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Vida De Aeromoça
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Vida De Aeromoça

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Como se tornar comissário de bordo

“O comissário de bordo é sinônimo de confiança e compromisso, estilo e cordialidade; grande capacidade de organização, tenacidade, resistência ao cansaço e, sobretudo, vontade de trabalhar para os outros, entrando em contato com culturas e países diversos, dotes necessários para lidar melhor com o trabalho.

Nas seleções, busca-se praticidade, capacidade de se antecipar a e resolver problemas, capacidade de se relacionar, responsabilidade, autocontrole, estabilidade emocional, mente aberta e tolerância com o novo.

Características:

Idade entre 18 e 32 anos

Estatura mínima: 164 centímetros para mulheres, 172 centímetros para homens

Escolaridade: nível médio completo

Línguas: italiano e inglês avançado, conhecimento de uma terceira língua preferível

Boas habilidades atléticas e de natação

Sem tatuagens visíveis”.

Tudo estava de acordo com nossas características e aspirações. Podíamos tentar, podíamos conseguir.

Vamos mandar nosso currículo para a companhia aérea o quanto antes – eu disse.

Dito e feito.

Stefania preencheu os formulários, apesar das ameaças veladas do namorado, e enviamos tudo juntas, anexando também fotos tiradas com diligência e atenção.

Eu não disse nada a meus pais, pois estava certa de que eles não aprovariam nem apoiariam minha ideia.

Vai, tira, tira a foto agora!

Escolhemos nossas roupas com cuidado: o look é importante nessas situações, e a roupa formal é a ideal.

Fecha a camisa, por favor.

Não, vira o rosto um pouco para a direita e segura os braços um pouco dobrados, com as mãos nas costas.

Depois de tirar os jeans rasgados, a blusinha vintage do mercadinho de quinta-feira e os tênis rosa-shock de algodão, pus um tailleur azul horrível que usei no casamento da Ágata, uma prima distante, e esqueci no armário por anos; uma camisa branca, meias-calças cor de pele e sapatos de salto alto combinando com a jaqueta completavam o outfit.

Prendemos o cabelo com elásticos pretos e muito laquê, um pouco de maquiagem, um deslumbrante sorriso falso e fomos:

Vou bater a foto.

Perfeitas!

Depois de mais ou menos um mês, recebemos as cartas com o convite para participar das primeiras seleções.

Minhas pernas tremiam enquanto eu abria o envelope; Stefania quase desmaiou.

Aproveitamos para participar de um curso rápido para relembrar o inglês meio enferrujado.

Fui determinada a convencer minha família pelo menos a participar da seleção: minha obstinação venceu. Não conseguiram me impedir de ir e esperaram, como o noivo de Stefania, que eu não passasse nas provas.

Pegamos um avião para chegar a Roma, a cidade de nosso importante encontro.

Stefania precisava comprar uma roupa adequada para a ocasião. Escolheu um tailleur preto, apertadinho mas um pouco rígido, pois seus movimentos ficavam pouco naturais e desconfortáveis nele. Eu arrumei o meu para que ficasse mais sóbrio.

No avião, não era a primeira vez que olhávamos com devota admiração aquelas mulheres uniformizadas que andavam pela cabine com muita desenvoltura e profissionalismo, mas, daquela vez, senti um pouco de inveja.

Logo depois da decolagem, olhei pela janelinha.

Vi encolherem os mesmos carros que via enfileirados todas as manhãs enquanto ia ao trabalho e apertei forte a mão de Stefania.

Passamos sem muito esforço em todos os testes da seleção, que durou diversos dias. Estávamos movidas por uma energia, determinação e entusiasmo inimagináveis, pondo de lado nossa timidez e mostrando até a nós mesmas uma desconhecida propensão à liderança.

A prova com o psicólogo foi, para Stefy, a mais difícil.

Eu fui a primeira a entrar em uma sala iluminada onde encontrei um homem encarregado do último exame antes da minuciosa inspeção médica final.

Esse exame foi, para mim, um papo agradável e relaxante, mas percebi que o homem tentava me deixar constrangida enquanto eu tentava não ceder.

Eu estava feliz.

Inesperadamente e depois de uma breve conversa inicial de apresentação, ele alegou não acreditar que eu fosse aquela pessoa positiva, correta e sociável que eu descrevia. Respondi que sentia muito, mas aquilo não me preocupava, pois sua avaliação talvez resultasse de nossa conversa amigável.

Fui convidada a participar da prova seguinte.

Saindo, pisquei para Stefy.

Não há nada com que se preocupar. Vai tranquila – eu disse.

Stefania entrou logo depois.

Poucos minutos depois, vi-a sair muito séria.

Vai se ferrar, quem aquele mal educado pensa que é?

Stefania, o que aconteceu?

Não sei quem é ele, mas com certeza não quero nunca mais encontrar com um cara como aquele. Ele disse que meu cabelo é bagunçado e minhas roupas inadequadas.

Cabelo bagunçado? Roupa inadequada?

Que mal educado!

Como ele ousa?

Fez umas perguntas inoportunas, muito íntimas, e eu respondi que não eram da conta dele. Depois, me disse: “mas quem você pensa que é?” Naquele ponto, eu já estava bufando de ódio e respondi que ele deveria cuidar o que dizia. Depois, bati a porta na cara dele!

Era nossa teste de tolerância ao estresse. Em um trabalho que envolve contato contínuo com o público, essa é uma habilidade necessária.

Nem preciso dizer que Stefania não foi convidada para a prova seguinte.

Voltou para casa chocada, perguntando onde tinha errado. Seu noivo foi o único que ficou feliz com o insucesso, e suas perguntas ficaram para sempre sem resposta.

Enquanto isso, eu comecei um curso que durou três meses, onde fui treinada para extinguir incêndios e como me comportar em caso de emergência.

Também estudei as questões técnicas de diversos tipos de avião e a composição da bagagem, alguns pontos de medicina para a habilitação em primeiros socorros e, depois de superar os exames de técnica, medicina e inglês, estava pronta para entrar em um avião na posição que tanto sonhei: a de aeromoça.

Durante o curso, conheci três garotas, e ficamos amigas: Eva, Valentina e Ludovica.

Dividimos o quarto de hotel durante todo o período e, depois que assumimos o cargo, decidimos alugar uma casa em uma região perto do aeroporto Fiumicino, nossa base.

Foi assim que começou nossa aventura.

Eu, Eva, Valentina, Ludovica

A casa tinha dois quartos, cada um com uma cama de casal, e o único banheiro estava sempre ocupado: difícil encontrá-lo livre, assim como o telefone de casa.

Tentamos nos adaptar àquela situação e conseguimos conviver, não sem alguns pequenos desentendimentos, tentando chegar a pequenos compromissos (o mais difícil era decidir quem lavaria os pratos sujos).

Eva tinha lindos cabelos ruivos, ondulados e sedosos que deslizavam pelas costas. Seus olhos castanhos claros pareciam verdes nos dias mais ensolarados, seu porte era ágil e esbelto. Vinha do "alto Bérgamo", como ela dizia, e tinha o espírito de "verdadeira napolitana", expansivo e caloroso. Amava a bagunça, sempre tinha uma máscara facial para experimentar e era frequente que perambulasse pela casa com a sua favorita, de argila verde. Usava óleo de amêndoas para deixar os cabelos mais sedosos.

Ludovica nunca parava de falar e não sabia fazer parar o palavrório que nos atingia assim que abrisse a boca.

Era loira com lindos cachos, olhos intensamente azuis e uma pele lisa e clara. Suas curvas eram fartas e harmônicas. Muito organizada e meticulosa (o oposto de Eva), usava tailleurs de marca e guardava seus suéteres individualmente em sacos plásticos transparentes. Cozinhava maravilhosamente.

Vinha da Sardenha e era noiva de um rapaz seu conterrâneo que vinha com frequência ficar conosco, às vezes obrigando sua companheira de quarto, Eva, a dormir no sofá.

Ludovica era doida por penteados.

Eu dividia um quarto com Valentina, que era uma moça cheia de vida e entusiasmo, muito sensível, honesta e generosa.

Seus cabelos eram escuros e lisos, com corte chanel. Os olhos eram pretos, muito profundos e sensuais, e o porte físico era enxuto e bem modelado.

Valentina gostava de dormir tarde, melhor se a noite fosse acompanhada de seu drink favorito: Montenegro com gelo. De manhã, demorava no banheiro porque as lentes de contato davam muito trabalho.

Éramos muito próximas.

Hoje fomos convidadas para a festa de boas-vindas na casa daqueles pilotos que vivem na rua Masotta, perto de casa! – disse Eva.

Por que não damos um pulo? – eu disse.

Sim! – concordou Valentina.

Estou curiosa para conhecer nossos vizinhos.

Ludovica foi logo montar um penteado, e eu provei quase todos os vestidos do armário, me perguntando se eu algum dia conseguiria fechar o zíper lateral daquelas lindas calças azuis. Eva usou seu novo óleo essencial de lírio-do-vale, e Valentina correu para se maquiar.

Alegres, demos os primeiros passos em direção àquele mundinho à parte, até então desconhecido: o reino dos "voláteis", diferente dos meros "passageiros", como costumam distinguir aqueles que trabalham nos aviões.

O que logo percebemos "neles" foi a familiaridade com lugares que nós só sonhávamos em visitar e a facilidade que tinham de alcançá-los graças ao hábito de viajar; a capacidade de se adaptar em qualquer lugar do mundo, devida ao conhecimento da população e dos territórios, da cultura e das tradições; a profusão de amizades que conseguiam manter em diversos lugares, pois os frequentavam constantemente; a mente aberta, necessária para estar em contato com o mundo e seus habitantes, assim como muitas manias e fixações que cada um carregava consigo naquela segunda casa que era a mala de viagem.

Uma vez volátil, sempre volátil – disseram-nos baixinho, como se fosse uma verdade oculta, uma marca que carregaríamos para sempre.

Compreendemos que começar a "voar" seria como viver duas vidas paralelas que vão se alternando sempre que se sai para trabalhar. É como falar uma língua nova, incompreensível aos demais, onde o mundo é a sua casa, e a casa é o seu mundo.

Descobrimos que havia eventos quase todas as noites. Éramos uma espécie de grande família que se reunia entre os que retornavam de voos e descansavam entre um turno e outro. Mas, se era preciso partir no dia seguinte, nos prometíamos ir dormir cedo para evitar aquela horrível dor de cabeça e náusea matinais que, no voo, ficam muito piores por causa da altitude e do ar condicionado.

Durante o trabalho, era necessário estar impecável. Os voos e os passageiros a enfrentar seriam uma dura prova, isso sabíamos bem.

Depois de ter assinado o contrato com a empresa, na grande sala de um majestoso edifício e, com grande surpresa, designado o destinatário do seguro de vida em caso de falecimento, constatamos emocionadas que logo nós também seríamos voantes "voláteis"

O primeiro voo

O primeiro voo é inesquecível para todos.

Fui designada para um bate e volta em Paris. Eu estava emocionada, desajeitada ao entrar naquele avião completamente vazio, pronto para receber nossa bagagem antes dos passageiros. Finalmente, comecei a conhecer os segredos dos galleys, que são uma espécie de cozinha de bordo onde estão os fornos para esquentar as refeições, a geladeira para manter as bebidas frescas, todos os carrinhos com os mantimentos, a área destinada ao lixo, os equipamentos necessários para o bom funcionamento do voo. Nessa área, é preparado todo o serviço antes que ele comece. Para as aeromoças, é o lugar mais íntimo, o único lugar suficientemente reservado, que permite alguns poucos minutos de distância dos passageiros, graças a uma cortina que concede alguns preciosos momentos de privacidade nos voos muito longos: as confidências e revelações geralmente vêm à tona ali, no "baú de segredos" das aeromoças.

Verifiquei, além da bagagem, que tudo tinha sido limpo corretamente, que o serviço de catering tinha abastecido corretamente todos os carrinhos, os fornos e a geladeira, que os equipamentos e as luzes de emergência estavam em funcionamento.

Eu era o oposto de minhas colegas, tão desinibidas e seguras nos movimentos, já veteranas, como se diz.

No curso, tínhamos visto todos os alçapões, os carrinhos e as gavetas armazenados dentro do avião. Era uma infinidade, todos completamente cheios de materiais necessários para o bom andamento do voo.

Decidi abri-los todos para ver o que continham e memorizá-los para utilizá-los com mais rapidez.

Fechei-os e logo esqueci a posição e o conteúdo de todos, pois eram muitos, e todos idênticos quando vistos de fora.

Repeti isso várias vezes. Às vezes a sorte me ajudava a adivinhar onde estava o que eu procurava, às vezes me rendia na busca de copos de plástico depois de uma vitória parcial sobre os pacotes de café e leite em pó. Acho que os tapa-olhos mudavam de lugar a cada voo, como se fosse um truque de mágica: depois de encontrá-los em uma gaveta, via-os em algum outro lugar.

Eu olhava minha saia que cobria o joelho, a meia-calça lisa e cor de pele que, até então, nunca tinha usado, os sapatos de salto alto, que combinavam com a bolsa, uma blusa bem engomada, lenço no pescoço, jaqueta frisada e o obrigatório crachá.

Tudo aquilo estava agora no meu corpo. Vesti aquele uniforme pela primeira vez, do jeito mais correto que consegui. Meu nome estava naquela plaquinha, o que era uma grande honra, e eu a usava com orgulho, entusiasmo, até certa solenidade: era o início de um sonho magnífico.

Queria tirar outra foto e mandar para Stefania. O sorriso desta foto seria sincero, ao contrário daquele nas fotos tiradas para a seleção. Além disso, diria que sentia saudades dela e que gostaria que ela estivesse comigo.

Naquele momento, o nervosismo e a emoção do primeiro voo me deixaram dura.

A cor da jaqueta do uniforme era muito parecida com a das poltronas, e eu me sentia mais próxima delas do que de uma aeromoça "de verdade".

Felizmente, tudo ocorreu bem e, acredito, ninguém percebeu minha apreensão durante todo o voo. Talvez tenha aparecido durante minha primeira demonstração dos procedimentos de segurança.

Todos os olhos estavam sobre mim, e eu não estava preparada para enfrentar de maneira natural aqueles inúmeros olhares que se voltavam para mim.

Senti um rubor nas faces, e as mãos começaram a suar, a tremer um pouco, quando demonstrei como afivelar o cinto de segurança.

Nunca tinha tido nenhum problema para encaixar fivela metálica na fenda, mas, naquela situação, ficou difícil. Tentei segurar o tremor dos dedos que me impedia de encontrar o buraco certo.