos de sal para usar nas saladas e duas caixas, que eram de marmelo. O resto havia desaparecido, suponho que tenham sido levados por animais. Isso me fez concluir que havia caído durante a noite.

Decidi fazer um inventário de tudo o que levava para ver o que me podia ser útil e tirar o que não o seria. Não havia sentido em carregar peso inútil e eu precisava saber de que meios podia dispor. Na minha mochila, além da comida, levava a navalha que havia comprado para o meu pai, todas as figuras de madeira, um livro de viagem sobre a África Central, um pacote de lenços de papel, binóculo 8x30, um gorro de tecido cáqui e uma camiseta onde se lia "I love Namibia". Do estojo de remédios me restavam uma caixa de aspirinas pela metade, uma caixa inteira de antidiarreico, uma bandagem, três curativos adesivos e alguns comprimidos contra enjoo. Além, é claro, da documentação. Na mochila de Juan também estava a documentação dele, e além disso, três mantas e um travesseiro do avião, um pequeno livro com frases em suaíli, seus óculos de sol, um boné, umas barrinhas de chocolate, uma garrafa plástica de água de um litro quase vazia, um garfo, uma grande figura de madeira de um elefante e várias menores, um maço de cigarros quase cheio e um isqueiro.

No entanto, não podia carregar duas mochilas, de modo que guardei tudo na minha, que estava em melhores condições, exceto uma das mantas, o travesseiro que ocupava muito espaço e todas as figuras de madeira, inúteis nesse meio; enterrei tudo e tampei com folhas secas do chão. Enquanto ia descartando algumas coisas, lembrava das pessoas para quem elas eram destinadas; Elena, minha família, meus amigos, Alex, Juan… e não tardei a começar a chorar de novo. Nunca mais voltaria a vê-los, nenhum deles. Bem, Alex e Juan eu veria logo, no paraíso ou aonde quer que se vá depois de morto.

As barras de chocolate comi nesse momento, derretidas pelo calor, limpando a embalagem com a língua até que não sobrasse nem rastro. Estava delicioso. Também bebi a pouca água que restava na garrafa. Foi então que me dei conta de que teria que parar um pouco para refletir quais seriam os próximos passos que devia dar. Algumas perguntas sugiram em minha mente: Os rebeldes sabiam que eu estava vivo? Para onde deveria ir agora?

Com respeito à primeira pergunta não tinha resposta. Na melhor das hipóteses haviam conseguido que algum passageiro confessasse que me havia visto, ou procuraram nas redondezas e encontraram minhas pegadas ou a lata que joguei no chão depois de beber (isso foi um grande erro, ainda que naquele momento tivesse que fugir), ou estavam por todos os lados e me encontrariam de qualquer jeito, ou não sabiam de nada. Fosse o que fosse, a partir de agora deveria tentar ser mais cuidadoso e deixar menos rastros possíveis por onde passasse.

Com respeito a para onde me dirigir. Parecia me lembrar que desde o avião, durante a aterrissagem vertiginosa, vi que havia um povoado no horizonte e uma grande clareira na selva. O que não sabia era se seria a base dos rebeldes ou não, mas era muito provável que fosse, já que estava muito próxima de onde nos haviam atacado. Como íamos do sul da África para o norte, devia supor que indo sempre na direção norte eu sairia da selva, chegaria a outro país e teria mais possibilidades de encontrar ajuda. Como sentia falta dos meus amigos nesse momento! Agora me cairiam muito bem o entusiasmo, o otimismo e a alegria abundante de Alex e a capacidade de análise fria, a serenidade e o poder de decisão do Juan. Como precisava da companhia deles para me encorajar e enfrentar este desafio que se apresentava de forma inevitável! Com eles isto seria mais fácil, inclusive seria uma aventura para contarmos na volta; mas estavam mortos, assassinados, exterminados sem piedade como moscas sem valor, aniquilados na melhor fase da vida… e eu teria que sobreviver conforme possível. Desgraçados, filhos da…! Calma, Javier, calma, devia tentar manter a calma. Era minha única opção para ter alguma chance. Bem, supomos o sol nascendo no leste e se pondo ao oeste, e sabendo que amanheceu mais ou menos por esse lado… deveria andar naquela direção. Se com esse sistema de orientação chegasse a algum lugar não seria habilidade e sim milagre. De todos os modos, para me assegurar, subi cuidadosamente em uma das árvores mais altas que pude ver.

Foi fácil, já que ela tinha muitos galhos para usar como degraus, ainda que quanto mais subia, menores e mais flexíveis eles se tornavam. Assim, tive muito cuidado em ir pisando justamente na base dos ramos, que é a parte mais larga e resistente. Sobressaía por cima da maioria e quando cheguei ao topo a paisagem era estarrecedora. Um mar verde se estendia em todas as direções como um tapete, subindo e descendo, seguindo o contorno do solo, imitando as ondas, uma vasta extensão de vida. Apenas algumas árvores solitárias muito mais altas do que o resto se destacavam na imensidão desse tapete formado pela fronde das copas infinitas da selva. Não via mais que copas de árvores em todas as direções, sem fim. Nem com ajuda do binóculo consegui ver alguma coisa por lado nenhum. De fato isso não me ajudava em nada na busca de que direção seguir. Desci da árvore e escondi a mochila de Juan com tudo o que deixava nela meio enterrada debaixo de um tronco caído. Em um último momento decidi ficar com a girafa para Elena, caso voltasse a vê-la gostaria de ter um presente para ela. Dei uma última olhada ao redor para comprovar que não deixava sinais claros da minha presença e, quando estava mais ou menos convencido, comecei a andar sem muita esperança. Como precisava de meus amigos!

Durante toda a caminhada encontrei uns pássaros coloridos com peitos vermelhos chamativos e o resto do corpo esverdeado[6 - Fauna: Surucuá (Trogon) de narina, Apaloderma narina]. Revoava um bando de uns doze ou quinze entre os galhos das árvores com incrível agilidade. Quando fiz um algum ruído, desapareceram de minha vista em um instante. Somente esses belos animais me tiraram por um momento da sensação esmagadora de solidão com que a selva me golpeava implacavelmente: um mundo opressor, hostil, impiedoso, na sombra permanente de que a agonia, o cansaço e o sufoco não eram mais que companheiros habituais da viagem.

O caminho era difícil. Constantemente tinha que dar voltas ou saltar obstáculos. Às vezes havia pequenas clareiras, mas as circundava com medo de ficar muito visível. Suava sem parar e tinha muita sede, mas não queria tomar outra lata pois só me restavam três. Devia estar fazendo uns 25°C com altíssima umidade, o que fazia com que a angústia e o calor aumentassem. Durante um tempo tirei a camisa, mas tantos mosquitos me picaram que tive que vesti-la novamente. Em alguns momentos o pequeno bosque ficava tão espesso que tinha que abrir caminho com uma vara que havia catado e que fazia as vezes de facão. Nesses casos, praticamente não avançava, já que com a vara o máximo que conseguia era afastar os galhos do caminho enquanto passava, e não cortá-los. Além disso, tinha a parte baixa das pernas e os antebraços cheios de feridas produzidas pelo roçar contra as plantas naqueles lugares onde a roupa não me cobria. O rosto também me ardia em diversas partes, sinal de que também o tinha cortado.

Às vezes o chão estava cheio de ramos ou troncos derrubados, outras vezes o solo era macio, coberto de folhas caídas e eu tinha que andar com cuidado para não torcer um tornozelo em algum buraco ou deslizamento, porque isso seria fatal. Em algumas zonas, as copas das árvores se juntavam tanto que impediam a passagem da luz, criando ambientes de luz e sombras certamente desalentadores; ou formavam vários planos de luz de matizes distintas de acordo com as alturas. Nessas partes eu passava assustado porque tinha a impressão de me ver constantemente atacado por fantasmas, que na realidade eram os galhos mais altos das árvores movendo-se ao som do vento que devia haver no trecho verde da selva e que, de passagem, fazia com que produzissem um uivo assustador que me atormentava por todos os lados. Várias vezes a selva se espessava tanto que era absolutamente impraticável e era preciso dar grandes voltas para seguir avançando. Nunca imaginei que fossem possíveis tantas plantas diferentes juntas. Já não via o romantismo em andar pela selva como os exploradores, aliás, desejava sair o quanto antes deste lugar. Além do mais, como geralmente andava fazendo muito barulho, tinha o coração apertado, pensando que se estivessem me seguindo seria muito fácil me localizar.

Mesmo havendo na noite um ruído incessante por todos os lados, não era o mesmo ruído, mas também se ouvia o zumbido de insetos, cantos estranhos de pássaros na copa das árvores e alguns gritos que supunha fossem de macacos ou algo assim. Ao menos não se ouviam os rugidos inquietantes, que deviam ter sido de algum caçador noturno, ou assim eu queria acreditar. Não via muitos animais, mas podia sentir todos eles.

Olhei a hora no meu relógio. Eram dez da manhã. Estava andando há uma hora e não conseguia mais. O joelho já começava a enviar sinais de aviso, notava como estava um pouco inflamado. Várias vezes os ligamentos, ou algo que o valha, haviam se deslocado e eu tinha que colocá-los com a mão de novo no lugar, massageando suave porém firmemente. Sentei-me no chão para descansar um pouco, apoiado em um tronco de uma árvore altíssima e esfreguei o joelho com as mãos. O calor me forneceu um certo alívio. Estava em uma zona bastante clara. Quando passei um tempo sentado, vi em um galho de árvore em frente a mim um pássaro[7 - Fauna: Papagaio cinzento, Psittacus Erithacus] parecido com um papagaio de plumagem azulada fosca, cuja única nota de cor era o vermelho de seu pescoço, com uma aréola branca ao redor dos olhos, o bico negro e que emitia chiados quase humanos. Girava a cabeça em praticamente todas as direções sem mover o resto do corpo, me fazendo lembrar a menina de O Exorcista. Aproximou-se bamboleante de um fruto da árvore e começou a bicá-lo. O fruto era de cor avermelhada-alaranjada, do tamanho de uma mão e com forma semelhante à abóbora.