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Apaixonada Pelo Espião Americano
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Apaixonada Pelo Espião Americano

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– Por que você está usando uniforme francês? – Eles tiveram que cortar um bom pedaço dele. Tudo o que ficou foi a calça.

Ele suspirou.

– É complicado.

Victoria temia saber exatamente o que ele não estava dizendo com aquelas palavras. William era um espião. Parecia um pouco fantasioso, mas era a única coisa que fazia sentido. Por que mais um americano estaria na guerra quando não tinha nenhuma razão para estar?

– Posso ver. – Ou ele era muito corajoso ou incrivelmente idiota. De alguma forma ela acreditava que um pouco dos dois. Mas, mesmo assim, respeitava-o por seus esforços. Aquela era uma guerra terrível e sem sentido. Bem, todas as guerras eram sem sentido, mas isso não vinha ao caso. Era naquela guerra que eles estavam e as outras não significavam nada para ela. Eram história e pareciam fictícias. William tinha um papel que podia ajudá-los a vê-la acabar mais cedo que mais tarde. Entendia os motivos por trás de se ter espiões. Mesmo odiando a guerra, não odiava a ele. Cada pessoa tinha um papel a desempenhar e não iria depreciá-lo pelo o que ele tinha que cumprir.

– Tenho certeza que sim.

– Eu lhe prometo – começou ela. – Entendo muito mais do que pode imaginar. – Victoria prendeu o olhar dele. – Estamos na guerra, e vi muitas coisas desde que nossos caminhos se cruzaram. – Fazia menos de seis meses que o vira, mas parecia fazer uma vida. Ela se endurecia um pouco a cada vez que ajudava em uma cirurgia. E tinha visto tanto, tanto sangue. Victoria não pensava que alguma vez seria capaz de apagar tudo o que vira, não tão cedo. Esses eventos poderiam muito bem assombrá-la pelo resto de seus dias…

Ele fez que sim.

– É melhor não falarmos disso. – William parecia entender. Aquilo era bom.

– Manterei meus pensamentos para mim mesma. – Ela ficou de pé e olhou para ele uma última vez. – Descanse. Você precisa sarar.

Victoria se afastou dele. Já tinha fortes sentimentos pelo homem, e se passasse muito mais tempo com ele, acabaria se apaixonando, e se apaixonar por um espião… aquilo só levaria à miséria. Muitos espiões não voltavam da guerra, e os que voltavam, nunca mais eram os mesmos.

Dezembro de 1915

William puxou o casaco e o abotoou. Precisava ir a um lugar, e faltava meio dia de caminhada para chegar ao seu destino. Tinha a sensação de que seu colega espião estava fazendo o mesmo. Quando lorde Julian Kendall o visitara em Nova Iorque, William não percebera que o cavalheiro era parte da rede de espiões britânica. Aquela informação teria sido útil. Poderia ter feito algumas perguntas pontuais ao amigo e talvez exigido que ele ficasse longe de sua irmã, Brianne. Odiava pensar em sua irmã se apaixonando por alguém que estava sempre se colocando em perigo.

– Para onde você está indo? – perguntou Julian.

William ergueu uma sobrancelha.

– Paris.

– Oh, mesmo? – disse Asher, o marquês de Seabrook. – Estamos dando as ditas pernadas um no outro?

Ele riu e respondeu:

– Mais ou menos… estou indo para um hospital de campanha para visitar certa enfermeira que eu vim a, bem, não sei as exatas palavras para definir o que sinto por ela.

– Ash pode imaginar – disse Julian. – Eu mesmo não me interesso por enfermeiras. – Ele bateu continência para William. – Boa caçada, meu amigo. Eu o acompanharia, mas preciso me certificar de que este tolo chegue vivo a Paris. Ele se mete em problemas com muita frequência.

William meneou a cabeça.

– Se precisarem de mim.

– Sabemos como encontrá-lo – respondeu Julian. – Vá ver a sua enfermeira. Já, já chegará o Natal, e não queremos perder o tempo que nos resta em algo tão idiota quanto a guerra. Há coisas que são muito mais importantes.

William, naquela hora, quis perguntar o que ele sentia por Brianne. Será que Julian amava a sua irmã? Mas segurou a pergunta. No futuro haveria mais tempo para interrogar seu amigo. Julian era um bom homem, e se não fosse pela guerra, teria ficado feliz se ele cortejasse sua irmã. Mas já que estavam em uma guerra, queria que Julian se mantivesse à distância. Era egoísmo de sua parte querer passar tempo com Victoria, e não permitir que Julian tivesse a mesma oportunidade. Embora devesse admitir que o amigo parecia muito triste ultimamente. Julian não parecia mais ter aquela alegria interior que costumava ter. William imaginou o que aconteceu com ele, mas se Julian quisesse que ele soubesse, ele já teria confessado.

Não podia deixar de pensar sobre o lugar para onde estava indo ou se a missão se provaria perigosa. William continuou em frente com um único objetivo em mente: ver Victoria.

– Alto – gritou alguém, em alemão. William xingou baixinho. Aquela era a sua sorte, e é claro que ele estava usando um uniforme francês. Ainda faltava uma hora e meia para chegar ao hospital de campanha.

Virou-se lentamente e encontrou o olhar do soldado alemão. Ele segurava uma pistola, e ela estava apontada diretamente para William.

– Não nos apressemos – disse ele ao homem. – Eu não quero ser alvejado hoje.

Uma litania em alemão saiu da boca do soldado. O entendimento que William tinha da língua era bem limitado. Julian entendia muito mais que ele. Havia uma razão para William não sair da França com frequência. Ele era melhor no francês e no italiano. Deveria tentar arranhar o alemão se esperava que essa coisa de espionagem desse certo.

– Infelizmente, não entendi absolutamente nada – disse ao soldado, e deu um passo à frente.

Ele cuspiu mais algumas frases, mas dessa vez as falou com raiva. William ficou farto e fechou a curta distância entre eles. Eles lutaram pela arma, e ela disparou um estampido alto. Aquilo traria mais soldados. William tinha que pôr um fim à refrega e sair dali o mais rápido possível. Deu uma cotovelada no estômago do soldado, e ele se curvou.

O homem puxou uma faca e a brandiu em direção a William, mas não foi rápido o bastante. Ela lhe deu um talho no flanco e uma dor aguda o invadiu. William gemeu e o socou no nariz. O soldado caiu, e William o chutou com força, então o socou na cara mais uma vez. Os olhos dele rolaram, e o homem perdeu a consciência. William soltou um suspiro de alívio e correu o mais rápido o possível para longe dele. Quanto mais se afastasse do soldado, melhor.

Assim que se sentiu seguro, diminuiu o ritmo e começou a andar mais devagar. O flanco doía por causa do ferimento, mas não parou para ver o estado dele. Victoria iria costurá-lo assim que ele chegasse.

William correu para o hospital de campanha no qual Victoria estava baseada assim que o viu. Fazia sete meses desde que a vira pela última vez, e mal podia esperar para tê-la nos braços. Ela tinha sido muito atenciosa quando foi sua enfermeira. Tinha até mesmo ralhado com ele alguma vezes por ter conseguido levar um tiro. Ela era maravilhosa, e ele a adorava. Victoria não ficaria feliz quando visse que tinha conseguido ser fatiado por uma faca.

Às vezes, arrependia-se por ter se metido na guerra. Especialmente por seu país ainda não ter se juntado a ela. William acreditava que eles se juntariam, em algum momento, e queria já estar posicionado antes que isso acontecesse. Sentia que precisava fazer a sua parte em tornar o mundo um lugar mais seguro. William tinha um forte senso de dever.

Victoria saiu da tenda e puxou uma capa de lã ao redor de si. Ela tremia um pouco e esfregava as mãos. O cabelo louro estava puxado para trás, preso em uma longa trança que caía até o meio de suas costas. William foi até ela. Victoria ergueu o olhar enquanto ele se aproximava e franziu o cenho até que o reconheceu.

– William.

Ela correu até ele e o abraçou com força.

– Por que não me disse que estava vindo?

– Não soube até hoje cedo, e quis fazer uma surpresa. – Ele se encolheu quando ela o abraçou com mais força. O ferimento no flanco estava doendo bastante.

– O que é isso? – perguntou ela, dando um passo para trás. Victoria abriu o casaco dele e olhou. O sangue tinha encharcado a camisa de linho. Victoria suspirou. – Por que você sempre chega ferido?

– Não estava nos meus planos, posso garantir. – Ele lhe lançou um sorriso. – Tive um pequeno desentendimento com um alemão enquanto vinha para cá. Ele queria que eu ficasse, mas, infelizmente, precisei insistir que ele me deixasse vir vê-la. Espero que perdoe a minha aparência. Não era assim que eu planejava chegar.

– Venha comigo – ordenou ela. – Cuidarei do ferimento, e você poderá me contar tudo o que aconteceu desde a última carta.

Eles foram em direção à tenda do hospital e ela o conduziu até os fundos. Ela fez sinal para que ele se sentasse em uma das macas e pegou os suprimentos para cuidar do ferimento.

– Tire o casaco e a camisa. Preciso dar uma boa olhada no corte.

– Você está tentando me ver nu, não está? – disse ele, despreocupado.

Victoria olhou feio para ele.

– Pode acreditar em uma coisa, essa não é a minha intenção.

– Eu não quis dizer… – Ele suspirou. – Essa foi a minha lamentável tentativa de desanuviar as coisas. – William não estava lidando muito bem com a situação. Victoria parecia um pouco aborrecida com ele. Ela o cutucou, e ele deu um salto.

– Desculpa – disse ela. – Não parece muito profundo. Você teve sorte; não vai precisar de pontos. Vou só fazer um curativo e então estará bom para ir.

Ela trabalhou em silêncio até que cobriu o ferimento. Quando terminou, ela se afastou e lavou as mãos em uma pia ali perto.

– Ficará por muito tempo?

Por que ela lhe perguntou isso?

– Você quer que eu parta?

– Não foi o que eu disse… – Victoria afastou o olhar.

William ficou de pé e a puxou para si. Ela veio para os seus braços e apoiou a cabeça em seu ombro. Queria confortá-la, mas chegou à conclusão de que aquilo era exatamente o que ele precisava. Abraçá-la e assegurar-se de que ela estava bem. Aquilo era tudo o que queria. Que Victoria estivesse segura e feliz…

– O que posso fazer por você?

– Já está fazendo – disse ela. – Mas talvez eu deva permitir que você termine de se vestir. – Victoria olhou para a camisa ensanguentada. – Tem outra camisa para vestir?

– Não – disse ele. – Mas está tudo bem. Não me importo em usar a camisa suja por agora. Posso pegar outra mais tarde. – Não sabia onde, mas aquilo não importava. William não queria que ela se preocupasse. – Venha caminhar um pouco comigo.

– Eu adoraria – disse ela, pegando a mão dele. Eles saíram da tenda e foram em direção às árvores. Estava frio, mas ele nem reparou. Ela estava com ele, e aquilo fazia todo o resto desaparecer.

Passou a tarde com ela, e por algumas horas, ele ficou feliz. Foi capaz de esquecer que estavam na guerra, que tinha sido ferido mais cedo, e que teria que partir em breve. Ela lhe dava razão para ficar e lutar e esperar que, um dia, eles nunca mais se separassem.

CAPÍTULO TRÊS

Fevereiro de 1916

Victoria suspirou enquanto saía do trem. Finalmente, estava em Paris. Teve o suficiente dos hospitais de campanha por uma vida. Não sabia o que esperar no hospital da capital francesa, mas ao menos não seria forçada a andar, frequentemente, pela lama. Aquilo tinha que ser uma melhora. Não que as coisas no lamaçal estivessem aquecidas esses dias… A lembrança daquilo estava cravada em sua mente. Ela tinha começado a odiar de verdade qualquer coisa que se parecesse com mistura de pó e água.

Ela pisou na plataforma. Era um milagre os alemães ainda não terem destruído totalmente a linha férrea. Esperava que, em algum momento, viajar de trem fosse ser impossível. Ao menos não tinha sido forçada a caminhar até Paris.

Levou a mão ao bolso e tirou de lá um maço de cartas. Talvez não devesse tê-las conservado, mas era tudo o que tinha de William. A correspondência entre eles era parca e espaçada. Ele nem sempre estava em um lugar para que ela pudesse respondê-las, mas ele enviava muitas. Victoria temia por ele, e seu coração se quebrava por saber que não tinha certeza de quando voltaria a vê-lo. A mão tremia enquanto as colocava de volta no bolso. Estava tentada a abri-las e ler as palavras novamente, mas aquela não era a hora.

Não era a primeira vez, e provavelmente não seria a última, que se perdia nas cartas. Era um péssimo hábito ao qual teria que pôr um fim. Guardando-as no devido lugar, virou-se para a estação. Tinha que ir logo para o hospital e parar de pensar em coisas que não poderia mudar.

O baú com o qual viajara há um ano foi substituído. Seus pertences minguaram, e só tinha o bastante para preencher a pequena valise que levava consigo. Todos os seus uniformes tinham ficado puídos, e ela tinha mais três em estado decente. Esperava encontrar alguém que pudesse fazer outros. Victoria começou a ir em direção à saída. De repente, sentiu a urgência de deixar o passado para trás.

De alguma forma, conseguiu chegar ao hospital e então entrou. Ninguém a deteve ou perguntou por que ela estava ali. Todo mundo parecia ter algum lugar para onde deveria ir correndo. Victoria ergueu a mão tentando chamar a atenção de alguma das enfermeiras, mas a ignoraram. Suspirou e foi até o saguão principal. Eles pareciam estar lotados. Soldados enchiam as camas da enfermaria, e sendo atendidos pelo pessoal.

Uma mulher veio até ela. Os cabelos castanhos-avermelhados estavam presos em um coque apertado. Os olhos enrugavam nos cantos, como se ela estivesse lutando contra a exaustão.

– Posso ajudá-la? – perguntou a enfermeira.

– Sou Victoria Grant – disse ela. – Fui alocada neste hospital.

A mulher suspirou aliviada.

– Obrigada, Senhor. Você não poderia chegar em melhor hora. Estamos trabalhando à exaustão tentando cuidar de todos os feridos. – Ela apontou para o hospital lotado. – A maior parte é de pacientes novos, mas eles já foram examinados pelos médicos, e é nossa responsabilidade nos certificar de que eles estejam sendo cuidados. – Ela lhe lançou um sorriso vacilante. – Eu me chamo Catherine Langdon. Venha, vou lhe mostrar o seu quarto, e, se não se importar, nós poderíamos fazer um bom uso de você agora mesmo.

– É para isso que estou aqui – respondeu Victoria. – Prefiro ser útil a sentar por aí, ociosa, observando todo mundo trabalhar. Mostre-me onde guardar as minhas coisas, e posso começar a cuidar dos soldados agora mesmo. – Era aquilo que ela fazia, afinal de contas… Seu lugar era ali. Onde era necessária. Não sonhando acordada com um homem com quem jamais teria um relacionamento de verdade.

Abril de 1916

Victoria se acomodara no hospital de Paris sem maiores problemas. Gostava do calor e da falta de sujeira que experimentou nos hospitais de campanha. Tinha começado a gostar muito do gato de Catherine Langdon, o Merlin. Embora jamais fosse dizer aquilo à mulher. É só que havia alguma coisa naquele gato… Ele era uma bola macia de pelos pretos e ele até mesmo parecia ter uma barba prateada assim como o legendário Merlin. O pelo prateado no peito lhe dava uma aparência majestosa. Era uma combinação interessante: um monte de prata em contraste com o pelo preto. Talvez o gato fosse o próprio Merlin…

Victoria não queria especular. Até mesmo a dona dele, Catherine, era meio estranha. Ela lhe dizia as coisas mais esquisitas de vez em quando. Era quase como se ela pudesse prever o futuro… Uma parte dela queria perguntar, sem fazer rodeios, se ela podia, mas Victoria tinha medo de saber. Não queria estar a par do que o futuro lhe reservava.

Hoje fazia um dia bonito. O hospital estava indo bem, e eles deram alta a vários pacientes. Victoria tinha um pouco de tempo para si pela primeira vez em… bem, não podia se lembrar da última vez. Então decidiu passear por Paris enquanto a cidade estava calma e aproveitar o calor do dia de primavera. Podia não haver mais muitos dias como aquele. Não podia deixar de imaginar o que William estava fazendo. Será que ele também estava aproveitando o dia?

– Victoria – um homem gritou o seu nome. Ela se virou e viu William caminhando até ela. Ele usava roupas simples, um terno que um cavalheiro poderia estar usando, e parecia muito bem nele. William estava se tornando meio que um camaleão.

– Olá – disse ela, um pouco sem fôlego. Queria envolver os braços ao redor dele e se certificar de que ele era real. Que não estava imaginando que ele passeava por Paris. Ela o conjurara ao pensar nele mais cedo? É claro que não… acreditar naquilo seria uma bobagem. – O que faz em Paris?

– Tenho uns colegas que veem aqui com frequência. Vamos nos encontrar em breve. – Ele sorriu para ela. – Mas encontrá-la aqui era uma bênção que eu não esperava.

– Um, sim – disse ela, desinteressada. Victoria queria ficar feliz por vê-lo, e parte dela estava, mas não podia deixar de temer o que futuro deles, isso se tivessem um, poderia trazer. Ele ainda era um espião. Voltou a colocar a mão no bolso e passou os dedos pelas cartas. Seu coração nunca o deixaria ir, não de verdade, e isso fazia com que ela fosse ainda mais tola. Tinha cometido a bobagem de se apaixonar por ele à medida que se conheciam mais e mais. – Estou feliz por ver que você está bem. – Ela meneou a cabeça para ele e então se virou para ir embora. Foi a coisa mais difícil que já fez na vida.

Ele ergueu a mão e a colocou no braço dela.

– Não vá.

– Queria poder ficar, mas o hospital me espera. – Não podia olhar para ele ou nunca seria capaz de ir embora. William não sabia que ela estava mentindo. O hospital ficaria bem sem ela por mais algum tempo, mas não podia ficar perto dele. Não seria capaz de resistir por mais tempo. – Talvez possamos nos ver novamente, mais tarde.

Ele franziu o cenho.

– Você ficará trabalhando no hospital daqui? Nada mais de hospital de campanha?

Ela tinha sido mandada de um hospital de campanha para outro. Eles até mesmo tinham começado a parecer serem o mesmo, e sua mente tinha ficado insensível a toda a carnificina que testemunhara. O único que a fazia sentir qualquer coisa era William.

– Faz um mês que estou aqui. É duro estar nos hospitais de campanha – confessou. – Precisava de uma mudança.

– Não tenho certeza se há um lugar bom para se ficar durante a guerra. Mas deve ser um pouco mais seguro aqui em Paris. Se eu voltar a escrever, você responderá?

Ela queria dizer que sim. Tanto…

– Não sei se é uma boa ideia. – Victoria precisava tentar proteger o coração. Não podia continuar sendo arrastada para essa coisa com ele. Um medo ela conseguiria afastar, mas dois… Aquilo foi o suficiente para fazê-la perceber que se o perdesse, não conseguiria sobreviver. O ferimento a faca tinha sido simples, mas a assustou até a morte. Nenhum número de cartas a deixaria pronta para encarar algo assim novamente. Era melhor abrir mão dessa história agora antes que as coisas ficassem sérias demais. Ela fechou os olhos e engoliu em seco. Tinha tantos sentimentos por este homem, sentimentos os quais não podia nem começar a tentar entender. – Além do mais, você raramente fica em locais onde as cartas chegam.

– Eu sei – disse ele, baixinho. – Mas eu não quero perder essa conexão…

Seria difícil, de início. Perceber que não receberia mais cartas dele ou que eles nunca mais teriam encontros como esse. Ela o adorava. Sentia muita dor por ter que fazer isso. Terminar tudo… seria melhor para os dois. A guerra exigia demais deles, e de formas diferentes. Se quisessem ter a chance de sobreviver, precisariam manter a mente no trabalho que tinham em mãos. O dele era muito mais perigoso que o seu. William poderia morrer se cometesse um erro. Outros morreriam, se ela os cometesse… fazia aquilo pelos dois. Talvez, depois que a guerra acabasse, eles possam se encontrar novamente, mas não se agarraria àquela esperança.

– Você já perdeu – disse ela, firme. Foi duro, mas tinha que deixar o rompimento às claras. Se ao menos pudesse ser forte o suficiente para queimar as cartas. Elas não manteriam aquele relacionamento improvável funcionando. Aquilo não os levaria a lugar algum. – Por favor, deixe-me em paz.

William se aproximou um pouco mais dela e colocou a mão em sua bochecha. Ela se entregou, refastelando-se no calor que envolvia o seu rosto.

– Se nunca mais vou vê-la, gostaria de algo para me lembrar de você. – Ele se abaixou e pressionou os lábios nos dela. Foi um beijo breve, mas enviou arrepios por sua coluna. Victoria queria beijá-lo de novo e de novo e de novo. A sensação dos lábios dele nos seus a fazia querer mais, e daria qualquer coisa para viver aquele momento para sempre. Por um breve instante, ela foi capaz de fingir que eram um casal normal e que tinham a chance de um relacionamento normal. Mas aquilo nunca iria acontecer. O amor não era para eles, e já era hora de ela aceitar aquilo. Mas aquele beijo… ele mudou tanto e tão pouco ao mesmo tempo.

Como poderia esquecê-lo agora? A quem estava enganando? Victoria nunca teve uma chance de apagar William da sua mente. Ela o amava, e não havia como evitar aquilo.

Ele ergueu a cabeça e então deu meia-volta, caminhando, a passos lentos, para longe dela. Seu coração tremeu como se tivesse se partido em tantos pedaços que não haveria como juntá-los novamente. Ela prendeu o fôlego. Ele realmente lhe daria ouvidos e partiria? Ele não queria lutar por ela, por eles, pelo que eles poderiam viver juntos?