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“Não sei”, respondeu o capitão, “Acho que a melhor coisa a ser feita é ir para o local e tentar entender algo mais em relação ao que aconteceu... A senhora que telefonou está esperando a nossa chegada e eu lhe disse para ficar à disposição, para qualquer coisa.”
“Certo.”, concordou Zamagni, “Vou verificar agora.”
A garota estava ainda na posição em que a mãe a tinha encontrado, estendida no chão.
“Não toquei em nada, posso garantir”, disse a senhora, depois que lhe foi mostrada a carteira da Polícia, como para desculpar-se imediatamente de algo que não tinha feito.
“A senhora se saiu muito bem", lhe respondeu Zamagni. “Posso saber o seu nome?”
“Chiara. Chiara Balzani.”, se apresentou. ”E ela é minha filha”, adicionou, voltando-se para o corpo da garota, como se ainda estivesse viva.
“Entendo. Poderia me dizer também o nome de sua filha, por favor?”
“Oh... claro, me desculpe. Estou ainda sob choque pelo que aconteceu. Ela se chama... se chamava... Lucia Mistroni.”
“Obrigado.”, disse Zamagni, depois acrescentou: “Posso saber por qual motivo, a senhora não hesitou em chamar a polícia? Quero dizer, a morte poderia ter sido devida a um infarto ou alguma outra causa natural, não?”. E, dirigindo-se ao agente Marco Finocchi que o acompanhava: “Anote tudo.”
O agente acenou com a cabeça.
“A sua pergunta é legítima, mas parece que a minha filha, já há um tempo, recebia telefonemas ameaçadores. Por isso, pensei logo em uma morte não natural e assim os chamei.”
“Telefonemas ameaçadores? E sabe quem seria o autor das chamadas?”
“Não, mesmo se sempre tive dúvidas ou a convicção, se preferir, e era a mesma que tinha também a minha filha, de que quem a chamava era um seu ex-namorado", explicou a mulher. “A sua relação tinha terminado, vamos dizer, de forma não tranquila, tinham discutido gravemente. No último período do namoro deles, brigavam com frequência.”
“Entendo”, concordou Zamagni, “Precisaremos saber tudo sobre sua filha. Idade, que trabalho tinha, as suas paixões, endereços e nomes dos seus amigos. E este seu ex-namorado? Sabe nos dizer o seu nome? Qualquer informação que saiba sobre ele. E... uma coisa mais: atualmente, sua filha estava casada? Noiva? Solteira? Sabe, não podemos excluir nenhuma pista”
“Pelo que eu sei, agora Lucia estava solteira.”
O inspetor fez uma breve pausa para olhar um pouco ao redor.
O apartamento, situado no primeiro andar de um prédio de construção recente na periferia de Bolonha, parecia refinado, daqueles modernos, com uma decoração bem minimalista e combinações criadas com bom gosto. Nas janelas, havia cortinas e, durante o dia, a luz do sol iluminava perfeitamente cada espaço.
“O apartamento era de propriedade da sua filha?”, perguntou o agente Finocchi.
“Sim, claro.” Pelo que parecia, à senhora Balzani parecia uma pergunta supérflua.
O apartamento tinha sido pago completamente pela filha, explicou a mãe.
E tinha explicado também que Lucia Mistroni tinha um cargo bem importante na empresa onde trabalhava, embora sua filha nunca lhe tivesse dito que tipo de trabalho fazia.
“Então? Pode nos dizer o nome do ex-namorado da sua filha?”, perguntou Zamagni.
“Sim, me desculpem.”, disse a senhora Balzani, “A pessoa que procuram se chama Paolo Carnevali. Se não se mudou, mora na rua Cracovia, ao lado do Parque dei Cedri, no número... 10, acho”.
“Perfeito. Por enquanto, lhe agradecemos, senhora. Lembre-se que qualquer informação que puder nos dar, poderá ser útil para a investigação. E também uma outra coisa: a Polícia Científica irá verificar cada centímetro deste apartamento, na esperança que isso possa servir a encontrar o culpado deste crime, motivo pelo qual nos próximos dias não será absolutamente possível entrar aqui. Iremos isolar a área em seguida.”
A senhora concordou, compreensiva.
“Farei o possível para encontrar o assassino.”
Despediram-se e desceram novamente para a rua. O inspetor Zamagni e o agente Finocchi voltaram para o escritório da Central de Operações.
III
Não era grande coisa, mas agora talvez tivessem encontrado uma pista a ser seguida, na espera de saber os resultados das análises no apartamento de Lucia Mistroni.
Lá pela hora do almoço, o inspetor Zamagni, acompanhado por Marco Finocchi, se apresentou ao número 10 da rua Cracovia, para falar com Paolo Carnevali.
Tocaram a campainha sem receber resposta, esperaram alguns minutos e conseguiram entrar no prédio com a chegada de uma senhora anciã que voltava de um passeio com seu cachorro.
“Podemos entrar, senhora?”, perguntou Zamagni.
“Não aceitamos vendedores porta a porta, desculpe. Por isso, se são dois desses, podem até poupar o cansaço e mudar de destino.”
“Estamos procurando o senhor Carnevali. A senhora o conhece?”
“Quem está procurando por ele?”, quis saber a mulher, provavelmente irritada por ter que ficar conversando com desconhecidos.
“Precisamos falar com ele. Não é nossa intenção lhe causar nenhum aborrecimento ou fazer-lhe algum mal físico”, explicou o inspetor, mostrando a carteira de identificação.
“Oh, pelo amor de Deus...”, foi a reação da anciã, “O que andou fazendo aquele rapaz? Parecia-me uma pessoa tranquila.”
“Não se preocupe”, a tranquilizou o agente Finocchi, “Queremos só falar com ele.”
“Assim sendo, acho que a esta hora esteja trabalhando”, explicou a mulher.
“E quando poderemos encontrá-lo? Sabe a que horas ele volta?”
“A menos que tenha compromissos particulares depois do trabalho, geralmente, o encontro às 18 - 18:15h todos os dias da semana. Saio com Toby para o passeio noturno e quando volto ele está estacionando ou subindo as escadas.”
“Saberia nos dizer que carro tem o senhor Carnevali?”
Nós a abordávamos um tanto despreparada, explicou a senhora, porque não era de forma alguma especialista em carros. Os únicos meios de transporte que conhecia bem eram os ônibus, usando-os para ir de casa até o centro da cidade no domingo à tarde.
“Nós a agradecemos igualmente, senhora.”, disse Zamagni, “Voltaremos à noite.”
Os dois saudaram a senhora e Toby, que não a teria seguido sem ao menos que um deles lhe tivesse feito algum carinho e voltaram para o carro com o qual chegaram.
Não teria feito sentido esperar tantas horas antes que Paolo Carnevali chegasse, assim decidiram que iriam para a Central de Operações e Zamagni teria aproveitado para ouvir eventuais novidades da Científica e do patologista que estava encarregado de realizar a necropsia.
Os seus pais estavam realmente felizes por ele, o viam contente e estavam orgulhosos com parentes e amigos da família.
Além de ir para a escola, fazia ainda alguma coisa de útil e produtiva, pelo pouco que pudesse juntar.
Não será tanto, mas para um rapaz que estuda é sempre melhor que nada.
Era assim que falavam do trabalho que o seu filho tinha conseguido.
Parece que não é o único e assim conheceu também outras pessoas da mesma idade com as quais às vezes sai para passear, se encontrar no Jardins Margherita ou na Praça Maggiore no sábado à tarde, se divertir e, às vezes, fica fora para jantar com eles.
Com aquele pouco que ganha, consegue também permitir-se a fazer isso, sem que nós tenhamos que dar nosso dinheiro.
Era um trabalho simples, tratava-se só de fazer panfletagem. E quem não teria sabido fazer uma coisa desse tipo? Bastava distribuir os folhetos publicitários pelas ruas. Nos condomínios, nos locais públicos ou mesmo só nas ruas e estava feito. Não era solicitado mais nada, nenhuma obrigação de qualquer tipo.
Fácil, fácil como beber um copo de água.
E era aquilo que fazia todas as tardes, uma hora ou ao máximo duas por dia, só nos dias no meio da semana, depois de ter ido à escola e ter terminado os deveres. O fim de semana iria descansar, divertir-se e gastar uma mínima parte do dinheiro ganho: como rapaz diligente que era, tinha acertado com os pais para que ficassem com a metade; agora que tinha a possibilidade, queria contribuir com as despesas da casa, dentro do possível.
Continuava assim com o seu trabalho, com a típica leveza da sua idade, sem sequer se perguntar para o que estava fazendo publicidade.
IV
À noite do mesmo dia, às 18:30h, o inspetor Zamagni e o agente Finocchi voltaram à rua Cracovia para falar com Paolo Carnevali.
Tocaram a campainha e depois de alguns minutos foram ao seu apartamento.
“Fui avisado há pouco da sua chegada.”, explicou o homem. “Eu estava esperando vocês. Por favor, fiquem à vontade na sala de estar.”
Sentaram-se ao redor de uma mesa retangular de dimensões médias e, depois das apresentações, Zamagni começou a falar.
“Desculpe-nos pelo horário. Não sei se está acostumado a jantar cedo. Assim, é nossa intenção tirar-lhe pouco tempo.”
“Não têm que se preocupar”, respondeu Carnevali. “Além do mais, gostaria de saber o motivo desta sua visita.”
“Gostaríamos de falar de Lucia Mistroni.”
“O que ela fez? Aconteceu alguma coisa com ela?”
Parecia não saber de nada do que tinha acontecido à sua ex-namorada ou, se também o sabia, o escondia bem.
“Esta manhã, a mãe dela a encontrou morta no seu apartamento.”
Paolo Carnevali fechou os olhos por alguns instantes, depois os reabriu e disse: “Eu sinto muitíssimo. Como aconteceu? Descobriram já alguma coisa? Imagino que, se estão aqui, para dar um nome ao culpado seja ainda cedo.”
“Já estamos trabalhando nisso”, explicou Zamagni, “Por enquanto, sabemos só que sua mãe foi à cada da filha e, não recebendo nenhuma resposta, voltou para pegar a sua cópia de chaves. Quando abriu a porta do apartamento, Lucia Mistroni estava estendida no chão.”
Pelo menos no momento, não disse nada em relação aos telefonemas ameaçadores.
“Espero que possam encontrar rápido o culpado. Por que vieram falar comigo? Eu não via Lucia desde que nos deixamos, há alguns meses atrás.”
“Temos que seguir todas as pistas e aquela de ex-namorado é uma.”
“Como lhes disse, eu não sei de nada. Não via Lucia há alguns meses.”
“Sabemos que ultimamente brigavam com frequência”, disse o inspetor.
“Quem lhes contou isso foi a mãe dela?”
“Sim.”
“Entendo. Tudo bem, no último período de noivado brigávamos, mas isso não significa que eu seja o culpado.”
“Não queremos afirmar isso. Como lhe disse, temos que seguir todas as pistas que possa nos levar ao responsável do que aconteceu. Por que brigavam?”
Houve uma breve pausa, na qual Paolo Carnevali meditou, antes de responder: “Poderemos dizer que cada pretexto eram suficiente para iniciar uma discussão animada entre nós dois. A relação, por qualquer motivo, tinha tomado este caminho nos últimos meses. Brigávamos também pelas coisas mais banais.”
O agente Finocchi ficava tomando nota, sinalizando qualquer mínima coisa.
“Entendo.”, disse o inspetor. “Há pouco tempo, parece que a senhorita Mistroni estava recebendo telefonemas ameaçadores. Tem ideia de quem os pudesse fazer? O que sabia, há alguém capaz de chegar a tanto? Alguém que conhecesse Lucia e com o qual teria acontecido alguma coisa especialmente desagradável.”
“Não sei como ajudá-los, sinto muito.”
Ao quanto parecia, do senhor Carnevali não teríamos obtido nada, pelo menos por enquanto.
“Certo. Caso se lembre de alguma coisa relativa à senhorita Mistroni, chame-nos e peça para falar comigo.”
O homem concordou.
“Ah, uma última coisa.”, disse o inspetor Zamagni despedindo-se, antes de descer as escadas, “Fique à disposição.”
V
“Posso pagar com cartão?”, perguntou a mulher.
“Certamente”, lhe respondeu a funcionária da academia.
“Ótimo. Qual ficha devo preencher para me inscrever?”
“Veja aqui. Preencha em todas as suas partes e, se tiver dúvidas, pergunte.”, falou a loira por trás da bancada. “Escreva em maiúsculas.”
A outra mulher concordou e pegou a caneta que encontrou presa a um cordãozinho.
“Mariolina Spaggesi? Estou lendo certo?”, perguntou a funcionária.
“Sim.”
“E mora na rua San Vitale no número 12, correto?”
“Exatamente.”
“Bom. Diria que está tudo perfeitamente legível.”
Depois lhe entregou uma folha onde estava especificado o regulamento da academia.
Mariolina Spaggesi o dobrou, colocou na bolsa e saindo, saudou a outra mulher, para depois retomar o caminho de casa.
Não via a hora de começar: há tanto tempo tinha se prometido frequentar uma academia, na modalidade livre, sem ter a obrigação com horários e, finalmente, naquele dia tinha tomado a decisão de parar.