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Charlotte andou de um lado para o outro em seu quarto, para onde foi banida ao voltar para casa. Uma vez lá, ela tirou as roupas masculinas emprestadas e se vestiu com suas próprias roupas íntimas e vestido. Sua mãe teria um ataque se ela descesse ainda de calças. Por um momento, ela pensou que sua mãe poderia estrangulá-la no parque. Ela não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto a Marquesa de Seabrook com tanta raiva antes. Seu rosto estava tão vermelho que rivalizava com a cor de uma maçã vermelha brilhante.
Seus pais ficaram extremamente zangados. Muito mais lívidos do que ela esperava… o esquema que ela tinha tramado parecia uma boa maneira de conseguir o que queria. Agora, ela questionava a veracidade da sua lógica. Ela odiava desapontar seus pais. Especialmente seu pai… ela sempre o idolatrou, e admirava o quão corajoso ele foi durante a guerra. Se ela algum dia se casasse, ela esperava que o cavalheiro a quem ela entregasse seu coração pudesse ser igualmente corajoso. Não que ela esperasse que o país vivesse algo parecido com uma guerra novamente, mas ela queria que esta qualidade estivesse na essência de seu amor fictício antes de lhe dar seu coração. Não parecia que isto era pedir muito…
A porta de seus aposentos se abriu. Uma criada entrou e fez uma reverência. — Perdoe-me, milady, — ela disse. — Sua mãe e seu pai pedem a sua presença no salão.
Seu coração batia forte em seu peito… era isso. O apocalipse que ela causou lhe daria permissão para viajar de volta para Seabrook. Ela teria a liberdade para trabalhar em seu romance e não se preocuparia com nenhum compromisso social. Charlotte engoliu em seco e respirou fundo. — Obrigada, Mildred — ela disse à empregada. Ela estava orgulhosa de como sua voz soou firme, sua voz não demonstrava o nervosismo que fazia seu corpo inteiro tremer. Era um milagre que ela não estivesse tremendo incontrolavelmente. De alguma forma, ela duvidava que pedir sua presença tivesse sido o tom que seus pais usaram, estava mais para ordenar ou exigir que ela fosse até eles. Pedir implicava que ela tinha uma escolha. Charlotte tinha certeza de que exigem sua presença era a frase correta para descrever o que seus pais desejavam dela.
Ela parou um pouco antes de entrar no salão e respirou fundo. De alguma forma, ela pensou que precisaria dessa respiração a mais para o confronto que se aproximava. Charlotte deu um passo hesitante e então entrou no salão. Ela manteve a cabeça erguida, não faria nenhum bem para ela demonstrar fraqueza. Seus pais, por mais que ela os amasse, eram impiedosos. Eles a fariam chorar e correr de volta para seus aposentos se ela permitisse que eles a destruíssem com suas palavras. Isso não queria dizer que eles eram rudes. Seus pais sempre foram amorosos e cuidadosos enquanto ela crescia de uma criança para uma jovem mulher, mas eles também não toleravam tolices. Charlotte apostaria que consideravam seus feitos mais do que tolos.
Sua mãe parecia serena, sem um fio de seus cachos noturnos fora do lugar. Não havia muita cor em sua pele, apenas um toque de rosa. As manchas vermelhas escuras se foram, restando nada além da pele cremosa.
— Vocês pediram minha presença? — Não era realmente uma pergunta, mas de alguma forma escapou como uma…
— Sente-se, por favor, — disse o seu pai, apontando para uma cadeira perto do sofá em que já estavam sentados. A mãe dela serviu calmamente uma xícara de chá e colocou dois torrões de açúcar. Ela então tomou seu chá como se não estivesse prestes a punir a filha. Impiedosa…
— Não vamos discutir suas ações, — seu pai começou. Seu cabelo loiro dourado estava desgrenhado. Ele deve ter passado a mão pelas mechas várias vezes em frustração. — É inútil repetir os detalhes do incidente. O que aconteceu, aconteceu. — Ele ergueu um copo cheio de um líquido âmbar e tomou um gole. Nada de chá para o seu pai… era conhaque que ele tinha no copo. Ela levou seu querido pai a beber. Ela não tinha certeza de como se sentia sobre isso. Talvez devesse estar envergonhada, e talvez estivesse, mas havia alcançado seu objetivo, então ela deveria continuar neste caminho caso quisesse colher os frutos esperados. — O que vamos discutir é o que decidimos fazer quanto à situação.
Sua mãe pegou um bolinho, untou-o com geleia e deu uma mordida. Será que ela ignoraria Charlotte durante toda a conversa? De alguma forma, isso era pior… doeu.
— Entendo, — ela respondeu. De alguma forma, ela conseguiu manter seu tom de voz livre de emoção. Até agora, ela estava lidando com tudo sem problemas. Ela poderia fazer isso.
— Você tem algo a dizer em sua defesa?
Charlotte balançou a cabeça lentamente. Não adiantaria em nada defender suas ações. Ela havia se vestido de homem e cavalgado pelo Hyde Park… propositalmente. Não havia desculpa que fosse aceitável. — Não desejo agregar qualquer defesa de minhas ações. Aceitarei o que decidirem. — Havia apenas um lugar para onde ela poderia ser enviada. Ela rezou para que sua pequena peripécia no parque não fosse em vão, eles tinham que mandá-la para casa. Não tinham outra escolha. Charlotte odiava ser a causa de qualquer ansiedade ou desconforto de seus pais, mas causar um escândalo era a única maneira de garantir que eles a mandariam para casa. Ela não mudaria nada do que tinha feito. Isso daria a ela o que ela mais queria… voltar para Seabrook. Por isso, ela não podia se permitir se sentir culpada ou desistir dos seus objetivos. Seus pais não entendiam os seus desejos, portanto, ela tinha que fazer com que eles fizessem o que ela precisava. Mesmo que acabassem desapontados com ela.
— Isso é sábio da sua parte, — seu pai disse a ela. — Especialmente porque você não tem escolha.
Isso não soou muito… bom. Um mau pressentimento se instalou profundamente em seu estômago. — Tudo bem… — ela engoliu em seco. — O que decidiram?
— Avaliamos algumas opções, — seu pai começou. Algumas? Só havia uma: Seabrook… O que ele quis dizer com isso? — Seabrook é sempre uma opção, mas se nós mandássemos você para casa, você não aprenderia nenhuma lição de verdade. Então, não seria o certo.
Seu coração afundou e seu estômago começou a doer. O que estava acontecendo? Para onde eles iriam mandá-la? Isso estava errado, totalmente errado. — Se eu não for para casa, para onde irei? — Ela tinha feito tudo isso por nada? Ela nunca considerou que eles poderiam não mandá-la para Seabrook. Isso… ela não tinha palavras para descrever como isso a fazia se sentir. Ela tinha que permanecer forte. Talvez ela ainda pudesse atingir seus objetivos, mesmo que não tivesse saído exatamente como ela queria.
Um sorriso se formou no rosto de sua mãe. Era quase… ameaçador. — Pensei que era exatamente isso que você queria. — Ela pousou o chá e encontrou o olhar de Charlotte. — Você ficará com sua tia-avó Seraphina. Ela mora sozinha e será um benefício para ela ter sua companhia nos próximos meses.
A mente dela ficou em branco por alguns momentos enquanto a informação se acomodava. Ela estava desapontada por não ir para casa, e eles a estavam mandando para um lugar que ela estava fadada a odiar. Eles a estavam punindo, como ela esperava, mas tão severamente que ela começou a se arrepender do que tinha feito.
Tia Seraphina… era extremamente velha, uma anciã. Tudo bem, talvez estivesse exagerando, mas Charlotte não queria passar os próximos meses com sua tia como companhia. Ela gostava de conversar e ter compromissos sociais, todas as coisas que Charlotte queria evitar. Não tinha saído como planejado, mas ela não podia voltar no tempo. Ela tinha feito isso a si mesma e teria que se conformar com a situação. O quão ruim poderia ser?
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